OTTO KARMINSKI, HERÓI DE GUERRA, N’ A FAMÍLIA HUMANA
A exposição “A Família Humana”, criada e organizada por Jorge Calado, está patente no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, até 29 de maio de 2022.
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Otto Karminski
Otto Karminski. Herói de guerra
Fotografia: Otto Karminski / Texto: Jorge Calado
Integrado na exposição “A Família Humana”
Vila Franca de Xira: Câmara Municipal / Museu do Neo-Realismo / 2021
Português / 15,4 x 21,4 cm / 16 pp.
Agrafado
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Admirar fotografias é celebrar a vida de quem as fez.
Jorge Calado, Expresso n.º 2525, 19.03.2021; cf. “A Família Humana”, p. 50.
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Na exposição “A Família Humana”, Jorge Calado destaca um autor, Otto Karminski (1913-1982), ao qual dedica um núcleo, central no espaço da exposição, e ao qual também consagra um pequeno livreto, de 16 páginas, reproduzindo 11 e identificando as 21 fotografias da coleção. É o fotógrafo mais representado na coleção. Este livreto, como a folha de sala (um livreto de 8 pp) é oferecido aos visitantes da exposição.
No catálogo de “A Família Humana” identificam-se e apresentam-se em formato ‘índice’ 19 fotografias pertencendo à coleção (à data de 10 de junho de 2021), neste livreto acrescentam-se mais duas: os retratos de Aldous Huxley, Londres, c. 1961 e de Bertrand Russell, londres, c. 1960.
No ensaio “A Família Humana” do catálogo da exposição homónima, refere no ponto 15:
Ao investigar a história da diáspora fotográfica judaica para esta coleção e exposição, houve dois casos que me marcaram: o do alemão (naturalizado americano) Claude Jacoby e o do austríaco (naturalizado britânico) Otto Karmisnki: duas histórias exemplares, mas anti-simétricas no seu destino.”
Mais à frente partilha:
Otto Karminski é o artista melhor representado nesta “Família Humana”, a merecer uma atenção individual. Se é verdade que uma fotografia é um espelho que reflecte o seu tempo, também é verdade que há alguém do outro lado do espelho (como descobriu a Alice de Lewis Carroll). Qualquer fotografia é um relicário dos segredos da mente de quem a fez.”
No ponto “Agradecimentos Finais” relativos às “Explicações” sobre a criação da Coleção, também no catálogo, escreve com comoção:
Desejo também destacar, pelo volume de aquisições feitas, (…) Gary e Anna Cashmore (em Narberth, Pembrokeshire, no Reino Unido), proprietários do espólio fotográfico de Otto Karminski – que inclui também muitas fotos da autoria de colegas e amigos daquele — por terem cedido uma dúzia de fotografias a preços meramente simbólicos e doado as restantes ao Museu.”
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Sobre a vida de Otto Karminski escreve no livreto:
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Nasceu em Viena a 17 de Fevereiro de 1913, filho de mãe vienense de origem morávia e de pai (carpinteiro) imigrante judeu da Ucrânia. Teve uma educação científica. Após o ‘Anschluss’ (anexação da Austria pela Alemanha Nazi), emigrou para Londres em Julho de 1938, graças ao convite de duas casas editoras interessadas nos seus conhecimentos de estatística. Conseguiu que os pais e irmãs se lhe juntassem em Inglaterra, assim escapando ao Holocausto. Determinado a lutar contra o Nazismo, conseguiu ser aceite em Fevereiro de 1940 pelo ‘Pioneer Corps’, uma força de combate do exército britânico vocacionada para tarefas de engenharia e a única unidade militar onde os ‘inimigos estrangeiros’ podiam servir. Recebeu treino no Kitchener Camp, em Sandwich, na costa de Kent, juntamente com muitos judeus alemães e austríacos refugiados em Inglaterra, sendo depois transferido para Le Havre, França, como membro 88ª Companhia, parte do Exército Expedicionário Britânico. Incorporado nos Royal Fusiliers em Outubro 1943, foi um dos primeiros austríacos a ser admitido no SOE (Special Operations Executive), uma organização britânica secreta encarregada de espionagem, sabotagem e reconhecimento estratégico na Europa sob ocupação nazi. Otto, de alcunha ‘Putzi’, é então descrito como um ‘lobo solitário’, mas cheio de charme, estudioso, inteligente, socialista convicto e muito bem preparado fisicamente.
Após um curso paramilitar intenso de dezoito meses, foi-lhe atribuído o nome de guerra ‘Simon’ e o comando do grupo Danbury para uma arriscada missão em Itália: a sabotagem da linha férrea Villach-San Candido no vale do rio Drava (Drautolbohn), que assegurava o abastecimento bélico do Norte da Itália fascista (ocupado pelas forças nazis) a partir da Caríntia austríaca. Apaixonado alpinista, passou duas semanas a trepar montanhas no Maciço do Matese nos Apeninos, como preparação física para a tarefa. A missão redundou num fracasso trágico, com a morte de quase todos os membros do grupo, por falta da prometida ajuda local. O trauma foi tal que Karminski nunca revelaria a ninguém, nem aos amigos civis mais próximos, o que realmente acontecera. Regressado a Inglaterra em Junho 1945, continuou a servir o exército como intérprete no campo de prisioneiros de guerra (alemães) n.º 59 em Sawtry, Cambridgeshire, até final de Janeiro 1946. A cidadania britânica, requerida imediatamente após o regresso à pátria adoptiva, foi-lhe finalmente concedida no início de 1947.
No pós-Guerra, Karminski estudou no London College of Printing para se dedicar à sua segunda paixão (após o alpinismo), a fotografia. Foi no College que conheceu a sua futura mulher, Gabriele. Como fotógrafo humanista registou a Londres multicultural, trabalhou em Itália, Suíça, Noruega, etc., e colaborou com The Sunday Times. Nos anos 1960, baseado em Portland Place, Londres, distinguiu-se também como retratista de escritores e artistas como E. M. Forster, Aldous Huxley, W. H. Auden, T. S. Eliot, Bertrand Russell, Yehudi Menuhin, Henry Moore, etc. Reformou-se nos anos 1970, após o que se estabeleceu, com a mulher, no sul do País de Gales. Morreu num acidente a 13 de Março de 1982 quando passava férias nos Alpes franceses. Após a morte de Gabriele, o espólio fotográfico foi leiloado em Carmarthen, País de Gales, em 2016.
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Bibliografia:
Wilbiam MacKenzie, “The Secret History of SOE: Special Operations Executive 1940-1945”, St. Ermin’s Press, London, 2002.
David Stafford, “Mission Accomplished: SOE and Italy 1943-1945”, Random House, London, 2011.
Enrico Barbina, Jurii Cozianin, “Autunno 1944, Danbury sul Monte Pala”, La Panarie – Nuova Serie, 198, 267-286, 2018.
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Otto Karminski, Herói de guerra, 2021
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2022
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A exposição “A Família Humana”, com base na Coleção Internacional de Fotografia do Museu do Neo-Realismo, criada e organizada por Jorge Calado, está patente no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, na Rua Alves Redol, n.º 45, de 10 de julho de 2021 a 29 de maio de 2022.
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Pode ver sobre a exposição “A Família Humana” no FF, aqui.
Pode ver sobre Jorge Calado no FF, aqui.
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