ALFREDO CUNHA, 25 DE ABRIL DE 1974, QUINTA-FEIRA, 2023
Nos 50 anos da Revolução de 25 de abril de 1974.
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Alfredo Cunha
25 de abril de 1974, quinta-feira
Fotografia: Alfredo Cunha / Textos: Luís Pedro Nunes (prefácio), Carlos de Matos Gomes, Adelino Gomes, Fernando Rosas / Gravuras: Alexandre Farto aka Vhils
Lisboa: Tinta da China / Novembro 2023
Português / 16,0 x 16,0 cm / 436 pp
Brochura
ISBN: 9789896718046
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Lisboa: Tinta da China / Dezembro 2023
Português / 28,5 x 28,5 cm / 392 pp
Cartonado com sobrecapa / Edição especial, inclui fotografia 21×29,7 cm, “Salgueiro Maia, Os olhos do Capitão”, com selo branco de Alfredo Cunha
ISBN: 9789896717278
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25 de abril de 1974, quinta-feira. Como neste ano, há 50 anos, o dia 25 de abril era quinta-feira.
50 anos depois, Alfredo Cunha reúne num único álbum um conjunto alargado das suas fotografias deste dia e do período pós-revolução. Algumas fotografias são inéditas, mas a maior parte são conhecidas, são-nos familiares. Já as vimos nos jornais e revistas, em exposições, em notícias. Este livro é composto por três partes:
– a primeira, “Da Guerra à Liberdade” com textos de Carlos de Matos Gomes, militar do 25 de Abril, estabelece relações entre as guerras coloniais e as estruturas ideológicas da Revolução, imagens de Moçambique, Guiné e S. Tomé e Príncipe, de 1974 e 75;
– a segunda, “25 de Abril de 1974, Quinta-feira”, com texto de Adelino Gomes, acompanha o dia;
– a terceira, “Depois de Abril”, com o contributo do historiador Fernando Rosas, o pós-25 de abril: a festa do 1.º de maio de 1974, as pessoas, as manifestações, os cartazes, o 11 de março de 1975, os retornados, ainda algumas imagens de 1976, termina com a sessão solene de abertura da Assembleia Constituinte, em 2 de junho de 1975.
Assim, esta obra constitui um registo da história de Portugal centrado na Revolução de 25 de abril de 1974 e nos cerca de14 meses que se seguiram. Para além dos textos, as legendas que ilustram as fotografias, complementam a informação.
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Quatro gravuras de Alexandre Farto aka Vhils integram a capa e nos separadores do livro.
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Escreve Luís Pedro Nunes, no prefácio, que intitula “A Máquina do tempo” (adaptado):
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A professora mandou‑nos calar e estava a tentar sintonizar o rádio. A determinada altura recambiou‑nos a todos para casa. É tudo o que me lembro desse dia. Tinha 6 anos, estava na 1.ª classe, e pertenço à geração que, nas décadas seguintes, foi acusada de ter perdido o 25 de Abril. Só lá para as eleições de 1980, com uns sólidos 12 anos, é que estava politizado o suficiente para entrar na luta partidária, como era costume na época. Tinha perdido a festa. Mas então o que estou a fazer neste projeto? É que tenho vários 25 de Abril. Este é o meu favorito: estou na Amadora, são 3 e tal da manhã e ouço pela primeira vez na vida o «Riders in the Storm», dos Doors. Lá para as 4 e tal começam a dizer que algo se está a passar em Lisboa. Visto‑me e decido ir para o Século. Vou para a estação. Passo pelo bairro de lata da Falageira, uma das vistas mais miseráveis dos subúrbios de Lisboa e que tenho fotografado nos últimos anos. Chegado à estação do Rossio, corro até ao Bairro Alto, à redação do Século, e saco o maior número de rolos possível. Uns 40. São umas 6 da manhã. Está lá o Mário Zambujal, que destaca o jornalista Mário Contumélias e a mim para seguirmos para o Terreiro do Paço. Só lá para as 9 e tal é que tenho a primeira conversa com o Salgueiro Maia. Vê‑me fotografar e pergunta‑me o que estou ali a fazer. Digo que sou do Século. Pergunta‑me se sou dos deste lado ou dos outros. Não sei bem o que dizer e respondo que estou ali daquele lado a fotografar. Então ele diz‑me para passar a barreira e não ficar escondido.
Este dia 25 de Abril não me pertence. É o 25 de Abril do Alfredo Cunha, então com 20 anos e que logo no início da carreira tem inesperadamente o dia mais importante da sua vida de fotógrafo. Uma dádiva e uma maldição. Há 50 anos que incansavelmente fotografa, expõe e publica como que para fugir e de novo voltar a esse dia.
Esse 25 de Abril que não é meu e que relato na primeira pessoa foi surgindo como peças de um puzzle ao longo das centenas de horas que passámos nas viagens de trabalho em conjunto. Uma história que surgia após um silêncio de quilómetros numa picada. Episódios de que ele próprio não se lembrava e de repente lhe ocorriam. Um dia percebi que o meu dia 25 de Abril já era o dele.
Atualmente, quando trabalho com o Alfredo, ele tira umas duas mil fotos em dez horas de trabalho. Naquele dia, foi gerindo os 40 rolos. Não sabemos se, caso tivesse tirado mais uns milhares de fotos, o seu dia 25 de Abril fotográfico seria mais ou menos intenso em termos imagéticos do que aquele que ficou. Se seria mais ou menos belo e perturbador, mesmo nas suas imperfeições — dada a necessidade de recuperar fotos tremidas, desfocadas, um pouco desenquadradas, que expõem a incerteza do momento. Havia a decisão de captar o momento, o que obrigava a puxar manualmente o rolo e perder complemente a situação. E não ceder à tentação de encenar a foto perfeita.
Cinquenta anos depois, Vhils é convidado a selar este projeto, como se se tratasse de uma cápsula feita para enviar para o futuro, para ser vivido, dado ter sido fotografado por quem vive apaixonadamente uma revolução.
Deixe‑se levar para aquele dia em que 240 homens (muitos deles meros rapazes), vindos de Santarém, libertaram um país inteiro da mesquinhez instituída, de um poder autocrático e beato que sobrevivia da ignorância dos pobres que controlava. Quando der por isso, estará a ver como a coragem de um só homem perante carros de combate tocou de tal forma os que o estavam a ver do outro lado, que decidiram arriscar tudo e negar‑se a disparar. E assim, sem o saber, derrubaram naquele momento o regime. Foi o cair de uma mordaça pestilenta que sufocava. E o dar um fôlego de quem quer comer o mundo ao encher os pulmões de liberdade fresca e matinal. E gritar.
A próxima revolução pela liberdade não será tão simples e feliz.
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Alfredo Cunha, 25 de abril de 1974, quinta-feira, 2023
(reproduções a partir da edição especial)
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Algumas fotografias do dia 25 de abril:
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Alfredo Cunha, 25 de abril de 1974, quinta-feira
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Para além do livro, Alfredo Cunha expõe “25 de abril de 1974, quinta-feira”, entre outros locais:
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Almada, no Museu de Almada / Casa da Cidade, de 11 de abril a 28 de setembro;
Amadora, no espaço público e na Galeria Municipal Artur Bual, de 27 de janeiro a 23 de junho;
Braga, na Galeria do Paço – Reitoria da Universidade do Minho, de 09 de março a 30 de abril;
Grândola, na Biblioteca e Arquivo, a partir de 30 de abril de 2024;
Lisboa, no espaço atmosfera M, na Rua Castilho, n.º 5, desde 04 de abril;
Matosinhos: Galeria Municipal, de 20 de abril a 14 de julho;
Porto, no CPF – Centro Português de Fotografia, de 06 de abril a 28 de julho;
S. João da Madeira, no Centro de Arte Oliva, de 20 de abril a 16 de junho;
Santarém, no Jardim da República, a partir de 03 de abril;
Tavira, no Quartel da Atalaia, de 25 de abril a 31 de dezembro de 2024;
Viana do Castelo, nos Antigos Paços do Concelho, desde 21 de abril;
Vila Verde: Biblioteca Municipal Professor Machado Vilela, de 17 de março a 28 de junho.
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António Bracons, Aspetos da exposição, Amadora, Galeria Artur Bual, 2024
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Alfredo Cunha
Nasceu em 1953, em Celorico da Beira.
Em 1970, iniciou a carreira profissional em fotografia publicitária e comercial; no ano seguinte, estreou-se como fotojornalista no jornal Notícias da Amadora. Colaborou com os jornais O Século e O Século Ilustrado, com a revista Vida Mundial, com a Agência Noticiosa Portuguesa – ANOP e com as agências Notícias de Portugal e Lusa.
Foi fotógrafo oficial dos presidentes da República Ramalho Eanes e Mário Soares, e recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.
No jornal Público, foi editor fotográfico entre 1989 e 1997, e integrou o grupo Edipresse como fotógrafo e editor. Em 2000, começou a trabalhar na revista semanal Focus. Em 2002, colaborou com Ana Sousa Dias no programa televisivo Por Outro Lado, da RTP2. Entre 2003 e 2009, foi fotógrafo e editor do Jornal de Notícias. De 2010 a 2012, foi director fotográfico da Agência Global Imagens.
Actualmente, trabalha como freelancer e desenvolve vários projectos editoriais.
Do seu percurso, destacam-se as séries de fotografias dedicadas ao 25 de Abril de 1974, à descolonização portuguesa em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Cabo Verde, ao PREC (Processo Revolucionário em Curso, 1974-1975), à queda de Nicolae Ceausescu, na Roménia (1989), e à Guerra do Iraque (2003).
Publicou diversos livros de fotografia, entre os quais: Raízes da Nossa Força (1972), Vidas Alheias (1975), Disparos (1976), Naquele Tempo (1995), O Melhor Café (1996), Porto de Mar (1998), 77 Fotografias e Um Retrato (1999), Cidade das Pontes (2001), Cuidado com as Crianças (2003), Cortina dos Dias (2012), O Grande Incêndio do Chiado (2013), Os Rapazes dos Tanques (2014), Toda a Esperança do Mundo (2015), Felicidade (2016), Fátima, enquanto Houver Portugueses (2017), Mário Soares (2017), Retratos 1970-2018 (2018), O Tempo das Mulheres (2019), A Cidade Que não Existia (2020), Leica Years (2020), Dedicatória (2021), A Cidade das Pontes (2022); 25 de abril de 1974, quinta-feira (2023).
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Alexandre Farto aka Vhils
O artista visual português Alexandre Farto aka Vhils (n. 1987) desenvolveu uma linguagem visual única baseada na remoção das camadas superficiais de paredes e outros suportes com ferramentas e técnicas não convencionais, estabelecendo reflexões simbólicas sobre a identidade, a vida no contexto urbano, a passagem do tempo e a relação de interdependência entre as pessoas e o meio envolvente.
Com experiência em graffiti, a sua técnica inovadora de escultura em baixo-relevo, que constitui a base do projeto “Scratching the Surface”, foi recebida com aclamação da crítica. Desde 2005 tem apresentado o seu trabalho em exposições individuais e colectivas, eventos artísticos, instituições, intervenções públicas e projectos comunitários em vários países do mundo, tendo também colocado uma peça site-specific a bordo da Estação Espacial Internacional. Ávido experimentalista, tem desenvolvido a sua estética pessoal numa pluralidade de suportes, desde a pintura em estêncil à escultura em parede, desde explosões pirotécnicas e vídeo até instalações escultóricas. A sua obra está representada em diversas coleções públicas e privadas em vários países.
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Pode conhecer mais sobre a obra de Alfredo Cunha, no FF, aqui.
Pode saber mais sobre a obra de Vhils, aqui, sobre as gravuras que fez para o livro, no FF, aqui.
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