ALFREDO CUNHA, VIVA A LIBERDADE

Exposição na Underdogs Gallery, em Lisboa, de 12 a 27 de abril de 2024.

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A Underdogs Gallery, criada em 2010 por Alexandre Farto aka Vhils, acolhe a exposição de Alfredo Cunha, “Viva a Liberdade”: um conjunto de dez fotografias registadas em Lisboa e arredores, no ano de 1975, onde a presença dos cartazes e dos murais no período pós-25 de abril era extremamente intensa. Estas fotografias integram o livro “25 de abril de 1974, quinta-feira”.

No “Capsule”, o pequeno espaço junto da entrada, acolhe um conjunto de 4 serigrafias realizadas por Vhils a partir de conhecidas fotografias de Alfredo Cunha.

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Sobre a exposição, lemos na folha de sala:

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“A poesia está na rua”. A célebre frase cunhada pela poeta Sophia de Mello Breyner Andresen, encapsulando o espírito da Revolução de 25 de Abril de 1974, seria adoptada pela população que celebrava a liberdade nas ruas e, posteriormente, imortalizada pela pintora Maria Helena Vieira da Silva num conjunto de icónicos cartazes executados na sua inconfundível linguagem visual.

No ano em que se comemora o 50º aniversário da Revolução dos Cravos, revisitamos aqui dez imagens do celebrado fotógrafo Alfredo Cunha captadas nos momentos seguintes à revolução. Estes documentos históricos, criados a partir do olhar atento do fotógrafo, mostram a cidade como lugar de reivindicação e de liberdade de expressão. Retratam a luta pela democracia a partir dos cartazes de manifestação espalhados pelas paredes da cidade e da nova relação dos seus cidadãos com o espaço urbano. Esse mesmo povo, que, meses antes, cantara em uníssono nas ruas pelo fim da ditadura.

O ata de fotografar é, também ele, um ato revolucionário. E Alfredo Cunha optou por apontar a sua câmara para as crianças, as mulheres e os homens, surpreendendo e captando o lado humano do período pós-revolução. Devido à censura e ao monopartidarismo, a produção de cartazes em Portugal antes da revolução era muito limitada. Os cartazes veiculam ideias e mensagens públicas usando uma linguagem direta e inteligível, exploram grafismos inventivos para chegar ao maior número de pessoas possível. Como uma plataforma dedicada às artes urbanas, a Underdogs enaltece e promove a pluralidade da poesia nas ruas das cidades que, em Portugal; assim como em tantas outras nações pelo mundo fora, está intimamente ligada à democracia.

Nesta exposição, olhamos para as fotografias de Alfredo Cunha a partir do Portugal de 2024. A Lisboa contemporânea, dotada de uma paisagem social e urbana multicolorida. Por todos os lados vemos cartazes que celebram a diversidade cultural da cidade, divulgam festas e encontros, ilustram concertos, peças de teatro e exposições. São vários os grafiti e murais que, para além da sua expressão artística, inscrevem-se na paisagem como atos de resistência. A publicidade beneficia-se da livre concorrência do capitalismo. Cartazes criticam questões locais e globais contemporâneas. Slogans enaltecem e rechaçam partidos políticos. A comunicação na cidade de Lisboa é expressão humana estampada nas suas ruas.

Seguimos a clamar: 25 de Abril sempre!

Palavras de ordem do povo que fazia, e continua a fazer, poesia urbana.

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Alfredo Cunha, Lisboa 1975 #1, 2024 – Lisboa 1975 #4, 2024Lisboa 1975 #5, 2024Lisboa 1975 #6, 2024Lisboa 1975 #7, 2024Lisboa 1975 #9, 2024

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2024

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No espaço “Capsule”, apresentam-se 4 serigrafias realizadas por Vhils a partir de fotografias de Alfredo Cunha, para a capa e os separadores do seu livro “25 de Abril de 1974, quinta-feira”.

Lemos na folha de sala:

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Ao crescer no ambiente politicamente carregado da Margem Sul no final da década de 1980 e início da década de 1990, Vhils ficou fascinado pelas suas paredes repletas de restos desbotados de murais políticos e cartazes do período pós-revolucionário. Em 2005, Vhils começou a trabalhar com aglomerados destes mesmos cartazes que removia das ruas. Este foi o primeiro suporte que ele usou para explorar uma técnica de entalhe e à notável abordagem conceptual de dissecar e decompor objetos e superfícies para revelar as camadas estruturais que descrevem a íntima relação entre a cidade e os seus habitantes.

Um dos mais célebres fotógrafos da Revolução de 25 de Abril de 1974, Alfredo Cunha convidou Vhils para intervir sobre algumas das suas fotografias, que hoje constituem documentos vitais para a memória coletiva do período. Em conjunto com a exposição ‘A poesia está na rua”, patente na galeria principal da Underdogs, a Capsule apresenta quatro edições serigráficas que são o resultado desta fértil colaboração, originalmente criada para a capa e os separadores do livro de Cunha “25 de Abril de 1974, quinta-feira”, publicado em 2023 pelas Edições Tinta da-China. Esta nova série de obras celebra o 50º aniversário da Revolução de 25 de Abril, exaltando o que está no cerne das práticas de Vhils e Alfredo Cunha: o protagonismo das pessoas.

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As 4 serigrafias: “Capitão Salgueiro Maia Lisboa, 25 de Abril de 1974, 2024”; “Manifestação dos Trabalhadores – Lisboa, Verão de 1975, 2024”; “Criança Africana Guiné, 2024” e “Manifestação 1 Maio Lisboa, 1975, 2024”, da autoria de Alfredo Cunha & Alexandre Farto aka Vhils, são serigrafadas sobre papel Astropak Avorio 280 g/m2, com tinta serigráfica, verniz, tinta Quink, lixívia e ácido, finalizada à mão, assinada e numerada pelos artistas, numa edição de 74 exemplares cada.

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2024

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A exposição Alfredo Cunha, “Viva a liberdade”, está presente na Underdogs Gallery, na Rua Fernando Palha, Armazém 56, em Lisboa, de 12 a 27 de abril de 2024.

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[Underdogs Gallery], Alfredo Cunha, 12.04.2024

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Alfredo Cunha

Nasceu em 1953, em Celorico da Beira.

Em 1970, iniciou a carreira profissional em fotografia publicitária e comercial; no ano seguinte, estreou-se como fotojornalista no jornal Notícias da Amadora. Colaborou com os jornais O Século e O Século Ilustrado, com a revista Vida Mundial, com a Agência Noticiosa Portuguesa – ANOP e com as agências Notícias de Portugal e Lusa.

Foi fotógrafo oficial dos presidentes da República Ramalho Eanes e Mário Soares, e recebeu a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique.

No jornal Público, foi editor fotográfico entre 1989 e 1997, e integrou o grupo Edipresse como fotógrafo e editor. Em 2000, começou a trabalhar na revista semanal Focus. Em 2002, colaborou com Ana Sousa Dias no programa televisivo Por Outro Lado, da RTP2. Entre 2003 e 2009, foi fotógrafo e editor do Jornal de Notícias. De 2010 a 2012, foi director fotográfico da Agência Global Imagens.

Actualmente, trabalha como freelancer e desenvolve vários projectos editoriais.

Do seu percurso, destacam-se as séries de fotografias dedicadas ao 25 de Abril de 1974, à descolonização portuguesa em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Cabo Verde, ao PREC (Processo Revolucionário em Curso, 1974-1975), à queda de Nicolae Ceausescu, na Roménia (1989), e à Guerra do Iraque (2003).

Publicou diversos livros de fotografia, entre os quais: Raízes da Nossa Força (1972), Vidas Alheias (1975), Disparos (1976), Naquele Tempo (1995), O Melhor Café (1996), Porto de Mar (1998), 77 Fotografias e Um Retrato (1999), Cidade das Pontes (2001), Cuidado com as Crianças (2003), Cortina dos Dias (2012), O Grande Incêndio do Chiado (2013), Os Rapazes dos Tanques (2014), Toda a Esperança do Mundo (2015), Felicidade (2016), Fátima, enquanto Houver Portugueses (2017), Mário Soares (2017), Retratos 1970-2018 (2018), O Tempo das Mulheres (2019), A Cidade Que não Existia (2020), Leica Years (2020), Dedicatória (2021), A Cidade das Pontes (2022); 25 de abril de 1974, quinta-feira (2023).

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Alexandre Farto aka Vhils

O artista visual português Alexandre Farto aka Vhils (n. 1987) desenvolveu uma linguagem visual única baseada na remoção das camadas superficiais de paredes e outros suportes com ferramentas e técnicas não convencionais, estabelecendo reflexões simbólicas sobre a identidade, a vida no contexto urbano, a passagem do tempo e a relação de interdependência entre as pessoas e o meio envolvente.

Com experiência em graffiti, a sua técnica inovadora de escultura em baixo-relevo, que constitui a base do projeto “Scratching the Surface”, foi recebida com aclamação da crítica. Desde 2005 tem apresentado o seu trabalho em exposições individuais e colectivas, eventos artísticos, instituições, intervenções públicas e projectos comunitários em vários países do mundo, tendo também colocado uma peça site-specific a bordo da Estação Espacial Internacional. Ávido experimentalista, tem desenvolvido a sua estética pessoal numa pluralidade de suportes, desde a pintura em estêncil à escultura em parede, desde explosões pirotécnicas e vídeo até instalações escultóricas. A sua obra está representada em diversas coleções públicas e privadas em vários países.

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Pode conhecer mais sobre a obra de Alfredo Cunha, no FF, aqui.

Pode saber mais sobre a obra de Vhils, aqui e sobre a Underdogs Gallery aqui.

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