BRUNO SILVA, SAUDADE, 2019

Prémio Bolsa Estação da Imagem 2018 Coimbra. Exposição na galeria do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha de 23 de abril a 21 de junho de 2019.

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Bruno Silva

Saudade

Fotografia e texto: Bruno Silva

Coimbra: Estação da Imagem e Câmara Municipal de Coimbra / Abril . 2019

Português e inglês / 17,5 x 23,7 cm / 40 págs., não numeradas

Cartonado

ISBN: 9789895411023

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Bruno Silva-Saudade (1)

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De Coimbra, fica um tempo que não passa

Neste passar de um tempo que não volta

Manuel Alegre

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O almoço do curso leva-me a Coimbra para o reencontro com os colegas, cinco anos depois do último almoço.

Saudade é o sentimento que permanece quando se deixa a cidade – e até quando se está lá!

Manuel Alegre, diz:

De Coimbra fica um rio, fica a saudade”

E a quadra popular, tão cantada, sublinha:

Até chega a ter saudades dela

quem nunca nela morou.”

Aproveitei a ida a Coimbra para visitar algumas exposições da Estação da Imagem. Comecei exatamente com “Saudade”, de Bruno Silva, a exposição da Bolsa Estação da Imagem 2018 Coimbra, na galeria do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, cá em baixo, junto ao Mondego.

Escreve Bruno Silva na sua candidatura à Bolsa Estação da Imagem:

Em 2005 mudei-me para Coimbra, onde vivi até finais de 2007. De Coimbra tenho a memória do fervoroso mês de Maio e do deserto e interminável mês de Agosto. A Saudade nasce na partida, e no regresso entende-se que tudo permanece intacto, como se nada tivesse mudado e é aí que Coimbra nos engana. De Coimbra levámos muito mas deixámos pouco.

Coimbra foi a primeira capital do Reino de Portugal e é actualmente a terceira cidade do país. Devido à sua Universidade, fundada em 1290 por D. Dinis I, Coimbra é conhecida por cidade dos estudantes, a terra da saudade. Sendo uma cidade universitária, a transitoriedade é um dos grandes paradigmas de Coimbra. Um ponto de passagem onde muitas pessoas não se fixam. Foi ao acaso que encontrei Coimbra e Arredores, 1927, um pequeno livro de Marques dos Santos editado pela Comissão de Turismo de Coimbra. O livro apresenta a situação e aspecto geral da cidade e oferece ao visitante três itinerários através das principais atracções e monumentos da cidade. Essa Coimbra de 1927, ainda numa fase prematura do Estado Novo, viria a sofrer alterações significativas na sua arquitectura: a nova cidade universitária e o Portugal dos Pequenitos. Historicamente, acontecimentos como a revolução académica de 1969 viriam a ser marcantes para a cidade, tal como para o país. Para muitos, a revolução começou em Coimbra.

Proponho para Bolsa Estação Imagem 2018 Coimbra, à imagem do livro de Coimbra e Arredores, apresentar a situação actual da cidade. Pegando no livro como ponto de partida, escolho o 3.o itinerário porque penso ser o mais nostálgico e o mais adequado para a representação da cidade.

Os locais que constituem o 3.o itinerário são: Aqueduto de S. Sebastião; Jardim Botânico; Edifício de S. Bento; Hospital Militar; Seminário Episcopal; Penedo da Saudade; Convento de Santa Teresa; Instituto Geofísico; Santo António dos Olivais; Penedo da Meditação; Mosteiro de Celas; Cemitério da Conchada; Parque de Santa Cruz. Contudo, não pretendo limitar o trabalho à simples catalogação dos locais que acima referi. O objectivo será criar um percurso através destes sítios, usando-os como meros pontos de referência no percurso. Penso ser relevante um levantamento fotográfico do que foi, do que é, e do que poderá ser. Recorrendo ao arquivo histórico e à prática fotográfica, pretendo registar e documentar a evolução da cidade através de um itinerário turístico com quase um século. Sendo o turismo um tema que cada vez mais é debatido na opinião pública, importa estabelecer ligações e, fundamentalmente, a relativização entre o que é a memória pública e o presente de Coimbra.”

As suas imagens registam a preto e branco o ambiente da cidade, a vivência académica. A Saudade.

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(…) o homem saudoso percebe o mundo externo e o mundo interno exactamente como o homem que não o é. É com os mesmos sentidos, com os mesmos processos, com as mesmas categorias que um e outro apreendem sensações, elaboram ideias e generalizam abstracções; no entanto, os dois homens podem divergir, se é que não divergem, na mesma maneira como interpretam a existência, de tal sorte que ao lado de uma interpretação intelectualista e de uma interpretação pragmática se pode falar de uma interpretação saudosista.»

Joaquim de Carvalho, A problemática da saudade

Bruno Silva prossegue:

E é desta interpretação saudosista da cidade, deste paralelismo entre o mundo interno e externo, da multiplicidade de interpretações que a Saudade permite, que nasce esta Coimbra fragmentada. Sempre igual a si mesma e nós sempre de passagem.”

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Bruno Silva, Saudade, 2019

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Este livro, de distribuição gratuita, mais que o catálogo, é o fotolivro desta exposição patente na galeria do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, de 23 de abril a 21 de junho de 2019.

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2019

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Bruno Silva (1983) utiliza a fotografia como veículo narrativo em projectos na área do documental. Em 2017 recebeu a Bolsa Emergente Fotografia Documental Manifesto/IPCI que lhe permitiu frequentar o master em Fotografia Artística no IPCI. Em 2018 fez parte da programação do Festival Encontros da Imagem Braga 2018 e apresentou “Desmantelamento de um Rio” na Galeria Manifesto.

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