O PORTUGAL DE JOSEF KOUDELKA

80.º aniversário do nascimento de Josef Koudelka (Boskovice, Checoslováquia, 10 de janeiro de 1938)

.

.

.

Uma boa fotografia não depende apenas de nós, depende de muitos factores. Eu diria que uma boa imagem é um milagre. Cristo é o grande artista.”

Josef Koudelka

.

.

 

Este slideshow necessita de JavaScript.

Josef Koudelka, Portugal, Ribatejo region, Fatima (Catholic pilgrimage town), Pilgrims, 1970 – 1976 – Portugal, Douro, Viana de Castelo, Catholic procession in honour of the Virgin Mary, 15 August 1976 – Portugal, 1976 – Portugal, 1979. Magnum Photos

.

.

Koudelka em Portugal

.

Koudelka esteve em Portugal diversas vezes: a primeira vez que veio foi em 1970 (de acordo com o site da Magnum, no catálogo da exposição abaixo, refere-se 1971), integrado numa peregrinação cigana a Fátima. Foi preso pela Pide, depois libertado. Regressou em 1975, 1976, 1977, 1979, 1996, 2004 e 2005.

Sobre a vinda em 2004 diz:

Passei seis semanas em Portugal. Viajei de Norte a Sul, de Este a Oeste. Segui um caminho que eu próprio tracei. Tentei ver o máximo. Fiquei surpreso com o que Portugal mudou desde os anos setenta, altura em que estive no país a fotografar. Mas eu também mudei. Desta vez já não fotografava com uma máquina standard de 35 mm, mas com uma máquina fotográfica panorâmica de grande formato. Concentrei-me a fotografar paisagens.”

In: Espelho Meu . Portugal visto por fotógrafos da Magnum / Mirror Mirror . Portugal as seen by Magnum Photographers, Lisboa: CCB / Steidl, p. 22-23.

.

.

Espelho-Meu-Portugal-Visto-Pelos-Fotografos-da-Magnum

Espelho Meu . Portugal visto por fotógrafos da Magnum / Mirror Mirror . Portugal as seen by Magnum Photographers, Lisboa: Centro Cultural de Belém, Gottingn: Steidl, 2005.

.

.

Em entrevista a Vanessa Rato do jornal Público, em 30 de junho de 2005, aquando da exposição Espelho Meu . Portugal visto por fotógrafos da Magnum / Mirror Mirror . Portugal as seen by Magnum Photographers, apresentada no Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, de 1 de julho a 28 de agosto de 2005, comissariada por Alexandra Fonseca Pinho e Andréa Holzherr; Koudelka fala sobre o seu método de trabalho e sobre ‘o que o faz correr’:

.

Não aceito missões para revistas, mas aceito propostas que vão exactamente ao encontro do que eu gostaria de fazer, em total liberdade e com determinadas condições.

(…)

Não faço nada em menos de três semanas e gosto de voltar três vezes aos mesmos sítios. Há duas coisas: o que eu digo ao lugar e o que ele me diz a mim. Isto quer dizer que há dois tipos de potencialidades: as que estão dentro de mim e as que estão fora de mim. É quando elas se encontram que há uma possibilidade de fotografia. (…) Primeiro quis ver tanto do país quanto possível, depois de ter descoberto certos lugares tentei tirar o melhor partido deles e de mim.

(…)

[Interessa-lhe] Mais ou menos o mesmo que me interessa desde que comecei a fotografar: a paisagem natural que foi alterada pelo homem, ou seja, a paisagem contemporânea. Uma destas imagens é feita do Sítio, na Nazaré: eu vivi lá nos anos 70 e quis ver como estava, se tinha mudado. Mudou imenso! Não é nada do que costumava ser. Nada resta do que havia nos anos 70, excepto as pessoas, que são muito simpáticas.

Nessa altura, o que o fez ir voltando?

Quando deixei a Checoslováquia, acho que por instinto, fui para os países que senti estarem mais próximos do meu coração. Espanha, Portugal e a Irlanda foram os que realmente me interessaram. Em Portugal, houve, por exemplo, Mondim de Basto. Há este monte enorme, como um vulcão, que no topo tem uma igreja [a de N.ª Sr.ª da Graça] com uma peregrinação [todos os anos em Setembro]… Nunca me vou esquecer da noite que dormi lá em cima, com toda aquela paisagem à volta e o fogo-de-artifício da festa a explodir. É por isso que foi tão especial voltar.

(…)

O que posso dizer é que, decididamente, onde eu encontro a felicidade é sozinho, nas paisagens, a ouvir os pássaros, a olhar para as árvores, as pedras.
E as pessoas estão ausentes dessa felicidade? Fotografa-as cada vez menos…
Eu venho de um país comunista com uma estrutura de pensamento estalinista: faço divisões [risos]. Quando fotografo pessoas, uso uma máquina de 35 mm, quando fotografo paisagens, uso uma panorâmica, e gosto de estar sozinho, de não ver ninguém. Embora continue a gostar de fotografar pessoas, há hoje cada vez menos pessoas que me interesse fotografar.

(…)

Tem que ver com as razões de eu ter gostado da Espanha e de Portugal. Toda a vida me interessaram mais as coisas que estão prestes a terminar, e que eu tento preservar, do que aquelas que estão a começar.

(…)

Quando se passa uma vida inteira a fotografar, 40, 50 anos, uma boa fotografia não depende apenas de nós, depende de muitos factores. Eu diria que uma boa imagem é um milagre. Cristo é o grande artista.”

.

.

.

 

Este slideshow necessita de JavaScript.

Josef Koudelka, Portugal, Granja, 2004 – Portugal, Perto da Praia do Guincho, 2004* – Portugal, Beira Baixa, Covilhã, 2004* – Portugal, Alentejo, Vila Viçosa, Marble quarry, 2005. Magnum Photos

(* identificação de acordo com o catálogo da exposição)

.

.

.

Josef Koudelka nasceu em 10 de janeiro de 1938 em Boskovice, na região da Moldávia, na Checoslováquia. Estudou na Universidade Técnica Checa em Praga (CVUT) entre 1956 e 1961, tendo recebido um diploma em engenharia em 1961. Organizou a sua primeira exposição fotográfica neste mesmo ano. Mais tarde, trabalhou como engenheiro aeronáutico em Praga e Bratislava.

Koudelka iniciou a sua atividade como fotógrafo, para revistas de teatro, fotografando produções teatrais no Teatro de Praga “Atrás do Portão”. Em 1967, deixou a sua atividade como engenheiro, passando a dedicar-se exclusivamente à fotografia.

Dois dias depois de regressar de um projeto fotográfico com o Povo Români na Roménia, em agosto de 1968, dá-se a invasão da Checoslováquia pelas tropas soviéticas. Koudelka fotografou a entrada das forças militares do Pacto de Varsóvia em Praga e o esmagamento das reformas da chamada Primavera de Praga. Conseguiu passar os negativos para a agência Magnum, foram publicados no jornal The Sunday Times, assinados como P.P. (Praga Photographer), a fim de evitar represálias contra si e a sua família.

Em 1969, o “fotógrafo checo anónimo” foi premiado com o Overseas Press Club Robert Capa Gold Medal para fotografias que exigem uma coragem excecional. No ano seguinte, Koudelka consegue fugir para a Inglaterra com um visto de trabalho por três meses, pedindo asilo político.

Em 1971 integrou o coletivo Magnum Photos, em 1987 tornou-se cidadão francês e em 1990 regressa à Checoslováquia pela primeira vez. Atualmente reside entre Paris e Praga.

Desde então viaja essencialmente pela Europa. Regista os ciganos, a religiosidade popular, as pessoas simples. Disso são testemunho os seus livros Gypsies (Ciganos, 1975) e Exils (Exilados, 1988). Em 1999 publica Chaos, imagens de paisagem, realizadas com uma câmara panorâmica, trabalho que desenvolve desde 1986.

Entre outros prémios ganhou o Prix Nadar (1978), o Grand Prix National de la Photographie (1987 e 1989), o Grand Prix Cartier-Bresson (1991), e o Prémio Internacional Fundação Erna and Victor Hasselblad em Fotografia, Suécia (1992), “The Royal Photographic Society’s Centenary Medal and Honorary Fellowship (HonFRPS), Inglaterra (1998), o Cornell Capa Infinity Award, do International Center of Photography, EUA (2004) e o Dr. Erich Salomon Award, Alemanha (2015).

.

.

.

Pode ler a entrevista completa de Vanessa Rato a Josef Koudelka, 30.06.2005, no jornal Público aqui.

Pode ver as imagens de Portugal de Josef Koudelka no site da Magnum Photos, nos diferentes anos: 1970, 1975, 1976, 1977, 1979, 1996, 2004 e 2005.

Pode ver o trabalho de Josef Koudelka no site da Magnum Photos, aqui.

.

.

.