GERALDO DE BARROS: FOTOFORMAS E SOBRAS

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Geraldo de Barros (Chavantes, S. Paulo, 27.02.1923 — São Paulo, S. Paulo, 17.04.1998) “foi um artista múltiplo, um permanente experimentador, um artista comprometido com a arte de intervenção através dos muitos movimentos em que participou.”

Entre 1946 e início dos anos 50, desenvolveu o projeto fotográfico “Fotoformas”, abstrato, que veio a revolucionar a fotografia brasileira. Dedicar-se-á de seguida à pintura e ao mobiliário.

Em 1954 funda com um padre Dominicano a comunidade de trabalho UNILABOR. Desenhou e projetou mobiliário baseado nas referências construtivas da Arte Concreta, alterando “os processos de produção tradicionais de mobiliário de modo a beneficiar os trabalhadores e os clientes.” Até 1961, a UNILABOR foi marca de referência no design de mobiliário em S. Paulo e reconhecida a sua valência social.

Em 1964, Barros funda uma nova indústria de mobiliário: a HOBJETO, mantendo as suas caraterísticas construtivas.

Foi um activista em vários colectivos de artistas brasileiros, como o Grupo XV nos anos 40, o grupo de Concrete Art Ruptura em 1952, a comunidade de trabalho e fábrica de móveis UNILABOR e o Grupo Rex nos anos 60” ou o grupo FormInform.

Até à sua reforma em 1989, Barros projetou numerosas linhas de mobiliário, retomando depois a fotografia.

Como afirma a historiadora de arte Ana Maria Belluzzo, Geraldo de Barros foi um artista plural que inventou uma poética própria – pintando, desenhando móveis, criando cartazes para cinema e logótipos, realizando fotografias – e com ela marcou profundamente o Brasil, do pós-Guerra até ao final da sua vida.”

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As séries apresentadas nesta exposição são a mais expressiva representação da fotografia abstracta criada por Barros e cor­respondem a dois períodos em que a fotografia foi o centro da sua actividade como artista”: Fotoformas e Sobras.”

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Fotoformas

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Geraldo de Barros, Fotoformas, 1946-1952

Paris, estúdio de Arpad Szénes e Vieira da Silva, 1951 – S. Paulo, 1949 – S. Paulo, 1949 – S. Paulo, 1949 – S. Paulo, 1949 – Belo Horizonte, 1951 – “Movimento Giratório”, 1952

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Fotoformas é uma série iniciada em 1946, que tem o seu expoente na exposição no Museu de Arte de São Paulo, apresentada entre os dias 2 e 18 de Janeiro de 1951, com museografia de Lina Bo Bardi, e constituiu um momento iconoclasta na sociedade paulistana de então. Como diz a sua filha, a artista Fabiana de Barros, o fotógrafo fez tábua rasa do que era fotografia e seguiu o caminho contrário ao recomendado no manual de fotografar: fotografou a contra-luz, sobrepôs e manipulou os negativos, alterou tempos de ex­posição e foi abandonando o retrato figurativo, o que lhe valeu ser identificado pelo crítico belga Léon Degand, chegado em 1948 ao Brasil, um pioneiro do abstracionismo contra o figurativismo ultrapassado. É determinante para o trabalho de Barros o contacto com a obra de Max Bill, em 1950, nomeadamente pela dimensão construtiva, razão que o leva a viajar para a Suíça em 1951, e depois para Ulm, na Alemanha, para estudar com Otl Aicher os fundamentos do design gráfico. Foi o trabalho visual, construtivo e modular de Barros que mais beneficiou dos ensinamentos de Bill.”

Barros parte de fotografias suas, formas abstratas que sobrepõe, criando imagens de grande equilíbrio, de desenho elaborado, por vezes com simetrias ou deslocação ou rotação dos elementos da imagem que a compõem. São no geral imagens de grandes contrastes – preto ou cinza escuro e branco ou cinza claro. Barros ressalta a forma, a sua essência num equilíbrio de composição, que não será alheio ao desenho de móveis a que posteriormente se dedicará.

Em 2014 o Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, adquiriu à família do artista 620 imagens da série Fotoforma.
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Sobras

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Geraldo de Barros, Sobras, 1996-1998

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Após a sua reforma, em 1996, Barros regressou à “fotografia, ou, para ser mais exacto, à reinvenção do trabalho das imagens a partir das fotografias” com a série Sobras, com a ajuda de sua assistente, a fotógrafa Ana Moraes.

Sobras, as suas últimas obras, são feitas a partir de negativos do arquivo pessoal do artista, recortados e montados sobre placas de vidro e depois pintados com tinta-da-china e enquadrados por fita adesiva. Sobras tem origem, na sua maioria, em fotografias tiradas à família. São sobras de passeios de família, de viagens, de encontros, de fotografias ocasionais guardadas em gavetas que para muitos estudiosos de Barros (Ruben Fernandes em particular) correspondem a uma atitude melancólica do artista, ainda que poética e sem qualquer interpretação psicológica. E são sinal da radicalidade com que o artista sempre olhou e concebeu a arte.”

Em Sobras, Barros parte da imagem, fragmenta-a, destaca, desloca, esconde (pintando a tinta da China ou raspando), risca… Cria novas imagens como um misto fotográfico de fotografia e desenho e pintura. Geraldo de Barros apenas imprimiu 80 das cerca de 400 imagens da série, de acordo com

Este trabalho foi mostrado pela primeira vez em 1998 no Ludwig Museum, em Colónia, na Alemanha, poucos meses depois da morte de Geraldo de Barros, com 75 anos.

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António Bracons, “Geraldo de Barros: Fotoformas e Sobras”, Aspetos da exposição, 2017

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A exposição Geraldo de Barros: Fotoformas e Sobras esteve patente na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, em Lisboa, de 15 de julho a 17 de setembro de 2017, integrado na programação de Lisboa 2017 – Capital Ibero-Americana da Cultura.

 

As citações foram retiradas do texto do site da FASVS e da folha de sala e do site de Geraldo de Barros.

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Pode conhecer melhor o trabalho de Geraldo de Barros aqui.

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