JONO TERRY, RHODESIANA AFRICANUS
Integrou a exposição “The Journey: From Then to Now” / “A Jornada: Do Passado ao Presente” do Imago Lisboa Photo Festival, que esteve patente nas Carpintarias de São Lázaro..
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Rhodesiana Africanus é uma exploração tripartida da identidade, pertença e legado colonial no país onde nasci, o Zimbabué (antiga Rodésia). Trata-se de um estudo ficcional do homem branco em África, contado através de três gerações da história da minha família.
Cada parte, cada capítulo, entrelaça o complexo panorama social, cultural e político da minha terra natal, questionando o meu sentimento de ligação a ela:
Beneath the Bougainvillea (Debaixo da Buganvília) explora a história dos meus avós britânicos na Rodésia através do simbolismo de uma buganvília — uma espécie estrangeira transportada para esta terra para recordar aos colonos o seu país de origem, trazendo cor a um território que era considerado monocromático e, com isso, plantando as sementes da minha própria identidade africana. É sobre o solo vermelho e profundamente fértil do meu país. É sobre a terra. É sobre como vim a ser zimbabueano.
As buganvílias são omnipresentes no Zimbabué — os seus tons rosa e vermelhos tingem as minhas memórias de infância de espaço, calor e felicidade; os seus vestígios permanecem em fotografias, bermas, jardins, escolas e espaços públicos. Pele rosada. Antinaturais. Entrelaçadas. Por vezes vejo-as como bonitas plantas; outras vezes como feridas abertas, carne magenta a brilhar no sol africano.
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Jono Terry, Rhodesiana Africanus
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A série de Jono Terry, “Rhodesiana Africanus”, integrou a exposição “The Journey: From Then to Now” / “A Jornada: Do Passado ao Presente” do Imago Lisboa Photo Festival, que esteve patente nas Carpintarias de São Lázaro, na R. de São Lázaro 72, em Lisboa, de 17 de outubro a 9 de novembro de 2025.
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Sobre “The Journey: From Then to Now”, escreve a curadora, Anne Nwakalor:
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Quero que o trabalho de cada fotógrafo dialogue entre si, criando uma viagem visual e temática coesa. A exposição seguirá uma trajetória histórica e contemporânea, começando com o projeto de Giya, que explora o colonialismo e o seu impacto nas crenças ancestrais. Este leva ao trabalho de Tayo, que examina a exploração e a mercantilização dos corpos das mulheres negras. E em seguida o projeto de Jono, que lida com as heranças coloniais do Zimbabué, destacando os seus efeitos duradouros.
A partir daí, o trabalho de Obayomi aborda a influência contínua das potências coloniais através da rejeição sistemática de pedidos de visto, revelando barreiras modernas à mobilidade. O projeto de KC capta a instabilidade que muitos enfrentam mesmo dentro do seu próprio continente, documentando o deslocamento forçado de nigerianos na África do Sul devido à xenofobia. A exposição termina com o trabalho de Adïam, que se foca nos combates e na resiliência dos refugiados, oferecendo uma mensagem de esperança apesar dos desafios contínuos do deslocamento.
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Na apresentação desta 7.ª edição do Imago Lisboa Photo Festival, Rui Prata, curador artístico, escreve:
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QUEBRAR O SILÊNCIO – CAMINHAR JUNTOS
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Na sua 7ª edição, o Imago Lisboa reafirma-se como um espaço plural de encontro e reflexão em torno da imagem fotográfica. Consolidado no panorama cultural de Lisboa — e com crescente reconhecimento nacional e internacional — o festival propõe-se, mais uma vez, não apenas como plataforma expositiva, mas como agente ativo no desenvolvimento da literacia visual e da compreensão crítica das artes visuais contemporâneas.
A edição de 2025 inscreve-se num contexto em que a prática fotográfica é convocada a pensar o mundo a partir da sua própria ontologia: o olhar, o registo, a memória, o silêncio. O tema curatorial — Quebrar o silêncio, caminhar juntos — convida à escuta e à partilha, num momento em que a convivência entre culturas e experiências se torna imperativa.
Portugal, enquanto território histórico de cruzamentos, encontros e deslocações, revela-se simultaneamente como espaço de acolhimento e de silêncio. A construção da nossa identidade coletiva foi, desde sempre, marcada pela presença do outro — os cruzados que povoaram os territórios conquistados, os estrangeiros que ocuparam as possessões ultramarinas, os migrantes que hoje respondem às necessidades de uma população em regressão. Este festival pretende, assim, abrir espaço para narrativas que foram historicamente silenciadas e promover uma escuta ativa dessas vozes.
A programação artística do Imago Lisboa 2025 articula-se em torno de um conjunto de exposições que propõem diálogos entre artistas consagrados e emergentes, de diferentes geografias e gerações. Estas exposições espelham a diversidade das práticas fotográficas atuais e são complementadas por um amplo programa de atividades: debates, oficinas, projeções, leituras de portfólios e conferências.Numa estratégia de alargamento e fidelização de públicos, o festival promove ainda ações educativas nas bibliotecas municipais, com sessões dedicadas à História da Fotografia e conversas em torno da obra de artistas participantes — criando, assim, condições para uma descodificação mais sensível e informada das suas narrativas visuais.
Por fim, numa abordagem mais lúdica e experimental, o Imago Lisboa propõe oficinas abertas a jovens, seniores e famílias, onde se exploram formas alternativas de fazer e pensar a fotografia. Porque é também na brincadeira, no gesto e no improviso que se quebram silêncios e se criam novos caminhos partilhados.
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Pode conhecer melhor a obra de Jono Terry, aqui.
A agenda da 7.ª edição do Imago Lisboa Photo Festival, 2025, no FF, aqui.
Sobre esta edição do Imago Lisboa Photo Festival, no seu site, aqui.
Sobre estas e outras edições do Imago Lisboa Photo Festival, no FF, aqui.
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Cortesia: Imago Lisboa Photo Festival
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