JEFF WALL – TIME STANDS STILL. FOTOGRAFIAS, 1980–2023
Exposição no MAAT, em Lisboa, de 23 de abril a 1 de setembro de 2025.
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O amplo espaço branco do MAAT acolhe em exclusivo a exposição do canadiano Jeff Wall, “Time Stands Still”, a primeira do artista em Portugal. A obra de Jeff Wall é relativamente reduzida, cerca de 200 fotografias, das quais se apresentam 63. Cada fotografia é cuidadosamente pensada e elaborada, podendo agregar várias dezenas de imagens. No geral, o formato é grande e muitas são apresentadas em caixa de luz.
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Na folha de sala podemos ver algumas fotografias da exposição e ler o texto de Sérgio Mah, curador da exposição, que transcrevo de seguida:
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Jeff Wall, The Drain, 1989. Transparência em caixa de luz; 229 × 290 cm – Parent child, 2018. Impressão a jato de tinta; 220 × 275 cm – A man with a rifle, 2000. Transparência em caixa de luz; 226 × 289 cm – The Jewish Cemetery, 1980. Transparência em caixa de luz; 62 × 229 cm
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Jeff Wall (Vancouver, 1946) é uma das figuras mais reconhecidas e influentes do panorama internacional das artes visuais das últimas décadas. A sua obra evidencia uma atenção privilegiada por genealogias e modelos de representação visual que marcam a história da cultura ocidental, em particular por formas canónicas que ajudaram a estabelecer uma certa ideia de imagem ocidental. No cerne desta ideia encontra-se o conceito de quadro na pintura, que desponta com a institucionalização da perspectiva. Este conceito define um modelo de estruturação composicional e figurativa que, não obstante as sucessivas resistências e reformulações, persiste ao longo da história da arte até ao surgimento da abstração monocromática no início do século XX. Wall adota a fotografia como medium de representação, contudo o seu imaginário artístico mobiliza articulações estéticas e conceptuais com os campos da pintura, do cinema, da literatura e do teatro, entendidos como modos correlativos de representar e imaginar o real.
A maioria das fotografias de Jeff Wall resulta de processos de construção e composição. São imagens previamente pensadas, planeadas e posteriormente executadas, à semelhança do que faz um pintor ou um realizador de cinema. Muitas, sobretudo desde o início da década de 1990, são fotomontagens que resultam da combinação de várias fotografias individuais. Contudo, a sua obra também inclui algumas fotografias que podem ser consideradas documentais, no sentido em que não implicaram nenhuma intervenção prévia do fotógrafo. Porém, num registo mais direto ou fabricado, Jeff Wall salienta as suas imagens como construções, como resultado de opções deliberadas, e reforça o seu cariz contextual e subjetivo: “a minha prática tem sido a de rejeitar o papel de testemunha ou jornalista, o papel do ‘fotógrafo’, que, de certa maneira, objetifica o sujeito da imagem ao mascarar os impulsos e sentimentos do autor da imagem. A poética ou a ‘produtividade’ do meu trabalho tem-se centrado na encenação e na composição pictórica – aquilo a que chamo ‘cinematografia’. É isso, espero eu, que torna evidente que o tema foi subjetivizado, que foi retratado, reconfigurado de acordo com os meus sentimentos e literacia” [Jeff Wall, Arielle Pelenc in correspondence with Jeff Wall, in Jeff Wall, Phaidon, Londres, 1996].
Na sua prática artística cada trabalho surge de forma autónoma, enquanto unidade independente que exprime a sua singular e inerente lógica criativa e formal. Embora as imagens sejam, na sua maioria, individuais, existem alguns dípticos e trípticos, que nos últimos anos se tornaram mais frequentes. A escala das fotografias é outra característica distintiva no trabalho de Jeff Wall que, desde finais dos anos 1970, produz imagens de grandes dimensões, o que o diferencia, nomeadamente se comparado com o que era mais comum e convencional no campo da fotografia artística. Inicialmente apresentadas em caixas de luz que evocavam a publicidade urbana, a partir de finais dos anos 1990 o artista adotou gradualmente a impressão em gelatina e prata para as imagens a preto e branco, e a impressão a jato de tinta sobre papel fotográfico para as imagens a cores.
A dimensão das fotografias não surge de um mero desejo de ampliação, de produção de uma imagem imensamente grande. Trata-se sobretudo de visar a escala do corpo humano, a possibilidade de configurar um plano de proximidade entre a escala das figuras e objetos na imagem e a de quem escala, que estimula o imediatismo físico e a intensificação precetiva, é um dos legados da história da pintura ocidental, desde Diego Velázquez a Édouard Manet ou a Jackson Pollock.
Na sua obra, Jeff Wall tem abordado temas reconhecíveis, cenas da vida quotidiana, situações e cenários testemunhados, imaginados ou inspirados na história da arte ou em descrições literárias. Entre algo visto ou a convicção de que isto acontece ou acontecerá, sobressaem as problemáticas, as tensões e os dramas inerentes às sociedades modernas e contemporâneas, como a solidão, a pobreza, a alienação, a violência urbana, o abandono e a exclusão social. São temas que o incitam a criar imagens visionárias, enigmáticas e lucidamente representativas sobre a época em que vivemos.
Os seus quadros fotográficos não devem ser vistos como pinturas – não são, efetivamente, pintados –, mas como imagens que combinam e potenciam as estreitas e continuadas relações históricas entre fotografia e pintura, numa época em que ambos os media têm vindo a ser sujeitos a um amplo escrutínio analítico. Ao combinar o modelo do quadro com parâmetros da fotografia documental, Jeff Wall induz também uma radical reformulação da imagem documental enquanto arte, vinculando-a à representação de um acontecimento fabricado e “textual”, situando-a num espaço intermédio, simultaneamente real e não real. É assumido que a representação fotográfica propicia uma relação irónica e artificial com o assunto, internalizando as contradições e dilemas da nossa relação com o mundo, a nossa incapacidade de hierarquizar as formas do visível.
O artista explora a perceção da realidade através das suas inextricáveis dúvidas, não deixando que os temas e os lugares, como cenários da ação histórica, deixem de aparentar a sua banalidade e a sua estranheza, a sua evidência e a sua contra evidência, a sua verdade e a sua ficção. Porque se encontra o homem deitado debaixo da mesa em Insomnia (1994)? A quem se dirige o gesto em A man with a rifle (2000)? O que está a acontecer em Listener (2015) ou em Event (2020)? Por que razão decidiu a criança deitar-se no meio do passeio em Parent child (2018)? O que desencadeou A Fight on the Sidewalk (1994)? Através da suspensão fotográfica, Jeff Wall opera de modo a parar o tempo numa micrologia do instante que nos faz pensar que há um acontecimento em curso. Daí o efeito de suspense que algumas imagens geram. Nestas inscreve-se, de algum modo, uma diáfana presença dos momentos que lhes poderiam ter antecedido, e também dos momentos que lhes poderiam ter sucedido. Representa-se assim o penúltimo ato de uma história cujo desenlace desconhecemos; o que tem lugar em determinado momento e que nunca se voltará a repetir ou resolver é acentuado como momento único da narrativa.
Esta é primeira exposição individual do artista em Portugal, e a maior realizada nos últimos 20 anos. São apresentadas 63 obras, sendo de referir que, ao longo da sua trajetória criativa, Jeff Wall fez cerca de 200 no total. Reunindo fotografias produzidas entre 1980 e 2023, esta mostra revisita os vários períodos, aspetos e temas que constituem o seu singular imaginário artístico.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2025
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A exposição “Jeff Wall – Time Stands Still. Fotografias, 1980–2023”, com curadoria de Sérgio Mah, está patente no MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, em Lisboa, de 23 de abril a 1 de setembro de 2025.
Na exposição é possível ver um vídeo, gravado ao longo da montagem da exposição, em que o fotógrafo fala da sua obra e de algumas das suas fotografias.
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António Bracons, Aspetos da exposição (vídeo), 2025
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Jeff Wall nasceu em 1946 em Vancouver, onde vive e trabalha. Envolveu-se com a fotografia na década de 1960 e, em meados da década de 1970, começou a experimentar a sua nova versão defotografia pictórica. A partir do outono de 1977,as suas fotografias foram feitas como transparências coloridas retroiluminadas, apresentadas em caixas de luz, muitas delas de grande dimensão, um meio identificado na altura mais com publicidade do que com arte fotográfica. Desde meados da década de 1990, Wall expandiu o seu repertório, trabalhando com impressões tradicionais a preto e branco e, mais recentemente, impressões coloridas a jato de tinta.
As fotografias de Jeff Wall retratam frequentemente acontecimentos que o artista testemunhou e reconstruiu num processo a que chama “cinematografia”. Os seus temas vão desde ocorrências quotidianas fotografadas em locais reais a situações imaginárias construídas em estúdio.É considerado um dos artistas que, desde a década de 1970, tem vindo a dar ênfase às afinidades entre fotografia, pintura e cinema. Ensinou arte em universidades do Canadá durante vinte e cinco anos e a sua escrita crítica foi reunida e publicada em várias línguas.
As fotografias de Jeff Wall foram exibidas mundialmente ao longo dos últimos quarenta anos. O seu trabalho foi tema de inúmeras exposições retrospetivas em várias instituições, incluindo o Schaulager, Basileia (em digressão pela Tate Modern, Londres, 2005); o MoMA – Museum of Modern Art, Nova Iorque (em digressão pelo The Art Instituteof Chicago e o SFMoMA – San Francisco Museum of Modern Art, 2007); e mais recentemente, o Glenstone Museum, Potomac (2021) e a Beyeler Foundation, Basileia (2024). A lista de exposições coletivasé longa e inclui, entre muitas outras, a Documenta 10, Kassel (1997); 24.ª Bienal de São Paulo (1998); 12.ª Bienal de Sydney (2000); Documenta 11, Kassel (2002) e a 5.ª Bienal de Xangai (2004).
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Pode descarregar o guia da exposição / folha de sala, aqui.
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