LILIPUT: O MURMÚRIO DE SUSANA PAIVA

Murmúrio #01

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O novo projecto LILIPUT, de Susana Paiva e do Atelier Pop-Up, é composto por dois movimentos, o primeiro dos quais “Murmúrio”, tem lugar na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, através de doze postais.

Procurando um tempo longo da leitura, apresentarei em cada publicação um postal.

Este primeiro postal, fotografia de Susana Paiva, foi distribuído ao longo do mês de abril de 2025, na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian.

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Susana Paiva, Projecto LILIPUT – murmúrio #01

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O murmúrio da cortina,

mexe, abre-se ou esconde

o murmúrio da sombra sobre a luz,

o murmúrio de uma passagem, uma porta aberta,

um convite

a ir além.

Nos cinzas e brancos e negros,

a imagem murmura,

espera que a oiça.

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António Bracons

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O Projeto LILIPUT – murmúrio e [in]visibilidade

Curadoria | Susana Paiva

Produção | Atelier POP-UP

Parcerias | Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian e Galeria Santa Maria Maior

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Vivemos num tempo de excessiva visibilidade. A imagem, outrora indício de memória e documento do invisível, tornou-se resíduo constante de um presente que se reproduz compulsivamente. Neste contexto, o olhar – sobrecarregado, automatizado, anestesiado – perde espessura, profundidade e cuidado. É neste cenário que nasce o Projeto LILIPUT, gesto curatorial que ensaia, em duas micro-ações fotográficas, uma proposta de reencontro com um olhar atento, pausado, sensível.

Concebido por Susana Paiva e produzido pelo Atelier POP-UP, LILIPUT não se apresenta como uma exposição no sentido tradicional do termo. A sua presença é subtil, quase clandestina. Os seus suportes – postais fotográficos – circulam livremente, fora das vitrines e dos formatos convencionais. O seu objetivo não é o espetáculo, mas o vínculo – o encontro íntimo entre imagem e espectador, mediado pela surpresa, pelo afecto e pela disponibilidade interior de quem se deixa tocar.

O projeto desenrola-se em dois tempos e dois espaços, ambos significativos – a Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian e a Galeria Santa Maria Maior, em Lisboa. Espaços de leitura e pensamento, de silêncio e partilha, onde a imagem encontra interlocutores predispostos ao diálogo.

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Uma prática curatorial do encontro

Mais do que um projeto de fotografia, LILIPUT é uma proposta de mundo – um ensaio curatorial sobre o modo como habitamos a imagem e somos por ela habitados. Ao semear imagens em lugares de trânsito intelectual e emocional, LILIPUT recupera o potencial poético da fotografia como forma de encontro: entre autor e leitor, entre visível e invisível, entre o gesto criativo e o gesto de acolhimento.

Esta curadoria do pequeno – do subtil, do mínimo – é também uma forma de protesto contra o ruído dominante. Uma tentativa de devolver ao olhar a sua densidade ética e estética. E, sobretudo, um apelo: para que se veja com tempo, com cuidado, com presença.

Neste tempo de ruído e excesso, LILIPUT sussurra. E talvez seja no murmúrio que hoje mais precisamos de ouvir a imagem..

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Movimento primeiro – “Murmúrio”, na Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian (2025–2026)

O primeiro movimento de LILIPUT, intitulado “Murmúrio”, habita a Biblioteca como um sussurro. Os postais são discretamente inseridos entre páginas, publicações, prateleiras – à espera de serem descobertos por acaso. Esta lógica do encontro fortuito reforça a ideia de um circuito alternativo da imagem, onde a obra não é apenas vista, mas descoberta. Cada um dos 12 autores contribui com uma imagem singular, impressa em 150 exemplares, totalizando 1800 pequenos objetos poéticos prontos a serem apropriados pelo público.

A inscrição “este postal coleccionável é para si” legitima esse gesto de apropriação, enquanto um código QR conduz a uma página digital que expande o conteúdo, oferecendo informação adicional sobre os autores e os seus trabalhos.

Neste primeiro movimento, a fotografia torna-se presente e partilha – um exercício de resistência sensível contra a saturação. Um apelo ao tempo longo da leitura, à escuta do visível, à fruição desobrigada de espetáculo.

Autores participantes, por ordem de publicação: Susana Paiva, Francisco Ricarte, Mide Plácido, António Alves Martins, Mircea Sorin Albutiu, Mário Pires, Jose Zyberchema, Paula Arinto, Paulo Alexandrino, Arlindo Pinto, Clara Azevedo e Elisabeth Vieira Alvarez.

A distribuição dos postais decorrerá entre Abril 2025 e Março 2026, com a disponibilização mensal, nas instalações da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian, de 150 exemplares de um dos postais.

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Pode conhecer mais sobre a obra de Susana Paiva, aqui e no FF, aqui.

Sobre este Projeto no website do Atelier Pop-UP, aqui, no website Fundação Calouste Gulbenkian, aqui.

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Cortesia: Susana Paiva e Atelier Pop-Up

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Revisto em 20.07.2025

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