CRISTO GEOGHEGAN, CLAUDIA ANDUJAR, HODA AFSHAR, PARIACACA, SMITH. LUMINÓFILOS

Exposição integrada na Bienal’25 de Fotografia do Porto, pode ser vista no Centro Português de Fotografia, de 15 de maio a 29 de junho de 2025.

.

.

.

Luminófilos é o primeiro capítulo de uma investigação sobre duas dimensões principais da luz como fundamento essencial da fotografia: enquanto revelação, cujo excesso ou ausência pode revelar visões ocultas, e enquanto luz mística, ligada a revelações espirituais e políticas. A exposição apresenta práticas artísticas em diálogo com a “luz seca” dos desertos e a “luz húmida” das florestas, através das lentes de cinco artistas contemporâneos, da Ásia Ocidental à Amazónia, destacando as semelhanças e dualidades entre as cosmopolíticas emergentes destas regiões.

Claudia Andujar desvenda um genocídio, enquanto as obras de Christo Geoghegan e do Coletivo Pariacaca desconstroem os estereótipos dos exploradores europeus, oferecendo novas visões inspiradas nas cerimónias amazónicas, muitas vezes demonizadas pela Igreja Católica. Smith e Hoda Afshar baseiam as suas obras no deserto, envolvendo-se com a sua luminosidade e natureza árida, criando narrativas de vida hermética, rituais de jejum e estados de transe e meditação.

Através de imagens de memória e imagens de esquecimento, a exposição destaca o papel crucial da consciencialização e do conhecimento na resistência ao apagamento. Esta resistência cria uma oportunidade para conectar a história com o presente, repensando as complexas interações entre tecnologia, cultura e identidade. Protegendo um segredo profundamente humano, que nenhuma inteligência artificial jamais realmente compreenderá, Luminófilos convoca uma reimaginação da humanidade, reintroduzindo o imaginário e o mitológico na nossa compreensão do que significa ser humano.

.

.

.

CLAUDIA ANDUJAR, CLAUDIA ANDUJAR & OS YANOMAMI

.

.

Fruto da colaboração da artista e ativista Claudia Andujar com o povo Yanomami, o trabalho fotográfico aqui apresentado integra um movimento de resistência e luta, em cooperação com lideranças Yanomami, como o xamã Davi Kopenawa, pelo respeito pelo modo de vida do seu povo. A instalação divide-se em dois momentos. No começo dos anos 1970 a artista fotografou na porção brasileira do território Yanomami, tentando traduzir a beleza e complexidade da vida na floresta e da espiritualidade xamânica, até ser expulsa da região pelo governo brasileiro por denunciar a violência contra o povo Yanomami decorrente dos programas promovidos pela ditadura militar (1964-1985). Nos anos 1980 refotografou o seu arquivo para protestar contra a demarcação fragmentada da Terra Indígena Yanomami, sendo a demarcação contínua apenas homologada pelo governo em 1992. A exposição serve também de plataforma para que o povo Yanomami seja visto e ouvido fora do seu território, num momento em que a violência contra os povos indígenas e a crise climática global ameaçam as suas vidas.

.

Thyago Nogueira, Instituto Moreira Salles, Curador convidado

.

.

.

Claudia Andujar & Os Yanomami

.

.

Claudia Andujar (1931) é uma fotógrafa e ativista suíça, naturalizada brasileira, que vive e trabalha em São Paulo (Brasil). Emigrou para os EUA após a Segunda Guerra Mundial e, em 1955, para o Brasil. Na década de 70, realiza um estudo e registo fotográfico da cultura Yanomami. De 1978 a 2000, trabalhou para a Comissão de Pró-Yanomami e coordenou a campanha para a demarcação do território Yanomami na Amazónia, criado em 1992. Recebeu vários prémios e homenagens pelo seu trabalho artístico e de defesa dos diretos humanos. Desde 2022, o arquivo de Claudia Andujar integra o Acervo do Instituto Moreira Salles.

.

Apoio: Instituto Moreira Salles, Hutukara Associação Yanomami, Instituto Socioambiental

.

Pode conhecer melhor o trabalho da artista aqui. Sobre a sua obra no FF, aqui

.

.

.

CHRISTO GEOGHEGAN, WITCH HUNT

.

.

Primeiro volume de Witch Hunt (2016-2023), este projeto investiga o crescente fenómeno global de abusos dos direitos humanos ligados a práticas prejudiciais relacionadas com acusações de bruxaria e ataques rituais, que teve mais de 20.000 vítimas registadas em 60 países na última década. Geoghegan investiga uma série de assassinatos não resolvidos de curandeiros acusados de bruxaria na comunidade amazónica de Balsapuerto no Perú, explorando a intersecção entre as crenças indígenas, a violência e o poder político. The Banished of Balsapuerto procura lançar luz sobre estes acontecimentos e as suas repercussões na comunidade.

.

.

.

Christo Geoghegan, Witch Hunt

.

.

Christo Geoghegan (1988) é um fotógrafo documental, cineasta e jornalista visual premiado, queer, irlandês e britânico. O seu primeiro livro, Witch Hunt Vol I: The Banished of Balsapuerto, resulta na primeira parte de um corpo de trabalho mais vasto, focado no aumento global das violações dos direitos humanos através de “práticas nocivas relacionadas com manifestações de crença em bruxaria”. Em 2018 foi convidado pelas Nações Unidas em Genebra para participar na primeira reunião de peritos da organização para discutir e reconhecer a epidemia. O seu trabalho de cinema documental tem sido apresentado em prestigiados festivais internacionais de cinema.

.

Pode conhecer melhor o trabalho do artista aqui.

.

.

.

HODA AFSHAR, SPEAK THE WIND

.

.

Speak the Wind (2015-2020) documenta a história dos ventos considerados adversos, centrais nas crenças dos habitantes das ilhas do Estreito de Hormuz, no sul do Irão. Consideram que os ventos podem possuir as pessoas, fazendo-as sofrer doenças ou enfermidades, originando uma prática ritual em que o líder de culto fala com o vento através do paciente numa das muitas línguas locais ou estrangeiras, negociando a sua saída. Esta crença ressoa com a paisagem surreal das ilhas, marcada por vales estranhos e montanhas lentamente esculpidas pelo vento ao longo de muitos milénios.

.

.

.

Hoda Afshar, Speak the Wind

.

.

Hoda Afshar (1983) é natural do Teerão (Irão). Licenciada em Belas Artes – Fotografia, concluiu a sua tese de doutoramento em Creative Arts na Curtin University. Iniciou a sua carreira como fotógrafa documental em 2005, no Irão. Vive na Austrália desde 2007, onde trabalha enquanto artista visual e leciona área de fotografia e belas artes. O seu trabalho, amplamente exibido e representado em várias coleções privadas e públicas, explora a natureza e as possibilidades da produção de imagens documentais. Tem sido distinguida com vários prémios e é representada pela Milani Gallery (Austrália).

.

Pode conhecer melhor o trabalho de Hoda Afshar aqui.

.

.

.

COLECTIVO PARIACACA, QUYLLUR Α

.

.

O Coletivo Pariacaca recorre a elementos cósmicos como as estrelas e as montanhas como metáforas para refletir sobre a existência humana, explorando o conceito de pertença e conexão, num cruzamento de histórias e rituais antigos da cultura pré-hispânica com a vida contemporânea. Quyllur α, “a estrela mais brilhante” em Quechua, aborda a experiência humana de confrontar o sofrimento, sublinhando a nossa ligação com as estrelas no ato instintivo de procura de luz e orientação, e na ideia de que nós, humanos, somos feitos de “pó de estrelas”.

O encontro com uma estrela fictícia conduz uma exploração imersiva que combina cerimónias antigas com tecnologia moderna. Filmado em diversos locais de Lima, o filme adota um estilo visual cru que remete para a proto-fotografia, apresentando uma viagem introspetiva que transita entre o mundo físico e os reinos sobrenaturais.

.

.

.

Colectivo Pariacaca, Quyllur α

.

.

 O Colectivo Pariacaca, cujo nome evoca uma das divindades mais antigas do Peru, é composto pelos fotógrafos Prin Rodríguez e Fernando Criollo. Procuram desafiar as representações de identidade, criando visões únicas e imersivas do mundo peruano. Através de uma mistura de factos e fantasia, levam o público a olhar além da superfície, revelando significados profundos na imagética. Enfatizando abordagens inovadoras para partilha de conhecimento, honram a herança cultural ao abraçar diálogos contemporâneos. Com uma forte ênfase na colaboração, demonstram o papel da arte na compreensão da identidade e da comunidade.

.

Pode conhecer melhor o trabalho do Colectivo Pariacaca aqui.

.

.

.

SMITH, DAMI (IMAGO)

.

Dami (Imago) faz parte de uma exploração artística contínua de SMITH, incorporando a investigação sobre temas metafísicos e existenciais, focando-se na ligação entre a humanidade, a consciência e o cosmos. SMITH evoca um espaço de transformação e perceção alterada, a partir das suas próprias experiências com o transe cognitivo e outras práticas espirituais, explorando temas de transformação e apagamento de fronteiras entre espécies, géneros e mundos. Filmado com uma câmara térmica no deserto da Califórnia, Imago procura transmitir a urgência de ir além das perspetivas centradas no ser humano, convidando a uma experiência mais fluida e interligada da realidade, enquanto acompanhamos a viagem do artista rumo ao desaparecimento, imerso num excesso avassalador de luz.

.

.

.

SMITH, Dami (Imago)

.

.

SMITH (1985) é um fotógrafo, artista visual, realizador e investigador que explora e contempla a metamorfose através da transição de género, mudanças de época, estados de consciência, plasticidade, hibridações atómicas, mutações biotecnológicas e relações interespécies. Na maioria dos seus projetos, utiliza o seu corpo para experiências científicas e ficcionais, assentes em colaboração com artistas, artesãos, investigadores e empresas de novas tecnologias, ciências fundamentais e humanidades. Mistura géneros, linguagens e disciplinas para propor obras curiosas, no sentido de “cura” – cuidado e curiosidade pelo mundo à nossa volta, pela humanidade e o mais-que-humano, o visível e invisível, o imaginário e a ficção.

.

Pode conhecer melhor o trabalho de SMITH aqui.

.

.

.

.

.

A exposição “Luminófilos”, reunindo projetos de Claudia Andujar, Christo Geoghegan, Hoda Afshar, Pariacaca, SMITH, com curadoria de Sergio Valenzuela-Escobedo, está integrada na Bienal’25 de Fotografia do Porto, pode ser vista no Centro Português de Fotografia, no Largo Amor de Perdição, no Porto, de 15 de maio a 29 de junho de 2025 (ter – sex 10:00→18:30, sáb – dom 15:00→19:00).

.

.

.

Sobre a Bienal de Fotografia do Porto, a Agenda no FF, aqui, outras exposições aqui; no site da BFP, aqui.

Outras exposições de outros anos do Ci.CLO – Bienal de Fotografia do Porto, no FF, aqui.

.

.

.