JOÃO MARCELINO, TUDO O QUE A GEOGRAFIA ESCONDE, O CORPO LEMBRA
Exposição em Lisboa, na Galeria Braçoperna44, na Rua das Fontaínhas, 44, de 17 de abril a 17 de maio de 2025
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Tudo o que a geografia esconde, o corpo lembra
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Há lugares onde o humano se desarticula, onde a paisagem se impõe como medida absoluta e onde o corpo, privado de referências estáveis, oscila entre a permanência e a dissolução. Os territórios limítrofes — margens de rios, extensões de areia, recortes da costa — são espaços de transição e suspensão, zonas onde o tempo abranda e a escala humana se dilui na vastidão natural. E nesses interstícios que parte da minha fotografia se inscreve, interrogando a relação entre presença e ausência, pertença e deslocação. Tudo o que a geografia esconde, o corpo lembra.
A beira-mar, os corpos abandonam a rigidez da vida urbana. Entregam-se à areia, fundem-se com as rochas, diluem-se no horizonte. Mas nem sempre encontram repouso. Habita estas imagens uma estranheza subtil: uma mulher solitária entre as dunas, um homem que parece emergir ou afundar-se na areia, um corpo que se curva às formas da paisagem. Espaços balneares, tradicionalmente associados ao lazer, revelam-se aqui como cenários de inquietação contida. O que proponho não é uma documentação do lugar, mas um olhar sobre como habitamos o espaço — e como, por vezes, ele nos engole.
Ao longo dos anos, tenho explorado esse encontro inquieto entre figura e relevo. Fascina-me a forma como os corpos se adaptam a superfícies incertas, como se deixam modela r pelo vento, pela maré, pela lógica errante da geografia. Mas há também um silêncio denso que permeia estas imagens — uma suspensão, uma leveza interrompida, um repouso que nunca se concretiza por inteiro. O balnear adquire aqui outra qualidade: a de um estado latente, simultaneamente contemplativo e estranho.
Para Georges Didi-Huberman, ver é também lidar com o que se oculta, com aquilo que resiste à plena visibilidade. Neste trabalho, as figuras não apenas habitam a paisagem — elas tornam-se sinais do que se recusa à transparência: gestos, corpos, ecos que se entrelaçam entre o visíve I eo submerso. Entre o corpo eo território, desenha-se uma gramática de gestos suspensos — movimentos que perduram como vestígios, a vibrar na margem do olhar. Entre a imensidão eo detalhe, cada imagem propõe um gesto de escuta — uma pausa que se prolonga, reconhecendo na quietude o eco do oculto e do efémero.
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João Marcelino, 2025
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João Marcelino, Tudo o que a geografia esconde, o corpo lembra – Moledo, 2022 – Gerês, 2021 – Almagreira, 2023 – Moledo, 2021 – Málaga, 2023 – Sintra, 2024 – S. Miguel, 2022 – Benalmadena, 2023 – São Miguel, 2022 – Cacela Velha, 2024 – Nazaré, 2021
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A série de João Marcelino, “Tudo o que a geografia esconde, o corpo lembra”, está em exposição em Lisboa, na Galeria Braçoperna44, na Rua das Fontaínhas, 44, de 17 de abril a 17 de maio de 2025 (Seg. a sex, 15h – 19h, sáb, 10h – 13h).
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Cortesia do Autor.
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