ANTÓNIO COSTA CABRAL, RAMOT
Exposição no Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, de 3 de outubro de 2024 a 12 de abril de 2025.
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Esta exposição surge na sequência da doação do espólio de António Costa Cabral, 4.º Conde de Tomar, ao Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, conhecido por Fundo Conde de Thomar.
António Costa Cabral “revela um olhar abrangente sobre o que o rodeia, com especial enfoque para o retrato captando, recorrentemente, momentos do quotidiano da sua vida privada e familiar. Regista, ainda, cenas de convívio com e entre amigos e colegas de trabalho. Constantes, são também, as imagens obtidas durante as viagens e as suas visitas ao jardim zoológico de Lisboa.
Numa outra vertente surgem imagens que exploram a natureza da própria prática fotográfica, em aspetos como – escala, tempo, sequência, luz/sombra – mostrando uma outra dimensão deste autor.”
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António Costa Cabral, Ombres et Lumière [Sombras e Luz], [1950]-[1960] (frente e verso)
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Regista o Arquivo, sobre o espólio:
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O Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico pretende divulgar espólios diferenciados e disponibilizar informação sobre distintas formas de fotografar a cidade. Neste contexto, destacamos o Fundo Conde de Thomar.
O espólio esteve em posse da família até 14 de fevereiro de 2018, data em que foi celebrado o contrato de doação entre Bartolomeu Albuquerque da Costa Cabral, filho do autor e representante legal dos herdeiros, e o Município de Lisboa.
No documento do mês aqui disponibilizado, podemos vislumbrar a cidade através de um pormenor do pequeno suporte de madeira com plantas, colocado na parede exterior de um prédio, numa composição de sombras e luz, apresentado sob o olhar da herança pictorialista 1, do princípio do século XX, e convergindo numa proposta salonista, através de uma prova fotográfica 30×40 cm, gelatina e prata num tom amarelado, ao gosto da época, com o título Ombres et Lumière, assinada Comte de Thomar2 para estar representado no Fotokluba Zagreb (outubro de 1953) e Fotokluba Beograd (dezembro de 1953)3.
Esta imagem representa uma das abordagens fotográficas amadoras de António Costa Cabral4, o qual personifica tão somente a figura moderna do flâneur5, o homem errante que vivencia a cidade com um olhar atento e descomprometido, de lazer e se torna igualmente o homem moderno, que usa a máquina fotográfica para registar os momentos fortuitos do quotidiano urbano da cidade de Lisboa. No espólio, são também apresentadas imagens fugazes de um viver aristocrático, fora do seu tempo, de encontros sociais, férias e passeios pela cidade.
Da sua abordagem fotográfica, subjaz um olhar humanista e discreto, evitando confrontar os fotografados e conseguindo imagens dissimuladas, como se não estivesse presente.
Este fotógrafo, com meios ao seu dispor, constitui um projeto imagético distante do olhar profissional e oferece imagens privadas, quer sejam do espaço íntimo da casa em convívio com a sua extensa família, quer sejam da rua, relevando a presença dos vendedores ambulantes.
A entrada do espólio, no Arquivo Municipal de Lisboa, aconteceu em momentos distintos6 seguindo-se a elaboração de um inventário onde se registaram 13.271 documentos fotográficos em diferentes suportes e formatos – negativos de vidro e película e provas fotográficas, documentação escrita: correspondência, manuais de instruções, equipamentos e materiais fotográficos.
O espólio compreende o período entre as décadas de 1920 e 1970 e uma vez que havia sido repartido pelos herdeiros desconhecem-se as condições de conservação e acondicionamento. Não há informações se a ordenação dos documentos, no momento da doação, refletia a organização do autor e se, por conseguinte, a ordem original foi respeitada.
Em janeiro de 2022 iniciou-se o tratamento do conjunto, os documentos encontravam-se dentro das embalagens originais e a ordem foi mantida para preservar o contexto e facilitar a compreensão da unidade documental.As embalagens que continham os documentos variavam quer em material quer em formato e o estado de conservação era razoável, porém foram observados, quer nas provas quer nos negativos, algumas formas de deterioração dos suportes originadas pela ação do tempo ou absorção de humidade: lacunas, rasgões, fita cola, pó, fungos e presença de marcas de ataques de insetos. A documentação foi retirada das embalagens originais que continham anotações do autor tais como os petit nom7 dos filhos, o que sugere uma abordagem pessoal na catalogação das peças e reflete a pouca formalidade dada ao processo de organização e arquivo desenvolvido pelo autor. Podemos encontrar também indicações do autor sobre o acontecimento fotografado, local, intervenientes, data e especificações técnicas relacionadas com o tipo de máquina e filme. Os documentos foram sujeitos a operações de estabilização e conservação de modo a preservar a sua integridade, higienizados de forma sistemática, numerados, acondicionados em embalagens de conservação e identificados. De salientar que, no decurso do trabalho de identificação, foi de extrema importância a colaboração da família com quem foram mantidos encontros periódicos com o propósito de reconhecer locais, imagens, pessoas e acontecimentos. Esta cooperação foi vital para a descrição das imagens em base de dados e para a compreensão do fundo documental. A etapa final do processo foi a digitalização das imagens com o propósito futuro da difusão ao público.
A divulgação do Fundo Conde de Thomar reveste-se de particular importância pelo facto de o autor ser um fotógrafo amador. Há poucas referências ao seu trabalho, mas encontramos, na documentação agregada ao Fundo, um cartão de identificação do Ministério das Finanças/Direção Geral da Fazenda Pública a autorizar «[…]fazer fotografia artística nos Monumentos e edifícios pertencentes ao Estado […]», datado de 21 de abril de 1943, e referências à participação no VII Salão Internacional de Arte Fotográfico, em 1944, e no VIII Salão Internacional de Arte Fotográfico, em 1945, organizados pelo Grémio Português de Fotografia8. Sabemos ainda que foi o sócio n.º 68 do Foto-Clube 6×6 e fez-se representar sempre com a máquina fotográfica Leica, tendo exposto algumas das suas fotografias, nomeadas no periódico desse clube, entre 1953 e 1957. Por vezes, assinou os seus trabalhos com os pseudónimos Ramot e Marto, anagramas de Tomar.
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Luís Pavão, Paula Figueiredo e Sílvia Reis
Julho 2024.
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1 O movimento photo-secession, que instituiu a expressão pictorialista, apresentou fotografias do quotidiano de cidades, algo bucólicas, através da fotogravura, com uma influência pictórica, usando desfoques, sombras e luz, viragens. Esta atitude artística pretendia valorizar a expressão fotográfica e apresentava-se nas salas de exposição dos salões e galerias. Um dos nomes de referência do movimento é Alfred Stieglitz (1864-1946), que fotografou as ruas de Nova Iorque.
2 Ao nome acrescentou: Trav. Do Jardim à Estrela, 27, 1º Lisbonne.
4 António de Alcântara Bernardo de Carvalho e Vasconcelos da Costa Cabral, 4.º conde de Tomar, nasceu a 14 de julho de 1901, em Carnaxide (Oeiras) e morreu a 20 de novembro de 1974, em Lisboa. Casou com Maria Teresa de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos de Albuquerque (1904-1978), filha dos condes de Mangualde, em 14 de outubro de 1925, com quem teve 12 filhos. Trabalhou no Instituto Português das Conservas de Peixe, em Lisboa, onde permaneceu até à idade da reforma.
5 Walter Benjamin (1892-1940), que depois de Charles Baudelaire (1821-1 867) ter introduzido esta figura como o caminhante na cidade, veio acrescentar a figura do fotógrafo moderno.
6 14 de setembro de 2016, 1 de outubro de 2017, 9 de abril de 2018, 16 de junho de 2023.
7 Diminutivo ou forma afetuosa do nome próprio.
8 Criado em 1931. Alexandre Pomar: Cronologia FOTOGRAFIA PORTUGUESA (1916-1965)
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2025
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A exposição “Ramot”, de António Costa Cabral, 4.º Conde de Tomar, apresenta parte do Fundo Conde de Thomar, procurando “divulgar o seu contributo fotográfico”, tem curadoria de Paula Figueiredo e Sílvia Reis, estando patente no Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, na R. da Palma, 246, de 3 de outubro de 2024 a 12 de abril de 2025.
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A 27 de março, às 18:00, há uma visita guiada com a presença de Manuel da Costa Cabral e de Teresa da Costa Cabral (filho e neta do fotógrafo). As visitas guiadas são sujeitas a marcação prévia, através do e-mail arquivomunicipal.se@cm-lisboa.pt ou telefone: +351218171330.
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No âmbito da divulgação, é também publicado um livro, apresentado a 12 de abril, por Manuel da Costa Cabral e Bárbara Gradim, no encerramento da exposição, bem como disponibilizado o fundo fotográfico.
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António Costa Cabral, autoretrato
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António Costa Cabral, de seu nome completo, António Bernardo de Carvalho e Vasconcelos da Costa Cabral, 4.º conde de Tomar, nasceu a 14 de julho de 1901, em Carnaxide, concelho de Oeiras. Viveu a infância e juventude no convento de Cristo, em Tomar, que era, então, a casa da sua família. Casou, em 14 de outubro de 1925, com Maria Teresa de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos de Albuquerque (1904-1978), com quem teve 12 filhos.
O casal viveu sempre em Lisboa, primeiro na travessa dos Remolares, depois na rua Artilharia 1, mais tarde, a partir de 1941, na Travessa do Jardim à Estrela, local de cenário a fotografias e filmes da família e de amigos e, nos últimos anos de vida residiram na rua das Trinas.
António Costa Cabral começou cedo a fotografar chegando a instalar uma câmara escura no sótão de sua casa, em Lisboa, paixão que manteve durante toda a vida. Outro foco de interesse foi o cinema, tendo produzido pequenos filmes de carácter familiar, que refletem a sua atenção e sensibilidade.
Durante os anos 20 e 30 (século XX), foi aficionado radioamador, de onda curta e de telegrafia sem fios, tendo montado e aperfeiçoado o equipamento técnico da estação emissora, em sua casa, apresentado como radio CT 1 BX na sua correspondência com outros radio amadores internacionais.
A prática do jogo de bilhar foi também uma das suas atividades de lazer, chegando a obter o segundo lugar na Associação Lisbonense dos Amadores de Bilhar, no Campeonato Individual de Lisboa, de 1952-53, da 2ª categoria de uma tabela, tendo sido o jogo de três tabelas também do seu agrado. Na família, diz-se que foi júri num campeonato internacional, em Lisboa, nos bilhares do Rossio.
António Costa Cabral concluiu a formação liceal em 1918, em Santarém e optou por viajar pela Europa, tendo permanecido na Alemanha, onde aprendeu fluentemente o idioma alemão. Passou também por Itália, local de residência da família materna. Sabe-se que viveu igualmente no Brasil, entre 1934 e 1937.
Trabalhou no Instituto Português das Conservas de Peixe, em Lisboa, onde permaneceu até à idade da reforma.
António da Costa Cabral morreu a 20 de novembro de 1974, em Lisboa.
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