ZED NELSON, ANTHROPOCENE ILLUSION
Integra a exposição “A View from No-Place: Time in the Age of Anthropocene”, do IMAGO LISBOA Photo Festival, pode ser vista na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, de 12 de setembro a 12 de outubro de 2024.
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Charles Darwin reduziu os humanos a apenas mais uma espécie – um galho na grande árvore da vida. Mas agora o paradigma mudou: a humanidade já não é apenas mais uma espécie. Somos os primeiros a alterar conscientemente a biologia e a química da Terra viva. Tornámo- -nos senhores do nosso planeta e parte integral do destino da vida na Terra.
Cercarmo-nos de recriações simuladas da natureza constitui, paradoxalmente, um monumento involuntário àquilo que perdemos.
Apenas 3% do território mundial permanece ecologicamente intacto, albergando populações saudáveis de todos os seus animais originais e habitats intactos.
Em 1989, o escritor Bill McKibben (no seu livro The End of Nature – O Fim da Natureza), previu um momento em que o planeta superaria as capacidades da nossa linguagem ambiental. A Terra refeita, argumentou McKibben, estabeleceria recorde após recorde – mais quente, mais frio, mais mortal – até que nos apercebêssemos da necessidade de novas formas de registo. Mas a inércia é uma proposição intelectual além de física; durante muito tempo, sugeriu ele, confrontados com a evidência de um mundo em mudança, as pessoas recusar-se-ão a mudar de ideias.
Medeia, nas Metamorfoses de Ovídio, disse: “Posso ver – e aprovo o melhor caminho, e, no entanto, escolho o pior”.
Hoje em dia, as redes sociais e o fluxo incessante de informação e estimulação visual da Internet deram origem a um estado de irrealidade, onde já não procuramos a verdade, mas apenas uma espécie de assombro.
O nosso futuro como espécie depende de reavaliarmos urgentemente a relação da humanidade com o mundo natural – e requer atos intencionais de cultura, com mudanças de paradigma nas nossas prioridades e empatias.
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Zed Nelson, Anthropocene Illusion
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2024
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A série de Zed Nelson, “Anthropocene Illusion”, integra a exposição “A View from No-Place: Time in the Age of Anthropocene”, com curadoria de Wiktoria Michałkiewicz, do IMAGO LISBOA Photo Festival, sob o tema Action for a Green Future, pode ser vista na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, na Rua Barata Salgueiro, 36, em Lisboa, de 12 de setembro a 12 de outubro de 2024.
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A curadora Wiktoria Michałkiewicz escreve a propósito de:
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A VIEW FROM NO-PLACE: TIME IN THE AGE OF ANTHROPOCENE
[Uma vista desde não-lugar: o tempo na era do Antropoceno]
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Um dos historiadores mais proeminentes do século XX, Fernand Braudel, cunhou o termo ‘longue durée’ – história de longa duração – num artigo inovador publicado na histórica revista Annales em 1958. Refletindo sobre as múltiplas temporalidades que o ser humano habita, o paradigma da ‘longue durée’ diz respeito às estruturas históricas que vão tomando forma ao longo de várias décadas. A história de longa duração mede-se em séculos.
O conceito, na visão de Braudel, nasce de uma crise nas ciências humanas. Em vez de olhar para um instante no tempo, ou para as escalas de tempo convencionalmente utilizadas na história narrativa – períodos de dez, vinte, cinquenta anos – Braudel insiste em olhar para os ciclos, regularidades e continuidades subjacentes aos processos de mudança. Esta abordagem não se aplica a acontecimentos singulares, mas enfatiza ligações: entre culturas, paisagens e gerações, revelando a delicada rede de interdependências da qual a humanidade faz parte.
Num relatório publicado em 2020 na revista Nature, os autores Christopher H. Trisos, Cory Merow e Alex L. Pigot, alertam para o “efeito dominó” – um colapso massivo dos ecossistemas que pode ocorrer no prazo de dez anos. A longa duração está a reduzir-se e, mais uma vez, precisamos de adotar um horizonte temporal diferente: no espaço de uma vida enfrentaremos acontecimentos que antes eram testemunhados no espaço de várias centenas de gerações. A história de longa duração desenrola-se diante de nossos olhos.
Pouco mais de seis décadas passaram desde que os historiadores do grupo dos Annales iniciaram uma busca para compreender a relação entre agência e ambiente ao longo do tempo. Como afirmaram, a longa duração não é eterna – ela tem um começo e um fim, dentro de uma perspetiva de um “mundo” singular.
O diálogo visual patente nas obras dos oito artistas em destaque oferece uma visão sobre o nosso mundo interligado, e sobre o que pode significar viver – e agir – nesta nova temporalidade partilhada: a temporalidade do Antropoceno.
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Pode ver a agenda das exposições e eventos do IMAGO LISBOA Photo Festival 2024, no FF, aqui.
Sobre outras exposições (dos vários anos), aqui.
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Cortesia: IMAGO LISBOA Photo Festival.
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