RAGNAR AXELSSON, MELTING
Integra a exposição “A View from No-Place: Time in the Age of Anthropocene”, do IMAGO LISBOA Photo Festival, pode ser vista na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, de 12 de setembro a 12 de outubro de 2024.
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Anoitece e as sombras começam a pousar no glaciar depois de um dia de sol. O gelo, que durante o dia foi derretendo ao sol, brilha no crepúsculo. No brilho inconstante, o glaciar transforma-se, assumindo formas e aparências estranhas. Uma serpente contorce-se por baixo do gelo, prestes a quebrar. A sombra perfilada de um gigante paira sobre as fendas, protegendo Öræfajökull. Ele desvia o olhar e depois desaparece, enquanto a Terra gira.
Algo está a acontecer sob a superfície. O calor da Terra está a descongelar o gelo da cratera no topo do vulcão, criando uma depressão. Parece um olho, que observa. A depressão tem-se tornado visivelmente mais profunda. O Öræfajökull entrou em erupção pela última vez em 1727, mas a sua erupção de 1362 foi uma das maiores explosões ocorridas na Terra no último milénio. Trinta quintas desapareceram sob os despojos e um número desconhecido de pessoas morreram. Olhando para o pacífico glaciar a brilhar ao sol, é impossível imaginar o perigo que espreita por debaixo do gelo.
Todas as coisas têm o seu fim. Os glaciares estão a derreter e o gelo formado ao longo de muitos séculos está a desaparecer numa questão de anos. À medida que os glaciares derretem, o nível do mar aumenta, mas não de forma uniforme. O nível da água é mais elevado no equador, mas à medida que o peso dos glaciares islandeses diminui, a própria terra ascende, as linhas costeiras expandem-se e os vulcões agitam-se.
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Ragnar Axelsson, Melting
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2024
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A série de Ragnar Axelsson, “Melting” [Fusão], integra a exposição “A View from No-Place: Time in the Age of Anthropocene”, com curadoria de Wiktoria Michałkiewicz, do IMAGO LISBOA Photo Festival, sob o tema Action for a Green Future, pode ser vista na SNBA – Sociedade Nacional de Belas Artes, na Rua Barata Salgueiro, 36, em Lisboa, de 12 de setembro a 12 de outubro de 2024.
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A curadora Wiktoria Michałkiewicz escreve a propósito de:
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A VIEW FROM NO-PLACE: TIME IN THE AGE OF ANTHROPOCENE
[Uma vista desde não-lugar: o tempo na era do Antropoceno]
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Um dos historiadores mais proeminentes do século XX, Fernand Braudel, cunhou o termo ‘longue durée’ – história de longa duração – num artigo inovador publicado na histórica revista Annales em 1958. Refletindo sobre as múltiplas temporalidades que o ser humano habita, o paradigma da ‘longue durée’ diz respeito às estruturas históricas que vão tomando forma ao longo de várias décadas. A história de longa duração mede-se em séculos.
O conceito, na visão de Braudel, nasce de uma crise nas ciências humanas. Em vez de olhar para um instante no tempo, ou para as escalas de tempo convencionalmente utilizadas na história narrativa – períodos de dez, vinte, cinquenta anos – Braudel insiste em olhar para os ciclos, regularidades e continuidades subjacentes aos processos de mudança. Esta abordagem não se aplica a acontecimentos singulares, mas enfatiza ligações: entre culturas, paisagens e gerações, revelando a delicada rede de interdependências da qual a humanidade faz parte.
Num relatório publicado em 2020 na revista Nature, os autores Christopher H. Trisos, Cory Merow e Alex L. Pigot, alertam para o “efeito dominó” – um colapso massivo dos ecossistemas que pode ocorrer no prazo de dez anos. A longa duração está a reduzir-se e, mais uma vez, precisamos de adotar um horizonte temporal diferente: no espaço de uma vida enfrentaremos acontecimentos que antes eram testemunhados no espaço de várias centenas de gerações. A história de longa duração desenrola-se diante de nossos olhos.
Pouco mais de seis décadas passaram desde que os historiadores do grupo dos Annales iniciaram uma busca para compreender a relação entre agência e ambiente ao longo do tempo. Como afirmaram, a longa duração não é eterna – ela tem um começo e um fim, dentro de uma perspetiva de um “mundo” singular.
O diálogo visual patente nas obras dos oito artistas em destaque oferece uma visão sobre o nosso mundo interligado, e sobre o que pode significar viver – e agir – nesta nova temporalidade partilhada: a temporalidade do Antropoceno.
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Pode ver a agenda das exposições e eventos do IMAGO LISBOA Photo Festival 2024, no FF, aqui.
Sobre outras exposições (dos vários anos), aqui.
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Cortesia: IMAGO LISBOA Photo Festival.
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