RITA CARMO E PAULO PIMENTA, RITMOS CRUZADOS

Exposição em Lisboa, na CC11 @ IMAGO Garagem, de 29 de fevereiro a 7 de abril de 2024.

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Rita Carmo e Paulo Pimenta, “ao longo das últimas décadas têm passado horas com as suas câmaras fotográficas a documentar a cena musical, nacional e internacional. Nesta exposição a dois olhares, Paulo Pimenta traz-nos a essência crua dos artistas em palco e do seu público, enquanto Rita Carmo nos revela a singularidade de 27 artistas nacionais através de retratos encenados.”

As duas exposições foram apresentadas em anos diferentes no Auditório Municipal Augusto Cabrita, no âmbito da mostra Fotografia no Barreiro, mas mantiveram-se inéditas em Lisboa.

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Gonçalo Frota escreve o texto de introdução:

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Há um lugar-comum de se delegar na fotografia uma missão concreta: a de fixar aquilo que tememos que a nossa memória possa deixar resvalar para o esquecimento. A fotografia reconcilia-nos com momentos que, por razões afectivas ou de outra ordem, queremos manter junto a nós e recordar ao mais ínfimo pormenor. Como se, em qualquer momento, pudéssemos voltar a esse instante e vivê-lo de novo, com a intensidade original.

O mesmo acontece com a fotografia de espectáculos – sobretudo quando quem olha pela objectiva, e sabe escolher o momento exacto do disparo, dá pelo nome de Rita Carmo ou Paulo Pimenta. Ao longo das últimas décadas, ambos têm passado horas em frente a palcos de salas e de festivais, procurando o ângulo ideal para documentar e contar, da melhor forma possível, a verdade de um concerto. Com a atenção focada num pormenor que escapa ao público mais distante, com a eternização de um momento irrepetível, com a captação cirúrgica de uma coreografia de palco ensaiada ao milímetro, com o olhar tão instintivo quanto treinado para não deixar escapar aquilo que de único acontece numa noite que tenta existir para sempre.

Não ignoramos nestas fotografias que há sempre um antes e um depois – e também disso elas nos falam. Mas há toda uma carga desmedida do presente que se solta destes instantâneos.

Quando vemos um destemido salto de alguns metros no ar, sabemos que a seguir haverá o impacto de uma queda. Mas pouco interessa se foi mais aparatosa ou menos conseguida, porque naquele momento, em que o salto fica congelado no tempo, encontramos uma promessa de tudo ser possível e de cada espectáculo poder conter promessas de revoluções e de vidas iluminadas para sempre. Quando vemos o corpo de um pianista debruçado sobre um teclado perante uma sala vazia, a escala de intimidade é arrepiante e é quase impossível não escutar a sugestão das teclas que ali foram suavemente “pisadas”.

Pode soar excessivo. Mas uma boa fotografia nunca é apenas isso. É uma improvável de fixação do tempo que carrega sempre, como acima se escrevia, o antes e o depois. É um convite à imaginação, um desafio a ver para além daquilo que nos é mostrado, tomando as imagens como uma sugestão dessa dilatação temporal nos dois sentidos.

Aquilo que Ritmos Cruzados nos oferece é também uma forma total de olharmos para a música captada em imagens. Porque se Paulo Pimenta nos coloca diante de Nick Cave em crueza absoluta ou de Madonna em cheerleader megalómana, dos Ornatos Violeta ou Da Weasel dos primeiros tempos, mas também de uma Patti Smith intemporal ou de uma Janelle Monáe que é pop-r&b contemporânea, com grande artifício cenográfico e de espectacularidade ou na sua total ausência, Rita Carmo leva a cabo um outro exercício fundamental – o de encontrar a essência de músicos através de retratos pensados na “encenação” que azem do ambiente de cada um. E que não é menos honesto por causa disso, quando vemos o perfil de rectidão de José Mário Branco ou de misteriosa sobriedade de Carminho, Bernardo Sassetti solitário e debruçado sobre um piano em miniatura, Legendary Tigerman a olhar Lisboa a partir de um telhado e os Dead Combo com um Tejo de permeio, a exuberância dos cabelos de Maria João ou David Fonseca enfiado num fado de astronauta.

Se Paulo Pimenta apanha a essência dos músicos num instante de palco que aconteceu como o vemos e o amplifica ao isolar de tudo o mais que se passou, Rita Carmo mergulha a fundo no imaginário de cada um/a destes/as músicos/as. E todas estas imagens, cuja banda sonora soa de imediato nas nossas cabeças, abrem um extraordinário portal para universos que são imediatamente identificáveis e nos agitam as memórias. Que muito nos dizem do Paulo e da Rita como fotógrafos, mas também da forma apaixonada como procuram, em cada um destes disparos, fundir-se num mundo alheio. Porque aquilo que aqui descobrimos não são apenas os/as artistas, mas também o/a fotógrafo/a. Porque há todo um fascinante jogo de espelhos entre quem olha e quem é olhado. E quando espreitamos cada uma imagem, é também o Paulo e a Rita que estamos a ver à nossa frente.

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Fevereiro de 2024

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António Bracons, Aspetos da exposição, Rita Carmo, 2024

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António Bracons, Aspetos da exposição, Paulo Pimenta, 2024

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A exposição de Rita Carmo e Paulo Pimenta, “Ritmos Cruzados”, com a curadoria de Rogério Cruz d’Oliveira, organizada pela Associação CC11, está patente em Lisboa, na CC11 @ IMAGO Garagem, na Rua do Vale de Sto. António, 50 A, de 29 de fevereiro a 7 de abril de 2024, de quinta a sábado, das 15h30 às 19h30.

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Rita Carmo

É fotógrafa dedicada à cena musical desde 1992, quando iniciou a publicação de fotografias no semanário Blitz, onde permanece fotógrafa residente. Tem fotografias editadas em diversas publicações portuguesas e estrangeiras.

Em 2003 editou pela Assírio & Alvim o álbum fotográfico “Altas-Luzes”. Em 2004, a convite da Alcatel Portugal e da Numero, expõe no 4º Festival Portugais na Fnac Forum Les Halles em Paris. Em 2008, no âmbito do Congresso Feminista, expõe na Fundação Calouste Gulbenkian. Ainda em 2008, edita com a revista BLITZ o álbum “Portugal XXI – Imagens de Sons Portugueses”. Em Julho de 2009 expõe no Festival Alive parte do seu trabalho relacionado com concertos ao vivo. Em 2013, edita o álbum “Bandas Sonoras – 100 Retratos na Música Portuguesa” pela Chiado Editora. Em 2015, é curadora e expõe no Festival Super Bock Super Rock um importante acervo dos 20 anos do Festival. Em 2019, recebe o Troféu “Mérito Profissional Afonso Lopes Vieira” do Jornal Região de Leiria. Em 2023, recebe o primeiro Prémio “Women in Music Award” pela Aporfest; é convidada para expor na Altice Arena o espólio que retrata os 25 anos da maior sala de Lisboa. Ainda em 2023 edita, pela Coral Books, o álbum fotográfico “Jorge Palma por Rita Carmo”.

Como free-lancer é responsável por diversas capas de CD’s e imagens de divulgação de músicos portugueses. Foi júri do Prémio FNAC Novos Talentos Fotografia em 2004 e 2005. É Formadora na World Academy, CENJOR e Academia INATEL. Com regularidade dá Workshops sobre Fotografia de espectáculo no IPF-Instituto Português de Fotografia e na APAF-Associação Portuguesa de Arte Fotográfica.

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Paulo Pimenta e Rita Carmo, Imago Garagem, 29.02.2024

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Paulo Pimenta

Nasceu a 24 de Dezembro de 1967. Vive no Porto. Fotojornalista do Jornal Público desde 1999. Desenvolve projectos de autor entre os quais com as companhias de teatro (Crinabel, As Boas Raparigas, Nec). Vencedor de vários prémios, sendo o principal o Prémio Fotojornalismo 2010 Estação Imagem | Mora com a reportagem “Sabor”. Realizou várias exposições individuais com destaque para “Histórias Fora de Palco”, no Centro Português de Fotografia; “Na casa de “ com uma tourné por várias FNAC do país; “Projeto Reintegração pela Arte”, na Galeria Municipal da Câmara de Matosinhos; “20 Anos de fotografia” da companhia de teatro As Boas Raparigas em mupis no Porto; “O meu Paredes de Coura”, no Centro Cultural da vila; “Rock no Rolo”, no Palácio de Cristal, no Porto.

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Pode conhecer melhor a obra de Rita Carmo no FF, aqui e no seu site, aqui.

Pode conhecer melhor a obra de Paulo Pimenta no FF, aqui.

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Atualizado em 24.04.07.

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