AUGUSTO BRÁZIO, PODER
A série integra a exposição “O Cerco de Lisboa”, no Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, de 4 de dezembro de 2023 a 2 de março de 2024.
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Poder
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As primeiras representações artísticas do período colonial impregnaram a memória coletiva e contribuíram para a construção de estereótipos sobre as culturas estrangeiras, tingindo-as com uma camada de exotismo, visível nos objetos que transportam, que disfarça a subjugação e a exploração a que foram sujeitas. Um exotismo que sobrevive nos retratos que decoram os gabinetes e salões das classes abastadas e que se acumula nas coleções institucionais.
A sociedade atual ainda não se conformou com a presença nas suas cidades de descendentes dos servos do Império.
Estes procuram dignificar as suas vidas migrando para as metrópoles que, no passado, enriqueceram com a riqueza dos seus recursos naturais e com o trabalho escravo. Esta globalização provocada pela deslocação maciça de populações está a mudar a perceção do passado. É o que sugerem os dípticos de Augusto Brázio. As fotografias têm uma capacidade extraordinária de alargar o significado do que mostram. Agora, aqueles que aparecem como sujeitos exóticos são os representantes do poder colonial.
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Augusto Brázio, Poder
(Impressão a jacto de tinta sobre vinil, Impressão a jacto de tinta sobre papel Epson Premium Luster Photo)
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António Bracons, Aspetos da exposição, Augusto Brázio, 2024
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A série de Augusto Brázio, “Poder”, integra a exposição “O Cerco de Lisboa”, “um projeto coletivo da autoria de Augusto Brázio, Lara Jacinto, Mag Rodrigues, Paulo Catrica, Pedro Letria, São Trindade e Valter Vinagre, com comissariado de Alejandro Castellote e direção de Nuno Aníbal Figueiredo / Número – Arte e Cultura”, patente no Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, na R. da Palma, 246, de 4 de dezembro de 2023 a 2 de março de 2024.
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Estão agendadas visitas guiadas, às 15:00: 06.01 – Augusto Brázio, Mag Rodrigues, Paulo Catrica, Pedro Letria e São Trindade / 12.01 – Paulo Catrica / 16.01 – São Trindade / 26.01 – Valter Vinagre / 03.02 – Visita conjunta com os fotógrafos / 09.02 – Lara Jacinto e Valter Vinagre / 23.02 – Augusto Brázio e Pedro Letria / 24.02 – Mag Rodrigues / 02.03 – Visita conjunta com os fotógrafos.
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Cláudia Damas, Alejandro Castellote e Augusto Brázio, 4.12.2023
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Em 1999, o Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico apresentou a exposição “Lisboa Anos 90”, que fez um registo da cidade nessa década. Em 2019, um grupo de fotógrafos desse projeto pensou em ver a cidade vinte anos depois. É a exposição que agora se apresenta, comissariada por Alejandro Castellote, que escreve:
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O Cerco de Lisboa
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O Cerco de Lisboa é um ensaio documental coletivo sobre Lisboa, que se situa metaforicamente no antigo perímetro amuralhado da cidade, para abordar a representação da sua periferia social e urbana. Sete fotógrafas e fotógrafos portugueses oferecem um panorama voluntariamente fragmentado, que se junta aos projetos anteriormente realizados para o Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico.
O Cerco de Lisboa inclui imagens dissonantes que reveem criticamente as iconografias da colonialidade ou a memória urbana de alguns bairros, aqueles que nasceram nas imediações de pequenas indústrias, criando um microcosmos social e iconográfico onde as fábricas coexistiam com negócios subsidiários e casas de trabalhadores.
O Cerco de Lisboa apresenta projetos que prestam atenção àqueles que habitam os lugares que a evolução da economia abandonou. Territórios nos quais se formou um mosaico híbrido de alteridade e precariedade. Nestes espaços subalternos, convivem migrantes das ex-colónias com os despejados pelo mercado de trabalho.
A exposição, inteiramente realizada para o Arquivo Municipal de Lisboa Fotográfico, pretende dar protagonismo aos subordinados, tanto a nível identitário como social, através de imagens empáticas para com aqueles considerados diferentes: as pessoas albinas, por exemplo, ou os jovens que engendram sistemas alternativos de subsistência urbana, um modelo de resistência que tem equivalentes em muitas cidades do mundo.
O projeto adota ainda uma visão marcadamente subjetiva da Lisboa que os forasteiros vislumbram antes de entrarem no centro da cidade. Um olhar que é complementado por imagens ambíguas que procuram a estranheza em cenários quotidianos.
A exposição inclui também um vídeo realizado num armazém abandonado, ocupado por pessoas sem-abrigo. Numa outra sala, são apresentadas entrevistas aos autores de O Cerco de Lisboa sobre o seu trabalho.
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Augusto Brázio
Brinches, Serpa, 1964.
Estudou na Escola Superior de Belas Artes, Lisboa. Fotógrafo com um percurso na área da fotografia desde os anos 90 do séc. XX, tendo mais de 10 livros publicados. Ganhou o primeiro prémio Fotojornalismo Visão / BES em 2008, foi membro do Colectivo Kameraphoto e um dos 13 fotógrafos portugueses escolhidos para o programa Entre Imagens da RTP. Nos últimos anos, focou-se em projectos pessoais, onde reflecte sobre questões de imigração, pertença e ocupação do território. Está representado nas colecções: Colecção de Fotografia do BES/Novo Banco, Centro de Artes Visuais Coimbra, Fundação PLMJ, Encontros de Imagem de Braga, Fundação EDP, Centro de Artes de Sines, Coleção Norlinda e José Lima, The neverending collection (Espanha).
Representado pela Galeria das Salgadeiras.
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Pode conhecer melhor o trabalho de Augusto Brázio no FF, aqui e no seu site, aqui.
As outras séries de “O Cerco de Lisboa”, no FF: Lara Jacinto, aqui, Mag Rodrigues, aqui, Paulo Catrica, aqui, Pedro Letria, aqui, São Trindade, aqui e Valter Vinagre, aqui. (em breve)
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