TÂNIA CADIMA, A SECRET ABOUT A SECRET

Teatro, no Centro Cultural Malaposta, de 30 novembro a 10 dezembro 2023 (quinta a domingo).

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O que diz (a cada um) uma fotografia? O que nos inspira, o que nos traz à memória, nos inquieta? O que nos faz sentir, vivenciar?

Partindo da fotografia de Tânia Cadima, Mário Trigo escreveu um texto para dois atores. Como este refere:

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Este espetáculo parte do conceito da fotógrafa norte americana Diane Arbus que afirma ser uma fotografia um segredo sobre um segredo – quanto mais uma fotografia nos diz, menos ficamos a saber.

Esta é então a premissa para um objeto cénico que faz uso de fotografias de Tânia Cadima projetadas em tela. Entretanto, e através de textos de Mário Trigo, os atores apropriam-se de uma escrita contemplativa, com forte recurso a pulsões inconscientes, sendo por vezes automatizada, acercando-se ou afastando-se do sentido figurativo das imagens expostas.

São evocados contextos em que os intérpretes e o próprio público, num exercício comum de reflexão livre, extensiva, lúdica, partilham temáticas como a antiguidade grega, o amor que sempre envolve gerações, dúvidas e enigmas da cosmogonia, o desassossego da guerra, ou as decisões políticas que atualmente nos fazem a vida.

Tudo isto para chegarmos a questões e segredos não respondidos – apenas conversados.

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Tânia Cadima

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Tânia Cadima, sobre o projeto fotográfico Clepsidra, 2014, escreve:

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Uma imagem rememorada nunca é algo pronto. A matéria de que é feita é instável, muda a cada instante. Evocar uma imagem que pertence ao passado, recuperá-la, trazê-la ao momento presente, é um exercício criativo dinâmico cujas variáveis escapam: é como tentar fixá-la numa superfície que se encontra em constante movimento. O meu trabalho é um ensaio poético que tenta dar conta deste processo.

Parte-se, então, em direção ao fundo de um arquivo de imagens fotográficas, um objeto que nos faz acreditar que é possível guardar intactas imagens-lembrança. Rapidamente se percebe que a dimensão cronológica rígida que costuma caracterizar estes objetos, quando submersos, desfaz-se. As imagens perdem a sua referência temporal e, a fronteira entre o que foi real e agora inventado, dilui-se.

Impregnado de subjetividade, o papel da imaginação é, aqui, determinante. Guiadas por um impulso, ora estético ora lúdico, algumas destas imagens emergem: uma proposta de leitura em que o espectador é convidado a entrar como num labirinto, sendo que é na sua própria memória que vai encontrar a chave para a saída.

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Jaime Rocha regista:

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O Espectáculo do Mundo

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Que somos nós quando procuramos o poema e nos descobrimos entre a vida e a morte.

Somos o ferro, a madeira, a pedra, o lume e as cidades, as casas, os carros abandonados.

Zangamo-nos como Aquiles e enlouquecemos como Ajax, enquanto Isadora dança como se procurasse Antígona, Medeia, Andrómaca.

O seu corpo instala-se em nós como uma imagem definitiva, pela mão da fotógrafa.

Coloca-nos junto dos deuses porque o seu movimento é circular, entre ilhas, e segue-nos como uma serpente na água.

É um segredo que habita dentro de um outro segredo que somos nós sonhando na noite de Whitman, os nossos desejos, as nossas utopias, as nossas paixões, imaginando que a paz está ao virar da esquina, que a terra é um lugar seguro, que o chão grego é eternamente sagrado e bom.

Depois, deparamo-nos com o fim tenebroso de uma criança a afogar-se no mar, o poder da imagem que percorre o universo por todos os meios. Não queremos acreditar e por isso dizem-nos que é uma invenção da natureza, que as imagens trágicas são fabricadas em estúdios para nos demolir as emoções e pedem-nos para vivermos nessa grande mentira. Como se tudo à nossa volta fosse um grande espectáculo.

Passamos a ser apenas os estilhaços de uma cosmogonia visceral que definha, pensando nós que somos ainda as mãos humanas abrindo para o barro, à procura da doçura das coisas.

Andamos adormecidos dentro de um caos de colagens e de ruídos de lixo sem conseguirmos vislumbrar o fumo branco. Procuramos o segredo da alma e da paz no Inferno de Dante.

Aguardamos à beira-mar, enquanto reconstruímos o mundo dentro das cinzas com se entrássemos para o interior de uma imagem que amamos para lá ficarmos para sempre.

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Tânia Cadima, a secret about a secret, 2023 (fotografia e fotografia de cena)

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António Bracons, Aspetos do cenário, 2023

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 “a secret about a secret”, apresenta-se no Centro Cultural Malaposta, na Rua de Angola, Olival Basto, de 30 Novembro a 10 Dezembro de 2023, quinta a sábado às 20h30, domingos às 16h30. Classificação: M/16 anos.

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FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA

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Textos: Mário Trigo

Fotografias: Tânia Cadima

Encenação e Dramaturgia: Mário Trigo com Jaime Rocha

Interpretação: Catarina Rodrigues e Miguel Coutinho

Consultoria do Espaço Cénico e Figurinos: Nisa Eliziário

Música sobre motivos de Carlos Santos

Desenho de Luz: Mário Trigo

Produção: HIPÉRION Projeto Teatral

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Mais informação aqui (Malaposta) e sobre o Hiperion Projeto Teatral, aqui.

Sobre Tânia Cadima no FF, aqui.

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Cortesia: Tânia Cadima e Mário Trigo

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