FRANCISCO VARELA, MEMÓRIA LÍQUIDA
Uma exposição de Francisco Varela com um projeto editorial de paula roush / msdm, no Museu da Água da EPAL – Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, em Lisboa, de 25 de agosto a 15 de outubro de 2023.
Obras de Francisco Varela, paula roush, Eduardo Sousa Ribeiro, Mide Plácido, Susana Paiva, Betina Dal Molin Juglair, Miguel Marecos, Joana Nascimento, Maria João Ferreira, David Goldenberg, Inês R. Amado, Teresa Huertas, Manuela Vaz, Ana Botelho, Alice WR, Raul Simões Pinto, arquivo NDMALO, Carla Fragata, Manuela Matos Monteiro, Luís Carvalhal, Natércia Carneira, João de Goes, Renato Roque e Eliane Velozo & Severino Laba.
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Sobre o projeto, refere Francisco Varela:
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A curadoria como prática artística é de novo um campo em expansão na contemporaneidade, possibilitando o diálogo da prática do autor/curador com a de outros. Por outro lado, o campo da fotografia de território, e mais especificamente o das paisagens técnicas que as instalações dos sistemas técnicos originam, é ainda um campo de exploração, tal como o é o exercício editorial do livro de artista como prática artística.
Memória Líquida é um projecto curatorial, artístico e editorial que engloba a participação de 25 autores e a inclusão de 33 projectos de matriz fotográfica e videográfica. O seu objecto de reflexão são as questões da água, quer na problematização do sistema de abastecimento a Lisboa, quer nas diversas apropriações geopolíticas, contextuais, biográficas, identitárias e processuais abordadas pelos diversos autores na tradução do que a água significa na sua prática artística.
A água é o tema e o medium destes trabalhos e é o tema e o medium da exposição que aqui se propõe à leitura.
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Francisco Varela, Paisagem líquida
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Esta exposição tem origem na dissertação de mestrado em Estudos de Arte, variante “Estudos Museológicos e Curadoriais”, de Francisco Varela, apresentada na Universidade do Porto, em setembro de 2021, sob orientação da Prof.ª Doutora Susana Lourenço Marques e coorientação da Prof.ª Doutora Maria Inês da Silva Antunes Moreira.
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Francisco Varela
Memória Líquida. Metodologias de Projeto entre Fotografia, Curadoria e Edição
Porto: Universidade do Porto / Setembro . 2021
Dissertação de Mestrado em Estudos de Arte, variante “Estudos Museológicos e Curadoriais”
Português / 196 pp.
On-line
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Como refere no resumo,
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Memória Líquida é um projeto artístico e curatorial desenvolvido entre setembro de 2020 e setembro de 2021 e contou com a participação de 26 autores e a inclusão de 29 projetos de matriz fotográfica. A ação curatorial Memória Líquida estruturou-se em torno de cinco acontecimentos: o debate, o evento, o workshop, a publicação e a exposição; todos eles com caraterísticas, projetos e, na generalidade, com autores diferentes, sendo a publicação inteiramente dedicada ao projeto fotográfico Memória Líquida realizado por mim. Em todos estes eventos participei na dupla condição de artista e curador. É assim, na posição da curadoria praticada por artistas que este projeto foi desenvolvido. Nesta dissertação fundamentar-se-á esta posição da curadoria como extensão da prática artística e da edição como ato curatorial ao mesmo tempo que se exemplificará esta postura com a caracterização do projeto artístico e curatorial desenvolvido, no esforço de, pela sua fundamentação, criar as bases teóricas e operacionais de um modelo generalizável. O projeto Memória Líquida como caso concreto deste modelo é uma exploração anacrónica do cruzamento das questões da água com o espaço concreto da Mata da Pasteleira e o Sistema de Abastecimento de Água ao Porto.
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Na “Introdução”, define:
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Um ponto na rede ou os objetivos do projeto
Este projeto, realizado no âmbito do Mestrado em Estudos de Arte, variante “Estudos Museológicos e Curadoriais”, pretende extrapolar um método de ação artística e curatorial a partir deste projeto concreto intitulado Memória Líquida, que tem como objeto de trabalho o Reservatório e o Parque da Pasteleira.
Este modelo de ação curatorial tem como referência o contexto da curadoria realizada por artistas, como extensão da sua prática artística e, em concreto, quando o artista participa no trabalho artístico objeto de curadoria.1 Enquadrar-se-á no subcapítulo 1.1 esta postura e explicar-se-á a sua relevância no contexto atual da prática curatorial e, igualmente, desta enquanto prática que se insere no trabalho do artista.
Projeta-se, assim, que o modelo de ação curatorial aqui ensaiado se aplique em diversas circunstâncias, contextos e instituições, tendo, no entanto, sempre como foco a análise das relações de diversa natureza que os espaços em análise têm com o território mais vasto, utilizando sempre a fotografia como ferramenta de inquérito e investigação sobre aqueles espaços e este território.
Pretende-se, deste modo, conjugar num mesmo modelo conceptual quatro componentes: o projeto artístico (individual, coletivo e editorial), as contribuições individuais (fotográficas) de diversos autores, o foco nas relações territoriais com os espaços em causa e a ação curatorial (que poderá assumir, conforme os contextos, diversas formulações). A edição será sempre uma das componentes. Como já se referiu, a concretização destes elementos estará sempre dependente dos espaços considerados, que constituirão unidades urbanas híbridas que conjugam edificação e espaço naturalizado e que têm com a cidade relações conceptuais, históricas e territoriais significativas.
São, assim, três os níveis de atuação ou tipologias de ação: o projeto curatorial e editorial, o projeto artístico e os projetos fotográficos. É no exercício destas três funções – curador, editor e autor – que desenvolvemos este projeto artístico e curatorial Memória Líquida e é nesta tripla função que pretendemos protagonizar futuras reformulações do modelo aqui ensaiado.
O projeto artístico na ação curatorial Memória Líquida é indissociável dos projetos fotográficos nela integrados. No entanto, as questões – que nesta dissertação mais adiante se explicitarão – da autoria, da intertextualidade dos projetos, da performatividade dos eventos da Assembleia Líquida e dos processos de mediação entre os artistas-fotógrafos e destes com o projeto curatorial – estão para além das questões internas ao medium fotográfico. Poder-se-á afirmar que o projeto curatorial Memória Líquida tem como motor um projeto artístico que articulou e enquadrou os 29 projetos fotográficos que dele fazem parte.
A investigação fotográfica seguiu, em cada caso, um protocolo específico ditado pelas circunstâncias concretas de cada um dos 29 projetos artísticos, de 26 autores (nós, Paula Roush, Maria João Ferreira, Miguel Marecos, Joana Nascimento, Betina Dal Molin Juglair, , Mide Plácido, Frederico Martinho, Susana Paiva, David Goldenberg, Raúl Simões Pinto, Inês R. Amado, Teresa Huertas, Manuela Vaz, Ana Botelho, Alice WR , Manuela Matos Monteiro, Eliane Velozo, Severino Laba, Renato Roque, João de Goes, Eduardo Sousa Ribeiro, Luís Carvalhal, Carla Fragata e Natércia Caneira.), que constituíram o projeto artístico Memória Líquida.
Se bem que no caso do projeto fotográfico Memória Líquida o objeto de estudo deste ensaio fotográfico tenha sido o Reservatório e o Parque da Pasteleira, foi a perspetiva de estes serem elementos singulares que conectam dois processos territoriais que fundamentou o trabalho artístico e os seus protocolos. Um, que teve a ver com o contexto e a ocupação do espaço, assim como com a sua memória recente, e o outro, que se relacionou com as implicações territoriais da infraestrutura de abastecimento e captação da água que serve o grande Porto, do qual o Reservatório da Pasteleira é um dos elementos do sistema. Os outros 27 ensaios refletiram, com maior ou menor latitude, sobre estes espaços, assim como sobre as diversas derivações da água como tema e como medium.
Na prossecução dos seus protocolos específicos, cada autor pôde recorrer, nos seus ensaios fotográficos, quer à captação de novas imagens, quer ao recurso e exploração de arquivos fotográficos de diversa origem (pessoais ou investigados por nós desde arquivos técnicos e históricos das Águas do Porto e das Águas do Douro e Paiva até arquivos de imprensa, de associações e álbuns pessoais). E, dessa forma, cada autor, num processo de edição aberta, teve a liberdade para etiquetar, fazer anotações, reutilizar, bem como misturar, reenquadrar, fazer colagens ou explorar as imagens, de todas as formas que conceptualmente para ele fez sentido.
Poder-se-á afirmar que a partir de um protocolo genérico, que teve o Reservatório, o Parque da Pasteleira e as questões da água como referências, foram desenvolvidos subprotocolos de inquérito fotográfico por cada um dos coautores. Isto resultou, não só, das diferentes abordagens artísticas de cada um deles, mas também das diferentes metodologias de trabalho curatorial e artístico que com eles estabelecemos.
Será possível, porventura , sintetizar o corpo de trabalho artístico Memória Líquida em quatro subconjuntos: o primeiro é o projeto fotográfico por nós desenvolvido denominado Memória Líquida; o segundo, é o projeto fotográfico elaborado pelo fotógrafo Duarte Belo; o terceiro é o conjunto de trabalhos desenvolvidos no âmbito do workshop Between Archive and Publication orientado pela professora e artista Paula Roush, que contou inicialmente com quatro coautores, a quem, aquando da realização do workshop Liquido, se juntaram mais 16 autores. Por fim, o quarto subconjunto de trabalhos elaborados pelos quatro autores convidados para a realização da ação curatorial que denominamos de evento.
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1 Sobre este tema ter-se-á como referência a publicação de Green, A.(2018).When Artists Curate. London: Reaktion Books.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2023
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Na sequência do workshop Between Archive and Publication, promovido por Francisco Varela, com paula roush, foi editada uma publicação:
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liquid memories. to read with water
Projeto e design editorial: paula roush / Fotografias e textos: Maria João Ferreira, paula roush, Betina Dal Molin Juglair, Francisco Varela, Miguel Marecos, Joana Nascimento, David Goldenberg, Raul Simões Pinto, NDMALO archive, Alice WR, Teresa Huertas, Carla Fragata, Manuela Matos Monteiro, Luís Carvalhal, Natércia Caneira, João de Goes, Inês R. Amado, Eduardo Sousa Ribeiro, Ana Botelho, Manuela Vaz, Renato Roque, Eliane Velozo & Severino Laba, Susana Paiva, Mide Plácido
Londres: msdm – mobile strategies of display & mediation / 2022
Português, inglês / 23 x 35 cm (fechado) / As secções individuais variam entre 10,5 x 14,8 cm e 42 x 59,4 cm / 721 pp. / 544 fotografias
Conteúdo: 55 secções soltas – 18 panfletos, 5 brochuras, 12 posteres, 10 cartões, 9 fotografias e 1 folheto / Impressão a laser e índigo em papéis não revestidos e papel com acabamento em seda em fotografias fac-símile.
Capa mole em PVC transparente com 2 bolsos laterais, monoimpressão individualizada exclusiva em acrílico dourado. Para cada livro, a montagem das 55 secções é diferente, tal como a impressão na capa / 100 ex.
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Na exposição podemos ver duas fotografias e instalações relativas ao sistema de abastecimento de água a Lisboa, uma delas de arquivo (na tina de água, entretanto já evaporada). Sobre uma extensa mesa, o livro “liquid memories. to read with water”, projeto editorial de paula roush, editado pelo msdm – mobile strategies of display & mediation Studio, com a obra de 25 autores a partir do workshop Between Archive and Publication, desenvolvido por Francisco Varela e paula roush, é apresentado nos diversos elementos que o compõe, permitindo ao visitante folhear cada um.
Numa televisão é possível ver 3 vídeos: “Organic Waters”, de paula roush, “Rough Water”, de Joana Nascimento e “Capture”, de Maria João Ferreira.
Numa tela é projectado:
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Mide Plácido, Live, vídeo, sem som.
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Miguel Marecos, Experience Liquid, vídeo, com som.
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A exposição “Memória Líquida”, curadoria de Francisco Varela, com obras de Francisco Varela, paula roush, Eduardo Sousa Ribeiro, Mide Plácido, Susana Paiva, Betina Dal Molin Juglair, Miguel Marecos, Joana Nascimento, Maria João Ferreira, David Goldenberg, Inês R. Amado, Teresa Huertas, Manuela Vaz, Ana Botelho, Alice WR, Raul Simões Pinto, arquivo NDMALO, Carla Fragata, Manuela Matos Monteiro, Luís Carvalhal, Natércia Carneira, João de Goes, Renato Roque e Eliane Velozo & Severino Laba, está patente no Museu da Água da EPAL – Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, na Rua Alviela, 12, em Lisboa, de 25 de agosto a 15 de outubro de 2023.
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Francisco Varela
No início foi a descoberta da casa de chá da Boa Nova, da arquitectura bela e inexplicavelmente sábia. Quase ao mesmo tempo, a fotografia experimentada em laboratório caseiro, com o livro de fotomontagens da vanguarda mais revolucionária a servir de inspiração-abstracção, fotogramas e diapositivos em kodachrome, a emoção da cor, tão próxima da pintura que admirava, Mark Rothko e o expressionismo abstracto americano.
Depois, as viagens em demanda de obras que se “assimilavam” nos cadernos de viagem e nos slides shows com os amigos.
A fotografia foi ficando restrita à funcionalidade do documento, obra, pormenores, maquetas e ao registo das paredes onde se ensaiavam afinidades – processo afinal, que tem agora a oportunidade, possível, da sua releitura.
Descoberta novamente como expressão, a fotografia foi sendo construída em sucessivas oportunidades, no IPF,com a Susana Paiva, com paula roush, no Atelier de Lisboa com o Bruno Sequeira, Bruno Santos e o António Júlio Duarte . E revelada como caminho com o Jem Southam. Ficam as hipóteses de caminho, do cruzamento de disciplinas, de uma fotografia expandida que se quer prática e de uma curadoria particpante de permanente confrontação com a vida, a arte, os outros e eu.
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Pode consultar a dissertação de Francisco Varela, “Memória Líquida. Metodologias de Projeto Entre Fotografia, Curadoria e Edição”, aqui.
Pode consultar sobre a publicação “liquid memories. to read with water”, projeto editorial de Paula Roush, editado pela msdm – mobile strategies of display & mediation, aqui.
Pode conhecer melhor o trabalho de Francisco Varela, aqui.
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