JORGE MARÇAL DA SILVA, A DIMENSÃO IMERSIVA . 1
Exposição no Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, de 18 de abril a 30 de setembro de 2023.
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Jorge Marçal da Silva, médico e fotógrafo, desenvolveu a sua atividade no 1.º quartel do séc. XX, criando um espólio de alguns milhares de imagens, grande parte, fotografias estereoscópicas: cada fotografia é composta por duas imagens, registadas no mesmo instante, com tomadas de vistas paralelas, desfasadas alguns centímetros, como a distância entre os olhos humanos – dão-nos, quando vista cada uma pelo seu olho, a noção da profundidade, da tridimensionalidade da imagem. Daí o nome da exposição: “A dimensão imersiva”.
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Jorge Marçal da Silva
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Lemos na folha de sala:
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A exposição A DIMENSÃO IMERSIVA foi criada a partir do espólio do médico e fotógrafo amador, Jorge Marçal da Silva e propõe uma experiência imersiva em torno da sua prática fotográfica.
Dos seus interesses pessoais destacam-se a paixão pela música, sendo apreciador de ópera e frequentador assíduo do Teatro de S. Carlos, e pela fotografia. Jorge Marçal da Silva, não só fotografava como também realizava o seu próprio trabalho laboratorial, desde a preparação das soluções químicas necessárias para os vários procedimentos relativos à revelação, até à positivação e ampliação das imagens, fazendo um significativo investimento em equipamentos e assinando revistas da especialidade, que também o mantinham atualizado sobre as novidades desta prática.
O seu percurso pessoal, de formação e de exercício da atividade profissional, inseria-se em contextos institucionais e círculos sociais nos quais a prática fotográfica em estereoscopia era já amplamente divulgada.
O Arquivo Municipal de Lisboa recebeu da família do fotógrafo, mais de quatro mil imagens, negativos e diapositivos em suporte de gelatina e prata em vidro, maioritariamente no formato estereoscópico Vérascope, negativos em acetato de celulose e provas fotográficas em papel, impressas pelo autor. Dos diapositivos em vidro, salientam-se os Autochromes, um processo de fixar as cores em fotografia no início do século XX.
Este espólio inclui cadernos de registo e de apontamentos manuscritos, um conjunto diversificado de caixas comerciais, armários e caixas de acondicionamento e arquivamento de vidros e papel fotográfico, destacando-se ainda, um Le Taxiphote para visionamento de vidros estereoscópicos e um Ruby Enlarger para ampliação e projeção de imagens.
A exposição privilegia a apresentação e o visionamento de originais em suporte de gelatina e prata, em vidro, através de visores históricos que permitem experienciar a dimensão imersiva das imagens captadas pelo fotógrafo. Dada a riqueza e diversidade de temas que registou, são exibidas uma série de imagens editadas em anáglifo e uma centena de imagens que abrange os assuntos mais recorrentes, apresentada em dois momentos da exposição: as primeiras cinquenta imagens podem ser vistas até ao dia 8 de junho seguindo-se as restantes até ao final da exposição.
Para além desta singularidade, a exposição inclui uma seleção de provas de época e de impressões atuais que respeitam e evidenciam os diversos suportes e formatos originais, bem como a apresentação de equipamentos e de objetos pessoais relacionados com a produção fotográfica.
As imagens captadas no período compreendido entre 1906 e 1927 refletem o olhar, o gosto e os interesses pessoais de Jorge Marçal da Silva, bem como as “tendências fotográficas” da época, a família, os amigos, os passeios e as viagens, o património e a cultura imaterial.
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Estão patentes diversas fotografias não estereoscópicas de diversos locais, alguns retratos, do próprio e de familiares, a ampliação de diversas fotografias estereoscópicas, algumas editadas em anáglifos: compostas por duas imagens, sobrepostas e desfasadas, uma em vermelho, outra em azul, permitindo perceber a tridimensionalidade com o auxílio de óculos com essas cores, disponíveis, e outras imagens projetadas. Encontram-se diversas caixas de chapas de vidro, os seus pequenos cadernos com “apontamentos de fotografia/manual prático”, outros com anotações sobre as imagens: “nº; data e hora da captação; luz (estado atmosférico ou uso de luz artificial); objetiva usada; diafragma; emulsão (marca comercial); assunto fotografado; tempo de exposição; revelação e observações”, bem como outra memorabília; um interessante conjunto de visores estereoscópicos, na maior parte de mesa, através de um dos quais podemos ver uma centena de fotografias (50 até 8 de junho, outras 50 depois).
Estão também patentes alguns autochromes (processo a cores) e ainda um conjunto significativo de fotografias em chapa de vidro. Sempre, a identificação manuscrita, no espaço entre as imagens, do local, da data e do número de ordem sequencial da fotografia. Veremos estes numa próxima publicação.
Ao longo da exposição, diversas folhas de sala apresentam o texto dos curadores e a ficha técnica, bem como a identificação das fotografias expostas ou visionáveis, umas com a reprodução em pequena escala das imagens e a sua identificação: local, assunto, data, hora, luz (condições atmosféricas), n.º da imagem e n.º de inventário.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2023
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A exposição “A Dimensão Imersiva”, de Jorge Marçal da Silva, com curadoria de Sofia Castro e Vítor Gens e consultoria de Victor Flores, está patente no Arquivo Municipal de Lisboa | Fotográfico, na Rua da Palma, 246, em Lisboa, de 18 de abril a 30 de setembro de 2023 (inicialmente até 31 de agosto).
Visitas guiadas pelos curadores: 28 de julho, 17:00, 19 de agosto, 14:00 (Dia Mundial da Fotografia), 26 de agosto, 10:00 e 15:00 e 30 de setembro, 17:00. A 30 de setembro, às 15:30, lançamento do catálogo.
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Jorge Marçal da Silva nasceu a 30 de junho de 1878 e faleceu a 15 de maio de 1929, em Lisboa, onde sempre viveu.
Casou com Irma Leite Mendes a 26 de julho de 1905, e tiveram quatro filhos, Maria Luiza, Jorge, Manoel e Octávio. Estudou na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, integrou o serviço militar ainda estudante e após ter terminado o curso de Medicina em 1902, no Hospital de São José foi cirurgião substituto (1903-1906) e como cirurgião efetivo no banco (1906-1910).
Durante a Primeira Grande Guerra, foi também cirurgião do exército no Hospital Militar Central ou da Estrela, de 1916 a 1919.
Esteve colocado no Hospital do Desterro passando depois para o Hospital D. Estefânia, onde assumiu o cargo de Diretor de enfermaria já na década de 1920.
Foi professor de Anatomia e Fisiologia entre 1920 e 1928 na Escola Profissional de Enfermagem, no Hospital de São Lázaro de Lisboa, onde foi Diretor a partir de 1924 até 1928.
Exerceu medicina privada na zona de Arroios e na Avenida Almirante Reis, onde residia.
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Pode ver a segunda parte desta publicação aqui.
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