FILOMENA SERRA (ED.), FOTOGRAFIA IMPRESSA E PROPAGANDA EM PORTUGAL NO ESTADO NOVO, 2022
Dia Mundial da Fotografia.
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Filomena Serra (edição)
Fotografia impressa e propaganda em Portugal no Estado Novo. Fotografia Impressa. Imagem e Propaganda em Portugal (1934-1974)
Textos: Filomena Serra, Paula André, Manuel Villaverde Cabral, Javier Ortiz-Echagüe, Eduardo Cintra Torres, José Guilherme Victorino, Natasha Revez, Sofia Leal Rodrigues, Patrícia Ferraz de Matos, Susana Lourenço Marques, Luciene Lehmkuhl, Israel Guarda, Ana Barata, Heloísa Paulo, José Oliveira, Filipa Subtil, Filipa Lowndes Vicente, Maria Manuela Gomes, Leonor Pires Martins, Patrícia Ferraz de Matos, Inês Vieira Gomes, Afonso Dias Ramos, João Leal, Vasco Ribeiro, Susana S. Martins, Paul Melo e Castro, Ros Boisier / Fotografias (reproduções): Fábio Cunha
Espanha: Muga / Junho . 2022
Português, inglês / 16,5 x 24,0 cm / 400 pp.
Cartonado
ISBN: 9788409315383
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Este é o primeiro livro publicado em Portugal sobre fotolivros portugueses, englobando também livros fotográficos e revistas ilustradas com fotografias. Reveste, pois, um papel de relevo no panorama editorial nacional, embora tenha sido selecionada uma editora espanhola, mas especializada em fotografia, fotolivros e cultura visual, o que permitirá uma maior divulgação internacional.
Surgido na sequência de um projeto de investigação apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, iniciado em Maio de 2016 e concluído em Outubro de 2019, resultou numa exposição, “Fotografia Impressa e Propaganda Visual em Portugal (1934-1974)”, realizada entre Maio e Setembro de 2019, na Biblioteca Nacional e que se perpetua nesta obra, em que se apresentam 50 obras publicadas.
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Fazer hoje propaganda nacional interna ou externa é fazer a propaganda […] da actual situação: estradas, nova esquadra, novas escolas e liceus, administração impecável, regime corporativo, assistência pública, princípios essenciais da nova Constituição, renovação moral, social, etc. […] Organizar grandes espectáculos gratuitos para os pobres, para os desempregados, para todos aqueles que vivem longe das grandes coisas belas e harmoniosas […] Fazer uma série de publicações de carácter nacionalista, e, imediatamente, um grande álbum de luxo: Portugal 1934, que documente com gravuras expressivas, irrespondíveis, o que se tem feito em Portugal nos últimos sete anos.
António Ferro, Diário de Lisboa, 11.10.1933
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Foi deste modo que, em 1933, António Ferro, então recém-nomeado director do Secretariado da Propaganda Nacional, deu a conhecer o que viria a ser em parte a cultura impressa e a propaganda pela fotografia no Estado Novo português. Nos anos seguintes fotografia documental e reportagens fotográficas seriam o suporte comunicativo de exposições e edições. Gráficos e fotógrafos e até cineastas, a par de arquitectos e outros artistas visuais, muitos deles familiarizados com os novos modelos de propaganda alemã, italiana e soviética, foram chamados a fazer parte das equipas de trabalho de Ferro. Perspectivou-se então uma renovação gráfica moderna e actualizada, reinterpretaram-se aqueles modelos e abriu-se caminho a um arquivo fotográfico. Reler a história da fotografia à luz da página impressa – o que designámos como «fotografia impressa» – e não da imagem individualizada do fotógrafo parece fazer assim todo o sentido.
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Assim abre o capítulo “A Fotografia Impressa e a Propaganda no Estado Novo”, onde se faz um enquadramento histórico da edição fotográfica impressa em Portugal e se mostra o papel preponderante colocado nas edições fotográficas promovidas pelo Estado Novo.
Lemos um pouco mais:
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A fotografia impressa como campo de estudo
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A fotografia impressa ganhou uma entidade própria nas duas últimas décadas, por via dos estudos recentes (Berti 2019), muitos deles sobre fotolivros (Fernández 1999, 2014; Parr e Badger 2004, 2014, 2016; Ortiz Echagüe 2017, 2020; Bello, Wilson, Zamir 2012; Neves 2016, 2017, 2019; Boisier e Simões 2019), aos quais podemos acrescentar o desenvolvimento do estudo dos periódicos (Latham e Sholes 2006; Mendelson 2007) e de outros tipos de media impressos, como os catálogos, os folhetos, os guias ou os cartazes ilustrados com fotografias. Estas novas abordagens historiográficas têm demonstrado um significado acrescentado que ultrapassa o mero valor documental das imagens, onde a arte e o documentário, o conhecimento e o poder, mas também a subjectividade ou a provocação, constroem discursos e narrativas visuais que nos permitem conhecer melhor os usos e funções da fotografia em publicações.
A multiplicidade e a variedade dessas publicações, sobretudo das revistas ilustradas bem como os novos grafismos e modos de comunicar, foram definidos em grande parte pelo incremento da imprensa de massas e pelo desenvolvimento da foto-reportagem moderna nos anos 20 e 30 do século passado. Esse protagonismo da fotografia e a sua inclusão na esfera pública, após a Primeira Guerra Mundial, revelam as exigências e expectativas das novas massas urbanas em relação às imagens bem como uma mudança na sua visibilidade e circulação públicas.
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Momentos estelares dos fotolivros em Portugal
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Atendendo à produção de fotolivros, depreende-se do que dissemos que há na história da fotografia portuguesa vários momentos especialmente produtivos. O primeiro deles é o do Estado Novo, cujo SPN produziu algumas publicações de qualidade extraordinária, tanto a nível técnico e de impressão como quanto ao seu design, muito relacionado com o das vanguardas russas. A este propósito, é de recordar que o director do SPN, António Ferro, tinha estado ligado a círculos vanguardistas nos primeiros anos do século, de tal modo que – conforme escreveu recentemente Mário Moura – «em Portugal é impossível encontrar uma transição entre um modernismo primordial bem-humorado e um segundo modernismo mais certinho, posto ao serviço de um poder totalitário» (Moura 2018, 153). Em segundo lugar, é quase obrigatória a referência à Lisboa de Victor Palla e Costa Martins como uma obra-prima do humanismo fotográfico que oferece uma visão alternativa, mais real e humana, ao mundo idealizado pelo salazarismo. Na esteira de Palla e Martins, seguem-se outros fotógrafos portugueses que trabalharam também de modo pessoal e comprometido: para mencionar apenas um nome que já surgiu nestas páginas, basta recordar, entre outras publicações do seu autor, Gente de Eduardo Gageiro (1971).
Além destes há outros dois domínios especialmente produtivos, ligados à crise do regime de Salazar. Um deles é o das publicações coloniais, tanto as Oficiais que se dedicam a legitimar e exaltar o regime como aquelas que o criticam a fim de promover a revolução e a independência (Resistência Popular Generalizada seria um exemplo disto). O outro é o das publicações relacionadas com a revolução de 1974 que poria termo ao regime e levaria a nova situação política. Uma Certa Maneira de Cantar é um caso, já citado, de toda uma vaga de livros que mudou em muito pouco tempo o aspecto das livrarias e dos quiosques portugueses.
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O presente livro, Fotografia Impressa e Propaganda em Portugal no Estado Novo, é uma antologia de livros que resulta de um projecto de investigação universitário. O seu objectivo não é fazer uma história dos fotolivros portugueses em sentido amplo, mas sim centrar-se no âmbito mais específico da propaganda e da contra-propaganda. O seu núcleo fundamental é constituído pelas publicações de propaganda realizadas no período do Estado Novo, sendo amplamente representadas as suas obras-primas, desde Portugal 1934 a Salazar na Intimidade, até aos álbuns coloniais e à documentação das grandes exposições oficiais. A estes, acrescentam-se outros livros dedicados à paisagem, aos monumentos ou à promoção turística, temas que também preocuparam os serviços de propaganda de Salazar. Contudo, a selecção proposta por Filomena Serra abre-se para incluir também, na linha desenvolvida por Parr e Badger, algumas publicações de protesto ou que, pelo simples facto de serem independentes, produzem um discurso alternativo à imagem oficial: o surrealismo de Fernando Lemos (Serra 2019), o humanismo de Palla e Martins ou as visões críticas do regime salazarista que, para Manuel Villaverde Cabral, começariam com As Mulheres do meu País de Maria Lamas (p. 234). Completam a selecção algumas publicações sobre Portugal surgidas fora do país, entre as quais se pode destacar o Portugal editado por Chris Marker para a colecção Petite Planète das Éditions du Seuil em 1957 (p. 252). Este capítulo, na realidade, poderia ser muito mais amplo, pois ainda que Portugal esteja ausente de grandes projectos como Les Européens de Henri Cartier-Bresson (1955), há fotografias portuguesas em lugares surpreendentes. Para dar apenas um exemplo, o fotógrafo japonês Ikko Narahara inclui as clássicas imagens dos pescadores da Nazaré em Where Time Has Stopped (1967), que descreve uma viagem de Paris a Veneza e a diferentes lugares de Espanha em busca de um território cheio de premonições e recordações «onde o tempo parou» (Narahara 1967, 189).
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Assim,
Apresentamos uma selecção de cinquenta publicações: livros e álbuns fotográficos, fotolivros, revistas ilustradas e catálogos provenientes do fundo documental do Secretariado Nacional da Informação (SNI), existente na Biblioteca Nacional de Portugal e representativos dos usos propagandísticos da fotografia impressa durante o Estado Novo português. A maior parte dessas obras foi mostrada no âmbito da exposição Fotografia Impressa e Propaganda Visual em Portugal (1934-1974), que esteve em exibição, de Maio a meados de Setembro de 2019, naquela Biblioteca, quando ao mesmo tempo organizámos o Colóquio Internacional Quando a Fotografia Impressa faz a História: Viagem ao Imaginário de uma Época.
Na exposição apresentávamos textos e imagens fotográficas em diálogo entre si, cuja exibição sublinhava a «fotogenia» das obras e um modo específico de leitura. Devolve-se, agora, enquanto registo desse acontecimento e em movimento contrário — «da parede ao papel» – essa memória. Seguimos neste livro a metodologia de trabalho da exposição, bem como a do projecto de investigação em que se integra este livro, circunscrevendo as obras seleccionadas a quatro núcleos temáticos transversais nas suas problemáticas: «Representações Performativas», «Realizações Materiais», «Retóricas do Corpo» e «Contra-discursos e Contra-imagens».
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O livro inicia-se com a “Apresentação e Agradecimentos”, a que se segue “A Fotografia Impressa e a Propaganda no Estado Novo”, texto de Filomena Serra, Paula André, Manuel Villaverde Cabral e “Uma Pátria de papel: a Fotografia, a História e os Media Impressos no Estado Novo Português”, por Javier Ortiz-Echagüe, seguindo-se a apresentação da seleção de 50 obras em que a fotografia tem um papel preponderante.
A “acompanhar a entrada de cada publicação reproduzimos algumas das suas páginas, mostrando o modo de inserção das imagens na página”, os “textos são dos membros da equipa do projecto mas também de autores convidados”. “Filomena Serra, investigadora responsável do projecto coordenou as «Representações Performativas» e as «Retóricas do Corpo». Paula André, coordenou as «Realizações Performativas», e Manuel Villaverde Cabral viria a ser convidado, em 2018, para se ocupar dos «Contra-discursos e Contra-imagens».”
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Fotografia impressa e propaganda em Portugal no Estado Novo. Fotografia Impressa. Imagem e Propaganda em Portugal (1934-1974)
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As obras apresentadas são, de acordo com a distribuição pelos quatro capítulos referidos:
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REPRESENTAÇÕES PERFORMATIVAS
O Notícias Ilustrado
Bandarra: Semanário da Vida Portuguesa
Portugal 1934
Álbum Comemorativo da Exposição-Feira de Angola
O Século Ilustrado
Alguns Aspectos da Viagem Presidencial às Colónias de S. Tomé e Príncipe e Angola Realizada nos Meses de Julho e Agosto de 1938,
The Official Book of the Portuguese Representation at the International Exhibition of New York
Pavilhão do Brasil na Exposição Histórica do Mundo Português
Portugal 1940
Moderna Arquitectura Alemã / Neue Deutsche Baukunst
Mundo Português: Imagens de uma Exposição Histórica
Portugal e o Mar
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REALIZAÇÕES MATERIAIS
Boletim da Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais
Images Portugaises
Vida e Arte do Povo Português
Bairros de Casas Económicas 1934-1940
Panorama: Revista Portuguesa de Arte e Turismo
Obras Públicas
Paysages du Portugal
Revista Municipal
Portugal: Breviário da Pátria para os Portugueses Ausentes
Monsanto
Quinze Anos de Obras Públicas: 1932-1947
The Selective Traveller in Portugal
Portugal (30 Photos en Couleurs)
Portugal, um país que Importa Conhecer
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RETÓRICAS DO CORPO
Salazar o Homem e a sua Obra
Álbum Fotográfico da 1.ª Exposição Colonial Portuguesa
General Carmona
O Livro de Ouro das Conservas Portuguesas de Peixe
Mocidade Portuguesa: Boletim Mensal do Comissariado Nacional
Exposição-Feira de Angola: Catálogo Oficial
Férias com Salazar
Salazar na Intimidade
Álbum de Penteados do Sudoeste de Angola
Angola os Dias do Desespero
A Arte Popular em Portugal, Ilhas Adjacentes e Ultramar
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CONTRA-DISCURSOS E CONTRA-IMAGENS
Portugal Wharf of Europe
As Mulheres do meu País [no FF, aqui]
Primeiras Exposições Individuais: Exposições de Azevedo, Lemos e Vespeira [no FF, aqui]
Imagem: Revista de Divulgação Cinematográfica
Le Portugal
Portugal
Almanaque
Lisboa «Cidade Triste e Alegre» [no FF, aqui, aqui e aqui]
Au Portugal avec Carlito [no FF, aqui]
Arquitectura Popular em Portugal
Lisboa no Passado e no Presente
Portugal
Esta Estranha Lisboa
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A revista americana Blind Magazine inclui o livro nas 10 melhores publicações apresentadas nos Les Rencontres Internationales de la Photographie em Arles 2022, pode ver aqui.
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Sobre a exposição “Fotografia Impressa e Propaganda Visual em Portugal (1934-1974)”, realizada entre Maio e Setembro de 2019, no FF, aqui.
Pode ver sobre o livro no site da editora, aqui.
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