ARMANDO CARDOSO, 50 ANOS… 50 FOTOGRAFIAS, 2022
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Armando Cardoso
50 anos… 50 fotografias
Fotografia: Armando Cardoso / Texto: Armando Cardoso, Pedro Foyos, Helena Pato, José Antunes Ribeiro, Gaelle Istanbul, João Castela Cravo, José Soudo
Lisboa: Espaço Ulmeiro Associação Cultural / Setembro . 2022
Português / 25,5 x 20,6 cm / 80 pp.
Cartonado / [300 ex.]
ISBN: 9789895490165
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Armando Cardoso foi um dos fundadores da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica.
A comemorar os 50 anos de atividade na fotografia, Armando Cardoso publicou em 2022 um livro que percorre a sua vida fotográfica, ao longo de outras tantas fotografias e alguns textos: um seu, outros de alguns amigos.
Uma história e uma memória.
Parabéns, Armando Cardoso!
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O fascínio começa devagar, sem nos darmos conta… “olha ali. Porque estará abandonado? O que terá sido antes? Vamos entrar.”
E assim, “num quase nada”, nascido de uma pequena curiosidade lá se parte em viagem de descoberta. Procuramos escutar o que já deixou de ser, esperar que os locais nos falem de si e de quem os habitou, do que os habitou.
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A abrir, escreve Armando Cardoso:
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Completam-se 50 anos sobre a data em que foi publicada a minha primeira fotografia.
O trabalho agora apresentado abarca o meu trajeto como fotógrafo nesses 50 anos. Contudo, as fotografias selecionadas não seguem uma forma cronológica; antes pretendem dar uma ideia do meu percurso fotográfico, feito de avanços e recuos, de exploração de novas abordagens, de paixões e, por vezes, de desistências.
Um percurso que se inicia numa visão neo-realista, uma preocupação social e política que era dominante nos então FotoClubes, e se reflete numa fotografia de tendência humanista.
Segue-se a exploração da relação da fotografia com outras artes visuais, como a pintura, uma fase que teve subjacentes o questionamento da noção de Belo, o questionamento dos limites da linguagem fotográfica e uma reflexão sobre o significado da arte em fotografia explorando, nomeadamente, os recursos da designada arte digital.
E termina, como que numa “provocação” sobre o regresso às origens, com referência à utilização do analógico, na procura de uma forma de olhar com tempo.
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Pedro Foyos, jornalista, cofundador e primeiro presidente da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, regista:
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SOB O SIGNO 50 PARA JÁ…
A presente obra é regida criativamente pelo número 50 – uma feliz referência temporal e quantitativa. Fim de um tempo político, início de um outro. O primeiro foi adverso para quase todos os géneros fotográficos, sobretudo o jornalístico, com autores (Eduardo Gageiro e José Antunes, entre outros) chamados à polícia política pelo crime de excessivas visitas aos “bairros da lata”. Foi, ainda, há 50 anos que irrompeu, em Portugal, um verdadeiro associativismo fotográfico, com encontros anuais tanto em Lisboa como no Porto, Braga e Coimbra, iniciativas que, frequentes vezes, tiveram a presença de Armando Cardoso em representação da saudosa Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, falecida mais tarde talvez por falta de amor…
No âmbito jornalístico surgem, nesse tempo, numerosas publicações cujas fichas técnicas registam igualmente o nome de Armando Cardoso: “Foto-Jornal”, “Nova Imagem”, “Foto-Profissional” e, em formato e peso de livro, o luxuoso “Anuário Português de Fotografia” com centenas de participantes.
Passaram 50 anos. Sem dúvida, uma época áurea da arte fotográfica em Portugal. Não se estranhará, por exemplo, que então fosse noticiado num título destacado:
ASSOCIAÇÕES ALERTAM O GOVERNO PARA A GRAVE SITUAÇÃO DA ARTE FOTOGRÁFICA EM PORTUGAL.
Sublinhava-se, nomeadamente, que (…) o alheamento dos órgãos governamentais para com a fotografia entendida como expressão de arte e atividade criativa primordial na comunicação humana faz-se sentir hoje numa dimensão mais do que nunca penosa, devido ao aumento generalizado do custo dos materiais fotográficos. Esta situação não pode deixar de suscitar as maiores apreensões.
Alertava-se para as dificuldades dos fotógrafos amadores cada vez mais impedidos de exercer uma atividade cultural desligada de quaisquer fins lucrativos.
Decorridos cinquenta anos, a situação não se alterou. Constitui um penoso encargo financeiro realizar uma exposição deste género artístico.
É, assim, gratificante verificar uma iniciativa editorial acolhendo a síntese da obra de um nome maior da arte fotográfica em Portugal.
As fotografias que integram este livro testemunham, nos seus diferentes registos artísticos, a sensibilidade atenta e o apuro criativo que Armando Cardoso sempre cultivou.
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Gaelle Istanbul destaca:
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E mesmo que a traça chegue ao cião ou à magenta, é não querer desistir do papel. Procurar na azeitona a expressão. No tom da pele, a tonalidade universal. É querer acender fósforos assim que a noite se escape.
É uma vontade de ser veleiro, a par de dente na terra húmida. É querer ser um átomo desobrigado e seguro por se saber desabrigado. É querer procurar na possibilidade o vocábulo dos astros abandonados. É não ter receio de interceder por eles e de correr o risco. É não desistir de nascer e morrer no movimento perpétuo dos acordados. É saber caminhar como um nómada cegado pela vaga das areias. Não ter medo de habitar uma fenda ou coisa nenhuma. É não querer abraçar a certeza, a face obscura dos espartilhos. É querer semear um olival na gota de uma espuma perene. Fazer da sombra a imagem da cor difusa. É encontrar um mundo novo em cada míriade que se liberta. E assim deixar entrar um fluido que se infiltre no caminho incerto. É isso a Liberdade. A liberdade de se ter a poesia no corpo. E, por isso, o gesto madrigal.
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Angra do Heroísmo, 2022.
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João Castela Cravo, anota:
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A FOTOGRAFIA COMO ENSAMBLAGEM DA LUZ
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Há um momento em que a luz se ensambla, embutida através da técnica fotográfica, e se transforma em arte. Ora, técnica é técnica; ensamblagem é arte ou contribui para a arte e a ensamblagem vive da técnica, logo, não há arte sem técnica, mas técnica sem arte é um acto ditatorial!
Félix Nadar (1820-1910) foi um dos grandes provocadores da arte fotográfica. Os seus retratos eram o seu Panteão, o seu templo; o seu estúdio era o seu laboratório. Charles Beaudelaire não acreditava na fotografia como arte – Toma lá: um retrato esborratado! Nadar quer ironizar a diferença entre o olhar e o ver – Toma lá: a actriz Marie Laurent fotografada de costas!
Percebe-se, assim, perfeitamente, a ligação de Nadar à Pandilha Impressionista e não é de estranhar, então, o ter sido no seu “Laboratório”, no boulevard des Capucines, que se realizou a primeira exposição impressionista, em 1874. Aqui se deu outro momento importante na assemblagem da luz!
Ora, a fotografia não é apenas uma técnica, é uma técnica (techné, prática) cheia de significado. Foto-grafar é desenhar com luz (assim a constitui Herschel em 1839). Convenhamos que este “título”, confere todo um significado ao resultado, daquilo que seria um mero apertar de um botão. É talvez por demais repetitivo, mas não deixa de ser verdade: é a ligação entre o cérebro, o olho e a mão… e a luz, acrescento ainda…
Assim o gesto é o início e o fim de um caminho, mas em uma obra aberta, como todas as obras de arte o são!
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Amadora, 26 de Dezembro de 2021
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Transcrevo do ensaio de José Soudo, que fala da obra de Armando Castro e da História da Fotografia:
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(…) Feitas as contas e considerando que a fita do tempo da Fotografia se inicia nos idos de 1830’s/1840’s o que, sendo verdade, não o é, como tenho afirmado e comprovado inúmeras vezes, estamos a falar de uma actividade que ronda os cerca de 190 anos, mais os pózinhos de perlimpimpim que lhe podem ser acrescentados, se com jeito andarmos para trás e que nos colocam entre 1790’s e 1805 ‘s, no tempo das impressões solares de Thomas Weddgwood (1771/1805) e Humphry Davy (1778/1829), não estabilizadas, mas pré-fotográficas, pelo que sem grandes confusões nos darão uns bons 230 anos de existência.
Deste curto tempo de vida da Fotografia, se comparado com a vida das restantes Artes Visuais, o Armando acompanhou e contribuiu muito e bem, com trabalho efectivo, feito nos últimos 50 anos desta fascinante actividade.
Este livro e as sequentes exposições, comportam várias fases e estratégias, das diferentes abordagens que o Armando Cardoso desenvolveu ao longo deste tempo.
Ir-me-ei debruçar apenas sobre duas delas.
Uma é a que corresponde ao período que o Armando considera o da sua visão neo-realista, com uma forte preocupação social e política, que se reflecte em fotografias de tendência humanista e que naturalmente desembocarão no 25 de Abril e nos tempos sequentes.
Para os que acompanham os meus escritos modestos sobre fotografia e sobre fotógrafos, verificarão que remeto sempre o que me é dado a ver, para memórias que tenho de outros trabalhos de outros fotógrafos e da própria história da fotografia, ou será que deveria dizer da(s) história(s) da(s) fotografia(s), pois entendo que tudo se liga de um modo directo e indirecto, com objectividade e com muita subjectividade.
É certo, que pouco ou nada poderei acrescentar ao trabalho do Armando, que não seja o reforçar o profundo respeito que sinto pelo engajamento nesta tão importante tipologia da fotografia, na qual grande parte de nós se envolve ou envolveu, com o desejo de deixar marcas de uma militância a favor das causas dos mais desprotegidos, marcas essas que nos chegaram como referência e como ecos longínquos de outras militâncias vividas.
A laia de exemplo, pensemos nos trabalhos de vulto de Jacob Riis (1849/1914), à volta da vida infeliz, dos mais infelizes da escala social, na cidade pejada de emigrantes, que era Nova Iorque no seu tempo e que tentou denunciar no livro How the other half lives – studies among the tenements of New York e que lhe veio a merecer grandes destaques e elogios do futuro presidente Roosevelt, devido ao seu empenho.
Também não se pode deixar de fora Lewis Wickes Hine (1874/1940), cujas fotografias enchem as paredes do Museu da Emigração, em Ellis Island, lado a lado com as de Riis, retratando a vida dos que chegavam como migrantes e depois eram encaminhados como operários para as fábricas, numa exploração sem regras e onde acima de tudo ainda era mais evidente a exploração desenfreada do trabalho infantil, o que levou a que o seu filho, depois do seu falecimento, ter considerado a Photo-League, a estrutura que merecia ser a zeladora da Lewis Hine Memorial Collection, tendo-lhes doado o trabalho do pai, em reconhecimento do papel que esta estrutura desenvolveu na promoção do ativismo social, através da fotografia.
A Photo-League ou Liga Fotográfica, fundada por Walker Evans (1903/1975) e não só, remonta as suas origens aos idos de 1930’s, quando os activistas do Workers International Relief – WIR, associação internacional dos trabalhadores comunistas, com sede em Berlim, criaram na cidade de Nova York a Liga dos Trabalhadores, também conhecida como a Liga do Cinema e da Fotografia, merecerá uma reflexão profunda, a qual não cabe neste texto, para não o alongar, mas que justifica o seu estudo, pois nesta associação empenhada numa fotografia militante, irão estar ao longo de cerca de duas décadas, alguns dos nomes mais brilhantes da fotografia de índole humanista do séc. XX.
Sobre a Photo-League, termino dizendo que incomodou tanto, que acabou por ser extinta em 1951, na sequência de acusações forjadas pelo FBI, baseadas em depoimentos falsos, que levaram a que a associação fosse colocada na lista negra do Supremo Tribunal Americano, constando da Lista das Organizações Subversivas da Procuradoria-Geral (AGLOSO), publicada a 20 de Março de 1948, no Federal Register.
Os fotógrafos que trabalharam na Photo League, acreditaram firmemente nas causas políticas e sociais que consideravam progressistas, respeitando os antecedentes e as origens políticas do grupo, nascido em Berlim, no movimento comunista – Arbeiterfotografen – Fotógrafos pelos Trabalhadores. Uma das vertentes mais denotativa do seu engajamento, encontra-se nos trabalhos que muitos deles realizaram para o departamento do governo americano, conhecido como Farm Security Administration, no período da designada “Grande Depressão”.
A revista LIFE teve muitos destes fotógrafos nos seus quadros.
Todo este manancial de trabalhos de Walker Evans e companheiros de luta na Photo-League, chegaram-nos, dum modo difuso a Portugal, nos idos de 50’s e 60’s e mesmo assim, muito filtrados pelo “lápis azul’.
A lista é infindável, mas a estes, ainda me parece justo juntar os que na mesma época, nos idos de 1936’s a 1939’s, vivenciaram e testemunharam as agruras vivenciadas pelos nossos vizinhos espanhóis, numa guerra civil que deixou marcas até hoje por sarar e, de onde sobressaíram nomes incontornáveis da Fotografia, como o do húngaro Robert Capa (1913/1954), ou o da judia alemã, Gerda Taro (1910/1937), ou do judeu polaco David Seymour (1911/1956), que nunca se chamaram assim, pois Capa era Endre Ernó Friedmann, Seymour era Dawid Szymin e Taro era Gerta Pohorylle, mas será assim, com esses nomes inventados, que os recordaremos para sempre e obviamente também pelas fotografias de militância social que nos fizeram chegar, porque estando no terreno, viram e sentiram o que é estar do lado e ao lado dos mais fracos e dos que sofrem com a guerra e também dos que lutam contra a opressão.
Nesse mesmo terreno, também se caldeou um dos principais nomes dos fundadores nos idos de 50’s da mítica Magnum Photos, Inc.. Henri Cartier-Bresson (1908/2004) também andou por terras de Espanha e produziu filmes de apoio à causa republicana, tais como, “Vitória da vida’ (1937) e “A Espanha viverá” (1938).
A outra vertente que me apetece ressalvar é a dos experimentalismos, tão cara aos construtivistas soviéticos, que afirmavam sobre …o dever de se experimentar sempre… , partilhado por Aleksandr Mikhailovich Rodchenko (1891/1956) e por outros companheiros e militantes que puseram a modernidade da fotografia, ao serviço dos trabalhadores e da utopia da revolução bolchevique.
Nesta análise singela dos trabalhos do Armando Cardoso, destaco o grande interesse que manifesta pela fotografia sem meio óptico ou estenopeica, ou dito à laia de brincadeira, mas ao mesmo tempo de um modo muito à séria, fotografia em cuja produção, a luz entra na câmara, por um simples buraco de agulha.
A imagem que me foi dada a ver sob essa construção, trouxe-me memórias em que senti e pressenti, embora com outras abordagens e meios de captura diferentes, os sobressaltos da jovem Francesca Woodman (1958/1981), que nos abandonou muito cedo e muito sofrida nos idos de 1980’s.
Só consigo acrescentar, que imagem subtil, estranha, misteriosa, densa e ao mesmo tempo tão despretensiosa e tão carregada de energia, como costumam ser as fotografias sem meio óptico e por isso estenopeicas.
Só por estas duas tipologias sobre as quais deixo aqui o meu manifesto e porque não me devo alongar mais, quero dizer ao Armando, obrigado por nos dares a ver 50 anos de vida.
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7 de Janeiro de 2022
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Armando Cardoso, 50 anos… 50 fotografias, 2022
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Armando Cardoso nasceu em Pinhel em 1946 e reside em Lisboa (Benfica)
Foi um dos fundadores da Associação Portuguesa de Arte Fotográfica (que resultou da extinção e reformulação do Foto Clube 6×6), a cuja Direção pertenceu durante três mandatos, desde 1973 até ao início dos anos oitenta.
Coautor de um dos primeiros diaporamas não-comerciais realizados em Portugal, intitulado “Aconteceu no Futuro, Ontem, ou Hoje”, estreado na Sala de Cinema do Palácio Foz em 1979. Após abandonar a fotografia durante mais de vinte anos retomou esta atividade em 2002, com a redescoberta da magia do laboratório fotográfico, primeiro através da manipulação da imagem por métodos informáticos e, mais recentemente, retornando aos processos “tradicionais” do analógico.
Participou em diversas exposições individuais e coletivas, nomeadamente:
- “(In) Slow Motion – Retro & Toy Cameras”, em parceria com Elsa Mota Gomes – Espaço Sousa Valles, Lisboa em 2009, Centro Cultural Malaposta em 2010, Galeria do Paço da Cultura da Guarda em 2011;
- “Fotografia e Arte Digital” exposição e ciclo de conferências – Galeria do Paço da Cultura da Guarda; Casa da Cultura de Seia; Centro Cultural de V. N. Foz-Coa; Instituto Português da Juventude em Viseu e Casa da Cultura de Mora – 2005;
- “Arribas – Paisagens, Geologia, Fauna e Flora” – Museu Nacional de História Natural, Lisboa, 2007 e Forte de Peniche, 2008;
- “Os sentidos da água” – Centro de Arte e Espetáculos da Figueira da Foz, 2008, “mALdITAS imperfeições” – Galeria J. Sousa Valles, Lisboa, 2009;
- “Como quem lavra as entranhas da Terra’, Projecto Minas – Museu de Arte Popular, Lisboa, 2013 e Galeria de Exposições Mouzinho de Albuquerque, Batalha, 2014;
- “As Cidades Visíveis -Tornar visíveis as cidades invisíveis ” – Galeria J. Sousa Valles, Lisboa, 2013;
- “Já só Eco – Já só Memória’, projeto Convergências – Galeria Arte Graça, 2017;
- “Projeto Imagem Solidária”;
- Convergências – Oficina de Cultura Almada, 2021.
Em 2015 editou o livro “Myanmar – O milagre de viver Sorrindo” – Ed. Prelo (esgotado); em 2018 o e-book “Nothing more than echo; nothing more than memories” e em 2020 “Nepal – No reino de Yak e Yeti”.
Tem trabalhos publicados na THIAPS – lnternational Analogue Photographic Society e na edição on-line da Black & White Magazine. Foi colaborador permanente do Foto Jornal e da revista Nova Imagem. E membro do United Photo Press, NY. Foi professor de fotografia na UNISBEN- Universidade Intergeracional de Benfica.
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Pode conhecer melhor a sua obra aqui.
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Cortesia: Armando Cardoso.
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