ANA CAETANO, HELENA FERREIRA, SANDRA TEIXEIRA E SUSANA PAIVA, RESPIRAR . 3
Uma exposição do projecto CELEUMA – Residências criativas, iniciativa da Associação de Fotografia Experimental TIRA-OLHOS, integrou o Analógica – Festival de Fotografia, na Chamusca. Fotografia de Ana Caetano, Helena Ferreira, Sandra Teixeira e Susana Paiva, entre outros.
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Trago hoje, seguindo o percurso expositivo, a terceira e última parte desta exposição que teve lugar em 2022, entre 24 de setembro a 29 de outubro, integrada no ANALÓGICA – Festival de Fotografia, na Chamusca.
A exposição contou com trabalhos de Rui Luís, Alexandre de Magalhães, Lara Limaverde, Isabel Dantas dos Reis, Beatriz Areias, Alice WR, Manuela Vaz, Ana Caetano, Helena Ferreira, Sandra Teixeira, Susana Paiva. Hoje vemos os projetos de Ana Caetano, Helena Ferreira, Sandra Teixeira e Susana Paiva.
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Escreve Sofia Silva, do projecto Celeuma:
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A exposição RESPIRAR reúne algumas das obras criadas durante a primeira edição do projecto CELEUMA – residência criativa, que decorreu durante a Primavera de 2022.
Este projecto é uma iniciativa da Associação de Fotografia Experimental TIRA-OLHOS, com origem num lugar de afectos. Falamos daqueles afectos que mexem com o corpo todo, que achincalham a alma e nos revolvem as vísceras, antes de nos iluminarem com significados e significantes que julgáramos até então conhecer. Falamos de uma espécie de hiato que nos atinge quando entre a vida e a morte se revela a palavra ‘amor’. Cenas densas, sabemos disso. Digerimos: parámos, respirámos e, com o objectivo de partilhar essa experiência e proporcionar um espaço de retiro, pensamos a Celeuma como uma zona temporária de incentivo ao recolhimento e a dinâmicas mais amigas da criatividade.
Situada num espaço rural, na Freguesia da Cela, concelho de Alcobaça, nesta primeira edição a casa recebeu 13 artistas corajosxs, decididxs a participar num projecto sem histórico e a embarcar numa experiência cujo lema – a potência do indivíduo é a potência do colectivo – anunciava uma viagem algo estranha. Mas a premissa era simples: uma vez a salvo das dinâmicas frenéticas e desconectadas do quotidiano, xs artistas foram convidadxs a deixarem-se contaminar pela criação dx residente anterior e a usufruir de um outro enquadramento temporal.
À medida que o projecto ia ganhando vida, também a aura do espaço nos ia surpreendendo. Apesar de xs artistas não se cruzarem na casa e de cada um/a contactar apenas com o projecto dx residente anterior, foi apenas quando o grupo reuniu pela primeira vez, no final do ciclo de residências, que nos espantamos com os fios condutores: Os vestígios da natureza, os espasmos da máquina de escrever, a intensidade do azul da prússia, a profundidade do negro carvão, o ruído impactante do silêncio e o ritmo inegável do vento.
Por sugestão de uma das residentes participantes, a artista Isabel Dantas dos Reis – por sinal organizadora do Festival Analógica – começámos a namorar a ideia de preparar uma exposição digna desse contexto. Falou-se do espaço O Lagar, na Chamusca, e houve quórum. Em consonância com o momento em que a Celeuma começa a abrir as portas a uma segunda vaga de residentes, parecia-nos adequado celebrar o final desta experiência colectiva. Contudo, hoje, ao entrarmos no espaço O Lagar, não resistimos a sentir que esta exposição é, antes, o princípio de qualquer coisa. Uma outra onda de afectos se revela. Aquece-nos, inquieta-nos, desperta-nos …
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Por fim, na parede que desenha os limites do espaço O Lagar encontramos as obras de Ana Caetano, Helena Ferreira, Sandra Teixeira e Susana Paiva.
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Ana Caetano, Acordo com o Barulho do Silêncio
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Em Acordo com o Barulho do Silêncio Ana Caetano apresenta parte de um vasto corpo de trabalho desenvolvido a partir do meio envolvente da Celeuma. Sem medos, a artista sacudiu os estilhaços do quotidiano e mergulhou na paisagem, recorrendo a várias técnicas para dar conta da sua experiência: ora usando elementos deixados pela artista precedente, ora fazendo registos fotográficos que imprimiu em laser monocromático, ora usando cianotipia. Cortou e colou, deixou espaço para o acaso e divertiu-se com o erro. Ouviu o isolamento, apaixononou-se pela máquina de escrever e acordou com o barulho de frases a nascerem a meio da noite.
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Helena Ferreira, O tempo suspenso da travessia
Helena Ferreira, O Olhar-Lupa Que Mergulha no Interior
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Também Helena Ferreira nos apresenta parte de dois corpos de trabalho, unidos pela intensidade do negro carvão. Em O tempo suspenso da travessia, Helena respiga os despojos do Inverno e apresenta-nos quatro desenhos a carvão e cinza realizados com os resíduos sobrantes da lenha que aquecera a casa na noite anterior. Estes desenhos assumem-se suspensos num tempo entre o resquício da matéria inerte, outrora em combustão, e o rasto dos inúmeros trilhos cravados numa paisagem que irrompe rejuvenescida. Já em O Olhar-Lupa Que Mergulha no Interior, Helena partilha o seu encantamento com o pormenor e com o efeito magnificador do corte. Os registos circulares acompanhados por breves frases resultam dos devaneios da visão e da mente que acompanharam as suas caminhadas. Helena Ferreira deixou-se ainda arrebatar pelas marcas da impressora laser, fazendo lembrar a cinza e o carvão usados nos desenhos, tendo assentado para sempre no coração da artista como uma poeira que repousa na superfície.
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Sandra Teixeira, Som / Tempo / Espaço / Inspirar / Suster / Expirar
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Som / Tempo / Espaço / Inspirar / Suster / Expirar dá título à obra apresentada pela artista Sandra Teixeira, uma vaga de fragmentos que nos fala de ritmos e forças que se renovam num espaço de tempo intermédio. O som do vento emerge como forma de viajar no tempo e as imagens levantam-se como forma de atravessar o espaço. Contidos, estes movimentos de afecto e afinidades, de conluio e afastamento, são intervalos temporais num lugar onde em cada parede é possível encontrar sinais de ruína.
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Susana Paiva, Sem Título [quimígramas]
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Por fim, a artista Susana Paiva partilha connosco um conjunto de obras Sem Título criadas através de uma técnica que explora a atracção e a resistência da e com a materialidade de um papel de gelatina e prata pelo qual se enamorou na Celeuma. Sendo esta uma pequena parte da sua experiência completa, intensa e regeneradora na Celeuma, estes quimígramas dão conta da energia vital com o que a qualidade de tempo impacta os artistas: o tempo do silêncio, a luz que desenha o sol nas janelas, a almofada que guarda o nosso sorriso, as flores que saltam dos sofás, o pôr-do-sol, o pôr-do sol, o pôr-do sol…
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“Respirar”, com fotografia de Rui Luís, Alexandre de Magalhães, Lara Limaverde, Isabel Dantas dos Reis, Beatriz Areias, Alice WR, Manuela Vaz, Ana Caetano, Helena Ferreira, Sandra Teixeira e Susana Paiva foi uma exposição do projecto CELEUMA – residências criativas, iniciativa da Associação de Fotografia Experimental TIRA-OLHOS, integrou o ANALÓGICA – Festival de Fotografia, na Chamusca, esteve patente n’ O Lagar, na Rua Dr. Félix Pereira, 72, na Chamusca, de 24 de setembro a 29 de outubro de 2022.
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Fotografias da exposição de António Bracons.
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Pode ver sobre a primeira e a segunda parte desta exposição, no FF, aqui e aqui.
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