PAULO MONTEIRO, AÇORES PROFUNDOS

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Sobre o projeto, escreve o autor:

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Este projeto, intitulado “Açores Profundos”, e que demorou 24 anos a concretizar, pretende documentar a vasta, densa e intensa cultura açoriana. Foi realizado em todas as ilhas do arquipélago e documenta rituais religiosos e não religiosos, o mundo do trabalho, bem como a arquitetura, a paisagem e a Natureza. Neste portfólio, apenas são apresentadas fotografias de rituais e do trabalho.

Segundo o investigador Carlos Guilherme Riley, “…estas imagens estão nos antípodas dos Açores coloridos e sexys das campanhas publicitárias, onde as técnicas fotográficas estão ao serviço da ilusão da realidade, enquanto que aqui se procura retratar – não direi a realidade, mas – aquilo que ainda existe de verdade nos Açores profundos. Daí o carácter – e a urgência – documental da presente obra, pois estes Açores a preto e branco que durante séculos pairaram no tempo como uma bola de sabão, estão prestes a rebentar e a desaparecer. Paradoxalmente, o projeto do Paulo demorou mais de uma década a concretizar, mas foi feito a uma velocidade de contra relógio, no sentido em que representou uma corrida contra a roda do tempo, um tempo que nos escorre das mãos como água entre os dedos.”

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Fábrica do chá, Gorreana, ilha de São Miguel.

A cultura do chá terá sido introduzida nos Açores no séc. XIX. Nessa altura, o desaparecimento da produção de laranja nos Açores impulsionou os membros da Sociedade Promotora Micaelense para o cultivo do chá.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Esta fotografia foi tirada em Rabo de Peixe, ilha de São Miguel, durante a cerimónia de batismo de um barco de pesca artesanal. Trata-se de um ritual propiciatório, em que se procura a proteção divina para a faina do mar. É frequente dar ao barco o nome de um santo ou uma expressão de bom augúrio, como “Vai e volta”.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – A romaria micaelense iniciou-se como consequência dos violentos sismos e erupções vulcânicas que abalaram Vila Franca do Campo em 1522 e 1563 respetivamente.

Cada um dos cerca de 50 ranchos percorre a ilha numa das semanas da Quaresma, visitando as igrejas e capelas, num percurso de 250-300 Km, sempre com o mar pela esquerda. Pernoitam nas casas das pessoas que lhes dão guarida e alimento por uma noite.

Durante a peregrinação, cantam a Ave-Maria.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Durante as festividades do Espírito Santo, na freguesia de Rosais, Ilha de São Jorge, um grupo de três cavaleiros atuam em público, usando trajes e varas tradicionais que simbolizam o poder. Carregam grandes pães nas mãos e nos ombros, e dançam ao ritmo do tambor do grupo de foliões.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Junto ao matadouro da ilha do Corvo, o mordomo, responsável pela realização da festa, prepara a carne que será utilizada para cozinhar a sopa do Espírito Santo. A sopa é servida a todos os participantes na festa, tanto locais como visitantes. A festa do Espírito Santo foi iniciada em Alenquer pela rainha Santa Isabel. Trazida para as ilhas pelos povoadores, adquiriu um carácter próprio em cada uma das ilhas, e é conhecida como a festa da partilha.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – A festa do Espírito Santo é o evento religioso mais importante do arquipélago. Em todas as ilhas, exceto na Ilha das Flores e na Ilha do Corvo, algumas pessoas, tanto adultos como crianças, são coroadas na igreja. Esta fotografia documenta a saída das crianças da igreja, acompanhadas pelos pais, na ilha Graciosa, após a cerimónia da coroação.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Na ilha de Santa Maria, é costume, após o ritual religioso da festa do Espírito Santo, realizar uma cerimónia durante a qual algumas crianças são alimentadas no local da festa pelos responsáveis pela sua realização. São denominadas “meninos da mesa”.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – A procissão do Senhor Santo Cristo realiza-se todos os anos a 1 de fevereiro, na freguesia da Praia do Almoxarife, ilha do Faial e remonta a 1718, quando ocorreu uma erupção vulcânica na vizinha ilha do Pico. Temendo que as explosões vulcânicas atingissem a ilha do Faial, o povo realizou uma procissão com a imagem do Senhor Santo Cristo, pedindo proteção e misericórdia. Tendo a ilha sido poupada da destruição, os conselheiros municipais aprovaram um voto para que anualmente fosse celebrada uma missa de ação de graças, a que se segue a procissão.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Todos os anos, vários artesãos iam à Caldeira Velha, ilha de São Miguel, para cozer o vime. A cozedura era feita nas águas termais do vulcão do Fogo. O vime é utilizado para fabricar cestos e mobiliário. Recentemente, esta prática foi proibida, devido às leis de proteção ambiental.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Santa Cruz das Ribeiras está localizada na Ilha do Pico. Todos os anos, durante a tarde de segunda-feira Gorda, um grupo de habitantes, principalmente jovens, reúne-se para travar uma batalha peculiar: atiram farinha uns aos outros enquanto percorrem as principais ruas da freguesia. Quase todos protegem os seus olhos com óculos, porque a farinha é atirada com uma força considerável.

Ninguém soube explicar-me por que razão é utilizada farinha neste ritual.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Todos os anos, no Verão, os agricultores açorianos efetuam a secagem ao sol das sementes de azevém. Após a secagem, as sementes são armazenadas. No ano seguinte, os agricultores semeiam-nas. O azevém é utilizado para alimentar o gado.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – A cidade de Ponta Delgada está localizada na ilha de São Miguel. Todos os anos, na tarde da terça-feira de Carnaval,  grupos de habitantes, principalmente jovens, reúnem-se na avenida principal da cidade para travar uma batalha singular: atiram sacos de plástico cheios de água uns aos outros. Muitos deles protegem as suas cabeças com capacetes, porque os sacos são atirados com uma força apreciável.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Durante a festividade do Espírito Santo, os habitantes de Vila Nova, ilha Terceira, recolhem o pão para fazer a sopa do Espírito Santo. O pão é levado em procissão por mulheres para a capela do Espírito Santo.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – As danças de Carnaval estão em declínio na ilha de São Miguel. No entanto, no município de Povoação existe um grupo que persiste nesta prática. No dia de Carnaval e nos quatro domingos precedentes, os dançarinos percorrem as ruas das freguesias do concelho e executam os bailes. Trata-se de uma atuação teatral com uma forte componente de dança. Metade dos bailarinos são homens disfarçados de mulheres.

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Paulo Monteiro, Açores Profundos – Como outras localidades da Ilha, a freguesia do Lajedo, Ilha das Flores, está a perder habitantes. Mas os que permanecem insistem em manter a sua identidade cultural. A principal manifestação da sua cultura é a procissão de Nossa Senhora dos Milagres, que se realiza todos os anos no dia 15 de Agosto.

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Em 2007 foi editado um livro sobre o projeto, pela Caixotim Edições, chancela que viria a encerrar no ano seguinte. O autor continuou a desenvolver o projeto.

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Paulo Monteiro

Açores Profundos. Profound Azores

Fotografia: Paulo Monteiro / texto: Álamo Oliveira, Madalena San-Bento

Porto: Caixotim Edições / Outubro . 2007  

Português. Inglês / 29,0 x 29,0 cm / 120 pp.

Cartonado

ISBN: 9789728651961 

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Paulo Monteiro nasceu na ilha de São Miguel, Açores, em 1963. Embora se dedique a projetos de fotografia experimental, nomeadamente lumen print e cianotipia, o seu principal campo de atuação é a fotografia documental. Tem-se dedicado a projetos de longa duração sobre os mais diversos temas, como religiosidade popular, festas profanas, arquitetura, paisagem, a Natureza, ou o mundo do trabalho. Fotógrafo autodidata, as suas referências são os fotógrafos da agência Magnum, particularmente a Cristina García Rodero, de quem é grande admirador.

As suas fotografias têm sido expostas e publicadas em Portugal e no estrangeiro. Foi o vencedor (ex aequo) da IV Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira.

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Pode conhecer melhor a obra de Paulo Monteiro aqui.

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Cortesia do Autor.

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