P. ANTÓNIO VAZ PINTO (1942 – 2022)
Em memória do P. António Vaz Pinto (Lisboa, 2 de junho de 1942 – Lisboa, 1 de julho de 2022)
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Conheci o P. António Vaz Pinto no verão de 1985, num campo de férias. Pessoa afável e dinâmica, conversadora e bem-disposta, a palavra certa e segura, desafiante e motivadora, pessoa de caminhos e caminhadas, de projetos e obras, empenhada, com grande discernimento, capacidade de trabalho e organização.
O padre António Vaz Pinto nasceu em Lisboa a 2 de junho de 1942, décimo primeiro de doze filhos de uma família oriunda de Arouca. Fez os estudos no Colégio São João de Brito, em Lisboa, e frequentou o curso de Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Gostava de vir a ser político – e de certo modo foi, nas ações que realizou –, mas encontrou a sua vocação no final do 4.º ano, no mesmo dia que um outro estudante do 4.º ano de Engenharia Mecânica e seu grande amigo, Vasco Pinto de Magalhães: entraram para a Companhia de Jesus em 1965, no Soutelo, o P. António licenciou-se em Filosofia, em Braga, e em Teologia, na Universidade de Frankfurt am Main, na Alemanha, sendo ordenado padre em 1974.
O P. António e o P. Vasco ao longo da sua formação refletiram sobre a falta de uma presença de formação cristã e espiritual no meio universitário, que sentiram em Lisboa. Foi assim que surgiu um dos seus grandes projetos: conjuntamente com o jesuíta P. Alberto Teixeira de Brito, de Arouca (n. 1945, ordenado em 1973), foram fundadores, em 1975, do CUMN – Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega, em Coimbra, na Couraça de Lisboa, 101, junto à Universidade (hoje na R. Almeida Garrett 4, ao lado do Jardim da Sereia), espaço de encontro e reflexão no meio académico, não só de estudantes, mas também de professores. O P. Vaz Pinto foi diretor do CUMN (1975-84) e Capelão da Universidade de Coimbra (1979-84); deixou Coimbra para criar o CUPAV – Centro Universitário Padre António Vieira, em Lisboa, em 1984.
Da vivência destes centros, surgiram vários projetos, dos quais o P. António Vaz Pinto foi também fundador. Um deles, foi motivado por alguns estudantes que sentiram a vontade de dedicar um ano da sua vida, em voluntariado, após conclusão do curso, na sua área de formação em prol dos mais desfavorecidos: o desenvolver da ideia levou à fundação dos Leigos para o Desenvolvimento (1986). Outro grupo de estudantes questionava-se como poderiam ajudar a combater a fome, quer dos sem abrigo, quer de outras pessoas. Pensaram nas sobras dos hotéis, mas após diversos contactos, os hotéis não tinham sobras… O maturar da ideia levou à criação do Banco Alimentar contra a Fome, em 1992.
“Caminhante, não há caminho / Faz-se o caminho ao caminhar”, como escreve o poeta castelhano António Machado.
O P. António Vaz Pinto foi também fundador, em 1990, do Centro Escolar de Apoio a Imigrantes S. Pedro Claver, em Lisboa, que dirigiu até 1997 e em 2002, do Centro São Cirilo, no Porto, que dá apoio a migrantes e refugiados.
Foi autor de sete livros sobre teologia, filosofia e vida cristã, e dois de memórias.
Entre outros cargos, foi reitor da Comunidade Pedro Arrupe, em Braga, onde os jesuítas fazem parte da sua formação, e reitor da Basílica do Sagrado Coração, na Póvoa do Varzim. Foi assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã (CVX) e presidente da direção do Centro Social da Musgueira (1984-92), em Lisboa. Foi Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas (2002-2005). Em 2008, foi nomeado diretor da Revista Brotéria e em 2014, reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Em 2019 foi colocado na comunidade dos jesuítas em Évora, onde era Capelão da Santa Casa da Misericórdia e continuou ligado à Pastoral Universitária.
Em 30 de janeiro de 2006 foi distinguido pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.
O padre António Vaz Pinto faleceu no dia 1 de julho de 2022, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde estava internado desde o dia 8 de junho, na sequência de um tumor pulmonar. Pessoa de uma vivência sempre cristocêntrica, dizia numa entrevista aquando dos seus 80 anos: “A morte é a porta da ressurreição. Por isso, se me disserem que eu vou morrer amanhã, não me afeta nada, não preciso de mais de um quarto de hora. É só mudar de casa”.
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António Bracons, P. António Vaz Pinto, Penalva do Castelo, 08.1985 – Peregrinação Universitária, 04.1986 – Com o P. Alberto Brito (esq.) e P. Vasco Magalhães (dir,), Encontro Fé e Cultura, Coimbra, 03.1987.
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Excelente texto, fiquei a conhecer bem melhor a grande obra do padre Vaz Pinto, desconhecia que era o fundador do Banco Alimentar contra a fome .