ATELIER ALBERTO (MARIA LOPES E HUGO RC), MARIANA HARTENTHAL, RITA FAIA E VERA GONÇALVES, PARADISE FOUND

Exposição em Lisboa, no 5D_Creative Hub, na Rua 2 da Matinha, Lote A, 5º D, de 27 de novembro a 11 de dezembro de 2021.

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Magda e Domingos, criadores e dinamizadores da Imagerie – Casa de Imagens escrevem sobre o projeto:

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Nesta exposição são apresentados os resultados do trabalho desenvolvido no âmbito do projeto “Paradise Found 2021”.

Os autores da exposição – Atelier Alberto (Maria Lopes e Hugo RC), Mariana Hartenthal, Rita Faia e Vera Gonçalves – desenvolveram as suas obras entre junho e novembro de 2021, baseadas em quatro espaços verdes da cidade de Lisboa, no contexto de uma oficina prática colaborativa de pesquisa e criação, orientada pela Imagerie – Casa de Imagens.

Os espaços verdes têm uma importância crucial e crescente dentro das malhas urbanas. Mais do que os aspetos científicos desta importância, são lugares onde se criam e cruzam experiências e memórias individuais e coletivas. Têm ainda a capacidade de nos fazer lembrar a nós, seres urbanos, do lugar de onde vimos, ao qual pertencemos, e dentro do qual vivemos.
O projeto Paradise Found, lançado pelo atelier Imagerie – Casa de Imagens em 2020, e que engloba várias vertentes, entre as quais a expositiva, tem como objetivo a promoção da reflexão sobre estes aspetos transpondo-a para obras visuais que enformem as abordagens de cada autor em modos de produção conscientes do impacto que podem ter no sistema sobre o qual refletem e que nesta exposição se materializam em obras criadas, por exemplo, com recurso a materiais orgânicos (na produção das imagens e na apropriação de matérias) que lhes conferem um caráter singular e por vezes, tal como a própria natureza, efémero.
A exposição de 2021 conta com quatro propostas de cinco autores – Atelier Alberto (Hugo RC e Maria Lopes), Mariana Hartenthal, Rita Faia e Vera Gonçalves que desenvolveram os seus projetos baseados em espaços verdes muito diversos da cidade de Lisboa, tais como o Parque Silva Porto (Mata de Benfica), o Jardim Botânico Tropical, o Jardim do Campo Grande e a Estufa Fria. Estas propostas, tais como os próprios lugares em que se inspiram, têm formas diversas de se manifestarem – além da vertente visual dos espaços, qualidade primeira do tratamento que a fotografia habitualmente realiza, as obras remetem também para a memória, individual ou coletiva, real ou ficcionada, presente nas próprias imagens ou nas formas de as expor, e para outras dimensões que tão bem a invocam, como a olfativa, a literária e a histórica.

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Atelier Alberto (Hugo RC e Maria Lopes), Parque Silva Porto

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Atelier Alberto (Hugo RC e Maria Lopes), Parque Silva Porto, 2021

Cianotipia. Cianotipia com viragem a chá. Van Dyck Brown sobre papel. Desenho a lápis de cor sobre papel vegetal. Dimensões variadas.

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O Parque Silva Porto fica, tal como o Atelier Alberto, na freguesia de Benfica. Vulgarmente conhecido como Mata de Benfica, este jardim foi a nossa escolha para trabalhar no Paradise Found. Espaço centenário (inaugurado em 1911) e pouco alterado desde então, esconde uma infinidade de memórias e histórias, nas quais se incluem as do Hugo que subia diariamente as suas ladeiras para ir para a Escola Primária n.º 124, também conhecida como Escola da Mata.

Particularmente interessados nas questões da Memória e em espaços que se tornam Lugares pelo significado que o tempo lhes dá, a Mata de Benfica abria-se a um enorme manancial de possibilidades.

O trabalho apresentado centra-se em três questöes: Lugar, Recolha e Memória.

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Mariana Hartenthal, Jardim Botânico Tropical

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Mariana Hartenthal, Jardim Botânico Tropical, 2021

Papéis tingidos com plantas tropicais e serigrafia. Cianotipia com viragem a café.

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E também as memórias gloriosas

Daqueles reis que foram dilatando

A fé, o império e as terras viciosas

De África e Ásia andaram devastando

Trecho de Os Lusíadas gravado sob o busto de Camões no Jardim Botânico Tropical

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Ao lado da edificação que representava uma casa colonial na Exposição do Mundo Português havia seis esculturas de serpentes decorando uma pequena fonte.

Se o Éden era o jardim da pureza, o paraíso na terra, como poderia também abrigar a serpente, mensageira do pecado que envenena a mente de Eva? Sabemos, no entanto, que a diferença entre veneno, remédio e droga está apenas na dosagem, e a criação de novos mundos se faz na dualidade delito/delícia. Enquanto as primeiras feitorias portuguesas no Norte da África, como Ceuta e Mazagão, foram fundadas para o comércio do trigo, o que impulsionou as conquistas não foram grãos de subsistência, mas o desejo de encontrar em abundância substâncias sedutoras que agiam nos sentidos e alteravam o espírito. O café, o chocolate, o tabaco, a cana-de-açúcar, matéria-prima para o rum e a cachaça, somados às luxuosas especiarias da Índia. Não é à toa que os trópicos foram identificados como local vicioso e viciante, paraíso e inferno, promessa e perdição.

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Rita Faia, Jardim do Campo Grande

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Rita Faia, Jardim do Campo Grande, 2021

Impressões em cianotipia sobre papel de bambu, reveladas com água, carbonato de sódio e café (7 imagens, 26 x 36,4 cm) suportes de madeira reutilizada. Caixas de madeira reutilizada com folhas e frutos de eucalipto. Antotipias de clorela sobre papel reciclado com sementes de manjericão e cebolinho.

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Encontro as primeiras imagens do Jardim do Campo Grande nos meus álbuns de fotografia de criança. As árvores e arbustos em redor encobrem o rebuliço da cidade e a vasta extensão de jardim faz-nos esquecer que estamos em Lisboa. As boas recordações ficaram no papel. E então cresci, o jardim mudou e não voltámos lá.

Em 2020, e com o surgimento da pandemia de Covid-19, regresso ao Jardim do Campo Grande. São preciosos os minutos que temos a percorrer os trilhos debaixo da sombra das árvores e nos cruzamos com quem procura, tal como nós, respirar.

Desde o início do séc. XX que é reconhecida a importância da arborização das ruas e dos jardins, não apenas para a salubridade das cidades mas como espaços de sombra, refúgio e tranquilidade. Estar em contacto com a natureza tem benefícios cognitivos, emocionais e existenciais. Basta pensar que o ar que respiramos vem das plantas.

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Vera Gonçalves, Estufa Fria

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Vera Gonçalves, Estufa Fria – Herbarium ImaginariumMagical Fern Herbarium, 2021

Herbarium Imaginarium, Antotipias de açafrão sobre papel e aguarela ( 29x42cm ), processadas com carbonato de sódio (em painel e livro de herbário) e uma Antotipia que se forma ao longo da exposição (moldura com papel de aguarela sensibilizado  com açafrão). Magical Fern Herbarium, Cianotipias sobre vidro (12x9cm / 13x 18cm / 20x25cm). Instalação com uma lanterna mágica do século XIX.

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Quando visita um jardim observa-o de duas formas distintas. Com o olhar curioso de bióloga, que pretende conhecer e identificar uma espécie, mas igualmente com o olhar atento da fotógrafa que idealiza conservar o espécime e forma artística.

O jardim da Estufa Fria seduziu-a pela diversidade em teridófitos (fetos) . E sem nunca esquecer que a magia da fotografia também permite viajar no tempo e revelar sonhos, tentou registar a diversidade desses fetos em dois Herbários.

Um “Herbarium Imaginarium”, concebido com uma técnica e impressão ecológica e efémera, a Antotipia.

E um segundo — “Magical Fern Herbarium” – que se apróxima de uma representação dos slides de lanternas mágicas. Para tal, e recorrendo à técnica da Cianotipia, reproduziu as imagens em placas de vidro.

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Paralelamente à exposição, apresentam-se os cadernos de trabalho dos vários autores, onde épossível perceber os caminhos desenvolvidos por cada um:

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Atelier Alberto (Maria Lopes e Hugo RC), Mariana Hartenthal, Rita Faia e Vera Gonçalves, Cadernos de trabalho, 2021

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A exposição “Paradise Found”, projetos de Atelier Alberto (Maria Lopes e Hugo RC), Mariana Hartenthal, Rita Faia e Vera Gonçalves, desenvolvidos no âmbito do projeto homónimo promovido pela Imagerie – Casa de Imagens, de Magda e Domingos, apresenta-se em Lisboa, no 5D Creative Hub, na Rua da atinha, Lote A, 5.º D, de 27 de novembro a 11 de dezembro de 2021.

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“Paradise Found”, lançado em 2020 pela Imagerie – Casa de Imagens, é um projeto que pretende refletir sobre a sustentabilidade das práticas artísticas contemporâneas, especialmente da fotografia, através da exploração plástica dos espaços verdes urbanos, abordando áreas como a sua história e a sua importância, tanto sócio-cultural como ecológica e política, nos dias de hoje. A criação de projetos interdisciplinares que articulem arte e ciência são essenciais para uma prática artística adaptada ao contexto contemporâneo, pensando conceptualmente, mas também na prática, os projetos e as suas implicações na comunidade e no território, de forma sistémica.

O projeto tem em vista a criação de obras visuais que reflitam sobre estes aspetos ao mesmo tempo que se exploram formas de criação fotográfica focadas na sustentabilidade e baseadas em inúmeros processos de impressão e captação fotográficos experimentais e alternativos, explorando-se também questões como a manipulação da matéria e a permanência da imagem.

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António Bracons, Hugo RC e Maria Lopes, 2021

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O Atelier Alberto é um espaço de trabalho fundado por Hugo RC e Maria Lopes, em novembro de 2016. Possui um laboratório fotográfico, duas salas de trabalho e a ‘Sala do Meio’, espaço multiusos que tanto pode acolher exposições como servir de estúdio fotográfico para a reprodução de quadros ou para retratos de família. É ainda no Atelier Alberto que a Maria cria os seus Cadernos Galho. O nome Alberto é uma homenagem ao escultor Alberto Carneiro, referência para os artistas do atelier.

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Mariana Hartenthal (Salvador, 1 977) já começou e interrompeu várias carreiras. A mais duradoura é a de museóloga, que exerce há vinte anos. Também se dedicou à história da arte durante um doutoramento no qual se apaixonou pela história da fotografia, investigou o Imaginário da Amazónia, discutiu a teoria decolonial e quase perdeu a sanidade mental. Nos dois últimos peculiares anos, com muito tempo e poucas perspectivas profissionais em (mais um) país estrangeiro, decidiu dedicar-se ao sonho antigo de fazer arte. Com esse propósito tem aprendido sobre técnicas de impressão fotográfica, serigrafia, desenho e pintura.

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Rita Faia (Lisboa, 1987) É licenciada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa e tem uma pós-graduação em Ilustração Artística peta UAL-ESTAL.

Durante um Curso de Desenho de Natureza descobriu as saídas de campo e o gosto por desenhar plantas. Desde então que a botânica tem sido o foco principal do seu trabalho, com o guache como medium de eleição.

O interesse por processos alternativos de fotografia e de cariz experimental surge com a descoberta da cianotipia e as imagens de natureza impressa.

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Vera Gonçalves (Beja, 1980) Licenciada em Biologia e mestre em Biologia da Conservação. Durante os estudos do doutoramento em Antropologia, Etnologia e Ecologia teve o privilégio de percorrer diariamente os corredores do Museu de História Natural de Florença (“Ca Specola”) …onde sonhava imenso com a História de todas as ciências (inclusive com a da Fotografia).

Como a vida dá muitas voltas, em 2018, fundou o Five Studio (em conjunto com Filipe Barroso), um espaço dedicado maioritariamente às experiências de retrato em Colódio Húmido, mas onde cada vez mais se fazem experiências com outros processos fotográficos históricos e alternativos…

Começou por utilizar a fotografia para registar os estudos botânicos, agora recorre à fotografia e aos processos fotográficos alternativos para reavivar a botânica.

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Pode ver no FF outros trabalhos de Hugo RC, aqui e da Imagerie – Casa de Imagens, aqui.

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