O MUSEU MUNICIPAL DA FOTOGRAFIA JOÃO CARPINTEIRO, ELVAS
18.º aniversário do Museu (15.11.2003 – 2021)
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António Bracons, Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro, 2020
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Em setembro de 2020 passei um fim-de-semana alargado em Elvas, cidade património mundial da UNESCO, uma cidade que é uma pequena pérola – como tantas outras no nosso país.
Não podia deixar de visitar o Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro! Entretanto no FF outras publicações foram dando entrada e só agora destaco este muito interessante Museu, que nos conta um pouco da história da fotografia e nos mostra muito: a fantástica coleção de João Carpinteiro!
O Museu Municipal da Fotografia é uma parceria entre a Câmara Municipal de Elvas e a Fundação João Carpinteiro. Inaugurado em 2003, está instalado no edifício do antigo “Cinema Central”, na Praça Luís de Camões, no núcleo antigo de Elvas. O cinema foi “inaugurado a 1 de Maio de 1938, projectou filmes durante cerca de 20 anos.”
Entramos para uma galeria, revestida a azulejo, onde se representam diversas câmaras que marcam a história da fotografia, de 1840 a meados do séc. XX, bem como algumas cenas: o fotógrafo ‘à la minute’, carregando a sua grande câmara com tripé e o saco com os papéis e químicos, ele em ação, fotografando em ambiente de feira – um dos eventos onde desenvolvia a sua atividade, e o fotógrafo a retratar com a sua amada com uma câmara de objetivas gémeas. Acolhe esta galeria diversos equipamentos: projetores, máquinas de impressão e revelação, etc.
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António Bracons, Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro, galeria da entrada, 2020
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Entramos para o Museu por uma pequena sala onde vemos algumas das primeiras fotografias de Elvas, nomeadamente a primeira fotografia aérea, já da década de 1950.
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António Bracons, Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro – Diversas fotografias de Elvas, 2020
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Segue-se uma sala de exposições temporárias, onde a par da fotografia de viagem se mostravam alguns bonecos de barro, representando fotógrafos, da coleção de João Carpinteiro.
Daqui passa-se à área principal, ampla, com diversas salas e núcleos: temos algumas fotografias da cidade de João Carpinteiro, uma breve, mas muito interessante história da fotografia, numa linha cronológica com os retratos dos mais significativos descobridores e inventores e vária informação escrita. Estamos na sala ampla, compartimentada por vitrines onde se arrumam, organizadas, centenas de câmaras, embalagens de filmes, envelopes, ampliadores, equipamentos e acessórios de laboratório, algumas fotografias, o manequim de um fotógrafo debruçado sob o véu da sua câmara de grande formato…
A funcionária alertou: neste núcleo, não é permitido tirar fotografias…
Entretanto João Carpinteiro passou pelo Museu, uma breve troca de palavras, e autorizou duas…
Este Museu é um grande exemplo de como uma coleção particular pode ser valorizada, tornada pública, servir para o enriquecimento cultural de todos e ser um pólo de atração para uma cidade!
Gostava apenas de referir que gostava de saber um pouco mais sobre a história do colecionador e da sua relação com a fotografia, ver (mais) algumas fotografias suas expostas e… a sua coleção é bem merecedora de uma publicação ou catálogo: poderia ser uma muito interessante “História da Fotografia através da Coleção João Carpinteiro”!
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António Bracons, Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro, 2020
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Sobre o Museu, transcrevo da publicação editada por ocasião do 10.º aniversário do Museu:
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Inaugurado em 15 de Novembro de 2003, envolve uma parceria entre a Câmara Municipal de Elvas e a Fundação João Carpinteiro, que cedeu ao Município o espólio apresentado em regime de comodato por um período de 30 anos. Por essa razão e atendendo qualidade da colecção exposta, a Edilidade atribuiu ao Museu o nome do colecionador.
O Museu desenvolve-se numa área com cerca de 500 m2 e inclui espaços diversificados: sala da História da Fotografia, do Coleccionador e da Colecção; zonas de recepção e atendimento; laboratório para revelação de fotografia a preto e branco; zona de reserva e de tratamento de peças e uma pequena biblioteca vocacionada para a temática da fotografia.
A colecção que Integra este núcleo museológico inclui um conjunto de câmaras fotográficas, das quais se destaca a que deu origem à referida colecção. João Carpinteiro iniciou esta colecção em 7 de Outubro de 1969 com oferta de uma “POCKET VEST KODAK” do ano de 1912, que se junta a tantas outras de grande interesse para a história da fotografia, desde 1860 a 2003.
O seu espólio fotográfico é enorme, recolhido peça a peça. Material coleccionado “ad hoc” ora por iniciativa própria ora por espontânea liberalidade de terceiros, dando origem a uma notável colecção, nomeadamente máquinas panorâmicas, binoculares, câmaras reflex, não reflex, de estúdio, as célebres “‘A La Minute”, Polaroid, descartáveis, até uma diversidade de material ligado à actividade fotográfica, recordando as chapas de vidro, os flashes de magnésio e bateria, os fotómetros, as guilhotinas, as esmaltadeiras, a prensa, os ampliadores, os focos e os tripés, os negativos, os álbuns, os rolos, os tanques de revelação e tantas outras curiosidades ligadas ao fabuloso mundo da Fotografia. A colecção exposta contém ainda diversos brinquedos fotográficos e réplicas.
O Museu tem igualmente à disposição dos visitantes um Banco de Imagens que conta com cerca de 2750 fotografias digitalizadas de Elvas Militar, Religiosa e Monumental e de outras tantas actividades e eventos ligados ao Concelho.
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[Câmara Municipal de Elvas], Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro
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Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro, Folha de sala (tríptico desdobrável)
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Aquando da comemoração dos 10 anos da abertura do Museu, Maria José Rijo escreve:
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António Gedeão, no seu poema – Pedra Filosofal – escreveu:
“e sempre que o homem sonha o mundo puia e avança!”
Ora, hoje que estamos a festejar o décimo aniversário da concretização de sonho de criança – um Museu – que o Homem em que “essa criança” se tornou; conseguiu criar e manter com um sacrifício quase inenarrável da sua vide pessoal, alegra-nos o coração poder repetir com profundo encanto esse verdadeiro e belo verso do Poeta:
” e sempre que o homem sonha o mundo pula e avança”
Estamos frente a um património resultante do amealhar paciente de uma preciosa colecção de máquinas fotográficas e de todo um mundo de aparelhagem e documentação ligadas à história e evolução da fotografia, que constituem o notável acervo deste museu que, o seu proprietário, João Carpinteiro, coleccionou ao longo de toda a sua vida e que, como homenagem póstuma a sua Mãe, fez inaugurar num dia 15 de Novembro data, que era, do seu aniversário.
“e sempre que o homem sonha o mundo pula e avança”
(…)
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António Bracons, Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro, Bonecos de barro – fotógrafos, 2020
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Alguns apontamentos sobre a Fundação João Carpinteiro:
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A Fundação João Carpinteiro foi constituída por escritura pública lavrada em 21 de Janeiro de 1998 no cartório notarial de Elvas, tem fins educativos de animação e culturais, sendo reconhecida como tal pela Portaria n.º 1075/99 (2.ª série), de 10 de Fevereiro de 1998.
Teve a sua sede na Rua do Grivão 3-A, na freguesia de Alcáçova, Elvas, passando em 27 de Abril de 1999, para a Avenida da Piedade, n.º 31 – 2.º Dt.º, na freguesia da Assunção, também em Elvas.
Em 21 de Abril de 2001 a Fundação assina um protocolo com a Câmara Municipal de Elvas por um período de 30 anos.
Em 15 de Novembro de 2003 é inaugurado o Museu Municipal da Fotografia João Carpinteiro cuja gestão segundo o protocolo é da Fundação João Carpinteiro.
A Fundação viu ser-lhe atribuído o Estatuto de “Utilidade Publica” a 4 de Março de 2005, foi registada na Conservatória do Registo Predial e Comercial de Elvas, sob o n.º 1513, em 15/07/2005 e por deliberação de 01/02/2013, foi admitida como Membro Efectivo do Centro Português de Fundações.
Tem o estatuto de Interesse Superior Cultural “Benefícios Fiscais”, para fins de Mecenato.
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António Bracons, João Carpinteiro, 2020
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António Tello Barradas escreve sobre João Carpinteiro:
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João Manuel Valente Pereira Carpinteiro, de seu nome completo, nasceu em Elvas, em Outubro de 1943.
Na via considerada pela generalidade das pessoas como a mais extensa do casco urbano, nem mais nem menos que a agora formoseada Rua de Alcamim, – onde os comércios abundam e os residentes cada vez mais escasseiam – aí se situa a casa onde o nosso artista desabrochou para a vida, mais concretamente no número sessenta e um, primeiro, residência de seus já falecidos Pais.Manifestando assinalável precocidade para a fotografia, João Carpinteiro começou a cultivá-la logo a partir dos nove anos, fixando perfis, coisas e motivos que lhe despertavam a atenção, socorrendo-se, para o efeito, de uma modesta máquina de amador com a qual, na sua pouca idade, soube realizar verdadeiras maravilhas.
Enfeitiçante fotografia que se relevou ornamento de um intelecto que desde sempre se mostrou brilhante, agudo e ágil já que, profissionalmente, foi a empresa familiar “Combustíveis do Alto Alentejo” que ocupou a parte mais significativa do tempo, de permeio com a Presidência da Câmara de Elvas, para onde obteve dois mandatos integralmente cumpridos.
Não se sentiram minimizados os que fazem da fotografia profissão, se acaso comparados, mesmo em experiências, com João Carpinteiro. Tanto os que trabalham por conta própria como os de loja aberta ou os da imprensa, e ainda os que embora na televisão, também profissionalmente produzem fotografia, nenhum deles se empertigaria ou se suporia de méritos superiores, se alguém o comparasse ao artista que está no centro das nossas atenções.
Li, não sei onde, enquanto estudante, uma afirmação que bastante me deu que pensar, procurando sempre encontrar exemplos da sua fundamentação. E vai daí que essa afirmação dizia pouco mais ou menos o seguinte: A arte só é arte na medida em que afirma uma individualidade. Refleti muito, como já disse, sobre esta frase e procurando-lhe fundamento através da matéria de que estou a tratar poder-se-ia concluir: haverá muita gente a produzir fotografia, mas a de João Carpinteiro, por ser diferente e não se poder igualar às demais dos que a ela se dedicam, não se repetindo, sem se guiando por escolas de outros é bem reveladora de um verdadeiro artista: artista porque o que produz (sem interessar que seja melhor ou pior do que o produzido por outros) é diferente e criativo.
(…)
João Carpinteiro já teve honras de exposições individuais por mais de uma dezena de vezes, designadamente em Elvas, Évora, Portalegre, Alandroal, Campo Maior, Vila Viçosa e Monforte. Das suas últimas exposições destacaram-se “Um Olhar Sobre o Património” e uma exposição sobre Alandroal e Juromenha.
De autoria é a publicação de várias edições de postais alusivos a Elvas e à sua ancestral monumentalidade, nomeadamente sobre as guaritas que ornamentam a cintura de muralhas e também os baluartes, com início casuístico no do Príncipe passando pelos dos Mosteiros e de Santa Bárbara para, dado o carácter da citação, se terminar no de São João de Deus.
Isto sem esquecer temática vária, objeto de exibição e também admiração pelo trabalho desenvolvido. Aconteceu isto em Aveiro, Beja, Bragança, Coimbra, Estremoz, Funchal, Faro, Viana do Castelo e mais um sem número de localidades do território nacional.
Do estrangeiro citem-se exposições em Badajoz, Barcelona, Cáceres, Lugo, Mérida, Lobito, Maputo.
Não pode passar sem registo a atenção que o nosso autor dedicou a motivos locais como sejam as rendas de papel com que se enfeitam as caixas das nossas celebradas ameixas de Elvas, os doces populares de “Dias dos Santos e Nomeada”, a matança do porco, os passos de Vila Boim e a festa das flores em Campo Maior.
(…)
Com toda esta notoriedade, natural seria que João Carpinteiro visse o seu nome associado a vários núcleos de fotografia, de que damos, como exemplo, o Núcleo Elvense de Fotografia e Cinema Amador, que ajudou a fundar e ainda a qualidade de sócio que adquiriu por convite da Associação de Fotografia e Cinema Amador de Braga e da Associação Fotográfica do Sul, com sede em Évora.
O seu espólio fotográfico é enorme, sempre com qualidade e recolhido a partir de 1969/70 peça a peça, todas de incalculável valor.
(…)
Houve conversações entre João Carpinteiro e o [então] Presidente da Câmara.
Em tom cordato e construtivo. Rondão Almeida conhecia a obra e o amor de João Carpinteiro pela fotografia. Chegou-se a consenso e o espólio e o mais que nasceu dele e da inspiração de João Carpinteiro lá irão para o Museu de Fotografia, aguardando, por um lado, o visitante e, por outro, tudo o que o artista no futuro venha a produzir, digno da sua rubrica.
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Elvas, Junho de 2002
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Mais informação sobre o Museu aqui e sobre a Fundação João Carpinteiro aqui.
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