JEAN DIEUZAIDE EM PORTUGAL, 1994, por AGOSTINHO GONÇALVES
18.º aniversário da morte de Jean Dieuzaide (20.06.1921 – 18.09.2003).
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Por ocasião do centenário do nascimento de Jean Dieuzaide publiquei sobre três livros deste fotógrafo sobre Portugal: “Portugal”, com texto de Yves Boutineau (aqui), “Portugal 1950”, com texto de Eduardo Lourenço (aqui) e “Lisboa qualquer lugar, Lisboa qual Lisboa”, do Grupo Iris (aqui).
Para a elaboração desta publicação contactei com Fernando Curado Matos, Monteiro Gil e Agostinho Gonçalves, que me falaram da pronta colaboração e apoio de Dieuzaide ao projeto. Pedi a Agostinho Gonçalves que partilhasse essa vivência com o Fascínio da Fotografia, o que fez prontamente e agradeço.
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Agostinho Gonçalves, Jean Dieuzaide na praia da Nazaré, 1994
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Jean Dieuzaide nasceu em Grenade sur Garonne, na região de Toulouse, em 20 de junho de 1921 e faleceu em 18 de setembro de 2003.
Iniciou a sua carreira de Fotógrafo no final da II Guerra Mundial, durante a libertação de Toulouse, e a partir daí nunca mais deixou a Fotografia.
Dedicou toda a sua vida à fotografia.
Em 1954 vem a Portugal fotografar para responder a uma encomenda de imagens que serviriam para ilustrar um livro de viagens sobre Portugal.
O livro foi publicado em 1956, sob o título “Portugal” com textos de Yves Bottineau e edição da Arthaud.
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Yan [Jean Dieuzaide], Yves Bottineau (texto), Portugal, 1956
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Quero prestar a minha homenagem ao Yan com este pequeno relato sobre a nossa convivência em Portugal no ano de 1994.
Conheci o Yan uns anos antes em Toulouse, na Galeria Château d’Eau, que fundou e da qual era na altura o seu diretor.
E quando, no contexto do Grupo Íris, começámos a pensar em fazer um livro sobre Lisboa e que saísse no ano em que Lisboa seria cidade Capital Europeia da Cultura, decidimos que convidaríamos mais 2 Fotógrafos para se juntarem ao projecto e decidimos convidar a Lúcia Vasconcelos e o Jean Dieuzaide.
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Grupo Iris. Agostinho Gonçalves, Américo Silva, Fernando Curado Matos, Jean Dieuzaide, Lúcia Vasconcelos, Luís Azevedo, Monteiro Gil, Pedro Mónica, Lisboa Qualquer Lugar. Lisboa Qual Lisboa, 1994
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Jean Dieuzaide adorava Portugal e por isso respondeu afirmativamente e com muito entusiasmo à participação no projecto “Lisboa Qualquer Lugar”, que consistiu numa exposição, um livro e um portfólio, que teve lugar na SNBA em Novembro de 1994.
Jean Dieuzaide disse-me que tinha ficado com Portugal no coração porque quando veio fotografar, no ano de 1954, vem com a mulher Jacqueline (com quem casou em 1948) e esta viagem representou para eles uma segunda lua de mel.
Para a participação de Jean Dieuzaide em Lisboa na exposição e lançamento do livro e portfólio “Lisboa Qualquer Lugar”, que teve lugar na SNBA em 1994, propusemos ao Yan o pagamento das provas fotográficas e do hotel. Ele recusou e enviou tudo gratuitamente, dizendo que preferia ficar na casa de um de nós.
Prontamente ofereci-lhe a estadia em minha casa. Dieuzaide adorava as pessoas e gostava de as conhecer na sua totalidade, era um eterno curioso.
Nesta estadia andava sempre com a máquina fotográfica e ia fotografando.
No dia seguinte à inauguração da exposição propus-lhe um passeio a Alcobaça e Nazaré que eram as cidades/vilas que ele mais referia e que tinha mais junto do seu coração.
Nessa viagem foram ainda o Monteiro Gil e o Fernando Curado de Matos.
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Jean Dieuzaide, Agostinho Gonçalves, Alcobaça, 1994
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Certo dia recebo por correio algumas fotografias e uma delas era a da minha filha Ana Cláudia (em descanso no sofá).
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Jean Dieuzaide, Ana Cláudia, 1994
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Para finalizar devo dizer que Jean Dieuzaide era um humanista, um Fotografo Verista e um grande amigo dos fotógrafos e para ele a Fotografia era das “coisas” que ele mais valorizava na vida e que não se usava da Fotografia, mas sim que trabalhava em prol da Fotografia. A Fotografia era a montanha sagrada para a qual ele dedicou toda a sua vida.
A frase que ele mais relevava era esta: “il ne faut pas tricher la photo”.
Não se pode mentir para a Fotografia e usar a Fotografia para enganar, hoje diríamos: não utilizar a Fotografia em e para fake news.”
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Jean Dieuzaide ofereceu então a Agostinho Gonçalves, o seu recente livro “Yan”, edição Marval, 1994, com uma dedicatória:
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Jean Dieuzaide, Yan, ed. Marval, 1994. Dedicatória a Agostinho Gonçalves.
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