RITA BARROS, CHELSEA HOTEL. QUINZE ANOS. FIFTEEN YEARS, 1999

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Rita Barros

Chelsea Hotel. Quinze Anos. Fifteen Years

Fotografia: Rita Barros / Textos: Gerard Schreiner, José Gil, Arnold Weinstein, Gerard Malanga, Taylor Mead

Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa / Novembro . 1999

Português e inglês / 21,8 x 28,8 cm / 77 pp.

Cartonado com sobrecapa / 2.500 ex.

ISBN:   972983380X / 9789729833809

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As fotos de Rita Barros são intemporalmente o que constitui o mito do Chelsea Hotel: uma aura, uma passagem. Sem melancolia.

Tereza Siza, Directora do Centro Português de Fotografia.

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Puro Chelsea Hotel — vida e só vida — as rachas nas paredes de suicídio da parte sul de Manhattan.

Peter Beard

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Como uma insider, Rita Barros esteve numa posição única para documentar o consciente colectivo do Chelsea Hotel. Felizmente que o hotel sobrevive como um monumento classificado, assim como as fotografias da Rita que têm crescido e amadurecido nas últimas duas décadas.

Gerard Malanga

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Em 1999, Rita Barros fizera, há já 15 anos, do Chelsea Hotel a sua casa em Nova Iorque. Um hotel mítico, por onde passaram – e viveram longos períodos – muitos artistas e vultos da cultura norte-americana e não só.

Este livro regista um testemunho dessa vivência, pela obra da fotógrafa Rita Barros.

O Chelsea Hotel, situado em 222 West 23rd Street, entre a Sétima e a Oitava Avenida, no Chelsea, um bairro na zona de Manhattan, foi construído entre 1883 e 1885, tendo aberto ao público em 1884. Na altura, com 12 andares, era dos mais altos edifícios da cidade. O hotel, em estilo neogótico, foi projetado pela firma de Hubert, Pirsson & Company. Em 1966 tornava-se um dos pontos turísticos da cidade e em 1977 foi incluído no “National Register of Historic Places”.

Contudo tal não impediu que em 2007 – alguns anos após a edição deste livro -, uma nova administração forçasse o seu encerramento, o que foi alvo de grandes protestos e resistência ao longo de vários anos, por muitos dos residentes, encontrando-se atualmente em fase de encerramento definitivo.

O Chelsea, como também é conhecido, além de residência e espaço de criação de muitos artistas – por exemplo, foi aí que Arthur C. Clark escreveu “2001; Odisseia no Espaço” –, foi cenário de vários filmes, objeto de diversas canções e livros.

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Escreve João Soares, então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, sobre este livro:

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(…) Porque é uma obra pedagógica, e paradigmática, da vivência de uma portuguesa no mundo. Porque trata um território que é, para a minha geração, uma referência importante. E porque afirma o contributo da diáspora portuguesa nas sete partidas do mundo.

A cooperação entre as cidades de Lisboa e Nova Iorque que este livro traduz no plano do concreto afirma-se assim de uma forma muito interessante que queria que aqui ficasse clara.

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Partilho diversos textos do livro, que testemunham a vivência do Chelsea Hotel.

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Gerard Schreiner, historiador de arte, regista:

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Nos últimos quinze anos, dia sim, dia não, Rita Barros tem revelado um espectáculo perdido mas ainda vivo nos quartos, corredores, hall e outros lugares secretos dum mundo único: o Chelsea Hotel.

Rita Barros guia-nos pelo teatro da solidão do Chelsea, assombrado de sonhos, ambiguidades emocionais, fragmentos de identidade, desejos e emoções escondidos, sombras de mundos perdidos e seres semi-vivos todo poderosos que tendem a dissolver-se numa nova dimensão: a dimensão de Nova Iorque.

Nas fotografias diaristas de Rita Barros sente-se a singularidade distinta da artista em contraste com o angst de Nova Iorque. O angst do ser. Com uma claridade penetrante, ela não só levanta a cortina do famoso Chelsea, como o ilumina.

Para um espectador, é um privilégio descobrir o mundo secreto do Chelsea Hotel em Nova Iorque.

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No prefácio, Rita Barros partilha o ambiente do Chelsea (e assinala em rodapé, com chamadas, as páginas onde se encontram fotografados os citados):

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Tive de desempoeirar os meus talentos de secretária obtidos numa escola manhosa para escrever este prefácio. Coisa difícil, escrever à máquina, é claro.

O telefone toca. Voznesensky precisa de um rabo para uma homenagem a Barkov. De volta à máquina de escrever, tentando perceber porque devo explicar a razão de ter tirado estas fotografias. O telefone toca, “Queres vir a uma festa no telhado?” Claro que vou, nem que seja para me livrar de ter de escrever. Muita gente famosa viveu aqui, uns ainda vivem, outros preferem vir fazer um vídeo. De qualquer forma tenho de me vestir. “2001” escrito no meu apartamento, talvez essa a explicação para os meus sapatos e telefone prateados. Noite agradável. Uns copos. Falo com uns vizinhos. O cão da Sixtus perdeu um dente. Um Frank Sinatra canta enquanto uma russa de pele leitosa come fogo e rola sobre vidro partido. O Norman está contente. “And the colored girls go do do do do de do.”  [Lou Reed, Walk on the Wild Side, 1972]

Manhã de ressaca. O elevador não funciona. Desço as escadas do 10.º andar para ir buscar o correio. Por acaso encontro Herbert Huncke. Está contente com a exposição no Whitney sobre os Beats. Viva (superstar) grita com Stanley. Esqueço o correio e vou beber um café com Steve, um dos empregados do hotel. De volta, dou com Bon Jovi à minha frente. Que homem tão bonito. Click… click. click… click. Subo as escadas. Conversa mole. O Manuel gato tem fome. O telefone toca. Shizo escreve uma canção, click… click… Nicola 8 está pronta para a performance, click… click… Arnold 9 acabou o livro, click… click… click… click… Stop. Patti Smith, no click.

De volta à máquina de escrever. Cabeleiras cor-de-rosa, camas vermelhas, portas amarelas, sofás verdes. No Velvet on the Ground. Muito suor, algumas lágrimas e sangue. Quinze anos depois, um livro.

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Taylor Mead, superstar, arts drifter, fala da sua vivência no Chelsea:

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Mudei de casa pelo menos umas 30 vezes em Nova Iorque, tentando fugir ao barulho, às pessoas que batiam nos filhos, ouvindo rádios e TVs. O Chelsea implicou com o meu ouvido. Sou extremamente sensível ao barulho e quase que dei em doido. Tinha um espaço fantástico; um quarto enorme cheio de sol, virado a sul. Nos anos 60, pagava 10 dólares. A tragédia foi que as empregadas berravam nos corredores às 6 ou 7 da manhã. Vou para a cama às 3 ou 4. Nunca conseguia dormir.

O exterior é muito bonito mas o resto é manhoso.

Depois de uma semana mudei-me para o YMCA do outro lado da rua. O quarto era metade do tamanho, calmo, sombrio e deprimente. Tão deprimente que tive de me ir embora. Preciso das minhas 9 horas de sono. Uns anos mais tarde fiquei várias vezes no apartamento da Viva e do Michel Auder enquanto filmávamos. Costumávamos visitar Shirley Clarke no seu apartamento cómico. Depois de ter feito “Portrait of Jason” ela estava interessada em fazer um documentário sobre mim.

Mas acabou por não acontecer.

(…)

Ela ameaçava constantemente Viva até que um dia no hall de entrada, Michel agarrou-a, pôs-lhe uma faca ao pescoço “Se continuas a chatear a minha mulher, abro-te a garganta.” A partir daí, Valerie desapareceu. Agora o hotel é demasiado caro para um artista excêntrico. Durante anos, Stanley acurou tudo, o que fez com que o Chelsea fosse a escolha natural para pessoas originais. Acho que se fartou dos crazies.

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Rita Barros, Chelsea Hotel: Quinze Anos, Fifteen Years, 1999

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Este livro foi editado por ocasião da exposição homónima no Arquivo Fotográfico Municipal, em Lisboa, em novembro de 2019 e no Porto, na Galeria 111, na R. D. Manuel II, 246, de 15 de janeiro a 29 de fevereiro de 2000.

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Convite (Galeria 111, Porto)

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Rita Barros vive em NY desde 1980, e é professora adjunta na NYU (New York University). Tem um mestrado em ‘Art in Media: Studio Art’ pela New York University/ International Center of Photography. É autora do livro “Fifteen Years: Chelsea Hotel” Camara Municipal de Lisboa, 1999.

O seu trabalho tem sido apresentado em inúmeras exposições colectivas e individuais: no PS1, Briggs & Robinson Gallery, Exit Art, Nathalie Karg Gallery (NYC); Center for Photography em Woodstock, (NY), Wilfredo Lam Contemporary Art Museum (Havana, Cuba); Encontros de Coimbra (Coimbra), Museu da Água (Lisboa), Museu de Arte Contemporanea de São Paulo (São Paulo, Brasil), Photo España 07 (Emerging Talents) no Museo de Arte Contemporanea (Madrid), Flash Art Fair (Milão), na Paris Photo 2009 e 2010 com a Galeria Pente 10, na Fundação Gulbenkian, (Paris), na Biblioteca da FCT/UNL (Almada), no Summer Show da Royal Academy of London e no Kohler Arts Center no Wisconsin.

Barros está representada em várias coleções de arte portuguesas e estrangeiras nomeadamente; Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Coleção do Novo Banco, Portugal Telecom, Centro Português de Fotografia, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação PLMJ, Museu da Cidade de Lisboa, Centro de Arte Contemporanea de Almada, Coleção Norlinda e Jorge Lima, Museu de Arte Contemporanea de São Paulo, New York Public Library, Casa de Las Américas em Havana, Kohler Arts Center no Wisconsin, Falles Collection em Nova Iorque

Os seus retratos e paisagens urbanas foram publicados em numerosas revistas europeias e americanas incluindo o New York Times, Newsweek, New York Magazine, Brooklyn Rail, Nouvel Observateur, Vogue, Elle, GEO, Zoom, Expresso, La Vanguardia, Le Monde.

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Pode conhecer mais sobre Rita Barros no FF, aqui.

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