HUGO DAVID, BEAUTIFUL DISASTERS

Exposição inaugural da Galeria Imago Lisboa, Rua do Vale de Santo António, 50C, de 17.06 a 31.07.2021.

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A exposição inaugural da Galeria Imago Lisboa apresenta um conjunto de imagens e a maquete de um livro de fotografia em torno da vivência do skate, outra das paixões do fotógrafo Hugo David.

Da prática do skate faz parte não só o treino, a perícia, mas também as inevitáveis quedas e algumas nódoas negras ou mesmo feridas ou fraturas. Ao longo de mais de cinco anos, com telemóvel, Hugo David registou sistematicamente a sua vivência e a dos seus amigos em torno deste desporto.

Do vasto conjunto de imagens fez uma seleção que deu origem à maquete de um livro. Dessa seleção, uma parte é apresentada em exposição.

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Hugo David, Beautiful Disasters (maquete)

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Na folha de sala podemos ler uma entrevista de Elina Heikka, Diretora do Museu de Fotografia da Finlândia, a Hugo David (no final, a versão original, em inglês):

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“Naquele verão, com 14 anos, recebi um skate de presente do meu pai e junto com o meu amigo começámos a frequentar a Praça da Figueira, onde os praticantes de skate de Lisboa se reúnem em torno da estátua”, contou-me Hugo David em maio de 2021. Falámos através do Zoom sobre fotografia e skate, que é o tema da sua exposição de estreia.

Elina Heikka: A sua exposição é sobre a cultura do skate, e não sobre o skate em si. A perspectiva é realmente nova para mim. Não vemos fotos de manobras radicais, mas a vida da grande comunidade de skaters à qual o Hugo pertence, nas suas diferentes faixas etárias. As fotos foram tiradas em Lisboa e nas viagens conjuntas que fez a Vigo e a outros locais para praticar skate. Os praticantes de skate têm uma geografia própria, tal como o Hugo mencionou, pontos específicos nas cidades que costumam visitar.

Hugo David: Há cerca de cinco anos, comecei a tirar fotos com um telemóvel bastante fraco, fotos que seriam só para mim, de forma discreta. Quando as pessoas começaram a questionar eu disse: “Estou a fotografar para um projeto”. Isso foi explicação suficiente. Mais tarde, eles viram as fotos e gostaram.

EH: Porquê um telemóvel? O Hugo é fotógrafo profissional e tem equipamento profissional.

HD: Eu queria manter o trabalho profissional separado do meu projeto. O telemóvel é apropriado para mostrar o ambiente do skate, rostos, sujidade, roupas rasgadas… A baixa resolução não interfere, dá até um toque de vida às fotos.

EH: Disse-me que passa muito tempo a imaginar as fotos na sua cabeça, mesmo que não tenha uma câmara nas mãos.

HD: É isso que acontece. No projeto, usei o formato quadrado que é conhecido do Instagram. Como fotógrafo profissional, enquadro imagens num retângulo. O formato quadrado é adequado para retratos com proximidade, que podem ser frequentemente vistos na exposição.

EH: Quando a prática de skate começou, os seus estudos na Escola de Dança do Conservatório Nacional terminaram. O Hugo é claramente talentoso tanto nas artes visuais como nas corporais.

HD: Eu era uma ovelha negra na escola de ballet. O skate tornou-se uma paixão, embora no início eu não fosse tão bom como o meu amigo. Pratiquei muito e aprendi, e isso foi muito importante para a minha autoconfiança e identidade. Superei a minha timidez e ansiedade. Praticar skate salvou-me.

EH: Dá para perceber o quão grato é à sua comunidade de skate, e a forte conexão emocional que tem com eles. A sua mão ensanguentada é a imagem principal da exposição. Acho que a corporalidade da prática do skate está muito evidente nas suas fotos. O corpo humano é utilizado nos seus limites. Há uma imagem de um raio-x mostrando o parafuso no seu pulso.

HD: Uma das partes marcantes do skate são as lesões e até o medo da morte. Quando o meu melhor amigo caiu, fiquei com medo de que ele morresse. No entanto, dois minutos depois, logo após o choque passar, ele já estava a sorrir.

EH: Uma purificação através da superação do medo e da dor? O sorriso do seu amigo na foto tirada após o acidente é muito especial, todo o rosto está iluminado. Como é que aprendeu a suportar a dor? Não tem medo?

HD: Os skaters falam muito sobre os seus medos. Quando se começa a praticar uma nova manobra, fica-se terrivelmente assustado, mas com a prática e os tombos isso passa. O corpo acostuma-se rapidamente com a dor. Podemos cair umas cem vezes em dois dias, mas isso não causa propriamente dor. O mais valioso quando se anda de skate é a sensação infantil de alegria, é diversão na sua forma mais pura. Não há preocupações quando andamos no skate. É uma espécie de meditação para mim.

Beautiful Disasters é um projeto documental muito autobiográfico e, no geral, é uma série bem maior do que o que vemos na exposição. O Hugo está a criar um livro fotográfico sobre o tema. Espero ter o seu livro nas minhas mãos em breve. Obrigada por nos possibilitar uma visão em profundidade do seu trabalho e da sua prática de skate!

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2021

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A exposição “Beautiful Disasters”, de Hugo David, inaugura a Galeria Imago Lisboa, na Rua do Vale de Santo António, 50C e está patente de 17 de junho a 31 de julho de 2021, 4ª a sábado das 14h30 às 18h30.

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António Bracons, Hugo David, 2021

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Hugo David (Lisboa, 1995), cresceu num ambiente em que a fotografia abundava.Filho de fotógrafos decidiu também estudar e investir no fotográfico.Estudou na Escola de Dança do Conservatório Nacional, 2005/2009; na Escola Secundária Artística António Arroio – especialização em fotografia, 2010/2013 e continuou os estudos no IADE Creative University – Escola Superior de Design, onde completou uma Licenciatura em Fotografia e Cultura Visual, 2013/2016.Paralelo aos estudos e vida profissional a paixão pelo skate está sempre presente.Trabalha com fotografia, video e som. Profissionalmente colabora com: Companhia Nacional de Bailado, Trienal de Arquitectura de Lisboa, Epal – Empresa Portuguesa Das Águas Livres, Imago Lisboa, 7 Maravilhas de Portugal, Sapo 24, Teatro Municipal Joaquim Benite, Lux Frágil, entre outros.

Exposições Coletivas: Abstracções Destruídas, Jovens Criadores 2015 – 2017, CPAI – Clube Português de Artes e Ideias, Villa Gloria, Mangualde, 2017; Horizonte, X’16 Exposição Fotografia Finalistas Licenciatura em Fotografia e Cultura Visual, Carpe Diem, Lisboa, 2017; Horizonte, livro integrado na exposição da 7ª edição da Feira do Livro de Fotografia de Lisboa, Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, Lisboa, 2016; 1139 Anos de Histórias, in “Diferença e Semelhança”, Ponto de Vista EAAA, Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico, Lisboa, 2014.

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Sobe a Galeria Imago Lisboa refere a organização:

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O Imago Lisboa Photo Festival acaba de concretizar o sonho de abrir um espaço dedicado à divulgação de jovens autores, onde será promovido o debate e reflexão em torno da fotografia de autor. Na Rua do Vale de Santo António, 50C, no coração de Lisboa, na freguesia de São Vicente, existe agora uma nova galeria de arte.

A Galeria Imago Lisboa consiste num projeto cuja programação e dinamização se desenvolve em torno de dois eixos – IMAGO GALERIA -, consagrado a autores emergentes na área da fotografia, através do fomento direto à criação contemporânea, e implementação complementar do projeto IMAGO LAB, um laboratório de atividades educativas nas áreas da criação, reflexão e experimentação fotográfica – promovendo a necessária articulação entre criadores da área, experientes em práticas educativas, e grupos de alunos, de diferentes faixas etárias, oriundos de diversas escolas públicas e privadas, e frequentando diferentes graus de ensino, na área da fotografia.

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Pode conhecer mais sobre o trabalho de Hugo David, aqui.

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Tendo a entrevista de Elina Heikka a Hugo David sido realizada em inglês, apresento de seguida a versão original:

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“That summer, when I was 14, I got a skateboard from my dad as a gift and with my friend we started visi­ting Praca do Figuiera, where the skaters in Lisbon gather around the statue,” Hugo David told me in May 2021. We discussed through Zoom about photography and skateboarding, that is the topic in his debut exhibition.

Elina Heikka: Your exhibition is about skate culture rather than about skateboarding itself. The perspective is really fresh for me. We don’t see pictures of wild tricks but life of the large community of skaters of diffe­rent age-groups you live in. The photos are from Lisbon and from the joint skating trips you have made to Vigo and elsewhere. Skaters have a geography of their own, you told me, spots in the cities that they are used to visit.

Hugo David: About five years ago, I started taking pictures with a pretty bad cell phone just for myself, unnoticed. When the guys started to wonder I said that “I’m shooting for a project”. That was enough to explain. Later they have seen photos and they have liked them.

EH: Why a cell phone? You are a professional photographer and you have equipment of a professional.

HD: I wanted to keep professional work separate from my project. The mobile phone is suitable to show the atmosphere of skateboarding, faces, dirt, broken clothes… Low resolution does not matter, but adds a sense of life to the pictures.

EH: You said you keep framing pictures in your mind all the time, even if you don’t have a camera in your hands.

HD: That’s what happens. In the project, I have used the square format familiar from Instagram. As a profes­sional photographer, I frame images into a rectangle. Square is well suited for close-up portraits which you can see several in the exhibition.

EH: When skating started, your studies at the National Ballet Ballet School ended. You are obviously visu­ally and physically gifted.

HD: I was a black sheep in ballet school. Skating became a passion, even though I wasn’t good at it at first like my friend. I practiced hard, and I learned which was very important to my self-confidence and identity. I overcame my shyness and anxiety. Skating saved me.

EH: I can see that you are very grateful for your community you have very strong emotional connection with. Your bloody hand is in the key picture of the show. I think the physicality of skateboarding is very evi­dent in your pictures. The human body functions at its extremes. There is a x-ray image showing the screw on your wrist.

HD: A big part of skating is injuries and even fear of death. My best friend crashed so I was afraid he would die. Two minutes later, however, when the huge shock was over, he smiled.

EH: Purification through overcoming fear and pain? Your friend’s smile in the picture taken after the acci­dent is very special, all the face is shining. How did you learn to endure pain? Aren’t you scared?

HD: The skaters talk a lot about their fears. When you start practising a new trick, you are terribly scared, but no longer after once tried and crashed. The body gets used to the pain quickly. You can crash a hundred times in two days, but that doesn’t really hurt. The most important thing when skating is a childish feeling of joy, it is fun in its purest form. There are no worries when skating. It is a kind of meditation for me.

Beautiful Disasters is a very autobiographical documentary project and overall larger series than what we see in the exhibition. You are designing a photo book on the subject. I hope to hold your book soon in my hands. Thank you for giving an in-depth look at your work and skating!

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