BF20 – BIENAL DE FOTOGRAFIA DE VILA FRANCA DE XIRA . 1 – TERESA HUERTAS, ANA JANEIRO, BEATRIZ BANHA

Exposição no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, de 16 de abril a 16 de maio de 2021.

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A Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira de 2020 apresenta-se no Celeiro da Patriarcal, de 16 de abril a 16 de maio de 2021, devido à pandemia de COVID-19 e ao estado de emergência.

São nove os artistas selecionados, que apresentam os seus projetos: Ana Janeiro, Beatriz Banha, Daniela Ângelo, Elisa Azevedo, Frederico Brízida, Hugo de Almeida Pinho, Humberto Brito, Stefano Martini e Teresa Huertas. Ao longo de três publicações apresento os seus trabalhos.

Hoje mostro os trabalhos de: Teresa Huertas, “Atmós [Passagens # 1]”; Ana Janeiro, “The archive is present” e Beatriz Banha, “There is nothing old under the sun”.

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TERESA HUERTAS, ATMÓS [PASSAGENS # 1]

Prémio Bienal de Fotografia BF20

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2021

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Teresa Huertas apresenta em vídeo este projeto: “fotografia em diaporama digital transferido para formato vídeo, p/b, som, loop”. No interior do espaço o ecrã abre-se aos nossos olhos. O nevoeiro desce pelas montanhas, atravessa-as, deixa a paisagem. E ouvimos o vento, sempre o vento, que sopra.

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Resultado de uma reflexão sobre as imagens e a sua experiência, ATMÓS [passagens # 1] é um trabalho fotográfico que utiliza a paisagem natural como referente para questionar a perceção e a sua relação com a duração.

Recorrendo a um modelo conceptual e estético assente na contenção formal e na narrativa mínima, a obra apresenta–se como um manifesto de resistência à cultura do excesso visual, da velocidade e da hiperestimulação dos sentidos, sem, todavia, defender a passividade no ato contemplativo; pelo contrário, solicita um esforço da atenção como contraponto à intermitência que caracteriza o olhar contemporâneo. A amplificação da perceção proposta pela obra, e favorecida pelo ambiente imersivo da instalação, transforma-se em tempo para o espectador, um tempo para a fruição estética mas também para um olhar pensativo. Comprometida eticamente com o presente, dirige-se para uma realidade ameaçada: a natureza. Neste sentido, é uma obra que nos olha, que nos interpela sobre as ações e os valores que defendemos.

A peça integra a segunda fase do projeto ATMÓS iniciado em 2018. Construída a partir de uma sequência fotográfica correspondente à experiência de um lugar, é posteriormente sujeita a um processo de montagem digital que enfatiza a duração lenta como simulacro da temporalidade da natureza e sobretudo como estratégia percetiva. A passagem da imagem fixa à imagem cinemática desestabiliza a rigidez das categorias teóricas convencionais e questiona a condição das imagens. Invocando o impulso cinemático da fotografia, uma presença constante ao longo da sua história, permito-me reclamar para este trabalho o estatuto de fotográfico, com um fundamento que não se prende com a nostalgia do medium mas com a tipologia matriz que lhe deu origem.

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Teresa Huertas.

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ATMÓS [passagens # 1] de Teresa Huertas é o vencedor do Prémio Bienal de Fotografia BF20, anunciado a 8 de maio. “O Júri de premiação destacou a mestria na utilização do medium e a espontaneidade formal deste trabalho, salientando a forma consistente como a fotografia pode ser uma forma de resistência ao excesso visual, à velocidade e hiperestimulação dos sentidos.”

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Pode ver sobre este projeto no FF, aqui.

Pode ouvir em “Depoimentos de Artistas”, o testemunho de Teresa Huertas, ao MNAC, sobre o seu processo criativo, aqui. (14.06.2021).

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ANA JANEIRO, THE ARCHIVE IS PRESENT

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2021

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Ana Janeiro apresenta além de um conjunto de fotografias, autorrepresentações, alguns álbuns de família e reproduções de álbuns, bem como algumas fotografias dos arquivos e o vídeo “The Archive is Present” (16’14”), onde se confronta com fotografias do arquivo.

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O trabalho The Archive is Present foi desenvolvido no âmbito da minha investigação de doutoramento. Nela estudei os arquivos fotográficos da minha família, que foram posteriormente interpretados criticamente através da fotografia e performance.

Ambas as famílias dos meus avós (do lado da minha mãe e do meu pai) guardaram e preservaram relevantes arquivos fotográficos de família. Explorando e analisando estes arquivos, cujas imagens consistem em fotografias tiradas em Portugal, Índia e Moçambique, o projeto defende que esses diferentes contextos resultaram em identidades diferentes, que se traduzem, por sua vez, em gestualidades e iconografias igualmente diferentes.

Os álbuns das duas famílias representam um período do passado de Portugal (1940-1975) marcado por uma das mais longas ditaduras da história. A pesquisa desenvolveu uma análise iconográfica das fotografias contidas nesses álbuns, focando-se especificamente nas imagens das (minhas) duas avós. Ambas viveram sob o mesmo regime ditatorial, uma no Portugal metropolitano e outra nos territórios coloniais/ultramarinos da Índia (em 1951-1961) e de Moçambique (1962-1975).

A informação contida nas imagens de arquivo foi reescrita, ou reinventada através da performance. Este projeto desenvolveu assim um «método específico de performance» para o registo fotográfico. O trabalho apresentado consiste numa performance que narra o processo de análise de um arquivo e da sua interpretação através dessa performance.

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Ana Janeiro

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BEATRIZ BANHA, THERE IS NOTHING OLD UNDER THE SUN

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2021

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O projeto There is nothing old under the sun foi realizado em Évora, na casa dos meus avós, no período entre março e abril de 2020. Durante este intervalo temporal, a minha rotina fundiu-se com o quotidiano do meu avô.

Se por um lado, iniciava um processo de autonomia ao revelar e digitalizar os meus negativos, por outro observava a dedicação dada ao quintal pelo meu avô – refletindo sobre as plantas que crescem, florescem, frutificam e, eventualmente, morrem, deixando apenas sementes para iniciar outro ciclo. Existiu sempre um certo fascínio e motivação em olhar a vida com os meus avós, talvez até uma vertigem que se revela na possibilidade de andar no limbo entre a infância e a inevitabilidade do crescimento.

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Beatriz Banha

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A exposição da Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira, está patente no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, de 16 de abril a 16 de maio de 2021.

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Sandra Vieira Jürgens, curadora da Bienal, escreve:

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A Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira está de volta com o objetivo de divulgar e incentivar a produção artística nacional no domínio da fotografia. Celebrados trinta e dois anos da Bienal, esta edição privilegia o futuro e a mudança, apresentando-se como um observatório da criação atual, dando a conhecer novos autores e marcando encontro com fotógrafos e artistas que homenageiam a história e reinventam a linguagem fotográfica, considerando novas possibilidades e explorando novos caminhos e o potencial tecnológico e visual do meio fotográfico.

Através da exposição do Prémio, que decorre no espaço do Celeiro da Patriarcal, e de um programa curatorial de exposições que têm lugar no Museu Municipal e na Fábrica das Palavras, estabelece-se um espaço de representação alargado da criação fotográfica portuguesa, o qual pretende obter visibilidade local e nacional, aproximando a comunidade e os públicos diversificados ao mundo da fotografia contemporânea.

A seleção e atribuição dos Prémios temáticos – Bienal de Fotografia, Concelho de VFX e Tauromaquia – privilegiou a qualidade e a transparência, num processo que contou com um Júri de Nomeação, formado por um Conselho de Curadores, e um Júri de Premiação.

O Conselho de Curadores reuniu individualidades e agentes culturais de reconhecido mérito nesta área e teve o papel de avaliar as candidaturas e designar os artistas convidados a apresentar trabalhos originais, em exposição coletiva, no espaço do Celeiro da Patriarcal. Os artistas nomeados foram: Ana Janeiro, Beatriz Banha, Daniela Ângelo, Elisa Azevedo, Frederico Brízida, Hugo de Almeida Pinho, Humberto Brito, Stefano Martini e Teresa Huertas. A partir da exposição dos projetos dos artistas nomeados, o Júri de Premiação delibera o vencedor do concurso.

O Júri de Nomeação foi constituído por Bruno Humberto, Catarina Botelho, Filipa Valladares e Paulo Mendes. O Júri de Premiação foi constituído por António Pinto Ribeiro, Emília Tavares, Liliana Coutinho, Raquel Henriques da Silva e Tobi Maier.

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Pode ver as restantes exposições no FF, aqui e aqui.

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Mais informação aqui.

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