ANA ABRÃO, OUTROS MUNDOS, 2021
Dia Mundial do Livro.
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Ana Abrão
Outros mundos. Um ano, um mês e uma semana de aventuras e fotografias na Ásia
Fotografia: Ana Abrão / Texto: Ana Abrão, Teresa Conceição
Edição do Autor / Fevereiro . 2021
Português / 30,6 x 20,7 cm / 136 págs.
Cartonado com sobrecapa / 300 ex.
ISBN: 9789893313237
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Ana Abrão é apaixonada pelas pessoas, pelas culturas, uma viajante e uma contadora de histórias, de vivências.
Gosta de partir, bilhete de ida, bilhete de regresso (nem sempre), e depois… Percorrer, descobrir, encontrar… Construir o caminho, fora dos circuitos turísticos, ficar aqui e ali, por vezes em casa de naturais, conhecer os seus hábitos, costumes, tradições. Mais que a paisagem, são as pessoas que a cativam. Aborda-as, de modo a que possam recusar se não querem ser fotografadas, mas ao mesmo tempo, sem cortar a espontaneidade.
Refere que na Ásia, onde tem ido com mais frequência, fora dos locais turísticos, as pessoas são amáveis, recetivas, sentem-se orgulhosas de serem fotografadas. Na Índia, inclusive, chegam a ir atrás dela, convidando-a para ir a casa delas, para almoçar, para lanchar…
Habitualmente leva uma pequena impressora onde imprime alguns dos retratos que faz e oferece. Algumas dessas imagens constituem o primeiro capítulo do livro: fotografa também as retratadas com as suas imagens oferecidas: as mãos e as fotografias, as mãos mostram a fotografia, mostram a pessoa.
Na viagem que fez e que veio dar origem a este livro, ao longo de um ano, um mês e uma semana, começou pela Índia e passou por mais dez países, sem uma rota definida. Há um estudo prévio, essencial, de lugares, tradições, festas… Mais o que se vai conhecendo. Sabe que em determinada data quer estar em tal sítio, para tal evento. Mas, o facto de não ir com uma rota feita, de não ter bilhetes comprados, permite ir com maior liberdade, disponibilidade… “Não queria que tivesse sido diferente!”
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Teresa Conceição, jornalista e viajante, escreve o prefácio, “O Mundo dos Outros”:
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Se a fotografia é um instante roubado ao tempo, a mulher das pulseiras escravas continua a olhar a imagem que lhe devolve o rosto como um espelho. Ainda e sempre. E pode outra guerreira ter como arma não a espada mas um ovo? Como criar defesa com um frágil instrumento de amparo? De que se defende uma mulher de sorriso largo?
Os mistérios do mundo dos outros chegam-nos pela mão de quem faz da curiosidade o melhor passaporte. De quem reconhece nos outros a beleza da diferença. A peculiaridade de outros mundos.
Estamos perante um ano de aventuras na Ásia. Este podia ser apenas um livro de fotografia e já estaríamos bem servidos. Mas o olhar por detrás da câmara é generoso. Em viagem, Ana Abrão oferece a quem é fotografado, os retratos que faz. E a nós, leitores, quer dar-nos mais do que quadros esplêndidos.
Em lugares onde cada realidade é uma fonte de interrogações para ocidentais desprevenidos, a presença da fotógrafa e viajante cria a ponte. Leva-nos pela mão para dentro da casa ou da vida de pessoas com realidades culturais longínquas das nossas. E afinal tão próximas que somos tocados pela semelhança do riso ou da candura, do propósito de existência. Na hora da dor ou do amor, em tempo de luta pela sobrevivência, não seremos todos parecidos?
Aqui se contam as histórias que as fotografias, se solitárias, não deixariam adivinhar. As imagens criam o cenário, as palavras identificam os rostos e a localização. Revelam-nos cada pessoa como se estivesse à nossa frente. Sentimos cada gesto, cada suspiro. O nó na garganta que a fotografia não revela mas o texto expõe.
E se o texto descodifica situações, não retira a magia de cada acontecimento narrado. O mistério persiste, como a translúcida capa de cinza que cobre o corpo de um homem santo.
Fazemos ao lado de Ana Abrão o caminho através do subcontinente indiano e outros países a Oriente. Com um testemunho e um ponto de vista original recolhidos com vagar, ao longo de um ano, um mês e uma semana de viagem.
Num mundo ocidental e globalizado onde tudo parece estar à distância de um toque de ecrã, verificamos com a autora que continua a existir um fosso de desigualdades. E se a curiosidade e a tolerância são elos de ligação com o desconhecido, quem respeita o mundo dos outros não será só mais um no mundo.
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A introduzir a obra, a autora escreve, apresentando o seu trabalho:
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Um voo só de ida levou-me sozinha de Portugal até a Ásia e, a partir de lá, segui o fluxo dos acontecimentos, sem planos, sem datas, sem regras. Embebedei-me de liberdade. A Índia foi o ponto de partida e, em seguida, Nepal, Mianmar, Vietname, Camboja, Laos, Tailândia, Singapura, Malásia, Indonésia, Bornéu (território da Malásia) e Sulawesi (Indonésia).
Em 402 dias, há espaço para muitas coisas. Inclusive para ser turista e fazer coisas maravilhosas como nadar nas cascatas paradisíacas de Kuang Si (Laos); praticar arborismo em árvores gigantes ou fazer curso de scuba diving nas Ilhas Perhentian (Malásia); perder-me de Kayak na Baía de Halong ou descer o rio de canoa na maravilhosa Tam Coc (Vietname) ou mergulhar com tubarões, a 30 metros de profundidade, na reserva marinha de Sipadan (Bornéu).
Adoro estas aventuras e cada uma delas faz de mim o que sou. Mas quando se trata de fotografar, o cenário muda. Ao longo dos anos, descobri uma forma muito particular de viajar e de produzir material fotográfico com originalidade e, ao mesmo tempo, profundamente significativo para mim: em locais remotos, distantes dos roteiros turísticos. Para se encontrar e interagir com pessoas locais, que nos veem simplesmente como nós somos e nos recebem como convidados, é preciso, quase sempre, ir contra a maré do turismo.
Este caminho, no entanto, tem um preço. Se não há turistas, não há transportes, hotéis, restaurantes, serviços, informações acessíveis, pessoas que falam inglês e tudo o que torna a vida do viajante menos complicada.
Em compensação, a cada vez que me ponho a andar em sentido contrário aos viajantes e mergulho na cultura, a experiência torna-se intensa, rica e vibrante. Entro, verdadeiramente, numa cultura local quando me sento no chão da sala e como, com as mãos, a comida de todos os dias. Quando sinto a dinâmica do funcionamento de uma família. Quando observo as rotinas, as hierarquias, as divisões de tarefas, as diferenças de género, a forma como são educadas as crianças ou como são tratados os animais. Tudo ensina e enriquece a minha experiência. Aproximar-me da vida local, como ela é, revela uma dimensão que não vemos na superfície, durante uma viagem de férias,
Durante um ano, um mês e uma semana, vi e vivi coisas que nunca imaginaria. A dinâmica dos acontecimentos e a intensidade das vivências foi o que fez desta experiência, algo invulgar. Mais do que um portfolio de fotografias, tenho hoje um gigantesco álbum de histórias, onde cada imagem e cada rosto revela uma história única.
Por esta razão, o contacto com as pessoas e a cultura local é o que, para mim, faz da experiência de viagem um momento enriquecedor e, talvez até, transformador. E uma oportunidade privilegiada de aprendizagem.
Observo com atenção as diferenças que admiro e as características com as quais me identifico. Penso, com tolerância, sobre as que me afastam. Pondero sobre as que me chocam. Aprendo sobre a cultura do outro, mas, sobretudo, analiso a minha própria.
Pequenas conquistas, que aqui temos como adquiridas, ganham nova dimensão, um novo valor. Tão simples como poder girar uma torneira e recolher água potável ou tão grande como a liberdade de escolha, de expressão ou religiosa. No entanto, a maior e mais importante lição e constante desafio é a de aceitar as pessoas como elas são, com as suas limitações, as suas escolhas e as suas imperfeições…
Quando cheguei de viagem, em janeiro de 2018, um amigo disse-me, com um sorriso: aposto como te sentes outra pessoa. Surpreendeu-me a questão porque, naquele instante, olhei para dentro de mim mesma e não vi nada de diferente para além de uma Ana com uma viagem de um ano em cima.
Hoje, mais distante e com uma visão mais ampla, vejo que a experiência foi um marco. Eu simplesmente não posso ser a mesma, depois de tantas mãos generosas que me buscaram na rua para dentro de casa e serviram-me chá com leite ou cozinharam o que de melhor havia na cozinha, para me servir como a um convidado especial. Não posso ser a mesma depois de viver um ano, felicíssima, com uma mala de 15kg. Ou depois de oferecer a uma mulher um par de sapatos porque, afinal, heureca!, eu só tenho um par de pés e o segundo par ficou sem uso na mala. Dormir uma semana numa esteira, com ratos no quarto a andar por todos os lados, numa casa de família indiana, sem água canalizada, foi duro e exigente. Mas uma lição intensa e que nunca hei de esquecer…
E verdade! “Nem tudo são flores”. Ser abandonada na fronteira do Vietname com o Camboja, sem passaporte e sem malas, é uma experiência que qualquer viajante dispensa. Ser colocada para fora do táxi, pelo condutor, com mala e tudo, de madrugada, num local estranho, de um país desconhecido, também não. Nem ser levada para um posto da polícia, onde ninguém fala inglês, acusada de coisas horríveis por um guia mau-caráter, que tem a intenção, nefasta, de arrancar ao estrangeiro uns dólares a mais do que o combinado. Ser roubada enquanto durmo, muito menos. A antecipação das experiências desagradáveis, que não podemos prever ou evitar, são as que mantêm as pessoas no conforto do sofá. No entanto, aparte a irritação momentânea, são os pequenos ‘incidentes’ que fazem do viajante solitário uma pessoa mais forte. Sim, há solução para todos os problemas. A tranquilidade e o equilíbrio são os melhores conselheiros.
Que pessoa seria eu se não tivesse questionado o meu próprio conceito de liberdade porque, se antes eu pensava que ser livre é poder ir onde eu quiser e fazer o que eu desejo, à hora que me for mais conveniente, agora penso que é livre aquele que ultrapassa fronteiras, vence barreiras e escolhe ser feliz à sua própria maneira, sem amarras e sem receio de ser julgado pelos outros.
Nas páginas que se seguem, revelo uma parte da minha vivência e do meu percurso através de fotografias e histórias que encerram uma carga intimista e emocional forte. Não faço julgamentos. Nas entrelinhas, questiono. “Uma parte” porque, esta experiência, de tão intensa, não cabe num único livro.
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Ana Abrão gosta da fotografia e de contar histórias. As excelentes fotografias são acompanhadas por uma escrita de vivências e de viagem, partilhadas ao longo dos vários capítulos. Conta “As histórias por trás das imagens”: começa por “As Mãos Generosas que me Acolhem” e depois, sem seguir a ordem cronológica em que ocorreram, “Os amigos Sadhus da comunidade Nath”, “A Guerreira dos Três Ovos”, “A Dança dos Sadhus Nus”, “A Grande Noite de Shiva”, “Bom Dia, Meninas! Hoje é Dia de Circuncisão”, “Dalits, os Intocáveis”, “O “Peso” da Tradição”, “Me, a Xamã”, “O Refúgio das Viúvas Abandonadas”, “A Resiliência dos Nómadas do Mar” e “A Escola dos Sem-Pátria”.
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Ana Abrão, Outros mundos. Um ano, um mês e uma semana de aventuras e fotografias na Ásia, 2021
Nota: apresento um portfólio e não o livro (fólios, grafismo).
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Este livro foi destacado com o prémio “prata” no “One Eyeland Photography Awards – Book – People” 2020. Pode ver aqui (referência dos apresentadores ao livro no minuto 5:23 e intervenção da autora no minuto 10:50); com Menção Hoonrosa no IPA – International Photography Awards – Los Angeles 2020 e vencedor na categoria Self Publishing, pela FEP – Federation of European Professional Photographers – Bruxelas – Book Award.
A imagem da capa foi vencedora na categoria Celebration of Humanity – Single Image, do TPOTY – Travel Photographer of the Year, 2020.
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Ana Abrão. “Tem os reconhecimentos PPSA pela Photographic Society of America além de “Artist” e “Excelence” (AFIAP, EFIAP) pela associação Europeia International Federation of Photographic Art.”
Sobre si, diz:
Olá! Do lado de cá fala uma apaixonada pela fotografia que vive na costa sul de Portugal (um dos recantos mais lindos da Europa). Embora viva neste mesmo local há quase duas décadas, sou de origem brasileira, onde nasci, estudei e segui carreira académica. A um certo momento decidi mudar a direcção da minha vida e mudei de profissão. Embora goste verdadeiramente de muitas áreas diferentes desta arte, especializei-me profissionalmente em fotografia publicitária e casamentos. O que quer que venha a produzir como profissional, faço-o com comprometimento, com responsabilidade, com gosto, com criatividade e com um senso de estética apurado. Quando não estou em trabalho, desejo, com todas as minhas células, viajar pelo mundo com a minha câmara. Quero vivenciar pessoas de culturas diferentes, quero descobri-las por dentro e através dos olhos, quero que nas minhas imagens sejam o espelho do melhor que têm, das suas mais belas expressões, da melhor parte de si mesmas. Quero contar as suas histórias para o mundo.
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Pode conhecer mais sobre a autora e adquirir o livro, aqui.
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Cortesia da Autora.
Alterado em 23.04.2021.
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