MIGUEL FURTADO MARTINS, FOTOGRAFIA EM TEMPO DE EMERGÊNCIA

.

.

.

Miguel Furtado Martins, Fotografia em tempo de emergência, 2020

.

.

.

Inicia-se hoje, 19 de abril de 2021, a segunda fase de desconfinamento do segundo período de emergência, que foi iniciado em janeiro, devido à Covid-19. Trago este olhar de Miguel Furtado Martins sobre a vivência num lar, na sequência do (primeiro) estado de emergência.

.

Miguel Furtado Martins é formado em Psicologia Forense e da Exclusão Social e trabalha num Lar: ASAS – Associação para Serviços de Apoio Social, onde desenvolveu este projeto, nos meses de março a junho de 2020, durante o primeiro período de emergência.

.

Aquando da exposição no Museu do Oriente, em Lisboa, de 22 de outubro a 15 de novembro de 2020, Filipe Pinhal escreveu sobre a série:

.

A vida num lar residencial sénior, mesmo em tempos ditos normais, está sujeita a múltiplos constrangimentos, que serão tanto maiores e diversificados, quanto maior for o número dos seus residentes, e mais avançada a sua idade. E no Lar da ASAS Associação para Serviços de Apoio Social, cuja vivência inspirou estas fotografias, residem 63 pessoas com uma média de idade que ronda os 90 anos. 

Quando os tempos normais são perturbados por um choque da envergadura do que nos está a afetar a todos, desde os primeiros meses deste ano – a doença resultante da mutação de um vírus já conhecido, agora tecnicamente designado por SARS-CoV-2 − quem já era vulnerável sofre mais e quem cuida tem de se exceder em dedicação e atenções. Para estes, é uma espécie de quatro em um: cuidar, como sempre, mas alterar rotinas, explicar as restrições, combater os efeitos destas na saúde física e espiritual de quem já estava em estado de necessidade, em consequência da idade e das patologias consequentes.

Estava decretado o “Estado de Emergência”, e a estupefação fez sentir, ao autor das fotografias aqui mostradas, a necessidade de ver, através da lente da sua câmara, quem era cuidado e quem cuidava, de os registar no cumprimento rigoroso das duras exigências estabelecidas, de lhes fixar, para sempre, comportamentos, gestos, solidão…E tão sentida foi essa necessidade que deu lugar ao entusiasmo e à participação, indireta ou objetiva, de todos os setores da casa.  

É sabido que a fotografia faz história. Cada imagem captada é um registo que fica a documentar a realidade que estava à frente da objetiva. Foi sempre assim, nos momentos mais tristes e mais alegres da humanidade, desde que a primeira chapa foi batida no longínquo ano de 1826. Estas fotografias em tempo de emergência, com que, em boa hora, o Miguel Furtado Martins registou os mais difíceis e dolorosos dias da vida do Lar da ASAS, que a COVID-19 veio perturbar de forma brusca e cruel, são um documento histórico. (…)

 .

outubro de 2020 

.

.

.

Miguel Furtado Martins nasceu em Lisboa, em setembro de 1990. Estudou e formou-se em Psicologia Forense e da Exclusão Social, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT). Realizou o seu estágio curricular no Estabelecimento Prisional da Polícia Judiciária de Lisboa (EPPJ) e o estágio profissional na ASAS – Associação para Serviços de Apoio Social, onde atualmente exerce funções.

A fotografia surge-lhe como meio privilegiado de expressar e comunicar. É na rua que encontra a inspiração, procurando registar momentos simples e espontâneos da vida quotidiana. Utiliza, maioritariamente, uma composição minimalista e uma narrativa livre.

Com dois projetos em andamento, titulados “Efemeridade – Percursos do Quotidiano” e “Regresso às Origens – Aproximação da fotografia à pintura”,viu-se, perante a pandemia, obrigado a mudar o seu dia a dia, a suspender o que tinha em preparação e a virar a sua objetiva para uma nova realidade, que trouxe o medo ao mundo e o fez parar. Confinado entre a casa e o trabalho, as circunstâncias vividas despertaram inevitavelmente o seu interesse por registar, na forma que melhor entende e pratica, o que estava a viver e a ver viver.

E ali nasceu um novo projeto, “Fotografia em Tempo de Emergência”, com o qual quis fixar e relatar, através da lente da sua câmara, a vida vivida, em tempo de emergência, no Lar residencial onde trabalha e onde vivem 63 pessoas, cuja média de idade ronda os 90 anos.

Vencedor do concurso Corona Call 2020, projeto de Sana Sanaa – Diálogos Interculturais sobre Arte, que conecta Nairóbi e Berlim, com o projeto “Fotografia em Tempo de Emergência”. Distinguido através de diversas publicações e referências, conta também com participações em exposições individuais e coletivas.

​2021- Menção honrosa pelo júri POYLatam na categoria “Salud Sin Pausa Cuidadores”. 2020 – Projecto “Fotografia em Tempo de Emergência” distinguido por Sana Sanaa (Intercultural Dialogues on Art) com exposições para Berlim, Nairobi, Lagos, Kigali e Cidade do Cabo. Três fotografias do projecto “Fotografia em Tempo de Emergência” distinguidas pela Leica Fotografie International (LFI.GALLERY) para constar na galeria online na categoria “Portrait” e “Europe”. 2019 – Fotografia do projecto “Efemeridade – Percursos do Quotidiano” distinguida pela Leica Fotografie International (LFI.GALLERY) para constar na galeria online na categoria “Coast Line”; Finalista”Lugares Património do Centro” promovido pelo Público e Turismo Centro Portugal. 2018 – Menção honrosa pelo júri da 5º Edição do Mês da Fotografia no Barreiro. Premiado pela “ Lisbon Photography Tours” com o primeiro lugar sob o tema “Lisboa e o Tejo”. 2017 – Vencedor pela região do Alentejo do “Portugal sem Tripé” (concurso nacional promovido pela Huawei Mobile).

Exposições individuais: 2020 – Lisboa, Museu do Oriente “Fotografia em tempo de emergência”. 2019 – Lisboa, Fabrica Braço de Prata- “Efemeridade – Percursos do quotidiano”.

.

.

Este projeto foi editado em livro. Pode ver no Fascínio da Fotografia, aqui.

.

.

Pode conhecer mais sobre a obra de Miguel Furtado Martins, aqui.

.

Cortesia do Autor.

.

.

.