LUÍSA FERREIRA, HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA AQUI?
.
.
.
Luísa Ferreira, da série “Há quanto tempo trabalha aqui?“
.
.
.
Há quanto tempo trabalha aqui?
.
As lojas e as pessoas que as habitam. Série iniciada no verão de 1994, resultando da necessidade de fotografar a mudança e a perda de património e o desaparecimento das pessoas. Vidas. As pessoas que trabalharam uma vida inteira numa loja, num espaço, e que povoaram Lisboa dando-lhe uma vida própria, singular, há décadas. Hoje temos a constante perda de património e esvaziamento destes lugares, o desaparecimento das pessoas e dos espaços com história.
.
Ao longo de mais de uma década fotografei mais de cem lojas.
Inicialmente concentrei-me no eixo da Sétima Colina (entre o Largo do Rato e o Cais do
Sodré), cruzando as ruas que levam até à Baixa, ou até São Paulo, entrando pelo Bairro Alto. Em 1994 Lisboa foi a Capital Cultural da Europa, Lisboa 94. Comecei a fotografar o projecto que germinava há alguns anos dentro de mim como moradora na Rua do Loreto, junto à Praça Luís de Camões.
Dos anos 1980 para os 1990 assistiu-se a grandes mudanças na zona histórica. O desaparecimento de lojas, cafés, tascas, oficinas, jornais, a transformação dos espaços tradicionais em contemporâneos, tanto diurnos como nocturnos, o aparecimento de novas agências bancárias… Os novos materiais, os azulejos «tipo casa de banho», o alumínio, o inox, etc.
Durante largos períodos continuei a série, houve um período durante o qual o projecto esteve interrompido. Ainda hoje por vezes continuo a fotografar, consciente de que perdi muitas lojas e pessoas, por não ter iniciado o projecto quando comecei a senti-lo, ou seja, quando via as lojas a fecharem, a darem lugar a outros espaços. Achava então que não podia acontecer que a memória daquelas pessoas que as povoavam com um sorriso ao longo de toda uma vida se perdesse. Algumas lojas fecharam, outras remodelaram-se e outras continuam.
.
Este trabalho faz parte da memória da cidade. No século XXI a Baixa está a transformar-se num espaço global e a perder a sua identidade.
Espero publicar um livro. Muitas das pessoas fotografadas ficaram entusiasmadas com a ideia dessa publicação. O objectivo era expor as fotografias no centro do Terreiro do Paço, por onde muitas destas pessoas passam diariamente. É muito importante trazer este trabalho para a rua — normalmente estas pessoas não vão a galerias ver exposições.
Entretanto, desde 2003, foi possível apresentar parte desta série em Portugal e no estrangeiro.
.
Luísa Ferreira
.
.
.
Luísa Ferreira nasceu em Lisboa em 1961.
Iniciou-se em Geografia, trocou o curso pela fotografia. Começou a fotografar profissionalmente em meados dos anos 1980. Em 1989 integrou a equipa de fotojornalistas fundadores do jornal Público.
Interrompeu a actividade diária de fotojornalista em 1998, após trabalhar sete anos no jornal diário Público e dois anos na agência de notícias norte americana Associated Press. Continua a colaborar com a imprensa.
Expõe individualmente com regularidade desde 1989, desenvolvendo projectos pessoais e trabalhos de encomenda.
Fotógrafa independente, vive e trabalha em Lisboa.
.
A série Há quanto tempo trabalha aqui? já foi apresentada:
Em Portugal: Espaço Santa Catarina, Lisboa, 2018; integrou«Lisboa 2011 Exposição Fotográfica», instalação na Rua Augusta, 2011; integrou «Res Publica 1910 e 2010 face a face», curadoria de Helena de Freitas e Leonor Nazaré, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010; integrou a Conferência Internacional«Língua-Comunicação-Cultura», Universidade de Évora de 23 a 25 Novembro 2005 (a série esteve exposta a propósito da Comunicação de Paula Horta, Departamento de Estudos Anglísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Paula Horta escreveu vários papers sobre este projecto, um dos quais: Missing Shops, Changing Faces and Places: Representations of a (Post)modern City.); Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa, Lisboa, P/B, 2005 (seleccionadas 45 fotografias) .
Em Espanha e França, integrou a semana Descubrimientos PHE 03 – PhotoEspaña, Madrid, 2003; Centre Culturel La Chesnaie, Ville de Beauchamp, Val D’Oise, França, 2005; Parallèles, 4ème Biennale D’Art Contemporain, Centre Culturel La Fontaine, Ville de Brie-Comte-Robert, França, 2006.
.
.
.
Pode conhecer melhor o trabalho de Luísa Ferreira aqui e no Fascínio da Fotografia, aqui, sobre esta série também aqui (revista Bica N º 6, Outono 2018, pp. 21-32).
.
Cortesia da Artista.
.
.
.







Pingback: AGENDA . EXPOSIÇÕES . ABRIL A JUNHO . 2023 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA