ANDREAS H. BITESNICH, DEEPER SHADES #06 LISBON, 2020
Um olhar diferente sobre Lisboa.
.
.
.
Andreas H. Bitesnich
Deeper Shades #06 LISBON
Fotografia e texto: Andreas H. Bitesnich
Room5Books / Fevereiro . 2020
Inglês / 24,0 x 32,0 cm / 96 pp. / 77 fotografias a preto e branco
Cartonado / 960 ex. numerados, integra o livreto abaixo referido / Edição especial de 20 ex. numerados e assinados em caixa de cartão incluindo uma fotografia assinada e numerada
.
.

.

Edição especial
.
.
Inclui livreto:
Deeper Shades #06 LISBON
Fotografia: Andreas H. Bitesnich / Texto: José Berardo, Andreas H. Bitesnich, João Miguel Barros / Conversa de João Miguel Barros com Andreas H. Bitesnich
Lisboa: Museu Coleção Berardo / Fevereiro . 2020
Português e inglês / 24,0 x 32,0 cm / 16 p. / 5 fotografias a preto e branco
Agrafado
.
.
.
.
Andreas H. Bitesnich (Viena, 1964) iniciou-se na fotografia em 1988; a primeira exposição em 1993 e em 1998 lança o primeiro livro. Desde então publicou cerca de 30 títulos e participou em múltiplas exposições um pouco por todo o mundo.
Em 2011 publica o primeiro volume da série Deeper Shades, Tons Profundos. Nova Iorque é a primeira cidade. Seguem-se outras cidades: “Tokyo” em 2012, em 2013, “Paris”, em 2015, “Vienna” a sua cidade natal, “Berlin” em 2017 e em 2020, “Lisboa”, o 6.º volume da série, resultante de uma residência artística realizada entre 2018 e 2019.
O olhar de Bitesnich, de Tons Profundos (Deeper Shades) que carateriza a série é de negros densos, brancos (ou quase-brancos), e cinzentos diferenciados, intensos. Não há uma gama contínua de meios-tons. Dos 256 tons de cinzento, entre o preto e o branco, utiliza apenas 40.
As imagens são fortes, pessoais, vincadas. Grandes silêncios. Cada fotografia é um olhar profundo, silencioso, sobre a cidade, no seu ruído, no seu movimento, na sua pressa, na sua agressividade – e na sua doçura e humanidade e vivência – na sua luz e na sua sombra.
Entre finais de 2017 e inícios de 2018, numa residência artística, a convite do curador da exposição, João Miguel Barros, está em Lisboa. Caminha, vê, olha, fotografa. A cidade fascina-o: a cor, a luz, as pessoas, o acolhimento, a comida. Conta voltar em breve.
.

António Bracons, Andreas H. Bitesnich, exposição “Deeper Shades”, Lisboa, 2020
.
Das fotografias realizadas, resulta uma seleção de pouco mais de duzentas, que se puderam ver em diaporama na exposição que esteve patente no Museu Coleção Berardo. Selecionou 77 para o livro e 5 para o livreto.
Em Deeper Shades cada cidade tem a sua vida própria. Em Lisboa estão os lugares que se reconhecem – como não podia deixar de ser – e aquilo que associamos à cidade –, como o elétrico, o sol, a luz, os pombos… E as pessoas. Estão lá, estão nas fotografias. Fazem parte da cidade. Não como um pitoresco, mas como uma realidade viva da cidade. Como alguns momentos.
Este olhar sobre Lisboa é um olhar diferente de qualquer outro. Em 1959, Victor Palla e Costa Martins olharam de modo diferente para a cidade com o seu “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”. Sessenta anos depois, o olhar de Bitesnich mostra uma forma distinta de qualquer outra de olhar a cidade.
Este olhar sobre Lisboa é um olhar diferente de qualquer outro. Em 1959, Victor Palla e Costa Martins olharam de modo diferente para a cidade com o seu “Lisboa, Cidade Triste e Alegre”. Sessenta anos depois, o olhar de Bitesnich mostra uma forma distinta de qualquer outra de olhar e de ver a cidade.
.

António Bracons, Andreas H. Bitesnich, exposição “Deeper Shades”, Lisboa, 2020
.
.
João Miguel Barros, curador da exposição, escreve na folha de sala:
.
OLHAR A CIDADE
.
“Não basta ver para ver,
é necessário olhar para o que se vê.”
Padre António Vieira, Sermões
.
1. As cidades não são apenas volumes edificados, formas urbanas, ruas desenhadas, configurações redundantes. São igualmente relações individuais e grupais, por natureza mutáveis, criando uma certa desordenação e instabilidade, algum caos. Quanto mais construídas são as cidades, menor o horizonte e a nossa capacidade de ver “para além”. E, porque nas grandes cidades tudo passa à nossa frente a uma velocidade desmesurada, o nosso olhar não vê, não foca e, quando o faz, pode levar a que se perca o sentido da clareza, a capacidade de ser rigoroso. As metrópoles modernas potenciam o olhar precário e incoerente e, não poucas vezes, a cegueira.
.
2. As cidades são lugares em movimento, por norma acelerado, propícios ao encontro, mas também ao desencontro, assentes num ruído urbano e emocional intenso. São lugares onde nos confrontamos com a diversidade cultural, que nos dispersa. Lugares onde o cliché nos ilude, escondendo a substância da vida real. Quase apetece dizer que as cidades são construídas para serem vistas pelos “outros”, porque o olhar de quem nelas vive, habituado a geometrias constantes, não tem elasticidade nem largueza.
Nós, que vivemos numa determinada cidade, muitas vezes somos incapazes de ver o que nos rodeia. Deixamos esse privilégio a quem vem de fora, com o olhar fresco e sem preconceitos. Nós, que vivemos na cidade, desprezamos com facilidade os lugares e os momentos, e tendemos a edificar universos onde esses lugares e esses momentos não passam de personagens secundárias de uma qualquer história de ficção.
.
3. Andreas H. Bitesnich tem vindo a construir um trabalho sistemático e coerente sobre cidades relevantes. (…) Chegou agora a vez de “Lisboa”, uma cidade periférica na Europa, mas central no Mapa-Múndi ocidental.
O seu olhar não é contemplativo, circunstancial; é, antes, crítico e transformador. Apossa-se de cada um dos lugares que visita para os poder reinterpretar. Nessa medida, a fotografia de Andreas H. Bitesnich não é neutra, porque não tem a pretensão de representar fielmente o real.
O seu trabalho equivale à leges artis de um cirurgião. Retalha a cidade em pequenos detalhes e isola pedaços de lugares ou momentos humanos como se fossem peças de um puzzle desgarrado, mas que, no final, acabam por constituir um todo coerente. Não há outro modo, aliás, de agarrar a cidade sem ser dessa forma fragmentária e, assim, melhor mostrar os seus dramas e alegrias, os seus mistérios e esplendores. Para conseguir esse propósito, a opção formal adoptada ajuda a compor a mensagem: as fotografias são predominantemente monocromáticas, sem cores de suporte, e de uma densidade eloquente.
De algum modo, o olhar de Andreas H. Bitesnich transporta-nos para uma geografia nova, onde o mundo se projecta a partir de representações que só os mais atentos conseguem alcançar.
.
4. Há quem diga que a narrativa de uma cidade revela mais sobre a pessoa que a (d)escreve do que sobre a cidade em si. E esta asserção talvez seja particularmente verdadeira se tomarmos como exemplo o projecto de Andreas H. Bitesnich sobre Lisboa, que não foge à coerência exibida nos trabalhos sobre as “outras cidades”.
Lisboa! A Lisboa das sete colinas, do empolgamento pelo mediatismo turístico dos últimos anos, pela intensidade peculiar da sua luz, pelo calor com que os visitantes são acolhidos, pela vibração de muitos lugares, pela história e as estórias de muitos outros. Mas também a Lisboa que cala fundo no lamento e nostalgia dos fadistas, nas canções populares.
Ouçamos a voz do poeta Ary dos Santos:
“Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêm, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que traz à porta ternura.
Cidade a ponto-luz bordada
Toalha à beira-mar estendida
Lisboa menina e moça, amada
Cidade mulher da minha vida.”
.
5. As fotografias de Andreas H. Bitesnich sugerem o recolhimento, uma certa melancolia, um grande intimismo, transformando por vezes as grandes metrópoles em pequenas aldeias, nem sempre habitadas, mas, por norma, ricas de sentimentos e emoções.
Andreas H. Bitesnich, com o seu projecto sobre Lisboa (e sobre as outras cidades), permite-nos entrar num caleidoscópio criado a partir de um olhar rejuvenescido, revelando uma outra dimensão sobre o que nos rodeia. As emoções que sentiu ao olhar para Lisboa fazem parte do seu património e da riqueza da sua essência de artista, e a exposição do Museu Coleção Berardo dá-nos a possibilidade de as partilharmos, numa viagem sem horizontes ou preconceitos.
Cada imagem que olhamos encerra a síntese perfeita entre o que se apresenta e o que se representa, entre o que é e o que aparenta ser.
Essa simbiose, que num primeiro momento nos surpreende, acaba, depois, por nos fazer acreditar. E, assim, partilhando com o artista uma realidade tornada comum, é caso para dizer, como Sophia de Mello Breyner Andresen, “Então se tornam / Leve o nosso corpo e a alma alada.”
.
.
.
Andreas H. Bitesnich, Deeper Shades #06 LISBON, 2020
.
.
.

.
O Museu Coleção Berardo mostrou a exposição “Deeper Shades: Lisboa e outras cidades”, de 20 de fevereiro a 6 de setembro de 2020. Foi possível ver a seleção completa da série Lisboa (em diaporama) e a seleção do livro em fotografia impressa, para além de uma apresentação das restantes cidades. Cada uma tem uma cor de fundo: vermelho para “New York”, preto para “Tokyo”, “Paris” em azul, ciano para “Vienna” a sua cidade natal, e o verde seco claro para “Berlin”. Para Lisboa, o amarelo: a cor mais clara, mais luminosa, mais viva: o sol, a luz. De cada cidade, além das fotografias, é apresentado um video com as suas impressões sobre a cidade, realizado ao longo das suas caminhadas e enquanto fotografa.
.
.
António Bracons, Aspetos da exposição e do video sobre Lisboa, 2020
.

Kevin Townsend, Andreas H. Bitesnich e António Bracons, Lisboa, 2020
.
.
.
Pode conhecer melhor a obra de Andreas H. Bitesnich aqui.
.
O autor agradece a cortesia de Andreas H. Bitesnich.
.
.
.






























