ANA PÉREZ-QUIROGA, ¿DE QUÉ CASA ERES? LOS NIÑOS DE RUSSIA. EPISODIOS DE UN COTIDIANO #3, 2020
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Ana Pérez-Quiroga
De qué casa eres? Los niños de Rusia. Episodios de un Cotidiano #3
Fotografia e conceção: Ana Pérez-Quiroga / Texto: Ana Pérez-Quiroga, Maria do Mar Fazenda, Paulo Piteira / Design gráfico: Ana Pérez-Quiroga, Carlos Camps, Raquel Carteiro
Loures: Câmara Municipal de Loures / Julho . 2020
Português e inglês / 16,6 x 23,55 cm / 176 pp.
Brochura / 450 ex.
ISBN: 9789899862395
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Ana Pérez-Quiroga
De qué casa eres? Los niños de Rusia. Episodios de un Cotidiano #3
Fotografia e conceção: Ana Pérez-Quiroga / Texto: Ana Pérez-Quiroga / Design gráfico: Ana Pérez-Quiroga, Catarina Cruz, Joana Oliveira
Loures: Câmara Municipal de Loures / Fevereiro . 2020
Português / 14,5 x 21,0 cm / 12 pp.
Agrafado / 500 ex. / “Folha de sala”
ISBN: 9789899862326
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Em 1936, no início da Guerra Civil Espanhola, cerca de 50.000 crianças republicanas, no geral, entre os 5 e os 12 anos, foram enviadas para fora do país, acompanhadas de médicos e professores, a fim de escaparem à guerra. Cerca de 30.000 foram para França, outras para Holanda, Itália, Suíça, Argentina, entre outros países. Dos últimos países para onde se deslocaram, a União Soviética, foram 2895 crianças.
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No livro (e na folha de sala), regista Ana Pérez-Quiroga:
A minha tia e a minha mãe estão sentadas na primeira fila, são a segunda e a terceira crianças a contar da direita. Esta é a primeira fotografia de grupo tirada no dia 15 de outubro de 1937, no sanatório Bandeira Vermelha na Crimeia, local para onde as crianças foram enviadas de forma a recuperarem do trauma da guerra. Em resultado dos piolhos que apanharam durante a viagem de barco desde Espanha, a todas foi rapado o cabelo.”
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Com o final da guerra, todas voltaram, exceto as que haviam ido para a União Soviética: a vitória de Franco levou ao corte de relações diplomáticas com a U.R.S.S., não havia embaixador em Madrid, nem Espanha tinha embaixada naquele país. Quando partiram, Angelita, a mãe de Ana Pérez-Quiroga tinha apenas 4 anos, a tia, 5. Só aos 17 anos, têm notícias dos pais, através de tias, religiosas clarissas, que viviam na Argentina. Em 1955, a Cruz Vermelha inicia negociações, que levam a Espanha a aceitar, em 1956, o regresso daquelas crianças, 20 anos depois. Tinham agora entre 24 e 32 anos. Algumas regressam com família, muitas outras não, pois haviam já casado e constituído família. A tia de Ana Pérez-Quiroga regressaria apenas no final dos anos 90, Angelita Pérez-Quiroga, a mãe, viria nesse 1956, já licenciada em Medicina. Os que regressam passam por vários interrogatórios não só da polícia espanhola, mas também da CIA, contudo pouco tempo depois começa a trabalhar num hospital de Madrid. É nessa cidade que conhece um médico português, de Coimbra, então a estagiar, com quem virá a casar e vem para Portugal.
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Ana Pérez-Quiroga é uma das artistas a trabalhar este episódio da História (para além da neta espanhola de uma das crianças). É a partir do “Arquivo Angelita”, o arquivo da sua mãe: as duas malas de documentos e objetos que trouxe, incluindo dois álbuns de fotografias, diversos livros (muitos ficaram), um rádio-gira-discos, entre outros, para além das memórias e publicações (o regresso foi alvo de muitas notícias na imprensa espanhola) – que sempre fez parte da vida de Ana, que se via já em criança e sempre – que Pérez-Quiroga desenvolve num processo artístico, a história, em instalações, onde a fotografia está presente.
Logo no início da exposição, um filme realizado com fragmentos de registos da época e filmagens realizadas nas suas deslocações à Rússia com a mãe, Angelita, agora com 88 anos, passando pelos locais onde esta viveu, mostra o início da guerra, a partida e a viagem.
Apresenta na exposição – e no livro – que vai para além da exposição, editado a propósito desta, um conjunto de tapeçarias que apresentam os trajetos e locais percorridos.
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Regista:
Cronologia do exílio de 20 anos na Rússia, de um grupo de 119 crianças que foram recebidas no colégio interno em Jersón, na Ucrânia, no qual se integravam a minha mãe e tia. Esta é a minha perspectiva a partir dos acontecimentos mais relevantes na vida da minha mãe, durante esse período.
. 13 de junho de 1937 – saída de Santurce, cidade portuária próxima de Bilbao, no País Basco, no barco francês Sontay, com paragem em Burgos, e reembarque das crianças no barco Havana, com destino à Rússia;
. 22 de junho de 1937- chegada a Leningrado/São Petersburgo;
. julho a novembro de 1937 – estadia no Sanatório Bandeira Vermelha, em Sevastopol, na Crimeia;
. 1937-1941- estadia no colégio interno Caso de Jersón, em Jersón na Ucrânia;
. 1941-1942 – invasão da Rússia pelas tropas alemãs, evacuação para o Cáucaso, estadia em Bestau, no Cazaquistão;
. 1942-1944 – evacuação para o Altai, estadia na aldeia Tundrija, próximo de Barnaul, na Sibéria;
. 1945 – final da II Guerra Mundial, partida para Solnechnogorsk / Najavino, na periferia de Moscovo;
. 1951 – conclusão do Curso Geral do Liceu, em Bolchevo;
. 1951-56 – curso de Medicina, na Universidade de Moscovo;
. 23 de novembro de 1956 – regresso a Espanha: chegada ao porto de Valência, vinda do porto de Odessa, na Ucrânia.
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Na exposição, Ana Pérez-Quiroga integra alguns desenhos feitos diretamente na parede, como as crianças fazem, nomeadamente lembrando a “mamã”, mostra fotografias dos álbuns, que reproduz em grande escala, desenhos que realizou das peças e objetos que a mãe trouxe, como as malas, livros, um biquíni em malha verde que a mãe fez com 17 anos, ou o bordado de uma casa… Num compartimento, 3 projetores apresentam diapositivos que mostram os vários objetos trazidos e folheiam os álbuns de fotografias.
O livro reproduz os desenhos e as fotografias e descreve cada uma das peças.
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A autora refere sobe o projeto:
¿De qué casa eres? Los niños de Russia. Episodios de un Cotidiano #3, revisita um fenómeno da história de Espanha, com repercussões na Europa e no Ocidente: o exílio de 2895 crianças republicanas na ex-União Soviética devido à Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Uma dessas crianças é a minha mãe e outra a minha tia.
Esta é uma instalação construída com recurso a objetos pessoais da minha mãe assim como documentos e fotografias recolhidas nas viagens que fiz à Rússia e Ucrânia. ¿De qué casa eres? contém um cariz autobiográfico, ainda que seja uma apropriação das memórias e das vivências da minha mãe e tia. Apesar de um desenvolvimento relativamente feliz, o trauma de guerra e da condição de refugiado continua a permear o meu quotidiano familiar. A herança e vivência destas memórias que não são minhas podem ser descritas como uma Pós-memória, que se traduz num mecanismo transversal de análise sobre as particularidades da minha identidade.
A esta pergunta atribuí um segundo sentido, que lida com o problema da construção da identidade de quem vive a condição de eterno estrangeiro, no lugar onde nasce, assim como no lugar onde cresce e vive.
Este projecto, é então, uma proposta de empatia e uma perspectiva contemporânea sobre eventos de perda, violência e trauma.
Hoje em dia, chegam à costa europeia milhares de refugiados e migrantes vindos de zonas de guerra, mas também de territórios que não oferecem as mesmas oportunidades que nos são dadas, particularmente às mulheres. Resta-nos a humanidade e generosidade da partilha de oportunidades, educação, autonomia e emancipação.”
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Ana Pérez-Quiroga, ¿De qué casa eres? Los niños de Russia. Episodios de un cotidiano #3, 2020
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Este livro foi editado na sequência da exposição homónima, patente entre 29 de fevereiro e 1 de agosto de 2020, em Loures, na Galeria Municipal Vieira da Silva, com curadoria de Maria do Mar Fazenda. O livro foi lançado em 30 de julho, em apresentação pública.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2020
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António Bracons, Ana Pérez-Quiroga e Maria do Mar Fazenda junto ao “Arquivo Angelita” e numa mesa, mobiliário desenhado por Ana Pérez-Quiroga, 2020
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António Bracons, Ana Pérez-Quiroga, 2020
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Ana Pérez-Quiroga. Nasceu em 1960, em Coimbra. Artista visual e performer. Vive e trabalha em Lisboa. As suas temáticas centram-se em torno do quotidiano e seu mapeamento, a importância dos objetos comuns na construção da autorrepresentação e problemáticas de género, materializadas em diversos suportes: instalação, objetos, fotografia, têxteis e performance.
Licenciada em Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, tem o Curso Avançado de Artes Plásticas do Ar.Co; é Mestre em Artes Visuais Intermédia pela Universidade de Évora e é Doutora em Arte Contemporânea peio Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. E investigadora no CHAIA – Centro de História de Arte e Investigação Artística da Universidade de Évora.
Expõe regularmente, a solo e em coletivo, desde 1999, tendo exibido o seu trabalho em instituições nacionais e internacionais. O seu trabalho encontra-se representado em diversas coleções institucionais.
Tem integrado programas de residências internacionais com bolsas da Fundação Oriente; Fundação Gulbenkian; Institut Français du Portugal, Cité International des Arts – Paris; Criatório – Câmara Municipal do Porto; Fundação para a Ciência e Tecnologia. Tem um ateliê cedido pela Câmara Municipal de Lisboa.
Foi distinguida com o prémio da Sociedade Portuguesa de Autores – SPA, para a melhor exposição de Artes Plásticas de 2014.
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Pode conhecer melhor o trabalho da autora no Fascínio da Fotografia aqui e no site da autora aqui.
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