FÁBIO MIGUEL ROQUE, ORIGIN + ORIGIN EPILOGUE, 2017
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Fábio Miguel Roque
Origin
Fotografia e poema: Fábio Miguel Roque / Prefácio: Irina Popova / Edição e design: Peter Oey
The Unknown Books / Novembro . 2017
Inglês / 17,0 x 24,0 cm / 148 pp.
Brochura / HP Indigo Print / Capa: Papel Reciclado 300 gr, Interior: Papel Reciclado 150 gr. / Extra: Poster A3 White offset 170 gr.
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Fábio Miguel Roque
Origin Epilogue
Fotografia e texto: Fábio Miguel Roque
The Unknown Books / 2017
Inglês / 10,4 x 14,9 cm / 16 pp + capa
Cosido manualmente com linha
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Estes livros são, de alguma forma, álbuns de família. Da família do Autor.
A partir de uma caixa que encontrou, com fotografias que ficaram para trás, que não se incluíram nos álbuns de família, Roque pesquisou as suas origens e criou três livros: “Origin”, “Origin Encore” (que veremos em breve) e “Origin Epilogue”, um pequeno ‘fascículo’ que é disponibilizado conjuntamente com “Origin”.
Através de “Origin”, Roque procura não só as suas origens, mas questiona a própria fotografia, quer como espaço de memória, quer como documento. Fotografias numa caixa, que não integram os álbuns de família. Poderão ser imagens em tempos ‘recusadas’, porque havia outras melhores ou por outra razão qualquer. Não deixam de ser imagens nem deixam de ser um testemunho, um registo, uma presença. Roque Identifica cada uma das pessoas presentes em cada imagem.
Por outro lado, quer como espaço de memória, quer como documento, Roque centra-se também nas fotografias (objeto) naquilo que não é a imagem: nas anotações ou dedicatórias pessoais, as marcas dos fotógrafos, como carimbos ou outras impressões; as marcas do próprio papel fotográfico; as marcas da utilização, como um furo de pionés ou restos de cola, por ter estado afixada nalgum local, ou um carimbo ou selo branco que se sobrepõe e denuncia ter sido retirada de um documento. E o passar do tempo pela fotografia, pela degradação da cor ou da densidade, pelas manchas provocadas pela luz, humidade ou alguma outra ação sobre ela. Toda essa informação e ‘degradação’ fazem parte da fotografia. São “uma evidência do tempo”.
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“Origin Epilogue” é um ‘pequeno apontamento’, um pequeno ‘fascículo’, como que para ‘trazer na carteira’, cosido a linha pelo próprio autor, o que lhe dá um toque pessoal e no qual apresenta a sua família em imagens a cores e em que inclui um pequeno texto pessoal, extraído das suas notas.
“Origin” inclui um poster A3: uma árvore genealógica.
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Fábio Miguel Roque explica:
Encontrei uma caixa em 2015 da qual ninguém sabia muito bem o paradeiro. Fiquei imediatamente emocionado por essa descoberta de fotografias e negativos que não apareciam nos álbuns de família, e comecei a folheá-los. Uma parte perdida e esquecida da história da minha família foi encontrada.
Até agora, a minha fotografia pessoal estava focada em questões sobre mim como indivíduo em relação à sociedade. Mas a interação fotográfica relacionada com a minha própria família era algo novo para mim. Decidi aproveitar esta oportunidade para descobrir as minhas origens.
Depois de algum tempo, encontrei o meu ponto de vista sobre essas imagens e comecei a fazer digitalizações num esforço para as colocar nalguma ordem. O primeiro resultado foi um álbum que eu pude segurar nas minhas mãos. E então imediatamente começaram a surgir respostas e novas questões.
Fiz uma jornada pelo meu passado, rostos familiares, nomes, incidentes, muitas coisas continuavam inexplicáveis para mim, mas outras coisas permitiram-me perceber melhor a história e as situações.
Ver a simplicidade das minhas origens deu-me uma profunda simpatia e ternura em relação a elas. Eles enfrentaram muitas dificuldades do regime, guerras, fome e os seus esforços por uma vida melhor fora do país.
Fiz um protótipo do álbum e comecei a mostrá-lo à minha família, próxima e mais afastada. Resultou em conversas, revelações e relacionamentos renovados. O documentário “Origin” nasceu. Ao fazê-lo, tentei ficar perto de como havia experimentado as minhas descobertas.
O livro fotográfico “Origin Prologue” é uma expressão dos meus sentimentos pessoais e emocionais em relação a este projeto. E com o livro “Origin Epilogue”, gosto de terminar a minha jornada com algumas palavras extraídas do meu caderno.”
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Irina Popova escreve o prefácio da obra (tradução livre do autor do FF):
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UMA EVIDÊNCIA DO TEMPO
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Todos temos um arquivo familiar. Ou pelo menos – história familiar. Algumas histórias familiares são muito bem mantidas e preservadas, mas muitas são esquecidas. No livro “Origin”, de Fábio Miguel Roque, o arquivo da família torna-se algo mais do que apenas um traço de histórias familiares esquecidas. Torna-se uma evidência do tempo.
De como o tempo muda os rostos, eventos, – cobre com mofo algo que antes parecia importante. Se o livro tentasse dizer-nos quem eram essas pessoas, como elas pareciam, o que estavam fazendo e do que se orgulhavam, provavelmente só valeria a pena ficar num álbum de família numa única cópia, tirando-se da gaveta em ocasiões especiais, e sendo mostrado apenas a familiares e amigos íntimos.
O facto de ser publicado transforma-o na história genérica dos seres humanos, uma história sobre o tempo. A fotografia como mídia torna-se o maior tópico dessa história. Emulsão arruinada / marcas antigas da Kodak tornam-se os personagens da história, ao lado das pessoas. O manuscrito e a caligrafia fazem parte da história visual em que a forma da representação tipográfica altera o significado. Esse manuscrito pode ser entendido em qualquer idioma: é um sorriso do tempo sobre a temporalidade da existência humana.
As pessoas, que antes pareciam felizes e satisfeitas com o brilho das suas vidas e outras coisas breves, olham-nos agora as ásperas camadas em transformação: às vezes os rostos estão cobertos de poeira e arranhões. Às vezes, vemos uma versão invertida do preto-e-branco, como se olhássemos no filme rostos escuros com criaturas alienígenas de olhos brancos, sem nenhuma relação visível connosco, apenas as impressões de emulsão. E, como um arqueólogo egípcio, o mais humilde espetador deste livro deve examinar as histórias que nunca o aproximam da verdade: quem eram essas pessoas e o que aconteceu com todas elas?
A fotografia é a única resposta para a questão da vida, por isso a torna a metáfora mais próxima da morte: tudo o que pode ser refletido em papel e armazenado para sempre na forma de uma impressão pode facilmente desaparecer na realidade da face da Terra. Tudo o que é refletido na foto nunca mais será o mesmo. Incluindo nós.
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Complementa a obra dois poemas de Fábio Miguel Roque: “Origin” e “Breathe”. Falarei sobre eles na obra “Origin Encore”.
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Fábio Miguel Roque, Origin, 2017
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Fábio Miguel Roque, Origin Epilogue, 2017
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Fábio Miguel Roque (n. 1985) fotógrafo, editor e curador. Nasceu em Lisboa e vive em Sintra, Portugal.
No seu trabalho podemos notar uma clara dualidade entre a fotografia documental e também os projetos íntimos e pessoais.
Estudou no IPF – Instituto Português de Fotografia (2004 – 2007), e fez vários workshops noutras instituições, como História da Fotografia Contemporânea no Ar.Co.
Trabalhou como fotojornalista no início da sua carreira, mas por várias razões, decidiu dedicar-se a projetos pessoais mais concretos.
Nos últimos anos fez várias exposições individuais e colectivas em Portugal e no estrangeiro, como Estados Unidos, Espanha, Bulgária, Polónia e Alemanha. Foi também selecionado para alguns festivais e prémios, os seus projetos estão em várias publicações de zines a livros.
Em 2014 cria a editora “The Unknown Books”, e desde então publicou mais de 50 zines e livros; é co-diretor da Revista Preto, revista dedicada à fotografia a preto e branco, que ganha vida após o fim do Coletivo Preto.
É também membro do Latent Image Collective, desde 2014.
Realizou múltiplas exposições individuais e coletivas e está representado em diversas coleções.
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Sobre “Origin Encore” no FF, aqui.
Pode saber mais sobre a obra aqui.
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