CHRISTOPHER GREGORY, ANTÓNIO GUTERRES

A partir da fotografia do Secretário-Geral da ONU, António Guterres, registada por Christopher Gregory, para a TIME, em Tuvalu, maio de 2019.

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Christopher Gregory (para a TIME), António Guterres, Secretário-Geral da ONU, 05.2019, Revista TIME, capa, 24.06.2019

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A fotografia tem (também) uma dimensão política, uma missão de alerta, de questionamento, de abanar consciências e mentalidades. Este papel é especialmente forte no fotojornalismo.

Num rápido passar de olhos pela bancada de um quiosque, no folhear rápido de um jornal ou revista ou no deslizar por uma página de internet, há textos (cabeçalhos, títulos, palavras) que se destacam ou, mais facilmente, imagens, que levam a focar os olhos por tempo mais prolongado, a prender a atenção sobre a imagem em si e, por consequência, àquele assunto. Uma imagem facilmente se fixa na memória e não se esquece.

Uma dessas fotografias do ano de 2019, que me surpreendeu, é de Christopher Gregory e fez a capa da revista TIME de 24 de junho: o Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o português António Guterres, de fato e gravata, com água ondulante não propriamente limpa, a meio das pernas, o olhar desolado, triste.

Ora, esta imagem toca pela imagem em si: pela pose, pela desolação, pela aparente incapacidade, e pela pessoa que é, o Secretário-Geral da ONU (repito), uma das pessoas institucionalmente mais importantes do mundo. Pretende ser, e é, sem dúvida, (mais) um alerta para as alterações climáticas, situação despertada há bem mais de uma geração e cujos efeitos já se começam a sentir, quer no aumento do nível do mar, quer na maior frequência e violência das tempestades, quer nas temperaturas mais extremas (frias mais frias e quentes mais quentes e menos períodos de temperaturas médias), entre tantas outras situações alarmantes e danosas.

Por outro lado, esta imagem toca(-me) também pela sua concepção: o fotógrafo idealiza levar uma figura de topo a assumir uma pose desconfortável: molhada, desalentada e, por outro lado, a aceitação dessa pessoa para a fotografia em questão, é sem dúvida, um forte empenhamento na causa subjacente.

A fotografia foi captada na costa de Tuvalu, na Polinésia, em pleno Oceano Pacífico, que é uma das zonas mais vulneráveis do planeta, devido ao aumento do nível do mar: “Oceanos a subir, residentes em fuga, aldeias a desaparecer. O nosso planeta está a afundar-se.” (pode ler o artigo de Justin Worland, link abaixo), procurando sensibilizar para a urgência de decisões importantes, mas difíceis. Ou corre-se o risco de ser tarde de mais, pois é um processo irreversível…

É certo que a mudança é necessária e depende de todos. É também cada vez mais difícil abdicar de alguns confortos e comodidades ‘adquiridos’, por outro lado, depende e muito das ações de grandes grupos: a criação de viaturas com combustíveis menos poluentes ou não poluentes ou alternativas globais de transportes menos poluentes (por exemplo, transportes públicos mais eficazes e económicos) são ações à escala regional, nacional ou mundial. Tal como a produção de resíduos – quase tudo o que é produzido resulta em resíduo em pouco tempo – quantas inutilidades são produzidas à escala mundial, alimentando alguns comércios, sem qualquer maior valia ou utilidade prática, consumindo matérias primas e energia, causando emissões poluentes…

É isso que António Guterres sublinha: a emergência climática é

Um problema de todos nós. (…) É absolutamente essencial para o planeta e temos obrigação de fazer tudo o que pudermos para reverter a situação atual. (…) [é preciso que] todos se juntem. (,,,) É para fazer cada país assumir a liderança e ambição que é necessária, (…) esta é a batalha das nossas vidas”.

Na Cimeira do Clima, desafiava:

É fundamental pôr o mundo em linha com o que a comunidade científica definiu como os nossos objetivos e esses são: não mais do que 1,5 graus de crescimento da temperatura até ao final do século, neutralidade de carbono em 2050 e redução das emissões de 45% em relação a 2010 até 2030. Tudo isto exige uma maior ambição do que aquela que até agora foi expressa.”

Foi este o objetivo da 25ª Conferência das Partes (COP25) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, a Cimeira do Clima, prevista para o Chile em Setembro, realizada em Madrid, entre 2 e 15 de Dezembro (inicialmente prevista até 13, mas prolongada para se chegar a um acordo), sendo presidente a chilena Carolina Schmidt.

No final, foi aprovado o acordo “Chile-Madrid, Hora de Agir”, acerca dos objetivos climáticos em 2020 e do cumprimento do Acordo de Paris, que limita os países para impedir a subida da temperatura média do planeta neste século acima de 1,5 graus. Face às expetativas, o atingido na Cimeira é considerado pouco ambicioso, mas é mais um passo.

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Evgenia Arbugaeva, Greta Thunberg, Lisboa, 12.2019

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Falando de ambiente e do clima, como complemento, refira-se que a ativista sueca, de 16 anos, Greta Thunberg esteve em Portugal, de 5 a 6 de dezembro, seguindo para Madrid, para participar na COP25. Uma fotografia sua, registada em Lisboa, pela fotógrafa russa Evgenia Arbugaeva, fez a capa da revista TIME, de 23 de dezembro, anunciando-a a personalidade do ano, eleita pela TIME.

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Pode ler os artigos da revista TIME de 24.06.2019, “O nosso planeta está a afundar-se”, aqui, e o artigo “O lider das N.U.: A mudança climática pode provar o valor da ação coletiva”, de 13.06.2019, aqui.

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