ROBERT FRANK EM COIMBRA
Robert Frank (Zurich, Suissa, 9 de novembro de 1924 – Inverness, Cape Breton, Nova Escócia, Canadá, 9 de setembro de 2019)
Em 5 de novembro de 1988 inaugurava em Coimbra, no Edifício das Caldeiras, a exposição “Homenagem a Robert Frank” e com ela os 9.ºs Encontros de Fotografia de Coimbra.
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Robert Frank
Robert Frank
Fotografia: Robert Frank / Texto: Jacques Kerouac, Robert Frank, Joachim Schmidt / Design gráfico: Victor Palla
Coimbra: Encontros de Fotografia de Coimbra / Novembro . 1988
Português / 21,0 x 21,0 cm / 36 págs, não numeradas
Brochura
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1.
“Cem anos após o aparecimento da Kodak n.º 1 – o revolucionário aparelho das cem fotografias”, teve lugar em Coimbra a 9.ª edição dos Encontros de Fotografia, realizada em Novembro de 1988. Entre os dias 5 e 20, em 13 diferentes pontos da cidade, 15 exposições apresentavam o trabalho de “meia centena de fotógrafos”.
Sem dúvida, a exposição principal, com o número “1.” no programa, era a “Homenagem a Robert Frank (USA)”:
Em lugar de destaque a homenagem a Robert Frank na forma de uma exposição retrospectiva da sua obra patente num novo espaço ganho para a fotografia – As Caldeiras – local onde sediará o futuro Centro Nacional de Fotografia.”
, lê-se no programa.
Uma parte das fotografias eram do livro “Les Américains” ou “The Americans”, o fabuloso livro publicado em 1958 e que traria uma nova abordagem à Fotografia, outras da década de 1970. Foram estas as primeiras fotografias impressas (em papel de sais de prata) de Robert Frank que vi.
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2.
Em 1986 havia sido inaugurado o novo Hospital da Universidade de Coimbra, em Celas, e os espaços antes ocupados pelo antigo Hospital: o Colégio de S. Jerónimo, o Colégio das Artes e vários espaços adjacentes, nos quais se inclui o Edifício das Caldeiras, a antiga Central Térmica do Hospital da Universidade, situado abaixo, no início da R. Padre António Vieira, junto à Associação Académica, ficaram em posse da Universidade. Nos primeiros foram instalados o Museu Académico e diversos departamentos da Faculdade de Ciências e Tecnologia, entre eles o curso de Arquitetura que se iniciava.
As Caldeiras ficaram desativadas, lembro-me que se dizia serem as únicas ainda existentes em todo o mundo daquele modelo da Babcock & Wilcox, Ltd., e havia o interesse na preservação do conjunto.
O CEF – Centro de Estudos de Fotografia, organizador dos Encontros de Fotografia de Coimbra (EFC), obteve da Reitoria a cedência do edifício, para galeria de exposições, o que veio a acontecer. Estava também em vista ser a sede do CEF (era no piso 2 da AAC), e ser “o futuro Centro Nacional de Fotografia”, como referido, mas tal nunca chegou a acontecer, pois foi criado em 1995 o Centro Português de Fotografia e sedeado no Porto, na Antiga Cadeia da Relação. O CEF e os EFC fundiram-se, dando lugar ao CAV – Centro de Artes Visuais, vindo a ocupar o espaço mais amplo do Pátio da Inquisição, inaugurado em 14 de fevereiro de 2003.
Foi com esta exposição de Robert Frank que o Edifício das Caldeiras abriu portas como galeria de fotografia do CEF, sendo-o até finais da década de 1990, se não mesmo até 2003.
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3.
José Cabrita Saraiva, no artigo “Um mito na intimidade”, publicado no jornal on-line “i”, de 09.11.2015, narra como começou a amizade entre Albano da Silva Pereira e Robert Frank, uma amizade que durou até à morte de Frank:
“O Robert Frank é o personagem mais extraordinário que conheci”, declara o fotógrafo Albano da Silva Pereira, director do Centro de Artes Visuais (CAV), em Coimbra. A amizade remonta há quase três décadas, quando Albano promovia os Encontros de Fotografia. “Eu tinha visto dois filmes do Robert Frank e queria mostrar a obra dele, tal como mostrei a de outros mestres da fotografia contemporânea. Só que na altura ninguém sabia por onde é que o Frank andava. Muita gente achava que tinha morrido.”
Foi outro fotógrafo, o norte-americano Duane Michals, que fez a ponte. “Albano, estás absolutmente certo. Ele é o melhor. Vou-te arranjar o telefone dele”, prometeu Michals. E assim foi. “Durante um ano andei a falar com o Frank pelo telefone”, continua o director do CAV. “E um dia ele escreve-me uma carta em que diz isto: ‘Não sei porque é que vou fazer esta exposição, mas tu soas-me bem. Vou–te mandar quarenta e tal fotografias pelo correio’. Passados uns 15, 20 dias, o correio entrega-me uma caixa 50×60 da Kodak com 45 [provas] vintage dele. Sem seguro nem nada. Ninguém fazia isso, muito menos sendo já representado por uma das maiores galerias de fotografia, a Pace McGill.” “
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4.
O catálogo, editado pelos Encontros de Fotografia, que aqui apresento, inclui um texto de Jack Kerouac, o autor do livro “Pela Estrada Fora”,
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de Robert Frank: “Gostava de rodar um filme”,
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uma entrevista criada por Joachim Schmidt a partir de fragmentos de entrevistas e textos, validada por Frank: “Nunca tive muito respeito pelos fotógrafos”,
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uma nota biográfica escrita pelo próprio,
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além de uma carta que dirige a Albano da Silva Pereira.
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O design gráfico é de Victor Palla, que também expõe nesta edição dos Encontros: no Museu Nacional Machado de Castro, “Portugal 1950-60”, conjuntamente com Edouard Boubat e Jean Dieuzaide.
O cartaz dos Encontros tinha como base a fotografia “Eyes”, de 1977.
Pedro Miguel Frade escreveu no Expresso-Revista, de 12 de novembro de 1988, “Coimbra: encontros de mestre(s)”, sobre os trabalhos presentes de Frank, “Senhores do Tempo” (e Ralph Gibson “Mestres da Forma”, no Hotel Avenida):
Um programa magnífico, imponente mesmo, toca as raias do miraculoso quando se sabe que Robert Frank, esse deus perdido para a fotografia, aceitou enviar uma escolha «do que me resta aqui em casa» …”.
, como ele escrevia ao Albano, continuando: “- por favor, trata-as cuidadosamente, eu já não imprimo mais – É o passado – e a vida continua…”
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Robert Frank, Robert Frank, Encontros de Fotografia de Coimbra, 1988
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A exposição “Homenagem a Robert Frank”, como disse, teve lugar no Edifício das Caldeiras.
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António Bracons, Homenagem a Robert Frank, Encontros de Fotografia de Coimbra, Aspetos da exposição, Novembro . 1988
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Depois de vista em Coimbra, a exposição foi apresentada em Lisboa, de 22 de novembro a 4 de dezembro de 1988, na Galeria Almada Negreiros: uma sala de exposições situada no edifício da Secretaria de Estado da Cultura e gerida pela Direcção Geral da Acção Cultural.
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Convite da exposição, Galeria Almada Negreiros, Lisboa
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Refiro ainda que uma grande exposição reunindo parte significativa da obra de Robert Frank foi apresentada em Lisboa, no Centro Cultural de Belém, em 2001: “Hold Still – Keep Going”, com curadoria de Ute Eskildsen.
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Robert Frank, Autoretrato
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Robert Frank faleceu em Inverness, Cape Breton, na Nova Escócia, Canadá, a 9 de setembro de 2019. Aqui fica a minha homenagem.
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Pode ler sobre “Les Américains”, de Robert Frank no Fascínio da Fotografia, aqui.
Pode ler o artigo completo “Um mito na intimidade”, de José Cabrita Saraiva, publicado no jornal “i”, de 09.11.2015, aqui.
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