IMAGO LISBOA PHOTO FESTIVAL. CONSTRUIR PONTES: AUGUSTO BRÁZIO, LUÍSA FERREIRA, PEDRO LETRIA E SÃO TRINDADE
Exposição em Lisboa, no Museu da Água – Estação Elevatória dos Barbadinhos, na R. do Alviela, de 11 de outubro a 07 de novembro de 2019 (5.ª a domingo, inicialmente até 17.11).
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A terceira grande exposição do IMAGO LISBOA Photo Festival, “Construir Pontes”, apresenta a fotografia portuguesa através de 4 autores: Augusto Brázio, Luísa Ferreira, Pedro Letria e São Trindade.
A curadoria é de Rui Prata, que refere relativamente à fotografia portuguesa:
Resultante de vicissitudes várias a fotografia portuguesa não tem, no presente, nenhuma estrutura que tenha por missão objetiva promover a itinerância dos autores nacionais junto de instituições estrangeiras.
Assim, tirando vantagem da ampla rede de contactos internacionais de que a organização dispõe, o festival Imago Lisboa procura constituir uma plataforma de excelência para divulgação e apresentação dos nossos artistas no exterior.”
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AUGUSTO BRÁZIO / SOPÉ
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SOPÉ, representa o primeiro capítulo do projeto Viagens na Minha Terra. É um trabalho em progresso, no qual o autor procura mapear uma geografia do desconhecido, do inesperado, do que está para além da representação normalizada com que Portugal nos é apresentado nos media.
São imagens que rompem as fronteiras do postal de promoção turística e que partilham com o observador uma rude realidade. Imagens de um Portugal profundo, apenas alvo de notícia em momentos de catástrofe. Espaços vazios, sinónimo de uma desertificação que corrói o interior do país.
O autor atua como uma espécie de detetive visual, que segue as pistas de vivências inusitadas e cenários fantasmagóricos que, pouco a pouco, constroem uma trilha donde emerge uma verdade bruta que não pode deixar o espectador indiferente.
A partir de rostos, paisagens e locais de abandono o autor reflete sobre a identidade de um Portugal profundo. São fotografias que corporizam as vicissitudes da interioridade, a desertificação e as consequências do abandono dos territórios. Imagens que concorrem para a construção de uma geografia mental do país.
Augusto Brázio
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2019
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LUÍSA FERREIRA / NO LIMITE
Matéria plástica, valor líquido
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Na primavera de 2004 assisti às primeiras descargas da barragem do Alqueva, quando atravessava o Alentejo à procura dos campos de futebol para o projeto expositivo fora de jogo. Era a grande força da água, potenciada pela engenharia. Para mais quando comecei a ver plásticos nas hortas suburbanas, enquanto trabalhava para a série A Orla de Cidade, fiquei incomodada, mas depois comecei a perceber que os cds a brilhar espantavam pássaros e outros predadores, os bidões serviam para recolher a água para a rega, e os garrafões para a transportarem e armazenarem. Sustentabilidade, uso fácil, novo design?
No entanto, cientistas defendem que os plásticos não devem ser reaproveitados para manter a água, porque a pouco e pouco libertam micropartículas para o meio líquido. E o mar já está cheio de plásticos, os animais marinhos estão a engolir – ou a ser engolidos pelo – plástico …
No limite é uma série em torno da forma de recolher e armazenar água nas hortas e terrenos agrícolas, um palimpsesto de instalações temporárias ou permanentes na paisagem.
Enquanto que um velho poço, contruído em pedra, nos traz o espírito do lugar, os plásticos nas hortas trazem-nos para o tempo presente de reciclagem e escassez de água. Parte desta série fotográfica integra o projeto Orla da Cidade.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2019
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PEDRO LETRIA / THE CLUB
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Penso que o sentimento transmitido pela ficção
não é menos autêntico, pungente e duradouro
daquilo o melhor jornalismo é capaz de documentar”
Pedro Letria
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The Club é uma viagem experiencial pelos Clubes Sociais Portugueses em Providence, Rhode Island, nos Estados Unidos da América; uma viagem onde a fotografia e a escrita são as acções primárias. Ao longo do seu percurso, Pedro Letria olha para a sua própria deslocação enquanto cidadão português nos Estados Unidos, através das manifestações plurais dos imigrantes portugueses nos seus espaços de partilha comunitária.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2019
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SÃO TRINDADE / FRIDAY NIGHT, SATURDAY MORNING
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Let everything happen to you
Beauty and terror
Just keep going
No feeling is final”
J. M. Rilke
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Já cosi a ferida, ensaiei o esquecimento e viajei até à lua com o meu gato, fui Lady Godiva, Eva, e muito mais.
Os temas do meu trabalho nascem das minhas vivências, de tudo o que vejo, sinto, amo e perco, razão pela qual a autorrepresentação é uma constante. É um trabalho sobre sobrevivência, onde se cruzam vários interesses pessoais, literatura, desenho, pintura, cinema, música, fotografia.
O meio é a fotografia porque me interessa a sua ambiguidade, a sua ligação ilusória ao real. Mas antes de ser fotografia, há todo um processo: já fiz um fato de astronauta, construi um cavalo ou moldei uma orelha, depois há uma representação para a câmara e uma edição a partir desses registos.
Gosto de ligar imagens como se construísse uma história, mas a ordem das imagens pode ser trocada e a história passar a ser outra. A par da fotografia, surgem os cadernos onde desenho e intervenho com vários materiais e técnicas, aí, por vezes, existe o embrião daquilo que crescerá com um corpo fotográfico.
“Friday Night, Saturday Morning” nasce de um quase diário realizado entre 2005 e 2006. Não resultou de um projeto pré concebido, mas de impulsos vitais, ora pontuais ora contínuos.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2019
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Augusto Brázio [Brinches (Serpa.PT): 1964]. Estudou na Escola Superior de Belas Artes, Lisboa. Iniciou o seu percurso como fotógrafo no começo dos anos ’90 do séc. XX, trabalhando na imprensa. Paralelamente colaborou com a produtora de musical União Lisboa, onde realizou diversos trabalhos com músicos. Em 1996, começou a colaborar na revista DNA, do Diário de Notícias, onde, até 2006, assinou inúmeros trabalhos na área do documental e do retrato. Em 2004, foi convidado a integrar o coletivo de fotógrafos Kameraphoto, onde desenvolveu diversos projetos, pessoais e coletivos. Colabora regularmente com diversas publicações internacionais. Foi, em 2008, prémio de fotojornalismo Visão / BES.Nos últimos anos, focou-se em projetos pessoais, onde reflete sobre questões de imigração, pertença e ocupação do território. Os seus trabalhos estão representados em várias coleções públicas.
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Luísa Ferreira Fotógrafa independente, vive e trabalha em Lisboa. É mestre em Design e Cultura Visual – Estudos de Fotografia, pela Escola Superior de Design (IADE), escola onde é também professora. Começou a fotografar profissionalmente em meados dos anos 1980. Enquanto fotógrafa profissional, integrou a equipa de fotojornalistas fundadores do jornal Público e trabalhou para a agência de notícias norte americana Associated Press. Expõe individualmente com regularidade desde 1989, desenvolvendo projetos pessoais que incluem muitas vezes a edição de livros. Integrou a exposição Au Féminin. Women Photographing Women 1849-2009, no Centro Cultural Calouste Gulbenkian, Paris, 2009. Expôs nos Encontros de Imagem de Braga nos anos 1994, 1995 e 1996 e nos Encontros de Fotografia de Coimbra em 1994. Foi Primeira Escolha nos Recorridos Fotográficos da ARCO98 (Madrid) com Éter. Na Galeria Monumental, expôs, em 2018, o projeto Branco – um trabalho desenvolvido a partir do auto-retrato para construir a noção de ficção identitária, que incluiu a edição de um catálogo/livro de artista com o mesmo título.
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Pedro Letria é um artista português nascido em Lisboa em 1965 cujo trabalho reflete questões levantadas pela deslocação geográfica e cultural e o sentido de pertença ou alienação identitário. O seu uso de fotografia e texto são uma reflexão de como a imagem e a linguagem funcionam sozinhos ou como quando combinados estabelecem um discurso alternativo. Espelhando o seu próprio percurso multicultural, as suas fotografias têm sido amplamente divulgadas e publicadas e Pedro Letria é autor de 6 monografias, incluindo Mármore, editado pela Assírio e Alvim, de 2007 e The Club, editado pela Pierre von Kleist, de 2014. O seu trabalho tem sido exposto em locais como o centro Cultural de Belém, Fundació Foto Colectanea, em Barcelona, Parc de la Villette, Paris, Galeria Olido, São Paulo e a Kunstlerhaus Bethanien, Berlim. Fotografias e livros seus fazem parte de coleções públicas e privadas, como o Centro Português de Fotografia, Centro de Artes Visuais, Coimbra, a coleção BES Art, John M. Flaxman Library, Special Collections, School of the Art Institute of Chicago, EUA e a Special Collections Fleet Library, Providence, EUA. Com um B.F.A. do The School of the Art Institute of Chicago, E.U.A., Pedro Letria foi bolseiro Fulbright e Gulbenkian e tem um M.F.A. da Rhode Island School of Design, E.U.A.. Ensina na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha desde 2000.
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São Trindade Licenciou-se em pintura pela FBAUL. Tem mostrado individualmente o seu trabalho e participado em várias exposições coletivas. Está representada em coleções institucionais e privadas. Publicações: “Bad Liver and a Broken Heart”, Ghost Editions, Lisboa, 2012. Vive e trabalha em Lisboa.
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Cortesia IMAGO LISBOA Photo Festival
Atualizado em 05.11.2019 com a visita à exposição.
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No Fascínio da Fotografia, sobre o IMAGO LISBOA Photo Festival e a exposição Retrospectiva de Pentti Sammallahti, aqui; Novas Visões na Fotografia Contemporânea, a escolha de 4 comissários: Alejandro Castellote, aqui, Nathalie Herschdorfer, aqui, Peggy Sue Amison, aqui e Rui Prata aqui.
Mais informação aqui.
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