PAULO NOZOLINO, PAULO NOZOLINO. PH.02, 2018
[Dia 1 de setembro completam-se 80 anos (1939 – 2019) do início da II Guerra Mundial]
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Paulo Nozolino
Paulo Nozolino. Ph.02
Fotografia: Paulo Nozolino / Texto: Sérgio Mah, Rui Nunes / Coordenação: Cláudio Garrudo / Design: Paulo Condez/Ateliê NADA
Lisboa: Imprensa Nacional / 1.ª ed., Maio . 2018; 2.ª ed., Outubro . 2018
Coleção Ph., n.º 02
Português e inglês / 17,1 x 23,9 cm / 136 págs.
Brochura / 1.ª ed., 1.000 ex.; 2.ª ed., 1.000 ex.
ISBN: 9789722726696
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A fotografia é a minha maneira de lutar contra a desmemória, a minha maneira de estar vivo e a única coisa que tenho para dar.”
Paulo Nozolino
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C’est que je ne connaissais pas encore les hommes. Je ne croisrai plus jamais à ce qu’ils disent, à ce qu’ils pensent. C’est des hommes et d’eux seulement qu’il faut avoir peur, toujours.”
Céline
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Paulo Nozolino é o segundo Fotógrafo apresentado nesta coleção Ph. (Photographia), dirigida por Cláudio Garrudo e editada pela Imprensa Nacional.
Iniciando o seu trabalho nos anos 1970, ao longo de múltiplas viagens e estadas pela Europa, Médio Oriente, Américas e África, Nozolino vê o que mais ninguém vê e de um modo único: a sobrevivência, a Europa e o mundo que sobrevive ao homem.
Permito-me transcrever da entrevista a Ana Sousa Dias, “A fotografia é a minha prova de vida: estive aqui, vi isto, senti isto”, publicada no Diário de Notícias de 19 de maio de 2018:
Eu gosto de ir [fotografar] depois [da guerra], quando as feridas estão a sarar, quando começa outro tipo de problemas. É tudo subsistência, é tudo sobreviver. Não nos podemos dar ao luxo de viver, temos de sobreviver.
Mas sobreviver é um gesto de recomeço, não é um gesto de desespero.
Quem sobreviveu aos campos de concentração teve de sobreviver.
(…)
Muitos vieram a morrer de uma maneira estúpida, mas sobreviveram aos campos, (…) Dou o exemplo dos campos porque foi a situação extrema do século passado e é para mim uma grande referência. De alguma maneira, tudo aquilo que vivo, tudo aquilo que vejo as pessoas fazerem e dizerem comparo sempre com o que estaria a acontecer se isto fosse um campo. Constantemente estou a fazer isso na minha cabeça. (…) É importante haver um padrão e para mim o padrão foram os campos e o pós-campos.”
Nozolino acrescenta:
Fui ver um campo, fui ver Auschwitz-Birkenau. Mudou a minha vida. Nesse dia tornei-me um homem.
(…)
É uma visão de tal maneira terrível que tudo o resto parece irrelevante. Mesmo uma guerra normal parece irrelevante, parece menos… um sítio de indústria da morte.
(…)
Fui a Auschwitz por uma razão muito precisa, em 1994. (…) Um grande amigo meu disse-me: não te esqueças de ir àquele sítio, porque se não nunca hás de compreender a Europa. A chave da Europa está ali, está ali a ferida que nunca vai permitir que a Europa cresça de forma saudável. Estava perto e resolvi ir. Efetivamente, deu para compreender muitas coisas. É difícil falar sobre Auschwitz.”
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Este livro percorre mais de 45 anos de atividade, de vida, de sobrevivência. São gritos estas imagens. Dolorosas. Extremamente dolorosas. Como o são, regra geral, as fotografias de Nozolino.
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Para a seleção de fotografias para este livro, que Paulo Nozolino considera um “greatest hits”, refere:
Pedi ao Sérgio Mah para fazer isso comigo, porque o conheço relativamente bem. É a primeira vez que deixo que alguém entre aqui e escolha comigo. Normalmente sou eu que decido tudo. Mas como este não é um livro para mim, é o primeiro livro que faço para os outros, para um público abstrato – alunos de fotografia, pessoas que se interessam por fotografia – achei que podia haver um outro olhar. E foi uma experiência fantástica.”
Partiram de “uma seleção larga, umas 400 imagens, e em quatro longas sessões escolhemos e fizemos a maquete do livro, a sequência.” É o seu livro que mais fotografias tem: mais de 100. A primeira que tirou, da “Acrópole de Atenas”, de 1972 (pág. 16), “tirada com uma máquina de plástico do meu pai, uma Kodak Instamatic”, descoberta há pouco tempo, graças a uma anotação da sua mãe, no verso.
Nozolino aceitou fazer parte desta coleção por um dever cívico e “um dever didático, dado que finalmente há uma coleção dedicada só à fotografia e vendida a um preço módico: 19 euros.”
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No lançamento, em 8 de maio de 2018, no salão da Biblioteca da Imprensa Nacional, Paulo Nozolino diria:
Viajei muito, ironicamente, com passaportes provenientes desta casa. Tive a sorte de ter podido construir a minha obra com tempo. De ter visitado lugares intactos, ainda não destruídos por hordas de turistas selvagens que graças às companhias low cost agora circulam pelo mundo. Foi um privilégio tocar nas colunas da Acrópole e nas pedras das Pirâmides de Gizé. Foi uma dádiva ter estado um dia inteiro em Auschwitz sem ver ninguém, ou caminhar livremente pelas areias do Wadi Rum. Parece que estou a falar de um tempo antigo, mas não. Foi só há 20 anos. As minhas fotografias são o testemunho disso. Das viagens que fiz, dos sítios que visitei, das pessoas que conheci. Toquei, vi e fotografei o sagrado. Continuo a fazê-lo. (…)
A fotografia é agora um lugar comum, uma prática chinesamente democrática graças ao telemóvel. A voracidade de fazer imagens e de as disseminar criou um novo problema. A mediocridade e a banalização de tudo o que nos rodeia. Niepce ficaria estupefacto, se fosse vivo. O que demorou quase dois séculos a ser consolidado, foi destruído em apenas dez anos. (…)
Quando voltei de Londres, em 1978, a fotografia era inexistente em Portugal, com exceção de um ou dois notórios fotógrafos de domingo. Foram precisos muitos anos, outros tantos de exílio em Paris, para conseguir impor a fotografia. Não estive só nessa luta.”
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Paulo Nozolino, Paulo Nozolino. Ph.02, 2018
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O livro “Paulo Nozolino. Ph02” foi apresentado na Imprensa Nacional, em Lisboa, em 8 de maio de 2018.
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António Bracons, Paulo Nozolino, Cláudio Garrudo, Sérgio Mah, Rui Nunes. Lisboa, 08.05.2018
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Pode ler na íntegra a entrevista de Ana Sousa Dias a Paulo Nozolino, publicada no Diário de Notícias de 19 de maio de 2018, aqui.
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