FRANCISCO MALTA ROMEIRAS, OS JESUÍTAS EM PORTUGAL DEPOIS DE POMBAL, 2018

463.º aniversário da morte Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus (Loyola, Espanha, 23.10.1491 – Roma, Itália, 31.07.1556)

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Os Jesuítas em Portugal depois de Pombal. História ilustrada

Fotografia: Arquivo da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, Arquivo do Colégio de S. João de Brito, Arquivo da revista Brotéria / Org. Francisco Malta Romeiras / Texto: Francisco Malta Romeiras, Pe. José Frazão Correia, sj

Parede: Lucerna / Outubro . 2018

Português / 23,0 x 28,0 cm / 160 págs.

Brochura

ISBN: 9789898809575

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Este livro é um exemplo da importância dos arquivos de fotografia, enquanto registo e memória histórica, nomeadamente da ação e da importância de uma entidade ou firma ou instituição, no caso, de uma ordem religiosa, a Companhia de Jesus (Província Portuguesa), de um Colégio e de uma revista – Brotéria. Os arquivos de fotografia são, portanto, também, testemunho e complemento da história do país, e quantas vezes, de uma memória coletiva!

Como por vezes acontece com alguns arquivos, sobretudo mais antigos, não há registo dos autores das imagens – poderá haver nalgumas fotografias, nomeadamente se são de uma encomenda a uma casa comercial, e essa identificação – sobretudo como publicidade – poderá estar no cartão base ou num carimbo no verso. Tantas vezes, são de autores ‘anónimos’: algum padre, funcionário da instituição ou participante de algum evento, pais de alunos, etc., que tiraram as fotografias para a instituição, ou, na ocasião as cederam à instituição, não se registando no objeto a sua origem, ou perdendo-se um eventual documento ou a memória de ‘quem foi’.

Pesquisando naqueles arquivos e na sua coleção pessoal, Francisco Malta Romeiras apresenta uma história fotográfica dos Jesuítas em Portugal, desde o último terço do séc. XIX: foi em “21 de junho de 1858, o padre Carlos Rademaker, S.J. (1828-1885) inaugurou o Colégio da Santíssima Imaculada de Campolide, o futuro berço da restauração da Companhia de Jesus em Portugal (…) os Jesuítas foram oficialmente restaurados em Portugal, primeiro como uma missão da província espanhola (1858- 1879) e depois como uma província independente (1880-1910)”, escreve o autor.

É na “Introdução” que o autor apresenta uma breve história da Companhia de Jesus em Portugal, e regista também uma “Breve cronologia dos Jesuítas em Portugal depois de Pombal” e nos diversos capítulos mostra: “O Colégio de Campolide”, “O Colégio de São Fiel e a revista Brotéria”,  “Os estudos na Companhia de Jesus antes da República”, “A expulsão republicana”, “O Instituto Nun’Alvares” [Caldinhas, Santo Tirso], “O Colégio da Imaculada Conceição” [Cernache, Coimbra], “O Colégio de São João de Brito” [Lisboa], “Os estudos na Companhia de Jesus depois da República” [onde se inclui a pastoral universitária: CUMN em Coimbra, CUPAV em Lisboa, CAB em Braga e CREU no Porto] e “O ensino superior”.

Esta obra ilustra «a vasta folha de serviços dos Jesuítas à Igreja e à ciência na seara da educação» (Margarida Miranda, Universidade de Coimbra), «Um livro em que as imagens nos falam, com grande eloquência, das escolas da Companhia de Jesus em Portugal a partir de meados do século XIX. E falam-nos para nos dizer que as humanidades e as ciências, a formação religiosa, as artes e o desporto constituem a base de uma formação verdadeiramente integral.”, nas palavras do P. Nuno da Silva Gonçalves, sj, reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma).

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A abrir, com o título “Inícios, perdas e recomeços: álbum de uma história aberta”, o provincial da Companhia de Jesus, Pe. José Frazão Correia, sj, escreve:

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Tem entre mãos um álbum fotográfico de inícios, perdas e recomeços. Comovente e inspirador, ao mesmo tempo. Aqui se faz memória ilustrada e comentada de tantos rostos, lugares concretos e momentos particulares que foram tecendo a história mais recente da Companhia de Jesus em Portugal. Sem dúvida, uma história aberta, feita de itinerância. (…)

Recordando à Companhia a sua própria história, (…) o autor quis associar-se à comemoração dos 160 anos da restauração da Companhia de Jesus em Portugal, depois de ter sido expulsa do País em 1759 e suprimida como ordem religiosa em 1773, desde a fundação do Colégio de Campolide, em 1858, até aos nossos dias. Apesar de a restauração da Companhia ter sido oficialmente proclamada pelo Papa Pio VII em 1814, a ordem só foi efetivamente restaurada em Portugal mais de 40 anos depois, em 1858. Num período em que as motivações para a expulsão dos Jesuítas e os feitos do Marquês de Pombal eram recuperados na imprensa e nos debates parlamentares, mostra-se como a Companhia de Jesus procurou, em primeiro lugar, rebater as acusações de obscurantismo, promovendo a educação e a prática das ciências, concretamente através dos colégios de Campolide (1858-1910) e de São Fiel (1863-1910). A vontade de recomeçar é evidenciada com a fundação de novos colégios no exílio, depois de 1910, período durante o qual se manteve a publicação da revista Brotéria (1902). Depois do regresso a Portugal em 1932, fundaram-se novos colégios em Santo Tirso (1932), Lisboa (1948) e Cernache (1955), e pôs-se grande empenho na criação de uma Faculdade de Filosofia, que viria a acontecer em Braga, em 1957.

De começo em começo, adaptando-se às particularidades dos tempos e dos lugares, com um misto de desprendimento para deixar e de coragem para recomeçar, virtudes que, hoje, nos tocam e desinstalam, os jesuítas portugueses foram escrevendo novos capítulos de uma história mais antiga, começada em meados no século XVI, de dedicação ao ensino religioso, humanístico, filosófico, artístico e científico. (…)

Faz-nos bem voltar aqui. Digo-o enquanto jesuíta e responsável atual pela Companhia de Jesus em Portugal. As feridas que se expõem não geram ressentimento ou queixume. Há tempo para receber e há tempo para deixar, com a mesma liberdade. Geram, sim, admiração comovida e maior desejo de avançar. Quanto desprendimento para deixar encontramos nestes companheiros que nos precederam! Quanta resiliência e coragem para recomeçar, quase sempre a partir do zero, do ponto de vista material, mas, sobretudo, a partir da liberdade e da criatividade que nascem do Evangelho e do vasto património imaterial adquirido com a experiência, muito concretamente no campo da educação e do ensino! No momento das expulsões, este tesouro espiritual não carregou a pouca bagagem que os Jesuítas puderam levar consigo, mas foi levado na mente e no coração, apto para iniciar e sustentar outros processos, noutros lugares. Nestas páginas, vemos, pois, derrocadas que foram estaleiro para novas primeiras pedras. Por isso, faz-nos bem exercitar a memória. Por ela, o nosso presente dá lugar àquela promessa que não cessa de nos chegar do passado e nos compromete com o futuro. Na verdade, é capaz de esperança quem seja capaz de memória, já que a esperança é a renovação de uma promessa que não cessa de prometer. É a memória curada e grata que gera esperança e desejo de futuro.

Como no passado, o tempo que vivemos traz enormes desafios à nossa missão educativa, desde o fim dos contratos de associação com escolas privadas, decidido abrupta e unilateralmente pelo Estado, deixando-as profundamente feridas, até ao impacto das mudanças antropológicas e da inteligência artificial no ensino, passando pela crise do modelo tradicional de escola. São desafios que tocam diretamente o propósito da educação jesuítica tanto de promover a competência científica (litterae), como de favorecer a transformação humana e espiritual dos educandos (virtus). Exigem atenção, discernimento, coragem, decisão. Para isso, inspirados e encorajados por aqueles que nos precederam, cabe-nos aceitar deixar o que seja preciso deixar, como condição para alcançar o que precisamos de alcançar. Sempre para a maior glória de Deus e o bem de todos.”

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Esta obra faz o registo sistemático dos espaços, alguns em fase de construção, mas também aquando da inauguração, das pessoas envolvidas, nomeadamente dos padres da Companhia de Jesus, regra geral, identificados, de algumas atividades e eventos. A referir que seria bom ter a identificação dos autores das fotografias (sejam fotógrafos profissionais, amadores ou apenas ‘curiosos’) sempre que tal fosse possível; uma impressão de melhor qualidade, destacando os pretos intensos e explorando a gama de cinzentos, tornaria este bom livro de grande interesse num excelente álbum fotográfico.

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Francisco Malta Romeiras, Os Jesuítas em Portugal depois de Pombal, 2018

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Francisco Malta Romeiras (Lisboa, 1986) é licenciado em Bioquímica, mestre em Bioquímica Médica e doutorado em História e Filosofia das Ciências pela Universidade de Lisboa. É membro do Centro Interuniversitário de História das Ciências e Tecnologia (CIUCHT-UL) desde 2011. Em 2017 foi Senior Research Fellow no Institute for Advanced Jesuit Studies (Boston College). Os seus principais interesses de investigação incluem a história da popularização científica, a história das atividades científicas dos jesuítas em Portugal (sécs. XVIII, XIX e XX), e a história das relações entre ciência e religião (sécs. XVI-XX). Membro do conselho editorial da revista Brotéria desde Janeiro de 2013, coordenou com Henrique Leitão a edição da Obra Selecta do Padre Luís Archer S.J., 4 vols. (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2015–2017). Em 2015, o seu livro Ciência, Prestígio e Devoção: Os Jesuítas e a Ciência em Portugal (séculos XIX e XX) (Cascais: Lucerna, 2015), foi distinguido com uma Menção Honrosa na 24ª Edição do Prémio Victor de Sá de História Contemporânea. É membro de diversas sociedades científicas internacionais incluindo a Renaissance Society of America e a History of Science Society.

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