CARLOS RELVAS, UM HOMEM TEM DUAS SOMBRAS. PAISAGENS, (AUTO)RETRATOS, OBJECTOS E ANIMAIS, 2014
Dos 180 anos do nascimento aos 125 da morte de Carlos Relvas (Golegã, 13 de novembro de 1838 – Golegã, 23 de janeiro de 1894)
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Carlos Relvas
Um Homem tem Duas Sombras. Paisagens, (auto)retratos, objectos e animais. A man has two shadows. Landscapes, (self)portraits, objects and animals.
Fotografia: Carlos Relvas / Texto: Nuno Faria, Luís Pavão
Lisboa: Documenta / Julho . 2014
Português e inglês / 15,6 x 23,6 cm / 264 págs.
Brochura / 500 ex.
ISBN: 9789898474247
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Um homem tem duas sombras: uma do Anjo da Guarda e outra do Demónio. Moram as duas na mesma alma e ambas saem de lá, mas sempre separadas. Um homem nunca consegue adivinhar qual é a sombra que o vai seguir em cada minuto da sua vida. As estrelas são um mistério, o homem é outro mistério. ..”. E depois ficava com os olhos arregalados, a seguir, talvez, certos sinais ou sombras imaginárias, que só ele via na transparência das pessoas e das coisas.”
Alves Redol, Barranco de Cegos, 1961
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Este livro é o catálogo publicado por ocasião da exposição «Um homem tem duas sombras», que teve lugar de 26 de Abril a 8 de Junho de 2014, na Plataforma das Artes e da Criatividade / Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães, produzida pelo CIAJG em parceria com a Casa-Estúdio Carlos Relvas.
O catálogo, tal como a exposição, mostra a obra de Relvas através dos negativos integrais, sejam estereoscópicos ou não, desvendando o método de trabalho, o qual era o comum na época: recorrendo a fundos (cenários), por outro lado, as câmaras de grande dimensão e consequente peso não eram facilmente deslocáveis, pelo que se mantinham em posições relativamente fixas e estáveis, reenquadrando-se posteriormente a imagem na ampliação.
A obra reproduz um conjunto significativo de fotografias de Carlos Relvas, incluindo bastantes imagens estereoscópicas, apresentando diversas facetas do seu trabalho, tal como o título indica, bem como diversas páginas de livros da sua biblioteca, tratados de fotografia, que apresentam, entre outras, questões técnicas de ótica e da construção de um estúdio. O livro aproveita o formato para conjugar as imagens esteroscópicas, e os livros abertos, as imagens ou as páginas unidas pela costura do livro.
Esta obra integra ainda dois ensaios: Nuno Faria, diretor artístico do CIAJG, escreve sobre “Carlos Relvas, um homem tem duas sombras – Tópicos, notas e ideias para a (re)constituição de uma obra” e Luís Pavão sobre “Carlos Relvas e o seu estúdio”.
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Escreve Nuno Faria, comissário da exposição:
A exposição aborda o trabalho em fotografia de Carlos Relvas [1838-1894], procurando mostrar a singularidade de uma obra que, na segunda metade do século XIX, surgiu como um clarão no contexto da eclosão da fotografia em Portugal e na Europa. Mostra e publicação procuram dar a ver o universo autoral de Carlos Relvas à luz da contemporaneidade onde, apesar da paralaxe temporal, pertence por vocação. Constitui-se seguramente como um dos mais fascinantes e obscuros casos de estudo do panorama artístico em Portugal e pertence por direito ao campo das excepções.
Nascido na Golegã em 1838, o autor aí desenvolve a sua actividade criativa entre 1862 e a sua morte, em 1894. Durante esse período concebeu e acompanhou a construção de dois estúdios – o segundo pontifica, ainda, como um dos mais notáveis exemplos arquitectónicos de estúdio fotográfico – e desenvolveu uma prática singular no campo da fotografia, pautada pelo desenvolvimento de inúmeros procedimentos técnicos e por uma sistemática e obsessiva busca em torno das possibilidades da imagem.
A obra de Carlos Relvas incorpora uma dupla descoberta: da própria fotografia e do mundo – duas realidades simultaneamente íntimas e estranhas uma à outra. Assim, podemos dizer que Carlos Relvas explora, como dois vasos comunicantes, a imagem da realidade e a realidade da imagem: utiliza a câmara para captar vistas do entorno, essa realidade sempre transitória e impermanente, aprende e desenvolve processos técnicos que lhe permitem fixar e revelar essas imagens. Mas, mais importante ainda, define e constrói a sua perspectiva sobre aquilo que o rodeia, constituindo-se, a partir daí, como indivíduo no mundo – a fotografia é uma forma de filosofia, de procura de conhecimento.”
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Carlos Relvas, Um Homem tem Duas Sombras. Paisagens, (auto)retratos, objectos e animais. A man has two shadows. Landscapes, (self)portraits, objects and animals, 2014
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Pode ler sobre a vida de Carlos Relvas no ensaio de José Soudo, “Lisboa está de novo em festa, 136 anos depois…”, aqui e aqui.
Pode conhecer melhor a obra de Carlos Relvas no Fascínio da Fotografia, aqui.
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