“LISBOA ESTÁ DE NOVO EM FESTA, 136 ANOS DEPOIS…” – PARTE 2, POR JOSÉ SOUDO

Por ocasião dos 180 anos do nascimento de Carlos Augusto de Mascarenhas Relvas de Campos, mais conhecido como Carlos Relvas (Golegã, 13 de novembro de 1838 – Golegã, 23 de janeiro de 1894)

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Quanto à reflexão sobre as pontas dos véus que mencionei na 1.ª parte deste texto (aqui), julgo que as mesmas podem ser encontradas por quem teve paciência para ler o que aí escrevi, cruzando com o que passo agora a descrever, nesta fita do tempo de acontecimentos.

Uns são excelentes e outros são péssimos, como se constatará.

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No ano de 2015, Olga Ramos, ao fazer a apresentação do seu filme-documentário “Amateur”, afirmou:

…Carlos Relvas foi um homem de cultura e um inovador, importantíssimo no seu tempo (séc. XIX). Deixou-nos um impressionante legado, de mais de 12000 fotografias. A maioria delas, foram cuidadosamente restauradas, ao longo dos últimos anos (LUPA-Luís Pavão, Lda.), as quais não são ainda do conhecimento público.

Deixou-nos também a Casa-Estúdio na Golegã, estrutura considerada e reconhecida como única, elemento chave, com uma importância muito própria para se entender a História da Fotografia, tanto de Portugal como do Mundo.

Esta casa foi magnificamente restaurada entre 2001 e 2003, pelo Arquitecto Victor Mestre e a equipa do seu atelier, mas… no entanto Carlos Relvas, o seu estúdio e as suas fotografias, são praticamente desconhecidos, quer em Portugal, quer no Mundo…”

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9-Cartaz de divulgação do filme “Amateur” - 2015

Cartaz de divulgação do filme “Amateur”, 2015

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Este filme documentário, com ante-estreia no dia 23/09/2015, na sala M. Félix Ribeiro da Cinemateca Portuguesa, contou com intervenções e testemunhos de Alexandra Encarnação, Emília Tavares, Filipe Alves, France Scully Osterman, José Luís Neto, Luís Pavão, Margarida Medeiros, Maria do Carmo Séren, Mark Osterman, Rute Magalhães, Sérgio Mah, entre muitos outros participantes.

Teve a direcção de Olga Ramos, a producão de Pedro Canavilhas, a direcção de produção de Sebastião Albuquerque, a direcção de fotografia de Ricardo Rezende, a edição final de Olga Ramos e Ricardo Rezende. O story board, foi de Olga Ramos e outros colaboradores – pode ver aqui.

Actualmente é possível de ser visto na memória histórica da RTP2, depois de ter estado em sala de cinema.

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Em 1899, cinco anos depois da sua morte, na “I Exposição Nacional de Photographias de Amadores”, que aconteceu no dia 31 de Dezembro, no Salão Portugal da Sociedade de Geografia, presidida então pelo Conde de Thomar e com o apadrinhamento do Rei D. Carlos (1863/1908), foram apresentados trabalhos de 52 participantes e em lugar de honra foram colocadas algumas das fotografias de Carlos Relvas.

Na notícia do jornal “O Século” de 14 de Janeiro de 1900, refere-se que

além do casal real, D. Maria Pia e D. Carlos, fóra do concurso mas com medalha de ouro, a exposição pretendia fazer uma homenagem affectiva a Carlos Relvas, falecido em 1894 e cujo espólio fotográfico tinha sido vendido, em grande parte, em 1897, no mesmo ano em que se tinham inaugurado as sumptuosas instalações da Sociedade de Geographia…”

Depois desta evocação, a obra de Carlos Relvas começou a cair lentamente no esquecimento.

O silêncio recaiu também sobre o seu estúdio, o seu trabalho e o que restava do seu arquivo, ainda guardados na Golegã.

Desde então, a figura de Carlos Relvas permaneceu sob mitos e penumbras, levando a que hoje seja por vezes difícil estabelecer fronteiras com a realidade.

Este silêncio sepulcral, manteve-se mais ou menos até cerca de 1975, sendo de ressalvar no entanto, que Augusto da Silva Carvalho (Tavira,1861/1957), publicou em 1940, no Boletim da Academia das Ciências, a propósito do “Centenário da Fotografia”, o texto intitulado “Subsídios para a História da Introdução da Fotografia em Portugal”, com algumas referências sobre o trabalho do Amateur Carlos Relvas. Depois e até 1975, ao que parece, não volta a haver mais nenhuma reflexão ou referências ou menções sobre ele e a sua obra.

Em 1975, acompanhado pelo Historiador e Jornalista, Carlos Ferrão (1898/1979), o Professor Doutor António Pedro Vicente (n. 1938) visita a Casa-Estúdio pela primeira vez e a partir daí, inicia um profundo trabalho de sensibilização das autoridades portuguesas, para que se entenda a importância da mesma, assim como de todo o espólio fotográfico, aí existente.

Em 1978, Dona Amália da Câmara Pina, filha de Dona Mariana Correia, a segunda esposa, oferece à Câmara Municipal da Golegã, a Casa-Estúdio e todo o espólio aí existente.

Em 1981, Melancia Godinho, então Presidente da Câmara Municipal da Golegã, solicita auxílio à Fundação Calouste Gulbenkian para a avaliação do estado em que se encontram as cerca de 12000 fotografias aí guardadas em cerca de 300 caixas.

A resposta a esta solicitação será dada no ano seguinte, em 1982, pelo IPPC, não sem antes em 1981, se ter feito uma pequena Exposição retrospectiva do trabalho de Carlos Relvas, na Golegã, organizada pela CMG, MC e IPPC.

Em 1981/82, o IPPC nomeia José Luís Madeira, como colaborador da 1ª Comissão instituída para se atribuir estatuto à Casa-Estúdio.

António Pedro Vicente, Doutorado pela Universidade de Paris-Nanterre, Professor Catedrático de História na Universidade Nova de Lisboa, Embaixador de Portugal, Especialista nas Invasões Napoleónicas, Investigador e Especialista acerca dos antecedentes históricos que levaram à instauração da República em Portugal, foi a personalidade de referência desta Comissão, em virtude de todo o trabalho de prospecção e investigação, feito entre 1975 e 1981.

No ano de 1982, por razões de …quebra de solidariedade institucional…, Pedro Vicente apresenta a sua demissão desta comissão.

Em 1982, Joaquim Vieira, professor na ESBAP, escreve uma carta à Ministra da Cultura – Teresa Patrício Gouveia – a dar manifesto dos enormes problemas relacionados com a conservação do edifício, assim como dos seus conteúdos, fotográficos e patrimoniais.

Em 1984, António Pedro Vicente publica o livro, – “Carlos Relvas – Fotógrafo. Contribuição para a História da Fotografia em Portugal no século XIX” – Edição da INCM.

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António Pedro Vicente, “Carlos Relvas – Fotógrafo. Contribuição para a História da Fotografia em Portugal no século XIX”, Lisboa: INCM, 1984

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Em 1988, Vitória Mesquita e José Pessoa, futuros responsáveis pelo ANF – Arquivo Nacional de Fotografia, estrutura que estava em organização, sob a supervisão do IPPC e que de futuro se instalará no Palácio Nacional da Ajuda, iniciam na Golegã, o futuro inventário, assim como o tratamento da Colecção de Fotografias, na sala da Biblioteca, anexa ao “Museu de Fotografia Carlos Relvas”, o qual tinha aberto em 1981.

Em 1989, a 19 de Agosto, durante as celebrações oficiais dos 150 anos da Fotografia, Teresa Patrício Gouveia (MC) Informa que atribuiu a classificação de “…imóvel de interesse público…”, à Casa Estúdio. Isto só acontecerá verdadeiramente em 1996.

Neste mesmo ano é apresentada uma exposição com trabalhos de Carlos Relvas nos “10.º Encontros de Fotografia de Coimbra”.

Os originais provêem da colecção particular de António Pedro Vicente e é feita a edição de um pequeno catálogo.

Em 1993, a 19 de Junho, Manuel Fernandes Vicente, escreve um artigo no jornal Público, com o título: “Queda iminente das alas, fungos e bolores no espólio – Museu de fotografia Carlos Relvas, na Golegã, aguarda intervenção”.

Em 1995, é assinado um Protocolo entre o Presidente da CMG e a Directora do IPPC, Drª Simoneta Luz Afonso, para que todo o Arquivo de Carlos Relvas, transite para o ANF – Arquivo Nacional de Fotografia, por um período de 10 anos, para aí ser feito o respectivo inventário, tratamento e preservação, algo que se arrastava há quase uma década sem execução efectiva.

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Como se constata, de 1981 a 1996, houve muitas reacções públicas, assim como diversos artigos de opinião, na imprensa, feitos por jornalistas, críticos de arte, pessoas da cultura, da política, professores universitários, etc, nomeadamente por Alexandre Pomar, Joaquim Vieira, Rui Cabral, António Henriques, Manuel Fernandes Vicente, Jorge Sampaio, entre muitas outras personalidades. Formas diversas de se chamar a atenção das autoridades, para o manifesto e rápido estado de degradação da Casa-Estúdio, que faziam antever um possível e eminente colapso.

O link de Alexandre Pomar sobre o assunto é bastante elucidativo e esclarecedor [pode ver aqui].

Em 1994, a 9 de Janeiro, António Barreto, ex-Ministro da Agricultura e ex-Ministro da Educação, escreveu o seguinte artigo de opinião, no jornal “Público”:

…A Casa-Museu Carlos Relvas é uma jóia.

Um dos raros casos no mundo, de casa estúdio e laboratório, especialmente construído para esse fim (…)

A Casa-Museu está em risco de desaparecer e de se transformar em casa ruína.

O problema é simples: não custa milhões, não dá nas vistas, não atrai multidões, não dá para espectáculos, não promete “soirées” de “smoking”, não promove o Governo, não favorece os negócios, não facilita a especulação fundiária…

Tudo defeitos…”

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Em 1995, Carlos Gil, entretanto falecido, juntamente com Luís Pavão, José Soudo e outros, promovem uma manifestação pública na Golegã, para alertar as autoridades responsáveis, sobre “…o avançado estado de degradação da Casa-Estúdio Carlos Relvas…“, tendo este acontecimento sido divulgado no canal 4, actual TVI, pela jornalista Dora Rodrigues.

Na sequência desta manifestação, foi enviado um abaixo-assinado para as seguintes entidades do Estado Português: Presidente da República, Presidente do Parlamento, Primeiro-Ministro, Ministro da Cultura, Líderes dos Grupos Parlamentares, Procurador-Geral da República.

Em consequência deste abaixo-assinado, a PGR abriu um processo judicial.

Em 1995, as 300 caixas que continham as cerca de 12000 fotografias de Carlos Relvas, pertença da Câmara Municipal da Golegã, depois da doação de 1978, que se encontravam guardadas na Casa-Estúdio em muito más condições de arquivo e armazenamento, foram efectivamente enviadas para o ANF – Arquivo Nacional de Fotografia, no Palácio da Ajuda.

Aí ficaram, de 1995 a 2009, sob a tutela dos responsáveis do ANF.

Em 1996 – A Casa-Estúdio foi finalmente classificada pelo IPPAR, como “…Imóvel de interesse Público…”, através de nova homologação despachada pelo então Ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho, que assina novo protocolo para o “…efectivo restauro do Estúdio e para a elaboração de um profundo inventário dos bens ainda existentes…”.

Tal como já referido atrás, repito que em 1996, depois do processo judicial aberto pela PGR, o IPPAR nomeou “Comissão de estudo para encontrar as soluções de restauro da Casa-Estúdio Carlos Relvas”.

Luís Pavão presidiu a esta Comissão, onde também estavam Tereza Siza, Vitória Mesquita e José Soudo.

Em 1996, esta comissão assina e envia Relatório ao Director do IPPAR, Dr. Luís Calado, com proposta de restauro da Casa-Estúdio, como tinha sido inicialmente concebida em 1871, por Carlos Relvas, antes de este ter feito a readaptação da Casa, o que coincidiu com o período do seu casamento com Dona Mariana Correia.

Luís Pavão, anexou a este relatório, a opinião de “diferentes personalidades de reconhecido mérito na área da Cultura em Portugal”.

No ano de 2001, o IPPAR decidiu pela opção:

…restauro da Casa-Estúdio, segundo a concepção e traça original (1871) …”

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De 2001 a 2003, há um magnífico trabalho de restauro e de requalificação, feito pelos arquitectos Victor Mestre e Sofia Aleixo.

Em 2003, no MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, aconteceu a exposição “Carlos Relvas e a sua casa da fotografia”.

Em 2007, Isabel Pires de Lima, Ministra da Cultura, inaugura a “nova” e restaurada Casa-Estúdio Carlos Relvas.

Em Junho de 2008, ano anterior ao regresso do Arquivo Fotográfico de Carlos Relvas à Golegã, algo que irá acontecer em 2009, depois de aí terem sido criadas as condições logísticas de arquivo, foi explicado ao Professor Doutor António Pedro Vicente, o profundo trabalho que entretanto tinha sido feito, durante uma visita que intermediei à Golegã, para que ele pudesse verificar o milagre feito.

Nessa visita e falando com Veiga Maltez, então Presidente da CM da Golegã, Pedro Vicente comentou com este, a propósito da visita que aí tinha feito no ano de 1975:

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…parecia que Carlos Relvas tinha acabado de passar na sala ao lado…”

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Como se depreende, em 1975, a casa parecia bem, mas de 1981 a 1996, a Casa-Estúdio, começou a colapsar por diferentes razões e de diferentes modos.

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Presumo que seja possível encontrar-se nesta fita de tempo que enumerei e partilhei com todos vós e que como se depreenderá, está muito incompleta, pois muitas mais coisas aí caberiam, sobre as felicidades e infelicidades de Carlos Relvas, os muitos justificativos e porquês, de na palestra “Carlos Relvas – his studio(s) and archive”, que apresentei em Derby, a 8 de Abril de 2017, por convite dos organizadores do “Symposium – Under the dark cloth – working with photography studio archives”, inserido no “Festival Format17/QUAD”, o qual aconteceu sob o pretexto de comemorarem os 150 anos do estúdio de W. W. Winter, fotógrafo da cidade de Derby, cuja actividade iniciou em 1867, ou seja, cerca de 5 anos mais tarde que Carlos Relvas.

No final desta minha apresentação, perante o público presente no auditório do QUAD, contextualizei os diversos sub-títulos que me pareceram adequados para uma reflexão e leitura mais alargada sobre a sua vida:

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 Carlos Relvas, um homem famoso, mas um eterno desconhecido”.

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Carlos Relvas, na vida e na morte, uma tragédia grega, no séc. XIX”.

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Carlos Relvas, na vida e na morte, um excelente argumento para um filme de Hollywood”.

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Carlos Relvas, um fotógrafo eclético e contemporâneo, do séc. XIX, na Golegã”.

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Carlos Relvas, o homem das “selfies” na casa de vidro da Golegã”.

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Com uma pontinha de vaidade pessoal, acrescentarei que sobre este último sub-título, a Professora Val Williams, Directora do “PARC – Photography and Archive Research Center of University of the Arts of London” e também docente no “LCC – London College of Communication”, a qual tinha a responsabilidade de fazer a leitura e síntese final de todo o Symposium, referenciou de um modo muito especial a intervenção portuguesa, tendo destacado com enorme apreço, a poética, a afectividade e a modernidade que encontrou e sentiu, quando ouviu dizer “…Carlos Relvas, the man of the selfies in the glass house…”.

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Voltando de novo ao segundo período do trabalho de Carlos Relvas, o qual corresponde à fase mais imponente da sua produção fotográfica na Casa de Vidro da Golegã, entre os anos de 1876 e o ano da sua morte em 1894, período este que não está contemplado na actual exposição, irá acontecer algo de muito importante em Lisboa, conforme o que consta nas primeiras páginas, do denominado “Catalogo Ilustrado da Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental Portugueza e Hespanhola”, cujo original está na cota BA-5809-V, da Biblioteca Nacional de Portugal, no qual se refere a nomeação, a 22 de Junho de 1881, por El Rei Dom Luiz I, de uma “…commissão central directora dos trabalhos para a exposição…”.

O nome do fotógrafo Carlos Relvas, surge mencionado entre os muitos nomes de altos dignitários de então, nomeados para esta comissão organizadora, pelo Rei D. Luís I (1838/1889).

Neste mesmo catálogo, é mencionado que a “…Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental Portugueza e Hespanhola, foi celebrada em 1882, sob a protecção de Sua Magestade El-Rei O Senhor D. Luiz I e a presidência de Sua Magestade El-Rei O Senhor D. Fernando II…”

Nesse período, entre 1881 e 1882, Carlos Relvas ofereceu por gentileza, ao seu grande amigo, o Rei D. Luis, todo o trabalho de produção fotográfica, correspondente a esta exposição, assim como a respectiva edição e publicação do luxuoso “Album de Phototypias da Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental em Lisboa – MDCCCLXXXII – por C. Relvas”, cujo prefácio foi escrito pelo historiador Augusto Filipe Simões.

Na sequência de todo este largo trabalho e profunda inventariação da Arte Ornamental existente em Portugal, constitui-se a primeira colecção do que virá a ser o acervo do  Museu Nacional de Belas-Artes e Arqueologia, actualmente designado por Museu Nacional de Arte Antiga, situado no Palácio de Alvor, também conhecido como o Palácio das Janelas Verdes, o qual chegou a ser pertença do Marquês de Pombal.

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10-ALBUM DE PHOTOTYPIAS da Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental em Lisboa

“ALBUM DE PHOTOTYPIAS da Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental em Lisboa – MDCCCLXXXII” por C. Relvas

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No livro publicado em 2006, pelo Município da Golegã, – Carlos Relvas e a sua Casa-Estúdio” – de Paulo Oliveira, é referido que num estúdio fotográfico improvisado no Largo José de Figueiredo, muito próximo do Palácio das Janelas Verdes, Carlos Relvas executou durante cerca de 3 meses, sob altíssimas temperaturas, as cerca de 500 fotografias, que irão dar origem a este álbum de fototipias.

Como incentivo e reconhecimento, durante estes tempos de trabalho árduo, foi visitado amiúde pela Família Real, tendo contado com a ajuda e apoio, de Augusto Fonseca, seu assistente na Golegã e muito esporadicamente de sua filha Margarida Relvas, a “eléve de son pére”.

Para quem se interessar, tudo isto foi detalhadamente investigado, trabalhado e apresentado, por Maria Emília de Oliveira Ferreira, em 2014, na sua tese de doutoramento, defendida na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, posteriormente publicada em livro, sob o título “Antecedentes de um museu – Lisboa em Festa – A Exposição Retrospetiva de Arte Ornamental Portuguesa e Espanhola, 1882”, editado pela Caleidoscópio, em novembro de 2017, com o ISBN: 9789896584894.

Emília Ferreira, actual Directora do MNAC desde 2017, destaca neste seu livro que,

“…já passava das duas da tarde quando D. Luiz e D. Maria Pia, D. Affonso e D. Maria Christina entraram no Palácio Alvor, às Janelas Verdes, em Lisboa, para inaugurarem a Exposição Retrospectiva da Arte Ornamental Portugueza e Hespanhola. A presença dos dois casais reais ilustra a importância do evento, primeiro do género em Portugal e um dos primeiros no mundo a usar luz eléctrica, nesse dia 12 de Janeiro de 1882.

Dois anos depois, em 1884, abriam-se as portas do então Museu Nacional de Belas-Artes e Arqueologia, hoje designado como o Museu Nacional de Arte Antiga, ou Museu das Janelas Verdes…”

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12-Antecedentes de um MUSEU – LISBOA EM FESTA

“Antecedentes de um MUSEU – LISBOA EM FESTA – A exposição retrospetiva da arte ornamental portuguesa e espanhola – 1882” – de Emília Ferreira, Lisboa: Caleidoscópio, 2017

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Há acasos e coincidências felizes.

Com intervenções de vulto por parte de Carlos Relvas, como se comprova, Lisboa esteve em festa em 1882.

Com uma abordagem analítica da obra de Carlos Relvas, relativa a um período anterior a essa data, Lisboa voltou a estar de novo em festa, em 2018.

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Parabéns a todos os que se propuseram e contribuíram, directa e indirectamente para que esta festa fosse possível e se tenha transformado na exposição agora patente no MNAC.

Obrigado.

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Quanto a mim, termino de vez este longo texto, alegando que apenas tive por objectivo, que este apontamento e reflexão sobre Carlos Relvas, sobre o seu legado patrimonial e o seu arquivo, seja mais uma homenagem, modesta sem dúvida, que permita a partilha de mais pistas e contributos, para um debate e conhecimento possivelmente transdisciplinar, sobre a obra deste fidalgo fotógrafo do século XIX, da Golegã, tão desconhecido ainda em pleno século XXI.

Por vezes mais desconhecido dentro de portas que no estrangeiro, por mais dramático e irónico que isso possa parecer.

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José Soudo

29 de Outubro de 2018

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José Soudo (Lisboa, 1950)

Curador. Investigador independente em História da Fotografia. Fotógrafo.

Grau de Mestre em Fotografia Aplicada.
Grau de “Especialista em Audiovisuais e Produção dos Media – Fotografia”, obtido em Provas Públicas, perante Júri constituído por representantes de diversos Institutos Politécnicos.

Docente de Fotografia desde 1983 e de História da Fotografia, desde 1986, no Curso de Fotografia do Departamento de Fotografia do Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual – Associação Cultural sem fins lucrativos, reconhecida pelo Governo Portugês como “Instituição de Utilidade Pública”. Coordenador Técnico com funções pedagógicas, do Departamento de Fotografia do Ar.Co, de 1986 a 2016.
Sócio co-fundador, em 1982, da Galeria e do projecto de Animação Cultural, “Ether-Vale tudo menos tirar olhos”. Membro da Comissão de Estudo para a recuperação da Casa-Estúdio Carlos Relvas, na Golegã, por nomeação do IPPAR, em Junho de 1996.

Formador creditado, da Bolsa de Formadores do “Cenjor – Centro Protocolar para Formação de Jornalistas Profissionais”, em acções de formação para jornalistas, nas áreas da Fotografia e do Fotojornalismo, desde 1992.

Docente na Licenciatura do CSF – Curso Superior de Fotografia, da Escola Superior de Tecnologia do IPT – Instituto Politécnico de Tomar, de 2002 até 2016.
Diretor da Licenciatura em Fotografia da ESTT/IPT no ano de 2015. Co-fundador do referido Curso.

Docente da UC Contextual Studies/História da Fotografia, no HND – Higher National Diploma – Etic 2018-2019.

Membro da Comissão Executiva do CEFGA – Centro de Estudos em Fotografia da Golegã, nos anos de 2008 e 2009.

Enquanto fotógrafo, está representado em diversas colecções oficiais e particulares, quer em Portugal quer no estrangeiro e também através de livros e publicações diversas, assim como em trabalhos coletivos com outros artistas visuais.

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Agradeço ao José Soudo a partilha do seu muito conhecimento sobre Carlos Relvas, a sua história e a história da recuperação e reconhecimento da Casa-Estúdio Carlos Relvas.

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A exposição “Carlos Relvas (1838/1894) — Vistas Inéditas de Portugal. A Fotografia nos Salões de Lisboa, Paris e Viena (1868-1874)” no fascínio da Fotografia, aqui e aqui.

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