VER COM OUTROS OLHOS: “UMA PESSOA CEGA TAMBÉM PODE FOTOGRAFAR”

A exposição “Ver com Outros Olhos” está patente na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, de 22 de setembro a 12 de novembro de 2018

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Uma pessoa cega também pode fotografar.”

Igílcia Andrade

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Base: Igílcia Andrade, Uma pessoa cega também pode fotografar, 2016-2018 (detalhe, com cor)

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A exposição “Ver com Outros Olhos”, que se apresenta na Fundação Calouste Gulbenkian vem questionar – e demonstrar – que as pessoas cegas e de baixa visão também podem fotografar e ver fotografia.

Há cerca de 15 anos que o MEF – Movimento de Expressão Fotográfica trabalha a fotografia com pessoas cegas ou de baixa visão. Neste âmbito, desenvolveu entre 2016 e 2018 o projeto “Integrar pela Arte – Imagine Conceptuale”, partindo da interrogação “Que perceção terá da fotografia uma pessoa cega ou com baixa visão?”, pretendendo facilitar o acesso à arte e fomentar a expressão pessoal dentro do universo particular da fotografia.

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António Bracons, Luís Rocha com um exemplar do catálogo na versão para invisuais, 2018

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Luís Rocha, do MEF, refere:

Quando falamos de imagens fotográficas construídas por pessoas cegas e com baixa visão, o que significa não ver? Como ponto de partida, na certeza que não encontraremos respostas conclusivas, construímos o nosso projeto de fotografia a partir do entendimento de como nos relacionamos com a representação do que é uma imagem.

(…)

Uma pessoa cega ou com baixa visão procura “ver” através dos outros sentidos, como consideramos importante explorar as suas sensações representadas em imagem, procuraremos a descrição dessas imagens com elementos provenientes dos sentidos e encontrados nos movimentos artísticos. Pretendemos proporcionar aos deficientes visuais a oportunidade de “verem” e construírem uma imagem, caminhando assim para o objectivo de democratizar a arte.”

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Esta exposição mostra o trabalho fotográfico realizado por pessoas com deficiência visual. Com recurso a imagens tácteis com audiodescrição, é acessível a um público cego ou com baixa visão.

A exposição pretende explorar diferentes processos de interpretação das obras, através de outros sentidos que não a visão – tacto, audição – por forma a facilitar o acesso de pessoas portadoras de deficiência visual às artes. A exposição ilustra o trabalho desenvolvido com pessoas cegas ou com baixa visão, de incentivo à expressão pessoal e artística, por meio da fotografia.”

No fundo, o objetivo maior é o da inclusão, uma vez que ao colocar um sujeito num universo que lhe está vedado, ele ganha valor nesse contexto.”

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A exposição tem um conceito: “Mostrar ao mundo que a cegueira não é escura. A cegueira tem luz, cor e beleza.

Assim, são apresentadas 63 projetos de outros tantos autores, cada um composto pelo texto de enquadramento e 1 a 4 fotografias, num conjunto de 94 fotografias impressas a cor para normovisuais e 69 para serem vistas por cegos, incluindo áudio-descrição (ativada por sensores na própria imagem, a vista da imagem por cegos é complementada com a áudio-descrição).

As fotografias estão organizadas em 6 grandes temas: Conceito, Medos e Sonhos, Liberdade, Beleza, Cegueira e Memória.

Pode-se, ainda, assistir à projeção do documentário relativo ao trabalho desenvolvido pelo MEF com os participantes, na construção das imagens.

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Numa conversa com o Luís Rocha, a Tânia Araújo e o Tiago Santos, do MEF, interventores do projeto, na Fundação Gulbenkian, sobre o projeto, foi partilhada a metodologia utilizada. Numa primeira fase, foram apresentados diversos movimentos estéticos: surrealismo, expressionismo, pop-art, arte conceptual, performance e impressionismo, através de descrições e leitura ao tacto. Numa segunda fase, cada participante foi desafiado a descrever imagens que lhes surgiram a partir da explicação feita. Numa terceira fase foi definida a fotografia a fazer e elaborada e disparada a fotografia – uma ou várias, consoante o projeto, disparando-se várias de cada por segurança. Através de descrição das imagens, foram as mesmas selecionadas. A partir daí, foi selecionada uma, que foi impressa para ser vista por cegos e realizada a correspondente áudio-descrição.

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“Imagine Conceptuale” é um projeto de integração pela arte para pessoas com deficiência visual, integrado no Programa PARTIS, da Fundação Calouste Gulbenkian e em parceria com: Associação de Apoio e Informação a Cegos e Amblíopes, Associação Promotora de Emprego de Deficientes Visuais, Centro de Reabilitação Nossa Senhora  dos Anjos, Fundação Raquel e Martin Sain, Íris Inclusiva e Lar Branco Rodrigues.

Os autores são: Alberto Biom, Aliu Baio, Amaro da Costa, Ana Isabel Pereira, Ana Jardim, Ana Maria Lima, Ana Paula Guedes, Ana Rita Saraiva, Andreia Varela Monteiro, António Pinão, Artur Carvalho, Bruno Alves, Cátia Mendonça, Carla Alves, Carolina Azevedo, Cristiana Gomes,  Dora Diniz, Duarte Pina, Elisa Gaboleiro, Fábio Azevedo, Fernanda Valente, Graciete da Cruz, Gracinda Marques, Igílcia Andrade, Isabel Lima, Isabel Oliveira, João Gonçalves, João Sabino, João Silva, José Moura, José Oliveira, José Sobreira, José Arriscado de Sousa, Júlia Silvestre, Laurinda Martins, Leonor Coelho, Luís Pereira, Luísa Lima, Manuela Vieira, Maria da Piedade, Maria de Fátima Silva, Maria de Fátima Teixeira, Maria Eduarda Santos, Maria Emília, Maria Helena Fonseca, Maria Luísa Ferreira, Maria Morgadinho, Maria Paula, Mariana Vieira, Marta Jordão, Marylu Gerard, Nídia Rosa, Nantília Nunes, Natália Lago, Nuno Silveira, Paulo Barros, Paulo Conceição, Paulo Moreira, Paulo Neves, Paulo Rafael Amorim, Pedro Lima, Sílvia Lopes, Sílvia Quaresma e Tiago Lousa.

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António Bracons, Aspetos da exposição, 2018

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O texto de Luís Rocha: “Que percepção terá da fotografia uma pessoa que não vê, ou que vê muito pouco?”, no Fascínio da Fotografia, aqui.

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Com a exposição foi editado o catálogo “Um olhar sobre o nada”, que inclui os projetos e as fotografias apresentadas na exposição, para normovisuais. Em fase de preparação, o catálogo com as imagens para serem vistas por cegos. No Fascínio da Fotografia aqui.

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Pode saber mais sobre o projeto no site do MEF, aqui e no blog do “Integrar pela Arte”, aqui.

Pode ver um documentário sobre o processo, aqui.

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