ENCONTROS DA IMAGEM 2018 – O BELO E A CONSOLAÇÃO. EXPOSIÇÕES – 2. OS FOTÓGRAFOS EMERGENTES

Exposições patentes em Braga, de 21 de setembro a 28 de outubro de 2018.

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“O Belo e a Consolação”

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A condição humana está marcada pela finitude e pela insatisfação. Perante o desconcerto do mundo, o ser humano indaga sobre o sentido da existência e busca a harmonia e a serenidade. Vivemos numa procura incessante e ansiamos pelo alívio da dor e do sofrimento. Estamos obcecados pela felicidade e pelo prazer, mas sentimos dificuldade em encontrar a consolação.

Cultivamos a singularidade e a liberdade, mas valorizamos a pertença e a segurança. Individualidade e sociedade são complementares e antagonistas: na família, na comunidade, nas instituições. Por outro lado, a memória molda-nos enquanto pessoas, num ciclo de constante transformação, condicionando a nossa compreensão das coisas e a visão do futuro.

Numa época de pressas e de dispersão, a aceleração e a mecanização provocam vertigem, confusão e desorientação. O desassossego da vida contemporânea provoca fragmentação e indiferença. Necessitamos de encontrar um antídoto para a inquietude hiperativa que nos consome e nos afasta da natureza e de nós mesmos. Será que a reconciliação com o mundo passa pela contemplação estética? Podemos aspirar a uma salvação pelo Belo?

O Festival Encontros da Imagem, propõe uma reflexão sobre o “Belo e a Consolação”. A edição 2018, vai decorrer entre os dias 21 de setembro e 28 de outubro. “

A Direção

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No âmbito dos Encontros da Imagem, decorreu um programa de candidatura: “Discovery Awards 2018” / “Emergentes 2018”, procurando dar a conhecer fotógrafos em início de carreira.

Os fotógrafos Emergentes 2018 selecionados pelo júri apresentam os seu trabalhos em Braga, na Nova Galeria do Largo do Paço – Gloria Oyarzabal e Jacob Burge – e no Edifício do Castelo, os restantes.

Apresento de seguida os projetos Emergentes.

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Gloria Oyarzabal / Woman go no’gree

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© Gloria Oyarzabal 1

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Os impérios, pela sua própria natureza, encarnam e institucionalizam a diferença, de igual forma entre metrópole e colónia, e entre assuntos coloniais. O imaginário imperial inunda a cultura popular. Repensando o género como uma construção ocidental: o mapeamento pós-colonial das distintas abordagens europeias sobre o feminismo que tem vindo a desenvolver a questão da “mulher” nas últimas décadas, maioritariamente a mulher ocidental, e não sendo uma adequada lente para a observação da sociedade africana. Precisamos de olhar o imperialismo, colonização e outras formas globais e locais de estratificação,  que conduzem à conclusão de que o género não pode ser separado do contexto social e de outros sistemas de hierarquia. Assim, os três conceitos centrais que têm sido os pilares do feminismo (mulher, género, solidariedade feminina) só são compreendidos com uma cuidadosa atenção à família nuclear da qual elas são oriundas. Os conceitos feministas surgem a partir da lógica de uma família nuclear patriarcal, que é uma forma familiar que está longe de ser universal. Podemos supor que as relações sociais em todas as sociedades estão organizadas em torno da diferença sexual biológica? Será o corpo masculino nas sociedades africanas visto como normativo e, portanto, um canal para o exercício do poder? Uma das consequências do eurocentrismo é a formação racial de conhecimento: A Europa é representada como fonte de conhecimento e os europeus, consequentemente, como pensadores. Para além disso, o privilégio masculino como parte essencial da ética europeia está implícito na cultura da modernidade. E se os modelos de modernidade nos trazem uma nova visão do “outro”? O género é, acima de tudo, uma construção sociocultural. Talvez compreendendo a História sejamos capazes de superar a atribuição social e simbólica apenas pela diferença de sexo e abrir o leque a outros fatores em relação à construção da identidade. Explorar interseções entre género, história, criação de conhecimento, ….

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Jacob Burge / Recall

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© Jacob Burge 1

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É impossível lembrar de tudo hoje em dia, o nosso disco rígido interno é sobrecarregado com informações diárias, nas quais apenas uma fração é armazenada e reproduzida. Naturalmente, com o passar do tempo, os nossos pensamentos que outrora eram límpidos e vívidos, acabam confusos e desvanecidos. A dependência da tecnologia está a ajudar a acelerar esse processo dissolvendo lentamente a necessidade e a capacidade de recordar. Os computadores estão discretamente a assumir-se como a nossa principal fonte de memória. Permitindo-nos armazenar, exibir e editar a nossa versão da realidade. Na nova era da tecnologia e da informação está-se a tornar cada vez mais difícil distinguir entre o que é real e falso. Estamos a precisar de reconectar, não com nossos provedores de internet, mas com nós mesmos.

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Anne-Sophie Guillet / Inner Self

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© Anne-Sophie Guillet 1

© Anne-Sophie Guillet 2

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Na nossa sociedade, temos expetativas muito específicas sobre a dicotomia de género e os papéis que cada um deles deve adotar. No entanto, esta dicotomia não se trata de um ponto de vista exclusivo. Eu tento questionar esta hipótese, criando retratos de homens e mulheres cujas identidades escapam às normas. Através destes retratos, eu tento mostrar que existem várias formas de viver as nossas vidas como seres humanos. Presto atenção especial à aleatoriedade das movimentações diárias, e a pessoas que tenham um ar andrógeno e género indistinto. Desde 2013 que tenho trabalhado nesta série intitulada Inner Self. Até hoje eu tenho mais de trinta retratos em formato médio de rolo usando luz natural. Os meus sujeitos posam dentro de um espaço interior com um fundo neutro. Inner self foi desenvolvido através de encontros ocasionais com jovens desconhecidos que visivelmente escapam ao rigoroso binário homem/ mulher. Quer o efeito seja puramente estético ou existam hormonas reais em cena, todos eles de certa forma desfocam fortemente as linhas do género. Tirados de frente, os seus retratos parecem cobertos de um profundo silêncio; no entanto não existe nada mudo sobre eles, em vez disso existe algo que parece questionar a forma como as identidades são construídas e interpretadas quando são confrontados com o contemplar do outro.

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Charles Xelot / There is gas under the tundra

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© Charles Xelot 2

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A Península de Yamal, no Ártico russo, detém um dos maiores campos de gás do mundo. Na verdade, o mais ambicioso projeto industrial do extremo norte está em construção na borda da Península. Esta fábrica extrairá gás da tundra. O gás será enviado para todo o mundo, e durante todo o ano, através de barco pelo mar gelado. No entanto a Península de Yamal é também povoada por uma das últimas povoações nómadas do mundo: os Nenets. Neste ambiente hostil, o ecossistema humano é simples: Grandes indústrias, pequenas aldeias e pastores de renas. As mudanças na região são uma metáfora para a situação global. Este corpo de trabalho examina as alterações causadas pelas necessidades de energia da humanidade.

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Dani Pujalte / Rond Point Colobane

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© Dani Pujalte 2

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No verão de 2012 a minha mãe estava na praia de Sitges quando conheceu Max, ele tinha 27 anos, como eu. Ele estava a vender lenços e óculos de sol. Durante este verão, eles tornam-se amigos, e penso que, tocada pela história da migração do Max desde o Senegal, a minha mãe começou a ajudá-lo como se ele fosse um membro da nossa família. O Max e eu conhecemo-nos durante o Natal, e desde então tornamo-nos meios-irmãos. O Max é de Dakar, no Senegal. A minha mãe viajou para o Senegal quando tinha 27 anos. No final de julho de 2016, o Max escreveu-me via facebook para me avisar que estava em Dakar a visitar a sua família. No dia seguinte eu estava num avião com destino a Dakar, sem saber bem o porquê de estar a ir para lá, mas suponho que fui impelida pela busca das coincidências em torno da nossa história. Rond Point Colobane segue os traços de um caminho desenhado no solo de uma cidade desconhecida. Afundo-me no palco do Max. A magia da coincidência inseriu-me neste cenário, e daí decidi perseguir com a minha câmara tudo o que me rodeava, em busca de um quotidiano que pudesse ser meu, como se eu fosse verdadeiramente seu irmão.

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Iggy Smalls / Neverland

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© Iggy Smalls 1

© Iggy Smalls 2

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“Neverland” é um local inventado pelo autor J. M. Barry para o seu drama e romances, e sobejamente conhecido como a casa do Peter Pan. Neverland e os seus habitantes são frequentemente vistos como metáforas para o escapismo, a imortalidade e a recusa em crescer. Este projeto visualiza-se rejeitando a noção de uma fotografia ou de um fotógrafo ser capaz de capturar “a verdade”; apesar da nossa total objetividade. A presença do fotógrafo não só poderia influenciar o resultado das fotografias como também o facto de ser sempre forçado a escolher e a cortar, a verdade não pode ser mostrada na sua plenitude, somente através das imagens.  O áudio e os audiovisuais podem ser ferramentas superiores para a objetiva documentar quando as fotos por si só deixarem algo à imaginação. Essas fotos farão com que se questione o que é encenado ou manipulado, e o que coincidentemente acabou de acontecer.

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Iris Hassid Segal / Kana-Tel Aviv-Nazareth

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© Iris Hassid Segal 1

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(Nome não final) Este projeto em execução documenta o dia-a-dia de três jovens cidadãs árabe-palestianas de Israel, (Majdoleen, Saja e Samar), que deixaram a proteção das comunidades familiares e conservadoras onde cresceram, para a densa e bastante moderna cidade judaica de Tel Aviv, para estudar e morar no meu bairro, Ramat Aviv, onde fica a Universidade de Tel Aviv (construída sobre os restos de uma aldeia palestina, Sheikh Munis, que foi evacuada em 1948.) As mulheres formam o seu próprio sistema de suporte. Elas fazem parte de um grande aumento de mulheres árabes jovens a estudar em universidades de Israel. Ser um árabe em Tel Aviv é uma existência complicada; por um lado, existem oportunidades para eles trabalharem e estudarem. Mas ao mesmo tempo, só o simples facto de falar árabe em público, em vez de Hebraico, poderia trazer olhares de desaprovação. O mundo deles é um dos intermediários. Este mundo existe entre as tradições e a busca da independência, por uma voz e expressão pessoais, motivada pela vontade de ser quem se é, e por dúvidas e preocupações dessa identidade – uma jovem árabe numa cidade judaica. Apesar da sua marginalização, elas não se dissuadem. Na verdade, elas estão firmemente determinadas a aproveitar tudo o que lhes é disponibilizado pela vida fora. Elas estão num caminho de descoberta sobre quem são e em quem se podem tornar, se deixadas à própria sorte. Fotografando na tradição das artes plásticas, documentaristas, não tento esconder o meu relacionamento com as jovens e com a forma como nos divertimos umas com as outras. O nosso relacionamento é um caminho de construção de confiança e colaboração. Elas são os meus guias dentro das suas vidas e, como tal, eles co-dirigem muitas das fotos. Afinal, como judeu israelita, tenho muito a aprender com elas sobre a existência de árabes israelitas. Eu fotografo com uma câmara de rolo de formato médio, e estou a trabalhar em um livro.

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Justin Maxon / Sissy Boy Sweet

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© Justin Maxon 2

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A minha infância foi uma compilação de imagens de uma feia vivência; experiências impressas muito além do que a linguagem pode alcançar. Eu vivia aterrorizado por ser um menino que outros não queriam que eu fosse. Sissy Boy Sweet tenta recuperar o cenário do marginalizado compreendendo como as memórias dos eventos do passado são retidas no interior do imaginário da mente; como essa retenção manipula o cenário físico e interno do lugar psicossomático, e o entorno daquelas histórias. Eu tento responder à complexa relação envolvida; quando é que uma criança começa a entregar o seu poder, e de seguida como é que o controlador passa a ser a confortável ameaça que aparece em cada esquina.  Eu pego nas modalidades tradicionais da prática terapêutica e adapto-as ao enquadramento visual. O espírito da terapia narrativa é a reconstrução da identidade gerando alternativas de possíveis mundos semânticos: para aceitar o rapaz afeminado como um rapaz doce, e a expansividade que resulta da conformidade da inexistência de género. Através da reconstrução de um trauma fragmentado resultante de um acontecimento de maior dimensão, a experiência no seu todo pode ser conservada com sensações apropriadas; e de seguida aprender com a maciez do acumular de compreensão, que produz uma orientação futura para gerar estabilidade e saúde emocional.

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Katerina Tsakiri / A Simple Place

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© Katerina Tsakiri 1

© Katerina Tsakiri 2

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A série “A simple place” consiste em 12 autorretratos fotográficos. É sobre as reencenações do indivíduo e do espaço, baseadas na simplicidade encenada e cenográfica, como também na obsessão pela repetição. A série valoriza esses elementos numa tentativa de examinar/abordar o dipolo simplicidade-multiplicidade do indivíduo, através da atmosfera de  antecipação onde tudo muda e ao mesmo tempo permanece igual. “Nada alguma vez mudou desde que eu estive aqui. Mas eu não ouso por isso inferir que nada alguma vez mudará.” Samuel Beckett , The Unamable.

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Marcelo Masagão / Homens Brancos

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© Marcelo Masagão 1

© Marcelo Masagão 2

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Sempre tive um interesse por esses documentaristas do Brasil colonial. Rugendas, Pallière  e especialmente  Debret. Durante alguns anos também fui chamado de documentarista.

Este interesse se aprofundou quando vi o fotolivro de André Penteado chamado “Missão Francesa”. Um livro-provocação que questiona a tal missão  que desejava implementar, no Brasil Colonial, um modelo de educação formal de artes.

Li, vi e revi Debret. Descobri que muitas de sua cenas eram pintadas separadamente e depois montadas. Tive então  a ideia de criar uma grande panorâmica, reunindo 23 aquarelas de Debret,  para ser vista no papiro ou em grande formato.

Tenho especial interesse no suporte que as fotos serão exibidas e além do Papiro desenvolvi um outro formato: a Foto Escultura Moebius, que casa com a circularidade de uma panorâmica.

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Rebekka Friedli / Touching Myself

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© Rebekka Friedli 1

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Eu toco-me enquanto me olho no espelho. Eu toco a minha cara. Eu sou a que toca e a que está a ser tocada. Informação adicional: Touching Myself aborda o tema da autoaceitação e da reconciliação. O que significa entrar literalmente em contacto consigo próprio? É uma sensação estranha e irritante ou agradável e afetiva a de tocar a sua própria face de uma forma calma e cautelosa? Como é ser ao mesmo tempo o que toca e o que está a ser tocado? Que é a relação consigo próprio? Touching Myself é um vídeo sem som com duração de 14′ 30” e foi produzido em novembro de 2017 com a ajuda da artista Céline e do fotógrafo João Tuna, em Lisboa, Portugal.

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Roei Greenberg / Along The Break

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© Roei Greenberg 1

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Eu foco-me em lugares onde a geografia e a história se reúnem e criam uma complexa perspetiva fotográfica; por um lado pictórica e conectada à empatia, ainda que por outro lado haja um toque de ironia e tons ideológicos subjacentes. Esta dualidade emocional acontece através dos trabalhos, unindo-os e formando um ponto de vista único; um contínuo diálogo entre o comum e o sublime. ” A “rutura Sírio-Africana” é o nome Hebrew para o vale Great Rift, um fenómeno topográfico que causou há 35 milhões de anos um movimento de placas tectónicas e que cruza a contemporânea Israel desde o seu ponto mais setentrional até à sua ponta sul em Eilat. A caminho, conquista o rio Jordão, o mar da Galileia e o Mar Morto. Também configura as fronteiras físicas de Israel; com o Líbano e a Síria no norte, com o Jordão ao longo da frente oriental, e com o Egipto no sul. Esta viagem pessoal ao longo da rota 90 oferece uma envoltura poética. Eu restringi-me aos limites geográficos do fenómeno, confrontando a “rutura” como uma metáfora da crise ideológica e social que esta paisagem local representa; Os campos de minas das montanhas Golan, o  vazio refeitório comunitário do kibbutz, uma estância abandonada nas margens secas do Mar Morto, e as atalaias dispersas ao longo de toda a paisagem. Usando uma câmara de formato grande, eu reorganizo os materiais da realidade para obter uma entidade alternativa, e transformo as relíquias em monumentos, de forma pictórica e provocante, com um toque de ironia e teor ideológico subjacente. Eu desejo criar um diálogo contínuo entre o quotidiano e o sublime. A viagem física e metafórica é o tema principal do meu trabalho. Eu pego na ideia do registo fotográfico da “road trip” americana, as estradas infinitas e os vastos espaços amplos, e importo essa noção para a pequena e restrita paisagem de Israel.

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Tania & Lazlo / Behind the Visible

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© Tania & Lazlo 1(1)

© Tania & Lazlo 2

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Através de uma cinemática e narrativa visão,  TANIA & LAZLO  exploram o universo da psique, do inconsciente e do sonho. Exploram os mais íntimos e misteriosos aspetos da natureza humana e as relações entre memórias e ambiente. As suas imagens refletem o desejo de restabelecer um profundo e autêntico contacto com a natureza, e com o nosso ser interior do qual a sociedade contemporânea alienou o homem moderno. “Na série “BEHIND THE VISIBLE”, situações de aparente normalidade  vão para além de uma dimensão misteriosa e sombria; e abrem-se para o inesperado, para o indefinível, e para o não resolvido. As suas imagens são invadidas por uma delicada inquietude, por um tom macio e intenso, similar aos fotogramas dos filmes, suspensos num tempo dilatado e anacrónico, perdurando ao longo dessa linha limítrofe que separa o real do irreal; um lugar onde o invisível retorna para enviar o seu raio de luz, indicando um ‘outro lugar’ que fica aberto à imaginação do espetador. Cada obra de arte contem uma enigmática história onde se pode ver o profundo, complexo, obscuro e perturbador fio que liga a psique humana à natureza. As obras de arte de Tania e de Lazlo são o resultado de uma longa abordagem processual e de uma cuidadosa construção da sua imagem final, na qual a estética cinematográfica e as sugestões literárias, a performance e as instalações convergem. Onde a realidade e a ficção se entrelaçam ambígua e poeticamente.”

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Thomas Zika / Drama Queens

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© Thomas Zika 2

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Eu tenho recolhido fotografias com retratos femininos do período entre 1870-1910 onde as mulheres descritas parecem descontroladas, dominadas, artificiosas, lunáticas, oprimidas, iluminadas, extravagantes, espiritualmente confiantes e sexualmente insatisfeitas, à espera da morte: DRAMA QUEENS Por cima das cabeças das mulheres insatisfeitas eu coloco cabeças de cogumelos para segregar os seus esporos sobre a superfície que se encontra por baixo e que origina contornos lamelares circulares, aparentando uma mistura da explosão e aura. Este feliz acaso de processamento de imagem cria auréolas extremamente delicadas e é como se estas novas auras pudessem transformar todo o dilema psíquico, pudessem mascarar postumamente a necessidade psicológica em uma auréola, de forma a transformar as retratadas em santas: AURA – CURAS. No âmbito dos meus últimos projetos tenho desenvolvido métodos artísticos fotográficos através da utilização do caos e da oportunidade de reequilibrar o poder paradoxal e a fragilidade do controlo. Usando estas estratégias experimentais eu encontro-me mais envolvida numa relação espiritual, não só como artista mas também como ser humano. Num sentido muito pessoal as “rainhas do drama/drama queens” são alvos psico-shamânicos para entrar em contacto com a minha desconhecida e nada-morta irmã, para abraçá-la espiritualmente ou apenas para falar com ela sobre arte. Estou a digitalizar estes originais pictóricos e a imprimir uma publicação.

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Yufan Lu / Make Me Beautiful

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© Yufan Lu 1

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Na China, existem mais de 10 milhões de pessoas que a cada ano procuram a cirurgia estética, apenas para encontrar uma solução rápida para a ansiedade de não se acharem suficientemente bonitos. A solução é geralmente simples: Pálpebras duplas, um nariz alto e pequeno, um maxilar estreito, e pele de branca-de-neve. Sem que nos demos conta, um novo padrão de beleza global instalou-se, afetando todas as pessoa da sociedade, tanto as recetivas como as não recetivas. Os “reality shows” da televisão, as propagandas dos hospitais onde se fazem cirurgias estéticas coladas em edifícios, autocarros, na internet, em toda parte, os filtros das aplicações de fotografia, os comentários dos conhecidos e desconhecidos… não há por onde escapar. Eu, por exemplo, apesar da segura determinação em não fazer cirurgia estética, ainda assim dou por mim a pensar nos vários diagnósticos propostos pelos cirurgiões durante as minhas visitas a alguns hospitais no âmbito do projeto. Começa aqui a minha batalha contra a minha reflexão no espelho, e não faço ideia sobre quem será o vencedor. As cirurgias têm um efeito imediato na autoconfiança, junto com uma atitude visivelmente mais amigável por parte dos desconhecidos. Mas também podem resultar em dismorfobia, que torna a pessoa viciada em cirurgias estéticas, e também em julgamentos por parte da sociedade que eventualmente prefere caras naturais às artificiais, que parece que são produzidas na mesma linha de produção. “Eu não me posso importar com o que todos os outros dizem. Desde que eu possa ser bonito. PONHA-ME BONITO.”

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Yushi Li / My Tinder Boys

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© Yushi Li 2

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No projeto My Tinder Boys, eu fotografei diferentes homens que conheci através da aplicação de encontros online Tinder. Durante estes invulgares ‘encontros’, eu sou simultaneamente o violador que tenta “invadir” o espaço privado do outro, mas também o objeto de desejo que está presente na sua vulnerabilidade. Pode-se ver que existe uma determinada precariedade na forma como estes homens posam para as minhas fotografias, que revelaram a falta de segurança dos homens em saber ser erótico para a câmara. Ao colocar estes homens num espaço estereotipado feminino e doméstico – a cozinha, eu tento apresentá-los de uma forma pouco masculina e algo vulnerável. Através de minha lente, cada um destes homens transformou-se num objeto bonito e de posse: uma imagem. Ao criar este encontro íntimo com desconhecidos masculinos e assim trazer estas ilusões instantâneas da vida desejada fora do ecrã digital, o meu trabalho tenta questionar a ideia de beleza e a distinção entre as representações e assuntos individuais, numa era de rápida mudança social.

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Os textos apresentados são a sinopse dos projetos apresentados, da responsabilidade dos Autores.

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As restantes exposições, no Fascínio da Fotografia, aqui.

Mais informação sobre as exposições e outros eventos dos Encontros da Imagem aqui.

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