HELENA ALMEIDA E ARTUR ROSA, O OUTRO CASAL

Exposição na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, Praça das Amoreiras, 56, em Lisboa, de 24 de Maio a 9 Setembro de 2018.

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É sempre ele. Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projectei. E como tal tem que ser alguém próximo de mim. […]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma acção.”

Helena Almeida

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Muitos casais de artistas desenvolvem um trabalho comum ou de cumplicidade.

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António Bracons,  Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, 2018

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O casal Arpad Szenes e Vieira da Silva, é um deles,

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Fernando Lemos, Arpad Szenes / Saber mais próximo – Vieira da Silva / Andamento sem registo, 1949-52

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cuja obra, individual e distinta, é feita também da cumplicidade da relação, como testemunha a exposição: “Le Couple” (Maria e Arpad),

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António Bracons, Arpad Szenes, “Le Couple”, aspetos da exposição, 2018

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obras de Arpad, onde Maria Helena – e os dois – estão presentes: o casal, que se conheceu na academia parisiense Grande Chaumière, em 1928, casaram em 1930; esta série, “fusão da carne e do osso com os objectos que os rodeiam: casal-mesa, casal-cadeira, casal-cavalete”, “é a história do início de uma vida em comum e um resumo do que viria a ser a relação do casal ao longo de 55 anos de partilha”, que se apresenta no piso térreo da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva.

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António Bracons,  Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, 2018

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Uma outra exposição, no piso superior, mostra (um) “O Outro Casal”: Helena Almeida e Artur Rosa.

Se nuns casais, a cumplicidade sobressai, no caso de Helena Almeida (Lisboa, 1934) e do marido, o arquiteto e escultor Artur Rosa (Lisboa, 1926), esta cumplicidade é de sempre e nem sempre é aparente.

Com formação em pintura, a fotografia foi (essencialmente) o meio que Helena Almeida escolheu para a sua obra. Inicialmente conjugando diretamente com a fotografia com os materiais da pintura, como em “Tela Habitada” (1979, filme), ou inserindo a pintura sobre a fotografia, regra geral, a cor azul, passando depois a ser a fotografia ‘autónoma’ da pintura.

As fotografias de Helena Almeida têm uma particularidade: é ela própria que serve de modelo às suas imagens, em autorrepresentação, mas quem prime o obturador da câmara fotográfica é o seu marido, Artur Rosa.

Numa das suas primeiras publicações, o catálogo da exposição que apresentou na Galeria Módulo, em 1978 (ver aqui), é a autora da obra, mas identifica Artur Rosa como o autor da fotografia. No seu trabalho posterior, a autoria da obra é sua – e de facto, é toda a conceção, definição, enquadramento, apenas não é a pessoa que prime o obturador, quem o faz é Artur Rosa, o seu marido. Esta questão não tira qualquer mérito à sua obra, aliás o procedimento é normal: por exemplo, na obra de Jorge Molder, em que este se autorrepresenta, é uma outra pessoa quem dispara a fotografia.

Artur Rosa é assim o cúmplice, o companheiro, o marido, sempre presente por trás da obra e, nalguns casos, pontuais, também na própria obra, quando há necessidade de um segundo personagem. Então Artur Rosa entra em cena, passa a ser parte da imagem. A fotografia é então disparada com o auxílio de um cabo disparador ou de uma terceira pessoa. É o caso de “Ouve-me” (1979), uma sequência de oito elementos (35,5 x 50 cm cada, sala inicial), em que os dois artistas se olham frente a frente e ‘falam-se’ – ‘escutam-se’, de modo figurativo através de uma saco de papel que é falado / soprado por Helena,

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Helena Almeida, Ouve-me, 1979

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ou, em obras bastante posteriores, como “Sem Título” (2010, 73 x 73 cm, apresentadas duas imagens (uma com cor azul) e vídeo (preto e branco, som, 18′), elaborado para a exposição no CCB,

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Helena Almeida, Sem Título, 2010

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Helena Almeida, Sem Título, vídeo, 2010

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“Looking Back” (2007, 4 elementos, 281 x 125 cm cada, sala inicial e segunda sala)

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Helena Almeida, Looking Back, 2007

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ou em “O abraço” (2006, 7 elementos, 180 x 100 cm cada, última sala).

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Helena Almeida, O abraço, 2006

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É possível ver ainda o filme de Joana Ascensão, Pintura Habitada, de 2006 (cor, p/b, som estéreo, 50′), que

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Joana Ascensão, Pintura Habitada, 2006 (video stills)

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foca precisamente a relação Helena Almeida-Artur Rosa–Atelier, daí que o tenhamos integrado na exposição por ser um documento fidedigno do pro­cesso de trabalho, do desenho à impressão da fotografia, guiado praticamente só pelas vozes do casal.”

Como a própria Helena Almeida refere:

É sempre ele. Porque é importante que as fotografias aconteçam no lugar físico em que eu as pensei e projectei. E como tal tem que ser alguém próximo de mim. Mas antes faço sempre desenhos das situações que quero fotografar. Aliás, a partir da década de 80 passo a usar o vídeo para experimentar, porque um gesto pode ser muito enganador: uma mão mais para o lado é já outra coisa. Então, ensaio primeiro com a câmara […]. Eu quero a fotografia tosca, expressiva, como registo de uma vivência, de uma acção.”

Helena Almeida em entrevista a Isabel Carlos in Helena Almeida. Milano: Electa, 1998, p. 46, citada na folha de sala pela própria Isabel Carlos, curadora da exposição, que acrescenta:

O lugar físico é o atelier. Lugar onde cresceu, já era o atelier do seu pai, o escultor Leopoldo de Almeida, autor, entre outras obras, do conjunto escultórico do Padrão dos Descobrimentos e uma das figuras mais proeminentes da estatuária da década de 40 e 50 do séc. XX em Portugal.

Helena Almeida, mais do que criar obras especificamente para um lugar ou um sítio, parece antes afirmar que o lugar é o atelier e o atelier é o seu mundo. Daí que as fotografias tenham que ser tiradas no sítio onde o trabalho se desenvolveu (o atelier). Daí que as fotografias tenham que ser registadas por alguém do seu círculo, por alguém da sua intimidade.

O processo quase sempre se inicia pelo desenho: Helena Almeida desenha primeiro as posições, os movimentos em que o seu cor­po será registado e depois, em sessões a dois, faz-se fotografar por Artur Rosa. Mas por vezes Artur Rosa também entra na imagem.

Esta exposição centra-se precisamente nesses registos em que os dois aparecem, tanto em fotografia como em vídeo. O título remete em diferido para o casal que dá nome ao museu (…)”.

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Helena Almeida, O abraço, 2006, detalhe

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A exposição “Helena Almeida e Artur Rosa | O outro casal”, está patente na Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, na Praça das Amoreiras, 56, em Lisboa, de 24 de Maio a 9 Setembro de 2018.

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Pode ler mais sobre a exposição aqui.

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