LIFE IS GOOD… NOS 90 ANOS DE WILLIAM KLEIN

90 anos do nascimento de William Klein (Nova Iorque, Nova Iorque, EUA, 19 de abril de 1928)

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William Klein, Black Barn + White Lines, Island of Walcheren, 1952 – Saint Patrick´s Day, Fifth Avenue, 1954 – Gun 1, New York, 1955 – Moscow, 1959 – Mayday, Moscow, 1959 – Tokyo, 1961 – Evelyn, Isabella, Nena + Mirrors, New York (Vogue), 1962Le Petit Magot, Armistice Day, Paris, 1968

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Eu vim de fora, as regras da fotografia não me interessavam… Havia coisas que se poderiam fazer com uma câmara que não se poderiam fazer com qualquer outro meio… Grão, contraste, borrão, enquadramento com ‘olhos de galinha’, eliminando ou exagerando os tons de cinza e assim por diante. Eu pensei que seria bom mostrar o que é possível, dizer que isso é tão válido como a maneira de usar a câmara com abordagens convencionais.

William Klein

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William Klein nasceu em Nova Iorque em 19 de abril de 1928, de origem húngara.

Sente necessidade de sair de Nova Iorque: como judeu pobre no meio de vizinhos irlandeses e italianos, viveu a sua juventude aterrorizado pelos gangs de rua. Em 1948 vai para Paris para fazer pintura, começa a fazer fotografia, de início abstrata. Para Klein, a fotografia é o que procura: não é considerada uma arte maior, é contudo uma arte onde a negligência pode ser criativa, como quer, até ao extremo (admite mais tarde) “brutalizar” o equipamento e “quebrar todas as regras”. Regressa a Nova Iorque no início de 1950, dedicando-se a partir de 1953-54 à fotografia, inicialmente para engendrar formas geométricas. A fotografia é uma “arma” que o permite “tornar-se igual”, como admite depois [1].

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Bjorn Rantil, William Klein, 1990.  (c) Hasselblad Foundation

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Em 1954, Klein é contratado pela revista Vogue como fotógrafo de moda, mas a sua fotografia de moda caracteriza-se por um olhar irónico e subjetivo, avesso ao mundo fashion.

Alexander Liberman, diretor da Vogue, convidou-o para trabalhar na revista depois de ver uma exposição sua: fotografias abstratas, na sequência do seu trabalho nas artes plásticas. A resposta do fotógrafo ao convite – trabalhar… “fazendo o quê?” Klein aceitou quando Liberman concordou com a realização de um portfólio, como um diário fotográfico, de Nova Iorque. Klein trouxe, para a fotografia de moda um olhar irónico e subjetivo, avesso ao mundo fashion.

A Vogue não publicaria o portfólio, mas este foi o germe para o livro Life is Good and Good for You in New York, que será editado em 1956.

Klein vai de Nova Iorque para Paris em 1948 – Robert Frank vai de para Paris para Nova Iorque em 1947 – e cada um publica na década seguinte uma obra de referência da fotografia ocidental: em 1956, Klein apresenta Life is Good and Good for You in New York. Frank publicará em 1958 The Americans. Ambos publicados inicialmente em Paris, depois de recusada a publicação nos Estados Unidos: Klein pelas Éditions du Seuil e Frank pela Delpire.

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William Klein, Life is Good and Good for You in New York, Éditions du Seuil, 1956

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Life is Good and Good for You in New York foi ainda em 1956 editado em Italia pela Feltrinelli, de Milano, e na Grã-Bretanha, pela Photography Magazine, de Londres, e valeu a William Klein o Prix Nadar no ano seguinte, 1957, ano em que foi editado nos Estados Unidos pela Penguin Books.

Destacam-se as fotografias de rua, em que retrata a dureza da vida das ruas de Nova Iorque, procurando captar as emoções primárias, de forma insensível, aguardando com atenção o momento propício em que a câmara vê como um olhar natural. Vê de um modo distinto, mais próximo das liberdades da arte contemporânea. Imprime de forma contrastada. Klein procura em cada imagem contar uma história da maneira mais concisa e mais adequada possível [2]. As suas imagens procuram “libertar a fotografia das suas cadeias”, quebrando tabus, produzindo imagens agressivas, mal enquadradas, onde mostra o encontro entre o fotógrafo invisível e a multidão na qual ele imerge, mas que o ignora” [3]. Klein fotografou as cenas das ruas de Nova Iorque da forma mais visível e com o maior volume possível de interferências. Diria: “a minha estética era a do Daily News… Eu via o livro que queria como um tablóide tornando-se enfurecido, indecente, manchado, com um layout brutal… Isso era o que Nova Iorque merecia e receberia”.

Klein vai assistir o realizador cinematográfico Federico Fellini, no seu filme La notte de Cabiria / As noites de Cabíria, que haveria de estrear em 1957, em Portugal a 27.11, e que venceria o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro (1958). As filmagens atrasaram-se e Klein, instalado em Roma com Fellini, Pier Paolo Pasolini, Alberto Moravia e outros escritores e artistas avant-garde italianos que lhe servem de guia, fotografa a cidade num diário visual. Irá dar origem ao livro Rome, 1958.

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William Klein, Rome, 1958

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Nos anos seguintes, idênticas visões sobre outras cidades: Moscovo, que visita em 1959, resultará em Moscow, 1961 e Tóquio, fotografado em 1961, Tokyo, 1961.

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William Klein, Moscow, 1961 e Tokyo, 1961

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As fotografias enchem cada página ou fólio do livro, sem legendas, sem textos, apenas uma breve indicação no final.

No Maio de 1968 está em Paris e além de fotografar, filma e realiza o filme / documentário: Grands Soirs et Petits Matins / Os dias de maio.

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William Klein, Grands Soirs et Petits Matins / Os dias de maio, 1968. Edição portuguesa.

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Ao longo da sua vida publicará ainda mais de uma dezena de livros e realiza outros tantos filmes. Entre vários prémios, recebe em 1990 o Hasselblad Award.

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Em 1995, uma nova edição de Life is Good and Good for You in New York é editada com o título New York 1954-55 e um grafismo completamente diferente. Diria que “o primeiro livro é sobre design gráfico, o segundo sobre fotografia” [4].

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William Klein, New York 1954-55, Marval, 1995 (edição francesa; edição inglesa: Dewi Lewis Publishing)

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Em 2010 a Errata Editions reedita este clássico sendo o número 5 da coleção Books on Books, apresenta a história do livro.

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William Klein, Life is Good and Good for You in New York, Errata Editions, 2010

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Life is Good and Good for You in New York é uma obra marcante da história da fotografia. Impôs um novo modo de olhar, tal como

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Les Americans

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Les Américans / The Americans, de Robert Frank e

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Lisboa Cidade Triste e Alegre, de Victor Palla e Costa Martins e, como este, é também uma obra gráfica.

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[1] Westerbeck, Colin,  “On The Road and in The Street – The Post-War Period in the United States”. In: Michel Frizot, A New History of Photography. Colónia: Konneman, 1998. Capítulo 35, páginas 641-659.

[2] Frizot, Michel, “William Klein”. In: AAVV, Dictionnaire Mondial de la Photographie – Des Origines à Nos Jours. Paris : Larousse, 1994 ; pág. 338-339.

[3] Gautrand, Jean-Claude, « Looking at Others – Humanism and neo-realism ». In: Michel Frizot, A New History of Photography. Colónia: Konneman, 1998, pág. 629.

[4] Ladd, Jeffrey, “Making Life is Good and Good for You in New York”. In: William Klein, Life is Good and Good for You in New York, Errata Editions, 2010.

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