JOSÉ PEDRO CORTES, PLANTA ESPELHO / MIRROR PLANT
Exposição na Galeria Francisco Fino, Rua Capitão Leitão, em Marvila, Lisboa, de 26 de janeiro a 01 de março de 2018.
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António Bracons, Aspetos da exposição, 2018
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É um olhar diferente de José Pedro Cortes que este apresenta na Galeria Francisco Fino.
Depois de “Costa” (2013, no Fascínio da Fotografia aqui) em que Cortes olha para o sol intenso da Costa da Caparica e a precaridade das construções de verão, olhares exteriores do seu quotidiano, e sobretudo de “Things Here and Things Still to Come” (2011, aqui) e de “One’s Own Arena” (2015, aqui), onde dominam os olhares interiores, do interior da casa e da vivência dos que nela habitam – e também, é certo, do ambiente exterior envolvente. O seu olhar é sobretudo interior, de fora para dentro de si, do espaço em que está.
Com esta exposição, Cortes vira-se para o exterior, olha para fora. De si para o exterior. No geral em detalhes, ainda que amplos (mas não panorâmicos). Luxuosos (como o Mirror Building Dubai, 2018) ou degradados (a contígua Summer Dawn, 2018), apresentados em grande formato, ou pormenores aparentemente encenados, regra geral em imagens de dimensão mais pequena.
Para esta exposição, Cortes deixou o filme, o analógico – que digitalizava, tratava e imprimia como digital – para fotografar integralmente em digital. Nesta exposição, as imagens de Cortes ganham uma nova cor, mais intensa, mais viva, e têm, por vezes, um instantâneo, que antes não apresentavam (por ex: Motorcycle Man, 2018).
Mas na vida nada é desgarrado, há uma continuidade de percurso, de olhar, de imagens. Recordo a série “Concreto Armado”, apresentada na Bienal de Fotografia de Vila Franca de Xira 2016, onde já vimos as imagens Sunset Dubai e CCTV (no Fascínio da Fotografia, aqui).
Cortes identifica as imagens pelo título e ano (quase todas 2018…), raramente referindo o local. Sabemos que os locais são múltiplos: “Dubai, Tóquio, Algarve ou o seu estúdio em Lisboa”, Itália… Os títulos referem-se expressamente à imagem fotografada: Anjos, detalhe de um edifício desse bairro de Lisboa, Broken Plant, Flowers for R., Prince’s Death, esta no Japão, o anúncio no noticiário da morte do artista (2018?). E a presença da vida do Autor, da sua história. Como um espelho. Como uma planta (Green Plant, Broken Plant…).
O olhar de José Pedro Cortes continua a ser o ‘da sua história’. “É a vida, como ela é.”
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“Planta Espelho”, de José Pedro Cortes está em exposição na Galeria Francisco Fino, Rua Capitão Leitão, em Marvila, Lisboa, de 26 de janeiro a 1 de março de 2018.
Na folha de sala lemos:
Em ‘Planta Espelho’, José Pedro Cortes reúne 25 [26] fotografias recentes de territórios tão distintos como Dubai, Tóquio, Algarve ou o seu estúdio em Lisboa, num ensaio sobre um mundo instável e belo em constante mutação, enunciando que nunca se deve deixar de aprender a olhar de novo para o conhecido.
Planta Espelho compõe uma realidade suspensa que resulta do confronto entre imagens com origem numa prática de estúdio e observações resultantes das suas viagens. Cortes olha para a arquitectura, para a vegetação e para o corpo humano para reflectir sobre a relação entre um mundo de energias híbridas: uma força fabricada e feita de artefactos, criada pelo homem; e uma outra, natural e livre deste impulso de controlo do sujeito. Com alusões às ideias de limites e fronteiras, as fotografias de José Pedro Cortes mostram-nos, entre outros, o confronto entre a paisagem natural e a paisagem construída, ou a relação do estudo do corpo no estúdio com a evidência do esforço físico sentida nas pernas de corredoras de atletismo. É neste diálogo de tensão e dicotómico, que Cortes reforça uma das questões principais do seu trabalho: num mundo em constante transitoriedade como é que criamos um discurso sobre a matéria e a forma do nosso tempo?
“O tempo das minhas imagens é como o nosso tempo, de constante dúvida: fabricação ou impulso; vulnerabilidade ou força; superfície ou algo mais”, escreveu José Pedro Cortes para a sua exposição Concreto Armado (Bienal de Vila Franca de Xira 2016)
A abordagem de Cortes à prática fotográfica contende uma afirmação sobre a sua posição enquanto criador de imagens num tempo de saturação visual e reforça a sua convicção no mundo que o rodeia como fonte de um discurso sobre o momento contemporâneo, criando assim um espaço emocional habitado pela tensão e pela dúvida. Afinal, a fotografia, tal como a memória colectiva, vive de falhas e de aproximações a uma verdade.
Entre 2008 e 2015, a produção de José Pedro Cortes centrou-se em três corpos de trabalho diferentes: ‘ Things Here and Things Still to Come’, talvez a sua série mais conhecida, mostra a cidade de Tel Aviv e o mundo privado de quatro mulheres judias que fizeram o serviço militar; ‘Costa’ aborda, de uma forma muito pessoal, a paisagem e a vegetação da Costa da Caparica; e, por fim, ‘One’s Own Arena’, exposto em 2015 no Museu da Electricidade em Lisboa, centra-se na cidade japonesa de Toyama. Nestes três momentos, Cortes explorou os temas centrais do seu trabalho – a relação modelo-fotógrafo e a fragilidade das franjas das paisagens urbanas.”
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Folha de sala, verso.
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Pode ver no site da galeria, aqui.
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