HIROSHI SUGIMOTO, SUGIMOTO, 1998

70.º aniversário do nascimento de Hiroshi Sugimoto (Tóquio, Japão, 23 de fevereiro de 1948)

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Hiroshi Sugimoto

Sugimoto

Fotografia: Hiroshi Sugimoto / Textos: Margarida Veiga, Peter Hay Halpert, Jacinto Lageira, Kerry Brougher e John Yau / Conversa de Helena Tatay Huici com Hiroshi Sugimoto

Madrid: Fundación La Caixa e Lisboa: Centro Cultural de Belém / 1998

Português e inglês / 24,1 x 29,7 cm / 205 pgs.

Brochura

ISBN (10): 847664615

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Eu vivo na sombra… Eu gosto da sombra, é por isso que me tornei fotógrafo a preto e branco. A qualidade da sombra diz algo. E a qualidade da sombra é algo que eu posso controlar… A tonalidade entre a escuridão e a luz.

Hiroshi Sugimoto

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Este livro mostra o percurso de Hiroshi Sugimoto, “fotógrafo conhecido por documentar a “história da história” em reflexões a preto e branco sobre a passagem do tempo” (Olivia Hampton), sobretudo ao longo dos anos 1990, através de seis séries de imagens, algumas desenvolvidas desde décadas anteriores. Cada série é antecedida por um texto de apresentação / enquadramento que valoriza e permite mais facilmente entrar no trabalho deste autor fabuloso.

Sugimoto fotografava à altura, há cerca de 4 décadas. O seu trabalho explora continuamente os limites da fotografia, de diferentes modos e vertentes: os “Theaters” / “Salas de Cinema” e os “Drive-ins”, mostras “Os ecrãs vazios de Hiroshi Sugimoto”, texto de Peter Hay Halpert; os “Dioramas” e “Wax Museums” / “Museus de Cera”, mostram “O fixo e o móvel”, texto de Jacinto Lageira; Kerry Brougher escreve “Hiroshi Sugimoto: memórias a preto e branco” sobre as “Seascapes” / “Paisagens Marítimas” e “Sanjusangen-do, The Hall of Thirty-Three Bays” / “Sanjusangen-do, A sala dos Trinta e Três Vãos”, sobre a qual John Yau escreve um texto homónimo.

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Nos “Theaters” / “Salas de Cinema” e “Drive-ins” / “Drive-ins”, Sugimoto documentou os cinemas antigos e os drive-ins (cinemas ao ar livre), entre os anos 1976 e 1999, nos EUA, em 96 imagens a preto e branco, efetuadas com uma câmara de 4×5 polegadas, a tela de projeção no centro da imagem. Utilizou um tempo de exposição igual ao da película que é projetada: abre o obturador pouco antes do início da projeção e fecha-o após a passagem dos créditos finais e antes das luzes da sala se acenderem. É essa a única luz presente nas salas de cinema: por um lado, na tela, acumula-se todo o filme, todos os frames projetados do filme estão lá, toda a luz do filme, “a soma total de todos os movimentos do filme, é o todo sem partes, e o que não se vê imagina-se” (Madalena Lello). A tela é de uma brancura extrema, a luz que reflete ilumina a sala, a plateia vazia, permite mostrar o espaço. Nos drive-ins acresce à luz do filme uma escassa iluminação natural: o luar, alguma iluminação pública, algum automóvel que passa.

As salas de cinema afiguram-se como templos, como cenários cinematográficos – que são da visualização do filme – e a tela plena de luz branca, o sonho que o cinema transporta.

Não há, em qualquer dos casos, qualquer presença humana. Os cinemas estão vazios, os drive-in desertos. Sugimoto não quer mostrar ação, utilização, humanização. Centra-se no espaço, no vazio – a tela branca e o que ela mostra – ou, de outro modo, o cheio, o filme todo. E é o filme que deixa ver a sala e não a sala que está para que vejamos o filme.

Como refere Madalena Lello:

Sugimoto trabalha também em séries que são diferentes entre si, no entanto unem-se sob um conceito comum, o regresso às memórias mais antigas da nossa cultura. A magia das imagens está no seu poder de evocar muitas outras armazenadas em memória e Sugimoto quer simular o registo das primeiras memórias. Como mostrar o vazio? É o que Sugimoto enquadra e limita nos ecrãs brancos de luz.”

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Na série “Seascapes” / “Paisagens Marítimas”, para preparar cada imagem, Sugimoto passou entre uma e três semanas no local, observando o mar, nunca de um barco, sempre de terra firme. As paisagens são de mar e céu: não há navios ou aviões, nem animais, nem pessoas: não há qualquer referência ao local nem à época, nem a presença da intervenção do Homem: foi fotografada “agora”, como poderia ter sido feita há centenas ou milhares de anos (se já houvesse a fotografia). O mar que vemos poderia ter sido captado em alto-mar, ou melhor, é fácil pensarmos que o foi.

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Através dos “Dioramas” pré-históricos, regista momentos de há milhões de anos como se acontecessem hoje. Posiciona-se no encenado como se fosse o real e regista para a posteridade aqueles momentos primitivos. Faz-nos questionar o tempo na fotografia, a realidade da fotografia, a verdade na fotografia.

Do mesmo modo, como na série “Wax Museum” / “Museu de Cera”: retrata as figuras representadas como se fossem reais: o Papa João Paulo II na sua expressão popular de saudação, a família real que assim poderia ter posado ou “estado”, assim como diversos assassinos nas cenas do crime, na prisão ou na cadeira elétrica.

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Por último, a série “Sanjusangen-do, The Hall of Thirty-Three Bays” / “Sanjusangen-do, A sala dos Trinta e Três Vãos”, 1995, uma parte das 48 fotografias da série (a exposição apresentava a totalidade). Foram realizadas no templo Sanjusangen-do, construído em 1164, que alberga 1000 esculturas de Budas colocadas lado a lado, de modo a criar uma ausência no centro desse mesmo espaço, através de um virtual contínuo que torna os limites do próprio espaço indefinidos. As fotografias foram tiradas entre as 6:00 e as 7:30 da manhã, altura em que a luz é mais suave e difusa; as imagens parecem idênticas, levando o observador a procurar as diferenças entre elas. De facto, se as imagens parecem idênticas, cada buda em si tem diferenças significativas. Os budas estão dispostos de forma sistemática, idêntica em todas as imagens, há uma simetria e uma repetição sistemática, a imagem parece arrancada ao tempo – como noutras séries – há uma impossibilidade de orientação espacial e temporal, que desafia quem vê.

De algum modo, como nas Seascapes: a repetição de imagens, de um tema, com diferenças mínimas.

Este livro e a exposição correspondente deram a conhecer um grande fotógrafo e mostraram diversas das suas séries. E fazem-nos olhar para o medium com outros olhos…

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Hiroshi Sugimoto, Sugimoto, 1998

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Este livro é o catálogo da exposição realizada em Madrid, na Fundación la Caixa, de 29 de maio a 26 de julho de 1998 e em Lisboa, no CCB – Centro Cultural de Belém, entre 16 de outubro de 1998 e 24 de janeiro de 1999.

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Em 25.02.2018 acrescento:

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Saul Loeb / AFP, Mesa criada por Hiroshi Sugimoto para o Smithsonian’s Hirshhorn Museum, em Washington D.C., Fev. 2018

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Sugimoto criou duas mesas, em forma de meio círculo, de tampo em espelho e base feita com as raízes de uma árvore com 700 anos, para o lobby do Smithsonian’s Hirshhorn Museum, em Washington D.C., que inauguraram no dia do seu aniversário, 23 de fevereiro.

Pode ler aqui.

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O post de Madalena Lello nos saisdeprata-e-pixeis, aqui.

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