VICTOR PALLA E COSTA MARTINS, LISBOA CIDADE TRISTE E ALEGRE, 1959, 2009 e 2015 – 2. A ETHER E A ENCADERNAÇÃO DE ALGUNS EXEMPLARES (1982-1989)
.
.
.
Victor Palla e Costa Martins
Lisboa Cidade triste e alegre
Fotografia: Victor Palla e Costa Martins / Texto: José Rodrigues Miguéis / Poemas (excertos, alguns inéditos*): Eugénio de Andrade*, António Botto, Álvaro de Campos, Orlando da Costa, José Gomes Ferreira*, Sebastião da Gama, David Mourão-Ferreira*, Sidónio Muralha, Almada Negreiros, Alexandre O’Neill*, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, Ricardo Reis, Armindo Rodrigues*, Mário de Sá-Carneiro, D. Sancho I, Jorge de Sena*, Alberto de Serpa, Cesário Verde, Gil Vicente
Lisboa: Autores / Distribuição – Lisboa: Círculo do Livro / 1959
Português / 22,5 x 27,9 cm / 179 págs. / 152 fotografias a preto e branco
Editado em 7 fascículos mensais; capa cartonada e sobrecapa / “Deste volume, edição dos autores distribuída pelo Círculo do Livro, Lda., fez-se uma impressão de 2.000 exemplares em cartolina off-set de 160 gramas, e uma tiragem especial, numerada e rubricada pelos autores, de 60 exemplares em cartolina extra de 200 gramas. Toda a rotogravura foi executada nas Oficinas da Neogravura, Lda., Travessa da Oliveira à Estrela, e a parte tipográfica na Soc. Industrial de Tipografia, Lda., Rua Almirante Pessanha, 3 e 5, em Lisboa”. A edição normal tem guardas amarelas, a especial, guardas verdes.
Dos 2.000 exemplares, ter-se-ão vendido não mais de metade; em 1982 montaram-se cerca de 200 livros com as sobras dos fascículos, novas capas, idênticas às originais.
.
.

.
.
Lisboa: Pierre von Kleist Editions / 2009 (2.ª ed.), 2015 (3.ª ed.)
Português / 27.9 x 22.5 x c. 2,8 cm (2.ª ed.), 27.9 x 22.5 x c. 2,4 cm (3.ª ed.) / 175 págs.
Cartonado com sobrecapa (semi-brilhante na 2.ª ed., mais mate na 3.ª ed.) / 2.000 ex. + edição especial de 60 exemplares, em caixa, com fotografia impressa (2.ª ed.), 2.000 ex. (3.ª ed)
Acompanha um booklet, amarelo, com “A História da Publicação”, texto original de Gerry Bagder: “A Cidade das Sete Colinas”, “City of the Seven Hills” e tradução em inglês do Índice / Português e inglês / 20,0 x 25,0 cm / 52 págs / Agrafado (capa e organização diferente para as duas edições)
ISBN: 9789729982538 (2.ª ed.), 9789899776395 (3.ª ed.)
.
.

.
.
8.
Em 15 de abril de 1982, António Sena inaugura a galeria Ether / vale tudo menos tirar olhos, na Rua Rodrigo da Fonseca, n.º 25, em Lisboa. Amigo de família, Sena conhece aquele trabalho (?) e é com ele que abre a Ether: a exposição Lisboa e Tejo e Tudo (1956/59), fotografias de Victor Palla e Costa Martins, de Lisboa Cidade Triste e Alegre.
Como ele relembra na sua “História da imagem fotográfica em Portugal – 1839-1997” (Porto Editora, 1998, pág. 329):
Em 1982 é formada a associação e galeria Ether / Vale Tudo Menos Tirar Olhos (1982-1996), sendo fundadores Leonor Colaço, Luís Afonso, Madalena Lello, António Júlio Aroeira, António Sena, José Soudo e Alfredo Pinto, exclusivamente dedicada à fotografia e completamente desligada de qualquer filiação em anteriores Associações Fotográficas. O objectivo da Ether era colmatar as resistências e dificuldades da divulgação da fotografia portuguesa.”
.
Ether, designava a natureza da luz – algo volátil e etéreo nos finais do século XIX, quando ainda não se conhecia exactamente a sua composição, à ciência acrescentou-se a sabedoria popular – Vale Tudo Menos Tirar Olhos, porque abrir os olhos para a imagem fotográfica era a essência do projecto.”,
refere Madalena Lello, que acrescenta a propósito da imagem exterior do espaço:
No nº 25 da Rua Rodrigo da Fonseca, a fachada fora transformada para acolher o espaço da galeria. Um longo e vertical tubo de queda, com todo o seu volume saliente de forma cilíndrica, foi pintado de amarelo. Na parede estreita por cima da porta uma pintura em faixas de cinzento simulava a transposição das intensidades maiores ou menores da luz – o princípio base da fotografia a preto e branco. A fachada dava nas vistas, e quem por ali passava não resistia a parar. E foi o que aconteceu a um fiscal da Câmara que por ali passando em rotina de serviço, deparou com a obra feita de um dia para o outro. Teve que fazer um ofício, mas não resistiu a deixar um bilhete algo inesperado: “Isto foi feito ilegalmente, mas está lindo. Passem por lá para ver se resolvemos a contento.”, e resolveu-se, porque o fiscal tinha olhos.”
.

Madalena Lello, Ether, 1982
.
Não será alheio à realização desta exposição, o facto de se ter encontrado na cozinha do edifício da Associação Portugal-Cuba, uma casa propriedade de Costa Martins e da mulher, uma pilha de fascículos do livro, ainda por encadernar, sobras, havendo poucos exemplares de alguns dos fascículos. Mesmo assim, permitem completar-se cerca de 200 exemplares.
Encontrados por Sena, coube-nos, aos que estávamos ligados ao projecto ether, fazer a montagem do livro a partir dessa pilha poeirenta de fascículos, tarefa que me pareceu semelhante à montagem de um filme. Ainda hoje sei de memória toda a sequência do livro.
“Lisboa, cidade triste e alegre” foi posto à venda na Galeria, na altura da exposição, por 2.500 escudos, e demorou a esgotar.”
, recorda Madalena Lello no seu blog “Saisdeprata-e-pixeis”.
.
.
9.
O cartaz/catálogo que acompanhou a exposição Lisboa e Tejo e Tudo (19556/59), fotografias de Palla e Martins, de Lisboa Cidade Triste e Alegre reproduz no rosto duas fotografias dos autores que criam as letras “LX” de Lisboa, contrastando o “L” da penumbra de uma fotografia com o “X” branco da outra:
.


Cartaz/catálogo da exposição “Lisboa e Tejo e Tudo (1956/59), fotografias de Victor Palla e Costa Martins, de Lisboa Cidade Triste e Alegre” e fotografias reproduzidas no cartaz.
.
No verso reproduzem-se as restantes 29 fotografias da exposição, textos, esquemas da montagem da exposição e do livro. Em maior detalhe:
.




Cartaz/catálogo, detalhe do verso (reproduzido de Alexandre Pomar).
.
António Sena no cartaz / catálogo, escreve:
Além das eventuais e pessoais opiniões sobre o livro três características são de notar: 1º é um livro que foi feito graças ao adiantamento de parte dos seus custos por colaboração dos seus futuros leitores, 2º um índice criativo onde se mistura a informação técnica e estética à observação pessoal e histórica e 3º uma obra colectiva onde não se sabe quem fez esta ou aquela fotografia contrariando a tendência autoritária de todas as histórias – a assinatura. Poderemos acusá-lo de ser um livro pouco fotográfico, de, fotograficamente, ser um livro mais gráfico (pela impressão) ou cinematográfico (pela paginação), quer dizer, um livro do antes e depois da fotografia”.
.
Na exposição apresentaram-se 31 fotografias inéditas, não incluídas no livro, ou reenquadradas para esta exposição: apresentadas em negativo integral.
Os versos de Pessoa:
“Não: não quero nada nada me prende a nada”,
“queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?”,
“queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?”,
“Outra vez te revejo, Mas ai, a mim não me revejo”…,
escritos a preto em grandes placas de madeira pintadas de branco, conjugavam com a selecção das fotografias inéditas de Victor Palla e Costa Martins, tiradas, entre 1956-59, para o livro “Lisboa, cidade triste e alegre”. No lado oposto, na outra parede, mostravam-se os originais de maquetagem – poemas, fotografias, ozalides, (encontrados no meio dos fascículos), e desenhos.”,
relembra Madalena Lello, que fotografou Palla com um exemplar da primeira edição, recentemente encadernado:
.

Madalena Lello, Victor Palla com um dos exemplares encadernados, Exposição “Lisboa e Tejo e Tudo”, Abril, 1982.
.
Esta exposição e a disponibilidade de alguns exemplares do livro, vieram dar uma nova visibilidade a Lisboa Cidade triste e alegre, tornando-a conhecida de toda uma nova geração. A obra de Palla e Martins influenciou o olhar de vários jovens autores portugueses, como Paulo Nozolino, entre tantos outros.
.
.
10.
Apresentando a exposição, foi distribuído à imprensa como press-release o texto abaixo (cf. Alexandre Pomar), o qual foi publicado como artigo de António Sena, na pág. 27 do Jornal de Letras, nº 31, de 27 de Abril de 1982:
.



.
.
11.
No mesmo ano, nos 3ºs Encontros de Fotografia de Coimbra, parte da exposição foi mostrada. Esta e a galeria Ether foram apresentadas no catálogo pelo texto abaixo (cf. Alexandre Pomar):
.

.
Apresento este texto como documento de uma época, não vou agora fazer qualquer análise sobre o seu conteúdo.
.
.
12.
Em 1999 a exposição foi novamente apresentada, na Fundação de Serralves, integrando 30 fotografias e 19 documentos/fotografias originais, organizada também pela Ether, integrada nas comemorações dos 150 anos da apresentação da fotografia.
.
Na ocasião foi publicado um novo catálogo, de pequeno formato e 36 (?) páginas, editado pela Ether, que incluía um texto escrito por António Sena (não identificado). Inclui também um texto de promoção da edição de 1959 e diversas fotografias.
.
Victor Palla e Costa Martins, Lisboa e Tejo e Tudo, ed. Ether para a exposição na Fundação de Serralves, 1989 (in: The Ressabiator)
.
.
No próximo post, a inclusão de Lisboa Cidade Triste e Alegre no Photobook de Gerry Badger e Martin Parr e as reedições da Pierre von Kleist Editions, de 2009 e 2016.
.
.
.
Pode adquirir Lisboa Cidade Triste e Alegre aqui.
.
Pode ainda ler:
O testemunho de Madalena Lello, sobre a Ether, aqui e aqui;
As importantes informações de Alexandre Pomar aqui, aqui, aqui e aqui.
Sobre o catálogo editado por ocasião da exposição no Porto, ver The Ressabiator, aqui.
.
.
.
Pingback: VICTOR PALLA E COSTA MARTINS, LISBOA CIDADE TRISTE E ALEGRE, 1959, 2009 e 2015 – 3. DO PHOTOBOOK DE BADGER E PARR À REEDIÇÃO PELA PIERRE VON KLEIST EDITIONS | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: VICTOR PALLA E FERNANDO NAMORA | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . EXPOSIÇÕES . ABRIL – JUNHO . 2018 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . EXPOSIÇÕES . JULHO – SETEMBRO . 2018 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . EXPOSIÇÕES . OUTUBRO – DEZEMBRO . 2018 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: ADRIANO MIRANDA, PEDRO BAPTISTA, ZONA DE INTERVENÇÃO, 2000 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: A HISTÓRIA DE “LISBOA CIDADE TRISTE E ALEGRE” – A ARQUITETURA DE UM LIVRO | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: LISBOA CIDADE TRISTE E ALEGRE. ARQUITETURA DE UM LIVRO. ARCHITECTURE OF A BOOK, 2018 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: SUSANA LOURENÇO MARQUES, ETHER | VALE TUDO MENOS TIRAR OLHOS. UM LABORATÓRIO DE FOTOGRAFIA E HISTÓRIA, 2018 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: FILOMENA SERRA (ED.), FOTOGRAFIA IMPRESSA E PROPAGANDA EM PORTUGAL NO ESTADO NOVO, 2022 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . DIAFRAGMA – COVILHÃ INTERNACIONAL PHOTOFESTIVAL | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA
Pingback: AGENDA . CONVOCATÓRIAS E EVENTOS . OUTUBRO A DEZEMBRO . 2024 | FASCÍNIO DA FOTOGRAFIA